Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Google entrega dados do Orkut à CPI da Pedofilia

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 24 de abril de 2008


PEDOFILIA
Johanna Nublat e Simone Iglesias


Google entrega dados de 3.261 álbuns do Orkut à CPI


‘De posse de imagens, textos e do registro de computadores (IPs) que postaram imagens de crianças em cenas de sexo no Orkut, a CPI da Pedofilia parte agora para a quebra do sigilo dos provedores de acesso.


Eles serão obrigados a informar nome e endereço de usuários suspeitos de divulgar fotos e vídeos de teor pedófilo.


Ontem, a Google, empresa mantenedora do Orkut no Brasil, entregou aos senadores da comissão informações contidas nos 3.261 álbuns de fotos privados, alvos de investigação pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.


A empresa foi obrigada a repassar os dados à CPI por meio de requerimento aprovado há duas semanas.


‘Do material entregue à CPI, estimamos que haja 200 usuários suspeitos da divulgação de imagens de pedofilia. A comissão fará triagem para detectar quais álbuns realmente são mantidos por essas pessoas, para obter a quebra do sigilo de nome e endereço por meio dos provedores de acesso, na maioria empresas de telecomunicação’, afirmou Thiago Tavares, diretor da ONG SaferNet.


O delegado da PF Felipe Seixas, que acompanha a CPI, aponta possíveis problemas na obtenção de informações dos provedores. ‘Muitos provedores não detêm as informações dos usuários, já que não há legislação específica sobre o assunto. Outros guardam as informações por pouco tempo.’


Provedores que não guardam dados cadastrais dos usuários poderão ser chamados à CPI para se explicarem.


Após o recebimento da lista, a PF visitará os locais apontados na investigação e abrirá inquérito contra os suspeitos.


Segundo o diretor de comunicação do Orkut no Brasil, Felix Ximenes, os usuários sob investigação não sabem que tiveram seu sigilo quebrado.


Ele afirmou também que é uma ‘percepção errada’ a de que a Google nunca colaborou com investigações. ‘A gente tem sempre uma balança sensível entre a preservação da privacidade e a segurança na internet’, disse Ximenes.’


 


Matheus Pichonelli


Empresa é condenada por falsos perfis


‘A Justiça de Santa Catarina condenou a Google Brasil, em primeira instância, a pagar indenização por danos morais de R$ 10 mil a duas moradoras de Lages (SC).


As mulheres, de 19 e 20 anos, tiveram falsos perfis criados no Orkut. Por meio deles, foram veiculadas imagens e mensagens que, segundo o juiz Jaime Machado Junior, do Juizado Especial Cível da cidade, ofendiam a honra e a moral das jovens.


Na decisão, de 1º de abril, o juiz afirmou que as meninas sofreram abalo psicológico, incômodo, angústia e vergonha ‘ao verem os seus nomes e corpos expostos na rede mundial de computadores’. Ele determinou que a Google pague R$ 5.000 a cada uma -a empresa pode recorrer.


Em outra ação, movida pelo Ministério Público de Rondônia, o Tribunal de Justiça do Estado negou recurso para anular a decisão que determinava que a Google impedisse a ‘criação de novas páginas ou comunidades’ no Orkut que ‘promovam a disseminação indiscriminada de fofocas contra cidadãos’.


A Google recorreu, argumentando que os usuários são responsáveis pelas comunidades e seus conteúdos. Procurada pela reportagem, a empresa informou ontem que os diretores estavam em reunião e não poderiam comentar as decisões.’


 


DOSSIÊ
Folha de S. Paulo


Blindagem


‘SÓ MESMO a habitual atitude de bonomia do presidente do Senado, Garibaldi Alves, para extrair algum humor da desgastante batalha em curso na instituição. A tropa de choque governista resiste às iniciativas de demistas e tucanos no sentido de convocar a ministra Dilma Rousseff para dar explicações no Senado a respeito do caso do dossiê.


‘Ela é a mãe do PAC’, observou Garibaldi, ‘mas agora há um paternalismo muito grande em cima dela.’ O paternalismo, o ‘excesso de proteção’ -para usar outra formulação do presidente do Senado- ou a obstinada blindagem em torno de Dilma Rousseff combinam pouco, sem dúvida, com a auto-suficiência apresentada pela chefe da Casa Civil na áspera entrevista que concedeu sobre o episódio.


Combinam menos ainda com as tentativas de lançá-la como um nome viável às eleições presidenciais de 2010. Se, deixando de se apresentar exclusivamente como um quadro técnico do governo, Dilma Rousseff passa a freqüentar palanques e comícios, é natural que se veja sob o foco dos ataques da oposição.


Estes poderiam, de resto, constituir uma oportunidade para que esclarecesse os pontos nebulosos de seu último pronunciamento sobre o tema; ou, no mínimo, para mostrar sua capacidade num debate com a oposição -algo que lhe seria exigido em eventuais campanhas eleitorais.


Curiosamente, corre no governismo a versão de que Dilma Rousseff ganhou alguns pontos de popularidade depois de vir a público com suas explicações sobre o dossiê. Se isso ocorre, por que a base governista evita sua convocação pelo Senado?


A ministra, que por descuido de seus guarda-costas está de todo modo comprometida a apresentar-se na Comissão de Infra-Estrutura para falar sobre o PAC, declarou que ‘tem mais o que fazer’ do que explicar o vazamento de dados sigilosos de seu gabinete -que já foi considerado ‘criminoso’ pelo mesmo governo que agora o quer minimizar.


Dilma Rousseff tem, sem dúvida, mais o que fazer: palanques montados nos mais diversos lugares do país estão à sua espera.


Enquanto isso, seus correligionários no Parlamento -muitos deles, em outros tempos, bradavam pela transparência administrativa e pela criação de CPIs a qualquer indício de irregularidade- tratam de cuidar, com desvelo inoxidável, da imagem pré-eleitoral da ‘mãe do PAC’. Poderiam, à falta de outros argumentos, lembrar que estamos quase no mês de maio, dedicado às mães. Discussões sobre o dossiê? Que fiquem para depois.’


 


LULA E A LÍNGUA
Roberto Muylaert


Vantagens de um monoglota


‘EXISTEM PALAVRAS corriqueiras em francês que ajudam a definir o status internacional de um brasileiro, mesmo que ele não domine o idioma gaulês. Em certas camadas sociais são bem conhecidas, e quase obrigatórias, expressões como ‘noblesse oblige’, ‘à propos’, ‘faute de mieux’. E não é que noutro dia o presidente Lula soltou um garboso ‘en passant’? Seguido por um comentário dele mesmo: ‘Nada mal para quem há algum tempo dizia ‘menas gente’.


Enquanto nos regozijamos com o seu vocabulário internacional enriquecido, devemos lembrá-lo, sem ironia, de que uma das vantagens que ele leva como presidente do Brasil é o fato de ser um monoglota convicto, que ganhou o mundo sem se preocupar em falar outro idioma. E sem complexo de inferioridade por não ser poliglota, característica que comunga com os norte-americanos.


Nesse quesito, eles são insuperáveis. Conheci um dirigente de filial de uma multinacional americana situada no Brasil que, depois de cinco anos vivendo por aqui, continuava fazendo seus discursos em inglês. O divertido é que ele fazia questão de terminar a fala com um sonoro ‘obrigado’, pronunciado com certa dificuldade, após o que abria o sorriso da vitória, como a dizer: ‘Não passei incólume pelo idioma do país que me acolheu tão bem nos últimos cinco anos’.


É sábio o protocolo que manda cada presidente se expressar em sua própria língua, condição de igualdade garantida pelos intérpretes, para a comunicação entre líderes de países soberanos.


Das cordas vocais de Lula saem, mundo afora, vocábulos pronunciados na nossa língua portuguesa, para que as altas patentes de governos estrangeiros comecem a se acostumar, desde já, com o som do idioma de um país que, segundo ‘The Economist’, poderá ser uma superpotência de petróleo, assim como é gigante agrícola.


Por falar em poliglota, não há nada mais extenuante para quem tem bom domínio de um idioma estrangeiro do que entrar numa longa reunião de alto nível, no exterior, com grandes interesses em jogo, tendo de desenvolver um raciocínio complexo em outra língua, com o esforço adicional e simultâneo de encontrar as palavras exatas, no momento certo, para expor suas idéias. Em tal situação, a inteligência aparente do indivíduo baixa de 20% a 30% em relação a quem debate em seu próprio idioma.


Nesse quesito, os brasileiros são campeões do servilismo idiomático, estando sempre prontos a tentar falar a língua alheia, mesmo sem conhecê-la direito. Já vi um brasileiro na Disney (EUA) mostrando erudição à moça que recolhia seus ingressos: ‘Parla espanhol?’.


Eu mesmo me flagrei, quando estive na China, tentando dialogar com um habitante local, amável monoglota lá da língua deles. Ele sorria e me oferecia chá o tempo todo. Colonizado, tentei me entender com ele em inglês, que se mostrou tão ineficaz, como instrumento de comunicação, como se eu tivesse usado a minha própria língua em primeiro lugar.


Tenho um tio que implica com quem conhece muitos idiomas, segundo ele, cultura de ‘porteiro de hotel’. O que ele prestigia é o português bem falado, indignando-se com a desnecessária e deselegante sucessão de gerúndios com que somos contemplados diariamente. Em especial nos serviços de telemarketing e no atendimento das companhias telefônicas e de TV por assinatura.


Situa-se ali o ninho da serpente dos gerúndios inúteis, pronunciados pelas ‘gerundivas’, funcionárias que atendem ao telefone dessas empresas. Durante a infindável espera para ser atendido, uma gravação assegura que ‘sua ligação é muito importante para nós’, ‘malgré tout’.


Brasileiro achava que falava castelhano, até acontecer aquele discurso pronunciado na língua de Cervantes, num país hispânico, em insólita prosódia com sotaque maranhense, pelo então presidente Sarney, para estupefação de hispânicos e lusófonos. Por ser monoglota, o presidente Lula está sempre à vontade, em qualquer entrevista que enfrente, nos diversos países que visita. Fernando Henrique Cardoso, embora nascido ‘la bas’, como eles dizem, brilhou na Assembléia Nacional Francesa falando no idioma pátrio deles. Mas, durante o solene discurso, deve ter ficado com as mãos frias.


E não se diga que há compatriotas que falam tão bem a língua dos outros que podem debater no idioma deles de igual para igual. Não é verdade: quem fala como eles pensa como eles.


ROBERTO MUYLAERT, 73, é jornalista, editor e escritor. Foi presidente da TV Cultura de São Paulo de 1986 a 1995 e ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (governo FHC).’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O etanol contra-ataca


‘No alto dos portais todos, tarde e noite, e entrando pela escalada de TV, Lula segue na campanha pelos biocombustíveis, apontando ‘leviandade’ no ataque. No esforço nacional, José Goldemberg, 79, um dos ‘heróis do ambiente’ da ‘Time’, ‘desconstrói ataque ao etanol de cana’, no título de entrevista ao ‘Valor’.


Mas é no exterior que se nota o refluxo na crítica, em reportagens de capa ontem no ‘New York Times’, contra o retorno europeu ao carvão, e no ‘Financial Times’, culpando o eventual recuo no apoio europeu e americano ao etanol pelos US$ 120 do petróleo. O ‘FT’ deu até longa carta de um professor australiano em defesa do etanol do Brasil. Já ‘Forbes’ e o CNET News saudaram o acordo entre a californiana Amyris e a brasileira Crystalsev, para desenvolver o etanol.


CARVÃO DE VOLTA


A Europa -que critica etanol- abre 50 usinas elétricas de carvão nos próximos cinco anos (acima, uma delas, na Alemanha), denunciou longa reportagem de capa, ontem no ‘NYT’


OS DEMOCRATAS


‘E o vencedor é: John McCain’ dizia a manchete do site Huffington Post sobre a Pensilvânia, com link para texto sobre o desgaste democrata. No Drudge Report, ‘Sigam lutando, democratas!’, sob foto de McCain sorrindo, com link para texto sobre a ‘satisfação’ do republicano. Num editorial em que quase retirou o apoio anterior a Hillary Clinton e na coluna de Maureen Dowd, o ‘NYT’ atacou a campanha e vislumbrou, afinal, uma derrota democrata.


VAI ENDOSSAR?


Se o ‘NYT’ está às voltas com seu apoio em editorial a Hillary, o ‘WSJ’ -agora todo de Rupert Murdoch- pode anunciar apoio pela primeira vez em quase cem anos. Foi o que o próprio Murdoch falou, em texto do próprio ‘WSJ’.


OLIGOPÓLIO LÁ


E o ‘NYT’ reagiu ontem ao avanço de Murdoch em Nova York. Noticiou que a compra do ‘Newsday’ poderá ser questionada pela autoridade que regula as comunicações nos EUA, pois se soma a ‘WSJ’, ‘NY Post’ e às TVs.


NOTÍCIAS


Como avisa o leitor Nonato Viegas, a paulista Record News fez a mais extensa e melhor cobertura de TV na noite do terremoto, contra a carioca Globo News que mal percebeu a notícia


TEM UMA HORA…


Em blog no site da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, avisou que ‘ninguém agüenta mais’, ‘tem uma hora que chega’ e ‘as marcas da exploração demoram para ser apagadas’.


QUE CHEGA?


Ontem, os apresentadores e repórteres da Globo usavam roupas escuras, tom fúnebre, e o ‘caso Isabella’ só entrou no fim da escalada do ‘JN’. Mas a Record prosseguia, até com manchete ‘exclusiva’.


CPI, PORTAIS E A PEDOFILIA


Fim da manhã e estourou no alto de Terra, iG, Globo Online, ‘CPI detecta 200 pedófilos’ nos álbuns do Google. O Globo Online depois baixou de tom, como Folha Online e outros. Mas os portais insistiam com o ‘levantamento preliminar’ da CPI, em meio a outras chamadas -como ‘Ao lado da Mulher Melancia, modelo mostra seios para taxista’ e ‘Atriz de ‘Harry Potter’ é clicada sem calcinha’.’


 


TECNOLOGIA
Folha de S. Paulo


Mesmo com crise, ganho da Apple tem aumento de 36%


‘A Apple teve ‘lucro e receita mais fortes da sua história em trimestres encerrados em março’, segundo o presidente da empresa, Steve Jobs, com aumento de 43% na receita e 36% no lucro.


O faturamento alcançou US$ 7,51 bilhões, e o lucro, US$ 1,05 bilhão.


Apesar do bom resultado em meio à crise, o mercado espera queda nos resultados no decorrer no ano em razão da estagnação dos gastos.


A venda de computadores Macintosh subiu 51% em unidades 54% em receita.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo apanha para fazer jornal ao ‘ar livre’


‘A Globo está enfrentando dificuldades técnicas para colocar no ar telejornais apresentados de um estúdio de vidro, sobre novo edifício da TV na zona sul de São Paulo, com a marginal Pinheiros ao fundo.


A estréia do estúdio, novo cenário dos dois ‘SP TV’, já foi adiada duas vezes e pode ser transferida novamente. Inicialmente, a inauguração seria em 1º de abril, com a nova programação. Depois, foi agendada para este sábado, aniversário da Globo. Está marcada para segunda, mas jornalistas já foram alertados que a estréia poderá ser adiada para o dia 5.


O principal problema é com iluminação e com reflexos de imagens no vidro. Como o estúdio é transparente, a iluminação interna tem de ser afinada com a externa. Como os jornais vão ao ar em vários horários, os ajustes têm de ser feitos caso a caso e durante as exibições (uma nuvem passageira tapando o Sol, por exemplo, exige compensações imediatas).


Os testes apresentaram resultados insatisfatórios principalmente no ‘SP TV’ das 12h. A luz forte do meio-dia interfere na aparência dos apresentadores, cujas falhas na pele ficam ainda mais evidentes, porque serão usadas câmeras de alta definição. A jornalista Carla Vilhena é a mais insatisfeita. Nos estúdios atuais e na tecnologia convencional, a Globo se serve de um tratamento de câmera que rejuvenesce os apresentadores em até dez anos.


SEM OFF 1 Há quatro semanas, o jornalista Berto Filho não faz locuções em off para o ‘Fantástico’. A Folha apurou que seu contrato será rescindido. Voz marcante da Globo nos anos 70 e 80, Filho retornou em 2004.


SEM OFF 2 A saída de Berto Filho não tem nada a ver com o fato de ele estar fazendo uma campanha contra a dengue, pelo Ministério da Saúde, no ar em todas as TVs do Rio de Janeiro _ele foi autorizado pela Globo.


SEM OFF 3 O desligamento do jornalista é emblemático da nova fase do ‘Fantástico’. Em busca de ‘rejuvescimento’, o programa agora tem optado por narrações dos próprios repórteres e dos apresentadores, além das de Cid Moreira.


REVISÃO O SBT desistiu de produzir um reality show de cirurgias plásticas. A decisão faz parte do processo de revisão da programação da emissora, comandado por Daniela Beirutty, provável sucessora de Silvio Santos.


INCRÍVEL O blog de Marcos Mion é atualmente o mais acessado do portal de blogs de celebridades ‘BlogLog’. Ultrapassou o de Aguinaldo Silva, autor de ‘Duas Caras’, que traz as últimas da novela das oito da Globo.


FALTOU Q No capítulo de anteontem de ‘Duas Caras’, Renata Sorrah comprou jornal em uma banca que exibia uma revista cuja capa era o acidente do vôo 3054, da TAM, ocorrido em julho de 2007. E um jornal noticiava o Campeonato Carioca de 2008.’


 


Cristina Fibe


George Clooney atribui sua fama à TV


‘Até estourar, aos 33 anos, George Clooney fez 13 pilotos e emplacou oito séries de TV, algumas delas encerradas no primeiro episódio. Dizia-se um ‘ator de cinema fazendo TV’, antes mesmo de ter atuado em um filme. Considera a série ‘ER’ o marco de seu sucesso.


O ator norte-americano, hoje com 46, conta essa e outras histórias no ‘Movies 101’ que é exibido hoje, às 21h, pelo canal pago Film & Arts.


Apesar da generosidade com que se refere à TV, Clooney não voltou a aparecer nela desde que deixou ‘ER’, série em que viveu um médico durante seis anos (de 1994 a 2000) e que, duradoura, ainda resiste.


Depois da ‘fama’, o ator escolheu trabalhar com diretores como Joel e Ethan Coen e Steven Soderbergh, além de virar ele próprio produtor e cineasta (já dirigiu três filmes -um deles, ‘Boa Noite e Boa Sorte’, teve seis indicações ao Oscar). Apesar de ter que competir com o apresentador Richard Brown para falar, Clooney consegue comentar também o que considera ao escolher um filme (um bom roteiro e um produtor que ‘trate bem o garçom’) e os planos para a ‘velhice’.


‘Não quero ter 60 anos e estar num escritório de casting esperando um executivo de 30 anos achar que estou bem para ser pai de Ashton Kutcher [ator de 30 anos, namorado de Demi Moore, 45].’


MOVIES 101 – GEORGE 0 CLOONEY


Quando: hoje, às 21h


Onde: no Film & Arts’


 


CASO ISABELLA NARDONI
Contardo Calligaris


A turba do ‘pega e lincha’


‘NA ÚLTIMA sexta-feira, passei duas horas em frente à televisão. Não adiantava zapear: quase todos os canais estavam, ao vivo, diante da delegacia do Carandiru, enquanto o pai da pequena Isabella estava sendo interrogado.


O pano de fundo era uma turba de 200 ou 300 pessoas. Permaneceriam lá, noite adentro, na esperança de jogar uma pedra nos indiciados ou de gritar ‘assassinos’ quando eles aparecessem, pedindo ‘justiça’ e linchamento.


Mais cedo, outros sitiaram a moradia do avô de Isabella, onde estavam o pai e a madrasta da menina. Manifestavam sua raiva a gritos e chutes, a ponto de ser necessário garantir a segurança da casa. Vindos do bairro ou de longe (horas de estrada, para alguns), interrompendo o trabalho ou o descanso, deixando a família, os amigos ou, talvez, a solidão -quem eram? Por que estavam ali? A qual necessidade interna obedeciam sua presença e a truculência de suas vozes?


Os repórteres de televisão sabem que os membros dessas estranhas turbas respondem à câmera de televisão como se fossem atores. Quando nenhum canal está transmitindo, ficam tranqüilos, descansam a voz, o corpo e a alma. Na hora em que, numa câmera, acende-se a luz da gravação, eles pegam fogo.


Há os que querem ser vistos por parentes e amigos do bar, e fazem sinais ou erguem cartazes. Mas, em sua maioria, os membros da turba se animam na hora do ‘ao vivo’ como se fossem ‘extras’, pagos por uma produção de cinema. Qual é o script?


Eles realizam uma cena da qual eles supõem que seja o que nós, em casa, estamos querendo ver. Parecem se sentir investidos na função de carpideiras oficiais: quando a gente olha, eles devem dar evasão às emoções (raiva, desespero, ódio) que nós, mais comedidos, nas salas e nos botecos do país, reprimiríamos comportadamente.


Pelo que sinto e pelo que ouço ao redor de mim, eles estão errados. O espetáculo que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com o que é produzido pela morte de Isabella.


Resta que eles supõem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu ódio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos um grande sujeito coletivo que eles representariam: ‘nós’, que não matamos Isabella; ‘nós’, que amamos e respeitamos as crianças -em suma: ‘nós’, que somos diferentes dos assassinos; ‘nós’, que, portanto, vamos linchar os ‘culpados’.


Em parte, a irritação que sinto ao contemplar a turma do ‘pega e lincha’ tem a ver com isto: eles se agitam para me levar na dança com eles, e eu não quero ir.


As turbas servem sempre para a mesma coisa. Os americanos de pequena classe média que, no Sul dos Estados Unidos, no século 19 e no começo do século 20, saíam para linchar negros procuravam só uma certeza: a de eles mesmos não serem negros, ou seja, a certeza de sua diferença social.


O mesmo vale para os alemães que saíram para saquear os comércios dos judeus na Noite de Cristal, ou para os russos ou poloneses que faziam isso pela Europa Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo afirmar sua diferença.


Regra sem exceções conhecidas: a vontade exasperada de afirmar sua diferença é própria de quem se sente ameaçado pela similaridade do outro. No caso, os membros da turba gritam sua indignação porque precisam muito proclamar que aquilo não é com eles. Querem linchar porque é o melhor jeito de esquecer que ontem sacudiram seu bebê para que parasse de chorar, até que ele ficou branco. Ou que, na outra noite, voltaram bêbados para casa e não se lembram em quem bateram e quanto.


Nos primeiros cinco dias depois do assassinato de Isabella, um adolescente morreu pela quebra de um toboágua, uma criança de quatro anos foi esmagada por um poste derrubado por um ônibus, uma menina pulou do quarto andar apavorada pelo pai bêbado, um menino de nove anos foi queimado com um ferro de marcar boi. Sem contar as crianças que morreram de dengue. Se não bastar, leia a coluna de Gilberto Dimenstein na Folha de domingo passado.


A turba do ‘pega e lincha’ representa, sim, alguma coisa que está em todos nós, mas que não é um anseio de justiça. A própria necessidade enlouquecida de se diferenciar dos assassinos presumidos aponta essa turma como representante legítima da brutalidade com a qual, apesar de estatutos e leis, as crianças podem ser e continuam sendo vítimas dos adultos.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 24 de abril de 2008


EUA 2008
AP com Cristiano Dias


‘NYT’ diz que campanha da candidata foi ‘mesquinha’


‘O jornal New York Times criticou duramente a vitória da senadora Hillary Clinton nas primárias da Pensilvânia, na terça-feira. Em editorial, o Times disse que a ex-primeira-dama travou uma disputa ‘mesquinha’ utilizando táticas republicanas para derrotar, a qualquer custo, o senador Barack Obama.


‘Já passou da hora de Hillary reconhecer que sua negatividade prejudica não só a ela, mas também seu oponente, a disputa e toda a eleição de 2008’, publicou o jornal, que acusou a senadora de utilizar métodos típicos de Karl Rove – ex-assessor de George W. Bush.


A posição tomada pelo diário contrasta com a decisão de sua junta editorial, que em janeiro anunciou apoio a Hillary. ‘Ela representa a melhor opção do Partido Democrata, que procura recuperar a Casa Branca’, publicou o Times no início da corrida presidencial.


FUTURO


Em videoconferência realizada ontem, com jornalistas brasileiros, Lenneal Henderson, professor de políticas públicas da Universidade de Baltimore, afirmou não acreditar que Hillary desista da disputa, ainda que perca as primárias de Indiana e Carolina do Norte, dia 6.


‘Ela pretende desempenhar um papel importante na convenção. Se não conseguir a nomeação, quer pelo menos participar da indicação do vice ou influenciar o programa de governo de Obama’, disse Henderson.


Para ele, a disputa prolongada não prejudica os democratas. ‘McCain não domina a mídia tão bem quanto Hillary e Obama e quando a economia e a guerra no Iraque entrarem no debate direto, ele será visto como uma continuação do governo Bush.’’


 


TELES
Gerusa Marques


Governo muda a orientação para o setor de telefonia


‘Em meio a um processo de mudanças profundas nas regras de telefonia, que vem sendo realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para permitir a fusão entre empresas, o Ministério das Comunicações decidiu baixar uma portaria com 13 diretrizes de políticas públicas para o setor. Uma das principais determinações que consta do documento, obtido pelo Estado, é que a Anatel estabeleça um modelo de competição que ‘facilite’ o compartilhamento de redes entre diferentes serviços e prestadoras.


A idéia de abrir as redes das concessionárias de telefonia fixa para que outras empresas possam usá-las na prestação de serviços, também conhecida como desagregação de redes, foi um dos principais pontos abordados ontem durante audiência pública, na Câmara dos Deputados, sobre novas regras para o setor de TV por assinatura. O uso compartilhado também já foi apontado por vários especialistas como um dos caminhos para garantir a competição.


PREÇO


O presidente da Associação Brasileira de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), Luiz Cuza, acha que é fundamental garantir o acesso a todos os competidores às redes das empresas de telefonia para ampliar a oferta de serviços.


O representante da ONG Intervozes, Bráulio Ribeiro, acredita que a desagregação pode aumentar a competitividade e diminuir o preço dos serviços. ‘Com a desagregação, o proprietário da rede seria obrigado a ceder sua estrutura para todos que quiserem oferecer serviços, de forma isonômica e não discriminatória’, afirmou.


A portaria enfatiza também a recomendação para assegurar a competição e a concorrência no setor, proporcionando preços baixos e qualidade dos serviços aos usuários. Para isso, o ministério determina, além do compartilhamento de redes, a criação de um ‘ambiente favorável’ ao surgimento de novos prestadores de pequeno e médio portes.


A portaria diz que as determinações devem ser seguidas pela Anatel na elaboração de normas e regulamentos. Outra recomendação diz respeito à necessidade de se ampliar a oferta de serviços de internet em banda larga, por meio de diferentes redes. Disseminar o acesso à banda, segundo o ministério, é uma prioridade da política nacional de telecomunicações.


BARREIRAS


O ministério quer reduzir as barreiras existentes hoje ao acesso e ao uso dos serviços de telecomunicações para as classes de menor renda da população, além de assegurar a proteção dos direitos dos usuários desses serviços. O texto diz ainda que a velocidade das transformações tecnológicas vem alterando as condições de mercado, exigindo permanente acompanhamento por parte do Estado na implantação de políticas públicas.


Outro ponto importante recomendado pela portaria é a ampliação da oferta de serviços de interesse coletivo em todas as regiões do País, como os de telefonia fixa. Para garantir o atendimento dos serviços de telecomunicações também à área rural, o ministério recomenda que seja assegurada uma oferta específica para esse segmento de mercado.’


 


TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo


Embratel pretende lançar TV por satélite


‘Se depender da aprovação dos órgãos reguladores, a Embratel começará a vender o serviço de TV por satélite Direct To Home (DTH) no fim deste ano. A informação foi dada pelo presidente da Telmex International, que controla a Embratel. Na semana passada, a Embratel lançou o segundo satélite em menos de um ano. O objetivo é apoiar a oferta de serviços. A Telmex já oferece o DTH no Chile e pretende vendê-lo no Peru e no Equador.’


 


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Apple lucra alto e estréia em chips


‘A Apple comprou a desenvolvedora de microprocessadores P.A. Semi por US$ 268 milhões, em uma ação atípica que dá à empresa uma fatia do mercado de chips, diz o Wall Street Journal. No mesmo dia, a Apple anunciou resultado do melhor trimestre terminado em março da história. O lucro líquido foi de US$ 1 bilhão, 36% maior que em 2007. O faturamento atingiu US$ 7,51 bilhões, acima dos US$ 5,26 bilhões de um ano atrás.’


 


PEDOFILIA
Rosa Costa


Google vai criar filtro antipedofilia


‘Numa iniciativa inédita no País, o maior site de busca na internet do mundo, o Google, entregou ontem para investigação do Ministério Público e da Polícia Federal – por intermédio da CPI das Pedofilia – dados de 3.261 páginas privadas do site de relacionamentos Orkut, suspeitas de conter material de estímulo e divulgação de pedofilia.


Depois da entrega ao presidente da comissão, senador Magno Malta (PR-ES), o diretor de comunicação da empresa Google, Félix Ximenes, anunciou a criação de filtros no Orkut para impedir a divulgação de fotos e textos suspeitos. Segundo ele, a nova ferramenta contará com mecanismos semelhante aos já usados para reprimir a veiculação de pirataria pela rede. A tecnologia, disse ele, dará mais rapidez na pesquisa de dados e fotos, facilitando identificação de arquivos com imagens de vítimas de pedofilia.


Além do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), do procurador da República, Sérgio Suiama, e de outras autoridades, o ato levou à comissão senadores raramente presentes nos depoimentos, iniciados no último dia 25. Garibaldi anunciou que dará prioridade às propostas destinadas a reprimir a pedofilia. ‘A CPI terá uma responsabilidade ainda maior agora’, afirmou. ‘Daí porque o Senado dará prioridade absoluta à matéria, para que nos vejamos livres desse crime, dessa ameaça que tanto intranqüiliza o nosso povo e a nossa sociedade.’ O procurador Suiama lembrou que inúmeras vezes a Google se recusou em fornecer informações solicitadas pelo Ministério Público, o que inviabilizava apurações em curso contra pedófilos, alguns deles procurados internacionalmente. ‘Espero que esse não seja um ato isolado, mas o início de um fluxo permanente de informações’, defendeu.


Otimista, o relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), previu que o entendimento com a Google ‘será um porrete na cabeça dos pedófilos’. Segundo ele, os primeiros dados podem ajudar o Ministério Público e a Polícia Federal a identificar, de imediato, ‘até 200 pedófilos que utilizam a internet para o aliciamento de menores’.


De acordo com o representante da ONG SaferNet, Thiago Tavares de Oliveira, os 3.261 perfis denunciados que tiveram sigilo quebrados pela CPI foram identificados pelas denúncias recebidas pela entidade em apenas três meses. Ele alertou para a existência de muitos outros casos e reiterou o pedido para que os internautas continuem a denunciar o que chamou de ‘uso criminoso da internet’.


Hoje, o senador Magno Malta e outros integrantes da comissão irão à Ilha de Marajó (PA) para ouvir denúncias do bispo d. José Luiz Azcona Hermoso e de outros religiosos sobre exploração sexual e prática de pedofilia, com o envolvimento de autoridades da região. Os religiosos têm sido ameaçados de morte por denunciarem o fato. Amanhã a CPI completa um mês de atividade. No período, foram ouvidas procuradores, promotores, policiais e outras autoridades envolvidas no combate à pedofilia. Nos próximos dias, serão ouvidas pessoas suspeitas de ligação com o crime.’


 


Comissão deve pedir quebra de sigilo telefônico


‘A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia do Senado deve determinar amanhã a quebra do sigilo telefônico de supostos pedófilos que mantenham páginas no site de relacionamentos Orkut.


A promessa foi feita ontem pelo presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES). ‘Amanhã, determinaremos a quebra do sigilo telefônico e certamente chegaremos a todos eles (os supostos pedófilos).’’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Brasil volta a Cannes – e com futebol


‘Havia a expectativa de que Blindness, de Fernando Meirelles, fosse selecionado para a mostra competitiva do 61º Festival de Cannes. Durante a filmagem em São Paulo, o produtor canadense deixou claro que era este o seu objetivo. Ontem, Cannes divulgou a lista dos filmes que vão concorrer em maio. Blindness ficou de fora. O candidato do Brasil é o novo filme de Walter Salles e Daniela Thomas. Filmado em São Paulo, com elenco jovem – Vinicius de Oliveira, de Central do Brasil, é o nome mais conhecido -, Linha de Passe aborda o universo do futebol. De Los Angeles, onde está, o diretor enviou uma nota, comentando não apenas sua indicação, mas também a do cineasta argentino Pablo Trapero, que participa da seleção com um filme co-produzido por sua empresa, a Videofilmes.


Salles tem sido uma presença freqüente em Cannes, com longas e curtas. Há quatro anos concorreu à Palma de Ouro, com Diários de Motocicleta. Linha de Passe, diz o diretor, ‘é um filme com jovens atores que fazem sua estréia no cinema e uma equipe técnica também muito jovem. É a eles que Daniela e eu devemos e dedicamos essa seleção em Cannes, e a Fátima Toledo, que fez um trabalho de preparação primoroso do elenco. Para um filme que se quer pequeno, como Linha, a seleção na mostra competitiva já é um prêmio, independentemente do resultado final.’ A histórias trata de uma mãe e seus quatro filhos. Um dos rapazes, Vinicius, quer ser jogador de futebol. Durante cinco anos Vinicius de Oliveira se preparou para o papel. Ele está jogando um bolão, garante a co-diretora Daniela Thomas. ‘Walter brinca dizendo que o filme foi só um pretexto para preparar o Vinicius e agora vender seu passe para o Barcelona.’


Como houve problemas no corte de negativo, a previsão era de que o filme ficasse pronto em junho. ‘Agora, vamos ter de correr para ver se fica pronto para o festival, no fim de maio’, explica Salles, que não descarta a possibilidade de uma projeção em digital, com mixagem temporária. Sobre o filme de Trapero, La Leonera, ele escreve, em seu comunicado – ‘Não poderíamos estar mais felizes. É o terceiro filme de Trapero que co-produzimos (na Videofilmes). Além de ser um amigo próximo, Pablo é um dos melhores autores de sua geração, um cineasta de rara inteligência e integridade. Ninguém merece esse reconhecimento mais do que ele.’


Além do filme de Salles e Daniela e do de Trapero na competição – Rodrigo Santoro é um dos atores -, mais um filme argentino integra a competição. É La Mujer sin Cabeza, de Lucrecia Martel. Outro brasileiro, A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele, foi selecionado para a mostra Un Certain Regard (leia abaixo). Dois dos três concorrentes norte-americanos são assinados por diretores que também são freqüentes na Croisette. Che (The Argentine), primeira parte do díptico de Steven Soderbergh sobre Che Guevara, com Benicio Del Toro no papel do mítico guerrilheiro – Rodrigo Santoro também está no elenco -, e The Changeling, de Clint Eastwood, com Angelina Jolie. Soderbergh ganhou a Palma de Ouro por sexo, mentiras e videotape; Clint, além dos filmes em competição – O Cavaleiro Solitário, Bird -, foi presidente do júri. O terceiro norte-americano é Synecdoche, New York, de Charlie Kaufman, com Robert De Niro.


Também vencedores da Palma, os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, com Le Silence de Lorna, e Wim Wenders, com The Palermo Shooting, voltam à liça. A lista de 19 participantes inclui a fina flor do cinema de autor internacional, o que promete uma disputa acirrada – o turco Nuri Bilge Ceylan, com Three Monkey; os franceses Arnaud Desplechin e Philippe Garrell, respectivamente com Un Conte de Noel e La Frontière de l’Aube; o canadense Atom Egoyan, com Adoration; e o chinês Jia Zhang-ke, com 24 City. Filmes da Itália, da Hungria, de Singapura, Israel e das Filipinas completam a lista. Fora de concurso, Cannes vai sediar um grande evento midiático – a pré-estréia mundial de Indiana Jones e a Caveira de Cristal, quarto filme da série, em presença do diretor Steven Spielberg, do produtor George Lucas e dos astros Harrison Ford e Shia Labeouf. Tudo aponta para que o 61º seja, de 14 a 25 de maio, um grande Festival de Cannes.’


 


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Matheus Nachtergaele, novato na Croisette


‘Matheus Nachtergaele está feliz da vida. Desde 1999, o pequeno grande ator estava empenhado na realização de seu longa de estréia, rodado em Barcelos, a 400 km de Manaus. É aí que uma tragédia familiar dá origem ao nascimento de uma seita, no filme A Festa da Menina Morta, selecionado ontem para integrar a mostra Un Certain Regard, no 61º Festival de Cannes. Existem outras seções em Cannes – Quinzena dos Realizadores, Semana da Crítica -, mas Un Certain Regard forma com a competição o que se chama de ‘seleção oficial’. E mesmo que Nachtergaele não vá concorrer à Palma de Ouro, como diretor estreante ele estará disputando a prestigiado Caméra d’Or.


Ontem pela manhã, Nachtergaele confessou-se ‘abobalhado’, numa entrevista por telefone, do Rio. Ele já estava assim havia dias, desde que recebeu – no dia do aniversário da morte de sua mãe – a confirmação da seleção. ‘Ela me deu muita força para concretizar o filme’, diz Nachtergaele, que destaca a garra da produtora Vânia Cattani e o comprometimento de sua equipe – o roteirista Hilton Lacerda, o fotógrafo Lula Carvalho e o maravilhoso elenco, com Cássia Kiss, Daniel Carvalho, Dira Paes, Jackson Antunes e uma benzedeira da região, Aninha da Pimba.


A festa do título ocorre numa pequena população ribeirinha do alto Amazonas. Celebra o milagre realizado por Santinho, que, após o suicídio da mãe, recebeu em suas mãos, da boca de um cachorro, os trapos do vestido de uma menina desaparecida. A menina jamais foi encontrada, mas o tecido rasgado e manchado de sangue passou a ser adorado e considerado sagrado. A festa cresceu indiferente à dor do irmão da menina morta, Tadeu. A cada ano as pessoas visitam o local para rezar, pedir e aguardar as ‘revelações’ da menina, que, através de Santinho, se manifestam no ápice da cerimônia.


O culto mistura pajelança e elementos da cultura iorubá. Nachtergaele reconhece agora que sua ficção começou a tornar-se realidade a partir do momento em que o co-roteirista Hilton Lacerda entrou no projeto. ‘O filme foi muito pesquisado, o roteiro precisou de tempo para se desenvolver como queríamos’, ele diz. A Festa participou do Cine en Construcción, no Festival de San Sebastian – uma versão inacabada foi mostrada para discussão e aprimoramento. O (agora) diretor sabe que fez um filme difícil, no sentido de radical. ‘Vão te bater muito’, disse-lhe o amigo Cláudio Assis, um dos raros que já assistiram a A Festa da Menina Morta.


Como Linha de Passe (leia acima), A Festa ainda não está finalizado. Nachtergaele trabalha atualmente na mixagem de som, num laboratório no Rio, e depois viaja para São Paulo, para a finalização, propriamente dita, na Casablanca, parceira do filme, com a TeleImage. A seleção para Un Certain Regard já tem um valor de reconhecimento. Outros filmes brasileiros recentes que foram exibidos nessa importante seção do mais importante festival do mundo foram Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Cidade Baixa, de Sérgio Machado.’


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Ídolos tipo country


‘A Band anuncia que recebeu mais de 7.500 inscrições – 3 mil a mais que o concurso do ano passado – para a segunda edição do Countrystar. Desse total, ficaram mil candidatos para a nova etapa do reality show, que estréia amanhã, dentro do programa Terra Nativa, apresentado pela dupla sertanejo Guilherme e Santiago.


Na primeira temporada, o objetivo era selecionar uma mulher para o posto de popstar da música country. Dessa vez, o concurso vai eleger o melhor cantor ou dupla country do Brasil.


O time de aspirantes inclui gente de Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Bahia, Paraná, Brasília e interior de São Paulo. A maior peneira de candidatos foi feita entre paulistas, seguidos pelos mineiros – reflexo dos grandes redutos do gênero.


O concurso vai durar três meses, com final agendada para 25 de julho, ao vivo. Dos mil pré-selecionados permanecerão apenas 18, que terão de encarar os jurados e cantar no palco do programa. As eliminatórias serão semanais e o vencedor, ou dupla vencedora, terá direito a gravar um CD pela gravadora Universal.’


 


FOTOGRAFIA
O Estado de S. Paulo


Trabalho curioso sobre os bastidores da notícia


‘Francisco Moreira da Silva, quando entrou, há 12 anos, como motorista no Grupo Estado, teve de escolher um apelido para ser identificado. ‘Escolhi Bill porque sempre gostei’, conta o motorista, que também vem se dedicando, desde 1999, a uma outra ação durante uma pauta e outra: a de fotografar seus colegas fotojornalistas e repórteres em ação. Para Bill Silva, as melhores imagens que faz são as que revelam os profissionais da imprensa (jornais, televisão, rádio, revista, etc.) em situações difíceis, como a de um fotógrafo ter de subir em uma árvore para conseguir uma imagem exclusiva ou a de repórteres terem de se espremer para levar o gravador ou microfones até seus entrevistados. Bill se diverte fazendo fotografias desses momentos, diz que quer aprender mais e mais sobre fotografia, e, afinal, também faz um curioso trabalho sobre os bastidores da notícia.


Tudo se iniciou de maneira despretensiosa. ‘Queria mostrar para minha família e para colegas como era o meu dia-a-dia’, conta Bill. Ele comprou uma máquina Yashica e começou a levá-la no porta-luvas do carro – agora ele tem uma Cannon profissional, que ganhou de presente. O resultado dessa empreitada, até agora, são cerca de 3 mil fotografias, 15 exposições (em São Paulo, Jundiaí e Santa Catarina) e o projeto de livro, pela editora Terceiro Nome, que precisa de patrocínio para se concretizar – aprovado pela Lei Rouanet e orçado em R$ 285 mil, terá 160 páginas, 80 imagens e texto do repórter do Estado Moacir Assunção, como conta o fotógrafo e motorista.


Enquanto o livro não sai, Bill não pára: é convidado a realizar palestras em faculdades – vai fazer uma no próximo dia 28, às 10 h, na Unip da zona norte; fotografa sempre; e faz exposições, como a que acaba de inaugurar na biblioteca da unidade da Unip em Alphaville (Av. Yojiro Takaoka, 3.500, Santana de Parnaíba). A mostra, até 21 de maio, reúne 30 imagens realizadas, na maioria, em 2007. ‘Escolhi fotos recentes, mas também estão algumas que mantenho sempre em todas as exposições’, conta Bill. Entre elas, ele cita a que registra a coletiva de imprensa que o ex-governador Mário Covas fez na inauguração de trecho da Rodovia Castelo Branco, em 2000 – pouco antes de ser internado e ter morrido – e outra em que o fotojornalista do Estado, Marcio Fernandes, fotografa um negro em incêndio na favela de Vila Prudente.’


 


 


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