Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Governador proibido de ataques ou promoção na TV

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 10 de janeiro de 2007


POLÍTICA
Folha de S. Paulo


Governador é proibido de fazer ataques em TV


‘O governador Roberto Requião (PMDB-PR) está proibido de usar a TV Educativa do Estado para promoção pessoal, ofensas à imprensa, a adversários e instituições. A decisão é do TRF da 4ª Região, sobre ação da Procuradoria.


Em caso de descumprimento, Requião terá de pagar R$ 50 mil de multa para cada promoção pessoal ou agressão. O valor pode chegar a R$ 200 mil em caso de reincidência.


Na decisão, ele é chamado de ‘useiro e vezeiro [reincidente] em tecer críticas ácidas à imprensa paranaense, políticos e instituições públicas’.


A ação -movida contra Requião, a União, a Anatel, a TV Educativa do Paraná e seu presidente- pediu a suspensão do programa ‘Escola de Governo’, usado por Requião. O juiz não suspendeu a transmissão.


Requião disse, via assessoria, que a decisão ‘instituiu a censura prévia, pois há cerceamento de opinião do governador’.


A Federação Nacional dos Jornalistas classificou a decisão como ‘iniciativa de censura prévia’. Para o presidente da entidade, ‘quem se sentir lesado pelo governador deve procurar reparo na Justiça’.’


 


EUA 2008
Clóvis Rossi


‘Fast journalism’


‘SÃO PAULO – Quem perdeu a primária democrata de New Hampshire foi o jornalismo ‘fast food’, esse que se sente compelido a projetar às pressas o futuro com base só em um microfragmento do presente.


Perderam também os institutos de pesquisa, que davam entre sete e dez pontos de vantagem para Obama, apenas para ver o triunfo de Hillary Clinton. Agora, começam as explicações para o erro de informação que foi atribuir New Hampshire a Obama, mas, por incrível que pareça, reincide-se no ‘fast journalism’.


Uma das supostas explicações: as mulheres se comoveram com as (raríssimas) lágrimas de Hillary em um evento de campanha e correram a ampará-la com seu voto. Pode até ser, mas, que pelo leio na mídia internacional, ninguém foi perguntar a um número representativo de mulheres de New Hampshire se foi isso mesmo.


Meu palpite (e com isso me dou o direito de cenas explícitas de ‘fast journalism’) é o de que a grande maioria dos analistas cometeu o erro de tomar Iowa como sinônimo de Estados Unidos. Seria o mesmo que aceitar que uma situação eleitoral de, digamos, Roraima fosse representativa do Brasil.


O fato é que, antes como depois de Iowa, Hillary está à frente na intenção nacional de voto, com cômoda vantagem de uns 20 pontos. Nada mais natural que New Hampshire faça parte desse sentimento nacional pró-Hillary, ainda que em menor escala. Bem menor, aliás.


Ou, posto de outra forma, a surpresa não foi a vitória da candidata em New Hampshire, mas a sua derrota em Iowa. Ponto.


Voltando ao jornalismo não tão ‘fast’: nem morreu a ‘Obamamania’ nem Hillary Clinton está condenada a ganhar todas as demais primárias só porque ganhou em New Hampshire. É dizer o óbvio? É.


Mas é melhor sabedoria convencional que chute.’


 


Kenneth Maxwell


Previsões e resultados


‘A PRIMEIRA primária da campanha presidencial norte-americana em que os eleitores efetivamente usaram o voto secreto produziu resultados inesperados nesta semana em New Hampshire. Do lado democrata, o carismático senador negro Barack Obama, de Illinois, vinha sendo unanimemente apontado como vencedor. Mas, quando os votos foram contados, foi a laboriosa campanha da senadora Hillary Clinton, de Nova York, que saiu vitoriosa entre os eleitores do partido. Já do lado republicano, Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts e um dos candidatos mais bem financiados da campanha, sofreu derrota incontestável diante do senador John McCain, 71, do Arizona, um dos candidatos menos endinheirados. Foi uma noite memorável na política norte-americana.


De muitas maneiras, as primárias de New Hampshire cumpriram a missão que as primárias foram criadas para realizar, quando introduzidas, no começo do século 20, como parte do movimento progressista de reforma política: transferir o poder de selecionar os candidatos de volta ao povo, em um processo transparente, tirando-o das mãos dos chefes políticos e de suas tramóias de bastidores. Os cidadãos de New Hampshire encaram com grande seriedade o papel único que exercem na política dos EUA. Muitos se mantêm independentes dos dois grandes partidos, mas têm o direito de votar em seus candidatos durante a primária estadual. Por isso, New Hampshire continua a ser o local clássico para a política ‘de varejo’, sob a qual os candidatos são forçados a fazer política à moda antiga: saindo às ruas para conversar com os eleitores reais e descobrir o que os preocupa.


Para o senador McCain, a política de varejo funcionou. Suas opiniões sobre a Guerra do Iraque e a imigração não eram populares em New Hampshire, mas ele declarou às audiências que estava lá para lhes dizer a verdade tal qual a via, mesmo que os espectadores discordassem dele. Diante de Romney, um político oportunista, a mensagem se provou poderosa. Os especialistas agora estão atribuindo a notável virada conseguida por Clinton ao ‘momento de emoção’ no qual ela derramou lágrimas em um dos pequenos restaurantes característicos de New Hampshire, demonstrando que ela também é ‘humana’. Na verdade, foi organização política à moda antiga que levou os eleitores democratas às urnas.


As multidões fascinadas pelo carisma que compareceram aos comícios de Obama em largos números eram a antítese da política de varejo ao estilo de New Hampshire. No dia da decisão, foram os velhos e confiáveis sindicalistas democratas, preocupados com a economia, bem como uma maioria das mulheres maduras, que foram de fato às urnas para conceder à senadora Clinton sua famosa vitória.’


 


DOCUMENTÁRIO
Carlos Heitor Cony


Uma foto e uma semana


‘RIO DE JANEIRO – Em comemoração a seus 70 anos, Vladimir Carvalho produziu e dirigiu um documentário sobre José Lins do Rego, ‘O Engenho de Zé Lins’, com cenas do vale do Paraíba e dos principais cenários do ciclo da cana-de-açúcar, que deu perenidade a um dos maiores escritores de nossa literatura.


Como acontece nos documentários, há depoimentos de vários interessados na obra do autor de ‘Fogo Morto’, e, entre eles, Vladimir me colocou. Eu tinha visto, havia pouco, uma foto de máquina-caixote, as mais primitivas da época, 1932.


Tarde de domingo em Maceió. Todos de branco, lá estão, da esquerda para a direita, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge de Lima, Zé Lins, Aurélio Buarque, Gilberto Freyre e Jorge Amado. Todos na altura do primeiro ou segundo livro. Não fizeram manifesto nem foram patrocinados pela alta burguesia do Nordeste. Eram amigos entre si, mas não faziam ruído. Faziam bons livros, que marcariam a vida cultural do século 20.


Comparei essa foto com outra, tirada no Teatro Municipal de São Paulo, um grupo mais numeroso e heterogêneo naquela que seria chamada de Semana de Arte Moderna de 1922. Foi um evento patrocinado por milionários paulistas. Fizeram muito barulho, muita festa e foguetório. Tinha um grande músico, um grande pintor, um grande poeta (Bandeira), um agitador cultural (Oswald de Andrade) e um polígrafo (Mário de Andrade). Geração respeitável, mas esgarçada, sem um núcleo que a amarrasse, a não ser o rótulo desgastado que sempre parece novo: ‘moderno’.


A turma de 1932 praticamente não tomara conhecimento das tábuas da lei de 22. Eles chegaram onde chegaram por instinto próprio, pela realidade própria dos dramas e cenários do tempo e do chão em que viviam.’


 


SÃO PAULO
Lilian Christofoletti


Assembléia quer contratar 94 jornalistas


‘Neste ano de eleições municipais, os deputados da Assembléia Legislativa de São Paulo aprovaram, em regime de urgência, a contratação de 94 jornalistas -medida que vai custar R$ 541 mil por mês aos cofres do Estado.


Pelo menos 40 dos 94 parlamentares já manifestaram interesse em participar da eleição em suas respectivas cidades. Eles não precisam pedir licença do cargo para entrar na disputa eleitoral.


Pelo novo projeto, que foi sugerido pelo colégio de líderes da Assembléia, o jornalista nomeado receberá R$ 5.754,79 por mês.


A criação desses cargos, que ainda precisa ser aprovada pelo governador José Serra (PSDB), chama a atenção porque cada deputado já tem pelo menos um assessor de imprensa.


Na falta de um cargo específico para a área de comunicação, os profissionais são contratados como assistentes ou assessores -cada parlamentar tem direito a 15 funcionários nomeados sem concurso.


Em outros casos, o parlamentar pode usar a verba de gabinete, que hoje é de R$ 17.787,50, para pagar um jornalista.’


 


TELECOMUNICAÇÕES
Guilherme Barros e Elvira Lobato


Oi acerta preço de compra da Brasil Telecom


‘Os controladores da Oi (ex-Telemar) acertaram o preço de compra da Brasil Telecom (BrT) por R$ 4,8 bilhões, segundo a Folha apurou junto a um dos envolvidos nas negociações. Para a concretização da compra ou fusão entre duas das maiores empresas de telefonia do país, ainda é preciso mudar a legislação do setor. O governo apóia o negócio.


As negociações finais entre a Oi e a BrT já se arrastam por cerca de dois meses. Os grandes mentores do projeto e principais negociadores foram os empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do grupo La Fonte.


No início, havia resistências por parte de Sérgio Rosa, presidente da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), que tem uma importante participação tanto na Oi quanto na BrT. Rosa defendia uma venda pulverizada das ações da BrT. Andrade acabou convencendo a Previ do negócio. O Citigroup, que também tem uma participação importante na BrT, não impôs resistências. Afogado em problemas com a crise financeira nos EUA, o Citi quer vender sua parte na BrT.


Andrade teve como avalistas da operação o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Andrade é um dos empresários mais próximos de Lula. Os dois se conhecem desde a época em que Lula perdeu a eleição para Fernando Collor de Mello (1989), quando Andrade lhe deu apoio.


A compra da BrT pela Oi ou a fusão entre elas depende de decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alterando o decreto 2.534/98, que aprovou o Plano Geral de Outorgas. Ele determina que, se uma concessionária adquirir outra, terá que abrir mão de sua concessão original no prazo de seis meses.


O acerto final sobre o preço, que foi verbal, sem assinatura de acordo, ocorreu ontem em reunião do Conselho de Administração da Oi em Botafogo, Rio de Janeiro, com a presença dos acionistas controladores.


Em meio à boataria sobre o negócio, a Oi divulgou fato relevante confirmando a intenção de comprar empresas de telefonia fixa, celular, de internet e de televisão por assinatura, sem citar a BrT.


Ontem, por volta das 20h, a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) pediu esclarecimentos às empresas sobre a movimentação dos acionistas, que provocou valorização das ações das empresas.


No fato relevante, a Oi diz que contratou consultoria externa para examinar oportunidades de compra de empresas, dentro do ‘marco regulatório em vigor’. A legislação atual impede a compra de uma concessionária de telefonia fixa por outra ou a fusão entre elas.


O fato relevante da Oi informa ainda que os acionistas da Telemar Participações (holding que controla o grupo) estão desenvolvendo estudos para uma nova proposta de restruturação da base acionária da companhia. Seria a terceira tentativa nesse sentido. Eles já apresentaram ofertas com esse objetivo em 2006 e em 2007, que foram rejeitadas pelos investidores estrangeiros, detentores de ações preferenciais.


Desde 2006, os grupos Oi e BrT admitem interesse na fusão ou na compra da BrT pela Oi. Nota na revista ‘IstoÉ’ desta semana disse que a Oi teria proposto comprar 35% das ações da BrT pelo dobro do valor de face dos papéis.


A BrT é controlada pelos fundos de pensão e pelo Citibank. A Telemar é controlada pelos grupos La Fonte (grupo Jereissati), Andrade Gutierrez, GP Investimentos, fundos de pensão e pelo BNDES, que tem 25% das ações da Telemar Participações. Pelo acordo, GP, Citi e Previ sairiam da empresa resultante, que ficaria com La Fonte, Andrade Gutierrez e os outros sócios.


O governo federal já deu seguidos sinais de que apóia o negócio. O ministro Hélio Costa, das Comunicações, chegou a anunciar, no ano passado, a criação de um grupo interministerial para estudar a fusão, mas a iniciativa não foi adiante. De férias em Miami, Costa disse à Folha que desconhecia o acerto de acionistas.


A Telefônica já disse que, se a lei mudar, também terá interesse na compra da BrT.’


 


CONTRABANDO
José Machio


Apreensão de mídias gravadas cresce 81% em Foz do Iguaçu


‘Balanço divulgado ontem pela Receita Federal em Foz do Iguaçu (PR) apontou aumento de 81% nas apreensões de mídias óticas gravadas (CDs e DVDs piratas) na região no ano passado em relação a 2006. O total desses produtos recolhidos chegou a US$ 1,09 milhão.


O aumento nas apreensões de mídias gravadas contrasta com a redução de 29% no recolhimento de CDs e DVDs virgens contrabandeados. Ao todo, as apreensões de contrabando em Foz do Iguaçu somaram US$ 77,6 milhões em 2007 -aumento de 1% ante o ano anterior.


O delegado da Receita em Foz do Iguaçu, Gilberto Tragancin, disse que a queda na apreensão de mídias virgens mostra que houve mudança de rota desse tipo de contrabando. Uma hipótese é que os produtos estejam entrando ilegalmente no país por Mato Grosso do Sul.


‘No caso das mídias gravadas, muitas empresas possuem licenciamento para a produção. São, portanto, legais no Paraguai. Até poderiam ser introduzidas [mercadorias] no Brasil, desde que pelas vias legais, e não pelo contrabando’, disse.


Essa nova tendência no contrabando de CDs e DVDs fez a Receita começar a articular, em nível nacional, uma nova política de combate ao descaminho. ‘É preciso um trabalho articulado não só nas fronteiras, mas nos locais de comercialização dos produtos contrabandeados’, afirmou Tragancin.


Recorde


Apesar de o valor das apreensões de contrabando em Foz ter ficado 1% acima do total de 2006, os US$ 77,6 milhões em produtos recolhidos representam o recorde anual de apreensões na Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai).


O balanço da Receita em Foz aponta também alta no contrabando de cigarros, com aumento de 10% nas apreensões em relação a 2006. Foram recolhidos US$ 12,4 milhões em cigarros contrabandeados em 2007.


Com US$ 12,3 milhões em apreensões, os produtos eletrônicos tiveram crescimento de 7% ante 2006. Mercadorias de informática apresentaram redução de 28%.’


 


CINEMA
Eduardo Simões


‘Reparação’ tem bênção de seu autor


‘Baseado em ‘Reparação’ (Companhia das Letras, 2002), romance do escritor inglês Ian McEwan finalista do Booker Prize 2001, o mais prestigioso prêmio literário britânico, o filme ‘Desejo e Reparação’ é o campeão de indicações ao Globo de Ouro (sete), feito que pode repetir no Oscar, que anuncia os concorrentes no dia 22.


Segundo longa de Joe Wright (‘Orgulho e Preconceito’), o longa, que estréia amanhã no Brasil, custou US$ 30 milhões (R$ 53 milhões) e é a narrativa de como uma sucessão de mal-entendidos, seguidos de mentiras, podem ser tão devastadores quanto a guerra, pano de fundo desta história de amor.


No verão de 1935, a aristocrática Briony Tallis (Saoirse Ronan), de 13 anos, acusa o filho da governanta Robbie Turner (James McAvoy), amante da irmã mais velha, Cecilia (Keira Knightley), de um crime que não cometeu. A reparação, tardia, é pretendida por meio da arte -um livro que Briony escreve ao longo de seis décadas.


Uma das categorias do Globo em que tem mais chances é a de melhor roteiro, para o dramaturgo e diretor Christopher Hampton, que já assinou adaptações como, entre outras, ‘O Americano Tranqüilo’ (de Philip Noyce, 2002) e ‘Ligações Perigosas’ (de Stephen Frears, 1988), que lhe valeu um Oscar.


A adaptação tem a bênção do próprio McEwan. Em entrevista ao jornal inglês ‘The Guardian’, Hampton disse que o autor ‘leu cada rascunho do roteiro e foi bastante assíduo’. ‘A revelação no exato final da história foi a coisa mais complicada em termos fílmicos. Mas acredito que tenhamos conseguido [um bom resultado].’


Crítica dividida


A crítica na Inglaterra e Estados Unidos ficou um tanto dividida: o britânico ‘The Observer’ elogiou a ‘adaptação magistral’, as ‘atuações fortes’ e ‘ótima fotografia’. Já no ‘The New York Times’, o crítico A.O. Scott falou mal da falta de sutileza na interpretação da atriz Blenda Blethin, que vive a mãe de Robbie, e da trilha sonora de Dario Marianelli, que buscou injetar tensão na trama misturando à música o som das batidas de uma máquina de escrever. Scott diz que o filme é um exemplo clássico do quão ‘sem sentido e reducionista’ pode ser a ‘transmutação de literatura em cinema’.


Uma das seqüências mais elogiadas em resenhas inglesas foi o travelling de quase seis minutos que mostra Robbie em meio à saída de tropas inglesas e francesas pós-Batalha de Dunquerque (1940), durante a Segunda Guerra. Para Philip French, do ‘Observer’, o virtuosismo da tomada é comparável ao de diretores como Orson Welles, Alfred Hitchcock e Michelangelo Antonioni. Para A.O. Scott, é vazio.


Keira Knightley, que já havia trabalhado com Wright em ‘Orgulho e Preconceito’, quando recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz, disputa o Globo de Ouro na mesma categoria por ‘Desejo e Reparação’. De acordo com o ‘Guardian’, sua atuação é ‘frágil, brilhante, distante’.


Escolhido por seu ‘background’ de classe operária, como seu personagem em ‘Desejo e Reparação’, o escocês McAvoy considera que Robbie é seu primeiro grande papel principal convencional -em ‘O Último Rei da Escócia’, McAvoy foi um tanto ofuscado por Forest Whitaker.


Em entrevista ao ‘Guardian’, o ator disse ainda que o papel de Robbie é mais simbólico do que literal. ‘Ele é todo bondade. Quase como um Cristo ou angelical. Acho que é por isso que é tão difícil para o público, mas também para mim, vê-lo sendo destroçado. É como se nós fôssemos destroçados. Eu queria ser ele. Queria que ele existisse.’’


 


Noemi Jaffe


A arte pode reinventar e reparar tudo


‘Alguém entendido em ‘cinemão’ diria que ‘Desejo e Reparação’ apela para recursos fáceis de dramaturgia. Que o protagonista, num parque de diversões devastado pela guerra, atinge as vísceras de qualquer um: grandiloqüência, desespero. Mas não sou especialista.


Talvez só goste de histórias. E, nesse sentido, o filme é brilhante. Ele é exatamente sobre o que a história e a literatura são capazes de fazer.


Uma garota fantasiosa, Briony, com olhos que vêem mais a fantasia do que a realidade (e, afinal, o que é isso?), é capaz de arruinar a vida das pessoas que mais ama. Por imaginação, amor e medo, coisas muito próximas e, até, indiferenciáveis.


A história é adaptada do livro homônimo de Ian McEwan, e o filme é produzido por ele próprio. Na narrativa, a fantasia, mesmo que de um modo ingênuo, provoca o mal, e a idéia mais difícil é a da reparação.


Melanie Klein, em ‘Amor, Ódio e Reparação’, mostra que a última é uma das práticas mais dignas de um indivíduo. A reparação é um arrependimento ativo, que requer mergulho no cerne do vazio, para poder retratar o estrago.


Nem todos são capazes de reparar; é preciso coragem, mais do que para provocar o sofrimento.


A questão do filme é: se um escritor pode tudo, como Deus, de que vale sua tentativa de reparação? ‘Não há reparação possível para Deus nem para os romancistas, nem mesmo para os romancistas ateus.’ É o que diz Briony no final de sua vida, na interpretação inacreditável de Vanessa Redgrave, o que faz valer o filme, mesmo para os especialistas.


Como a arte pode reparar tudo, pois inventa a realidade, talvez ela não seja capaz de reparar nada.


Não posso concordar com isso. Mesmo que as vítimas não se beneficiem da reparação do artista, nós, espectadores catárticos, teremos nosso terror e nossa piedade, prontos para possíveis reparações.’


 


Cássio Starling Carlos


Diretor usa formas clássicas para fazer cinemão dos bons


‘Cinemão (tal como teatrão) é um termo que se usa, com intenção quase sempre pejorativa, para designar obras que recorrem a todo o arsenal de formas clássicas de representação com o objetivo de agradar o maior número possível de pessoas. Filmes que ganham Oscar, por exemplo, quase sempre são cinemão.


‘Desejo e Reparação’ é cinemão e deve fazer um arrastão no Globo de Ouro e no Oscar. Mas, neste caso, todo o repertório clássico convocado pelo diretor Joe Wright em seu segundo longa não se esgota na necessidade de agradar um gigantesco público.


Do mesmo modo que Ian McEwan dialoga com princípios fundamentais da narrativa em ‘Reparação’, romance que deu origem ao filme, o diretor consegue estabelecer com a imagem clássica e, sobretudo, com a ordem em que elas se mostram ao espectador um jogo que traz à tona uma questão crucial a ambos relatos: o que distingue fato e ponto de vista na história literária? O que distingue imagem e imaginação na narrativa cinematográfica? Todo relato conta uma história, como se convencionou.


Seus sentidos, porém, podem variar radicalmente conforme quem a narra e como. McEwan propõe essa indagação ao retomar temas de Jane Austen e Henry James sem fazer pastiche de autores clássicos. E o filme consegue estabelecer o mesmo diálogo com o cinema britânico, reencontrando alturas de Michael Powell e David Lean, sem para isso se reduzir ao decorativo, como muito se viu nos filmes de James Ivory.


Muita gente vai achar o filme uma obra ultrapassada, mero cinemão. Que seja. Mas, ao lado de ‘A Espiã’, de Paul Verhoeven, que também estréia amanhã, há muito tempo não se via cinemão tão espetacular.


DESEJO E REPARAÇÃO


Produção: Inglaterra, 2007


Direção: Joe Wright


Com: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai


Onde: estréia amanhã nos cines Bristol, TAM, Reserva Cultural e circuito


Avaliação: ótimo’


 


TELEVISÃO
Folha de S. Paulo


Concurso na MTV escolhe a vocal do Bonde


‘O grupo Bonde do Rolê fará um concurso na MTV Brasil para escolher a próxima vocalista da banda.


Após a saída de Marina Ribatski, em novembro, o grupo ficou reduzido a Rodrigo Gorky e Pedro D’Eyrot. A dupla começa a procurar uma substituta.


Até o dia 20, eles farão dois shows com divulgação pela TV e pela internet, em que convocarão garotas a se apresentarem. As candidatas devem mandar vídeo pelo Overdrive (http://mtv.uol.com.br/mtvoverdrive).


Cinco jurados escolherão cinco finalistas. O voto dos fãs ajudará a pinçar a nova vocalista da banda.


O BdR é dos artistas pop nacionais de maior repercussão no exterior.’


 


Sylvia Colombo


‘Heroes 2’ traz novas caras e vírus planetário


‘O professor pergunta para a sala de aula quem sabe o nome do sujeito que criou a teoria da evolução das espécies por meio de seleção natural. A menina-mutante Claire Bennet escreve no seu caderno: Charles Darwin (1809-1882), mas prefere não dizer nada, esperando que os colegas respondam. Todos, porém, ficam em silêncio. Desapontado com a ignorância dos alunos, o mestre explica as idéias do naturalista britânico.


Quatro meses depois de terem salvo Nova York de uma explosão devastadora, a trupe dos heróis que desenvolveram habilidades sobre-humanas devido a alterações genéticas reaparece para a segunda temporada de ‘Heroes’, que estréia amanhã, às 21h, no Universal.


Antes de tudo, agora eles têm de lidar com uma questão existencial. O que fazer com superpoderes num mundo de pessoas normais? Uns têm medo de serem aprisionados numa jaula e estudados como cobaias, outros querem salvar o planeta de suas mais terríveis ameaças, e há, ainda, os que desejam apenas realizar fantasias pessoais.


O pai de Claire, a adolescente que nunca se machuca, pois desenvolveu a capacidade de auto-regeneração de ossos, pele e órgãos, quer escondê-la. Proíbe-a de se destacar na escola, o que a deixa deprimida. Já Hiro se vê no Japão do século 17 diante de um ídolo de infância. E o ambíguo herói Peter Petrelli acorda desmemoriado na Irlanda. Também uma nova mutante aparece em Honduras, de acordo com o clima de globalização dramática da série.


Enquanto isso, um vírus também planetário começa a se espalhar e fará com que o grupo tenha de se juntar para ajudar o planeta a livrar-se dele.


Apoiada na idéia de que pessoas geneticamente especiais podem salvar o mundo, ‘Heroes’ espelha cada dia mais os EUA de hoje. A obsessão com a figura do presidente, que precisa tomar decisões drásticas e polêmicas para proteger a nação, e o tamanho crescente das crises possíveis -na primeira temporada a ameaça era ‘apenas’ a destruição de Nova York, agora podem ser doenças planetárias, o terrorismo ou o aquecimento global- são apenas um termômetro das neuroses coletivas do país.


Mas tratar o seriado apenas como fenômeno sociológico seria muito ranzinza. Na mesma linha de ‘24 Horas’ e ‘Lost’, ‘Heroes’ extrapola os limites do suspense dentro do formato e deixa os espectadores em constante estado de aflição. Não será diferente nesta segunda fase. Só resta esperar que a crise dos roteiristas não estrague essa aventura.’


 


Laura Mattos


Estréia do ‘BBB 8’ tem a terceira pior audiência


‘O ‘Big Brother Brasil 8’ teve ontem a terceira pior audiência de estréias do reality show. Marcou 37 pontos de média (dados prévios da Grande SP).


Só não perdeu para o ‘BBB 2’, com 28 pontos no primeiro dia, e o ‘BBB 3’, que registrou 36.


O ‘BBB 1’ foi o melhor, com 48 pontos, seguido pelo ‘BBB 5’, com 46.


A oitava edição foi sintonizada por 57% dos televisores ligados. Na participação, só não foi pior do que o ‘BBB 2’, com 49%, já que o ‘BBB 3’ teve 58%.


Na estréia do ‘BBB 8’, a produtora de moda carioca Bianca, aposta do diretor Boninho, ganhou ‘imunidade’, ou seja, não pode ser colocada no primeiro paredão.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 10 de janeiro de 2007


IMAGEM
Eugênio Bucci


Propagandas infantis


‘Criancinhas em comerciais de TV não costumam falhar. Vendem de tudo. Dão certo em propagandas de automóveis, de produtos alimentícios e até mesmo de brinquedos. Encarnando atributos valiosos no ramo publicitário, como pureza de espírito, ausência de malícia e espontaneidade, elas inspiram confiança na freguesia.


Não se pode dizer que os políticos desfrutem da mesma imagem. A política se move por mecanismos bem mais adultos e requer de seus praticantes, além de pragmatismo, uma boa dose de talento teatral. Bons políticos são aqueles que conseguem sorrir em situações em que uma criança cairia em prantos – e que ousam verter lágrimas compungidas quando a gente sabe que gargalham por dentro. Vistos como dissimulados, inspiram mais cautela que credulidade entre os cidadãos, o que não é ruim: do ponto de vista do eleitor, a cautela ajuda.


Ocorre que, às vezes, os profissionais da política não se conformam e para tocarem de perto o coração dos comuns tentam se valer das criancinhas. Foi o que se viu em dezembro, num filme institucional da Prefeitura de São Paulo, que foi ao ar inclusive em intervalos do Jornal Nacional. Tinha um minuto de duração. A protagonista e narradora do filme é uma garotinha, apenas uma garotinha. Transcrevo, a seguir, o que ela diz.


‘Já tá chegando o Natal e o fim do ano. Como diz a minha mãe, aconteceu tanta coisa que a gente nem viu o ano passar. Teve a escola nova (entram as primeiras legendas sob as imagens: ‘104 novas escolas’), a gente estudou mais (legendas: ‘1 hora a mais na escola’ e ‘Dois professores em sala de aula’), fez prova, brincou no clube depois da aula (legenda: ‘Clube-escola’), teve até exame médico na escola! (Legenda: ‘Aprendendo com saúde’) Eu ganhei um irmãoziiinho… (Legenda: ‘Mãe Paulistana’.) Já a minha avó ficou doente. (Legenda: ‘Novo Hospital em Cidade Tiradentes’.) Foi para o hospital e sarou, mas ainda toma remédio todo dia. (Legenda: ‘Programa Remédio em Casa’.) Meu tio também teve problema de saúde, mas já tá bom. (Legenda: ‘Dois milhões de atendimentos nas AMA’.) Meu pai arrumou um empreeego! (Legenda: ‘Centro de Apoio ao Trabalhador’.) A gente mudou para um apartamento novinho, com bastante lugar para brincar. (Legenda: ‘O maior programa de Habitação Popular e Urbanização de Favelas do Brasil’.) Eu tô achando até a cidade diferente (legenda: ‘650 quilômetros de ruas asfaltadas’), mais bonita… (Legenda: ‘Cidade Limpa’.) Só sei que daqui a pouco começa o ano tuuudo de novo. (Nessa passagem, a câmera faz um close na menininha colando uma árvore de Natal recortada em cartolina verde na vidraça de seu apartamento novo.) Ainda bem, né?’


Em seguida, entra a voz do locutor oficial: ‘A Prefeitura de São Paulo trabalhou duro para que você pudesse viver numa cidade melhor. Os resultados mostram que estamos no rumo certo.’ Sobe o brasão da Prefeitura, ao som do slogan final: ‘Prefeitura da cidade de São Paulo, trabalhando por uma cidade melhor.’


Claro que escalar uma pré-adolescente para fazer comício a favor do prefeito não é lá o melhor exemplo de respeito à infância. Por não compreenderem os alcances contraditórios do discurso político, as crianças – que não se podem candidatar nem podem votar – deveriam ser mantidas longe desse negócio, naturalmente, mesmo quando a Prefeitura insinua que acaba de municipalizar o Papai Noel. O maior problema, contudo, não está no comercial isolado: está no aprofundamento de uma tendência geral de que esse comercial é exemplar: cada vez mais, as propagandas de governo – seja ele municipal, estadual ou federal – não hesitam em apelar para capturar o sentimentalismo alheio.


O filme da Prefeitura não é exceção, portanto. Como os demais, ele não quer ser exato, preciso, ainda que lance mão de um número ou outro. Como os demais, não busca abrir as contas da administração, não permite uma comparação técnica entre o que foi prometido e o que foi realizado, nada disso. A linha da comunicação é muito mais adjetiva que substantiva, mais sentimental que objetiva.


As peças de comunicação do Poder Executivo, em todos os níveis, vêm se esmerando no que podemos chamar de demagogia cívico-publicitária a serviço do governante. A propósito, no mesmo mês em que foi ao ar a propaganda da garotinha, o governo federal estava em cartaz com uma campanha de vários filmes de 30 segundos. Em cada um deles, um diferente grupo de cidadãos sobe uma escadaria e chega lá em cima de peito estufado e sorriso firme, numa clara metáfora – um tanto infantil, é verdade – da escalada de quem sobe na vida. Se a campanha da Prefeitura politiza a infância, a outra infantiliza a política. Ambas rebaixam o atendimento direito à informação a um expediente de propaganda.


Os governantes não se abalam, convictos de que a publicidade paga é seu melhor canal com o público. Se questionados, dizem que apenas prestam contas. Sem sua ‘publicidade informativa’, alegam, a sociedade jamais teria conhecimento do que realizaram, pois a imprensa distorce os fatos e só destaca o que é negativo. Assim, perpetua-se uma das mais tristes tradições nacionais: o uso de (muita) verba pública para veicular, em espaços (muito bem) pagos, mensagens partidárias (porque partidariamente governistas), não para informar, mas para promover a imagem do governo. A lógica das campanhas eleitorais se apossou da comunicação de governo – e esta se apresenta como campanha eleitoral ininterrupta. E infantil.


*Eugênio Bucci, doutor em Ciências da Comunicação pela USP e professor visitante do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade, presidiu a Radiobrás de 2003 a 2007′


 


TELECOMUNICAÇÕES
Nilson Brandão Junior e Gerusa Marques


Telemar está perto de levar a BrT


‘O Grupo Oi (antiga Telemar) confirmou ontem que está negociando uma reestruturação entre os sócios e a compra de uma empresa. No comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa não detalhou quais são as operações em andamento.


No dia 28 de dezembro, uma reportagem do Estado informou que os controladores da Oi estavam negociando a compra da participação do sócio GP Investimentos e também a aquisição da Brasil Telecom, hoje controlada por fundos de pensão de estatais e pelo Citi. Ontem, a coluna Radar, no serviço online da revista Veja, informou que o negócio foi fechado na noite de segunda-feira.


As empresas não confirmaram a informação. Segundo fontes do governo, o negócio está praticamente fechado. Pelo que a reportagem do Estado apurou, está sendo costurado um plano pelo BNDES que prevê a ação direta do governo em duas frentes. Uma delas envolve o Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve baixar um decreto permitindo a união de duas operadoras de telefonia, hoje proibido por lei.


A compra da Brasil Telecom deve sair, porém, antes mesmo da publicação do decreto. No contrato de venda para a Telemar haverá uma cláusula condicionando a realização do negócio à mudança na lei. Ou seja, se a lei não mudar, o negócio não é efetivado. O acordo está sendo fechado, portanto, com a certeza que já está tudo acertado em Brasília.


A outra atuação do governo será feita por meio do BNDES. Estão programados financiamentos bilionários para dois sócios privados da Oi, Carlos Jereissati, do grupo La Fonte, e Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, comprarem participação de outros acionistas na Telemar e também para assumir o controle da Brasil Telecom.


Existem duas possibilidades de negócio dentro da Telemar. Hoje, o controle da empresa é dividido entre Grupo La Fonte (10,275% das ações ordinárias), Andrade Gutierrez (10,275%), GP Investimentos (10,275%), fundos de pensão de empresas estatais (Previ, Sistel, Funcef e Telos, com 19,9% ), e BNDESpar (25%). Já está definido que a GP Investimentos sairá da empresa e venderá sua participação – avaliada em US$ 500 milhões – para os sócios.


A dúvida é se o Grupo La Fonte e a Andrade Gutierrez também comprariam a parte dos fundos de pensão. Para isso, seriam gastos mais US$ 500 milhões. No total, se os fundos saírem da Oi, o La Fonte e a Andrade Gutierrez gastariam US$ 1 bi para se tornarem os principais controladores da Telemar.


A segunda parte da operação prevê que a Telemar – já com menos sócios – assuma o controle da Brasil Telecom. Hoje, o controle da Brasil Telecom está nas mãos do Citi e dos fundos de pensão de estatais (principalmente Previ, Petros, Funcef e Telos).


A princípio, os fundos e o Citi pediam R$ 5,2 bilhões por sua participação na BrT. Jereissati e Andrade falavam em R$ 4,3 bilhões. Segundo a coluna Radar, a venda teria sido fechada por R$ 4,8 bilhões (US$ 2,7 bilhões). Esses recursos também seriam financiados pelo BNDES. No total, os financiamentos poderiam chegar a US$ 3,7 bilhões – ou R$ 6,5 bilhões.


A última rodada de conversas começou antes do Natal na sede do BNDES, no Rio. Na reta final, desde sexta-feira passada, foram escolhidos dois representantes para finalizar o acordo. Do lado da Telemar quem ficou responsável por conduzir as negociações foi Carlos Jereissati. Pelos fundos de pensão e pelo Citi foi escolhido o presidente da Previ, Sérgio Rosa.


A operação ainda tem vários obstáculos e riscos. Em primeiro lugar, é preciso mudar a lei e dar empréstimos bilionários a Jereissati e Andrade – e enfrentar a resistência política e a oposição dos rivais da Telemar a essas medidas. Outro risco, segundo analistas de mercado, é a resistência de acionistas minoritários. Como os fundos de pensão estão nas duas pontas do negócio, os minoritários podem questionar se houve sobrepreço em uma das operações.’


 


Renato Cruz


Novo grupo será gigante de mais de R$ 20 bilhões


‘A união da Oi (antiga Telemar) e da Brasil Telecom criaria o maior grupo de telecomunicações do País, com faturamento de R$ 21,3 bilhões entre janeiro e setembro de 2007 e posição dominante em todos os Estados brasileiros, com exceção de São Paulo. O mercado ficaria dividido entre três grandes grupos. Os outros dois são o grupo espanhol Telefônica e o mexicano Telmex/América Móvil, dono da Embratel e da Claro.


O Plano Geral de Outorgas, um decreto presidencial, não permite hoje que concessionárias de telefonia fixa (Oi, Brasil Telecom, Telefônica e Embratel) tenham controladores em comum – portanto, teria de ser mudado para viabilizar a fusão. Além disso, a compra necessitaria da aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).


Um novo decreto presidencial, para permitir a fusão, poderia ser interpretado com uma mudança de regras e gerar reclamações das outras empresas do mercado. Ou poderia dar origem a reivindicações para que outras regras fossem mudadas, permitindo, por exemplo, a fusão entre empresas concorrentes de telefonia celular.


As posições da Telefônica e da Telmex, hoje, acabam tornando menos atraente o mercado brasileiro de telecomunicações para outros jogadores internacionais. A compra da Brasil Telecom pela Oi poderia mudar o panorama. ‘A nova empresa seria muito atrativa para um grupo internacional’, apontou o analista Julio Puschel, da consultoria The Yankee Group.


EMPRESA NACIONAL


O governo apoiou as negociações sob o argumento de que seria criada uma grande operadora nacional. É difícil, no entanto, garantir que o controle permaneceria nas mãos de investidores nacionais. As regras do setor não diferenciam o capital por sua origem.


Quando o Sistema Telebrás foi privatizado, há 10 anos, o modelo previa a competição entre quatro grandes grupos, que disputariam entre si em todo o Brasil e em todos os serviços. Não foi o que aconteceu. A competição na telefonia fixa, por exemplo, é muito limitada. As concessionárias locais só oferecem telefones fixos, fora de sua área, para grandes empresas.


A idéia era que cada um dos quatro grandes grupos seria liderado por uma concessionária local. Por causa disso, existe a proibição de que tenham o mesmo controlador no Plano Geral de Outorgas.


O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros, da Orion Consultores Associados, vê riscos ao mercado, e ao próprio consumidor, com a união entre as duas empresas. ‘A compra da Brasil Telecom pela Oi desequilibra o modelo e enfraquece as outras concessionárias’, disse Quadros. ‘Os investidores da Embratel e da Telefônica poderiam fazer uma avaliação de que não é mais interessante permanecer no negócio. A tendência natural seria o monopólio.’


A união entre Oi e Brasil Telecom vem sendo discutida pelo menos desde o ano passado. Segundo uma fonte do mercado, executivos da Brasil Telecom faziam planos de se mudar para o Rio de Janeiro (onde está a sede da Oi) desde meados de 2007. As empresas não concorreram entre si no leilão das licenças de celulares.


A Oi tentou ser vendida para investidores estrangeiros e tentou pulverizar seu capital, sem sucesso. O Citigroup anunciou sua intenção de sair da Brasil Telecom desde que tirou o Banco Opportunity da gestão de seus ativos. A crise do mercado imobiliário americano aumentou a pressão sobre o banco para se desfazer de ativos no mundo, o que pode ter acelerado a negociação por aqui.’


 


MODA
Bob Tourtellotte


Victoria Beckham lidera ranking das mais malvestidas


‘Los Angeles – Victoria Beckham cruzou o Atlântico para se consolidar como diva da moda na América, mas a cantora britânica sofreu um revés anteontem, quando o estilista Mr. Blackwell a definiu como a celebridade mais malvestida de 2007. ‘Com uma monstruosa minissaia atrás da outra, Victoria pode realmente aborrecer’, disse Blackwell, que todos os anos faz um ranking de fiascos da moda entre estrelas da música, cinema e TV.


A cantora mudou-se para Los Angeles no ano passado com o marido, o astro do futebol David Beckham, em meio a uma grande exposição midiática. Na lista de projetos de Victoria estava lançar-se como referência fashion nos Estados Unidos, por sua paixão pela moda.


Victoria, que está em turnê com seu grupo, as Spice Girls, não foi única britânica a receber a reprovação de Blackwell. O segundo posto foi ocupado pela cantora Amy Winehouse, com suas tatuagens e minissaias. Na terceira colocação ficou a ex-estrela infantil americana Mary-Kate Olsen.


Para o estilista, 2007 foi um dos ‘mais desastrosos para a moda na história recente’. Mas mesmo entre as malvestidas, Blackwell encontrou algumas estrelas que não fizeram tão feio, como Madonna, Barbra Streisand, Elizabeth Taylor e até a rainha Elizabeth, da Inglaterra, que ‘atualizou sua imagem de estilo Stonehenge’ – ruínas pré-históricas.


A lista de Blackwell é publicada há 48 anos. Ele começou sua carreira na década de 1950, tem sua própria linha de roupa há 35 anos e já vestiu estrelas como Jayne Mansfield, Peggy Lee e Jane Russell.’


 


FUTEBOL
Cosme Rímoli


TV Timão, novo projeto corintiano


‘Itu – Vídeos, fotos e notícias exclusivas sobre o clube mais popular de São Paulo. A idéia de uma agência de notícias no Corinthians visa ao lucro. Mas como pôr o projeto em prática? Vendendo justamente essas notícias, fotos e vídeos inéditos.


Diogo Boninho, filho de Boni, ex-diretor da TV Globo, procurou o presidente Andrés Sanchez com essa proposta. Ele sugeriu que sua produtora passasse a filmar o time nos momentos mais importantes e íntimos – palestras do treinador, o grupo na concentração, chegada dos atletas nos vestiários após os jogos – ou nas vitórias ou nas derrotas.


A inovação: essas imagens, ao contrário do que muitos clubes estão fazendo, não seriam somente lançadas em DVDs no fim da temporada. Elas seriam colocadas no site do clube e liberadas para assinantes. A idéia de Boninho, ainda que boa, navega na contramão dos sites da internet, quase todos de conteúdo liberado.


A princípio, as imagens de vídeos estariam instaladas em uma parte especial do site. O canal deverá ser batizado de TV Timão. Isso se o clube conseguir obter na Justiça o direito da marca, que pertence a uma pessoa do Paraná que quer dinheiro para repassá-la ao Corinthians.


O clube ganharia vendendo o conteúdo do site, que seria material bruto para reportagens e, acredita-se, de interesse do torcedor. Os jogadores não receberão nada em troca. A alegação é a de que o clube já lhes paga o direito de imagem. Os dirigentes agora pretendem explorar melhor esse aspecto da relação trabalhista com os atletas.


Há expectativa de que ocorra grande procura por assinaturas. Boninho e a diretoria corintiana apostam que a queda para a Série B nacional despertará o sentimento de querer ajudar o clube, como nos anos do jejum de títulos (1954/77).


É certo, porém, que haverá censura. A ordem é passar só as coisas positivas e otimistas, transformar atletas comuns em ídolos, para depois faturar vendendo camisas e produtos especiais do clube e do elenco.


11.ª CONTRATAÇÃO


O Corinthians acertou, ontem, a contratação do lateral Alessandro, o 11º reforço da temporada. O jogador, que se desligou do Santos, assinou por dois anos. Hoje o clube deve oficializar a contratação do lateral esquerdo André Santos, do Figueirense. Segundo o vice-presidente de futebol, Mário Gobbi, o Corinthians vai comprar 50% dos direitos federativos do jogador.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Nossa aventura ‘‘barroco-científica’’


‘Para os sobrinhos e para o irmão da namorada, Alê Abreu, de 38 anos, é o ‘‘Dindo’’, o tio louco que vive de desenhar. Como assim, desenhar? Foi uma opção que ele fez já há alguns anos. Houve um tempo em que o trabalho de animador de publicidade pagava as contas de Alê. Ele podia até ganhar mais dinheiro, mas não se reconhecia no próprio trabalho, que era anônimo. E o que Alê sempre quis foi fazer do seu desenho uma forma de interpretar – e aprimorar, com todas aquelas cores – o mundo. Alê Abreu desistiu da publicidade e hoje vive somente da sua atividade como ilustrador e animador.


Ele demorou quatro anos para fazer o curta Espantalho e sete para concluir o longa Garoto Cósmico, que estréia hoje. Parece tempo demais, mas Alê reconhece que precisava dele, e não apenas por causa das já tradicionais dificuldades financeiras que afligem o cinema brasileiro, ainda mais na animação, a chamada 8ª arte, que sobrevive no País por meio de tentativas isoladas de malucos como ele. Alê vê o Brasil nas músicas de Milton Nascimento, no Cinema Novo de Glauber Rocha. Ouvindo Milton, sempre se perguntou – qual é o desenho desta música? É o que persegue – um desenho, uma animação, autenticamente brasileiro(a). Para chegar a isto, é preciso se desvencilhar de toda uma tradição que domina o imaginário do público.


E não apenas as crianças. A Disney vem formando gerações há décadas, desde que o velho Walt criou Mickey e, depois, Branca de Neve e os Sete Anões. No belo A Culpa É do Fidel, de Julie Gavras, que está virando cult no circuito de arte de São Paulo, o pai socialista impede os filhos de lerem as revistinhas de Mickey, porque é um agente do imperialismo. Por mais que a radicalização, política e ideológica, produza esses raciocínios que parecem ridículos, a busca de um desenho ‘‘brasileiro’’ é a meta de Alê. Isso se manifesta num tempo que não é o acelerado das animações da Disney, em temas que não são os dos desenhos que nos chegam de Hollywood.


Garoto Cósmico teve uma gestação complicada. Depois de Espantalho, Alê queria se lançar logo a outro projeto, fundamentalmente porque adora desenhar. Mas não conseguia optar entre dois projetos – um era um road movie sobre circo, o outro sobre um garoto submetido a disciplina rígida e que descobre o mundo lúdico. Alê terminou juntando os dois projetos num só, e surgiu Garoto Cósmico, que ele define como uma aventura ‘‘barroco-científica’’. Embora pareça uma definição incompreensível para as crianças, instintivamente, ao falar sobre o filme, elas revelam compreensão.


Consciente de que não conseguiria criar uma boa história sozinho, Alê trabalhou com três roteiristas, que foram se revezando. Ele iniciou a animação sozinho, mas chegou a ter 15 pessoas animando Garoto Cósmico, cada uma com seu computador. Por mais prazer que lhe dê o desenho, Alê sabe que o cinema não é uma atividade solitária. O próprio filme passa uma idéia de grupo. O garoto cósmico vive neste planeta-dormitório de crianças, submetido ao que se chama de ‘‘programação’’, uma série de atividades que se repetem. Ele foge com alguns amigos e vai parar neste planeta em que encontra o circo, que vai subverter a disciplina da programação. O próprio circo é ameaçado por um vilão, que o garoto cósmico e seus amigos terão de enfrentar.


Embora preocupado em criar um desenho brasileiro, Alê sabe que Garoto Cósmico é cheio de referências e influências. ‘‘Tem um pouco de Charles Chaplin, Tempos Modernos; tem o René Laloux e o Topor e o Moebius, que tiram o longa de animação do público infantil, ao qual parece reservado.’’ A idéia do planeta, tão pequeno, não tem a ver com O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry? Os olhos de Alê brilham. ‘‘Não tinha pensado, mas as referências são tantas que pode ter, sim.’’ E a explosão de cores? ‘‘Não sei explicar, mas se o filme não tivesse todo esse colorido barroco não seria meu.’’ Há um ano Alê vem mostrando Garoto Cósmico para platéias infantis. Ele sente uma receptividade muito forte. A estréia terá 27 cópias. Vai estourar? ‘‘Não sei, mas é uma expectativa boa’’, ele diz. Para breve – tomara que não sejam mais sete anos – promete outra animação, agora centrada no tema da latinidade. Alê prossegue com sua vertente não hollywoodiana.


Serviço


Garoto Cósmico (Brasil/2007, 75 min.) – Animação. Dir. Alê Abreu. Livre. Cotação: Bom’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


BBB8 estréia mal


‘Estreou morna, quase fria a oitava edição do Big Brother Brasil. A nova edição do reality registrou média de 37 pontos em seu primeiro dia no ar, o segundo menor ibope do programa em estréias. Passou longe dos 43 pontos da estréia do BBB6 e do BBB7, por exemplo.


A fórmula se apresentou sem novidades. Marombados e saradas invadiram a casa aos gritos de ‘‘Uhuuu!’’, seguidos de abraços demorados e pulos na piscina, é claro. Daniella Mercury os esperava com um show-surpresa.


Na internet, além de reclamações de telespectadores sobre a mesmice do programa, já circulam denúncias de que os participantes não são tão anônimos assim.


Jaqueline Khury já fez pontas nas novelas Paraíso Tropical e O Clone. Natália Cassarola é outra que teve já participação na TV, na minissérie O Quinto dos Infernos. Poucos se lembram, mas ela também disputou vaga no BBB4 e perdeu na votação popular para a frentista Solange. Thalita Lippi é filha da atriz Nádia Lippi. Há também participantes com amigos entre os diretores da Globo. Mas quase todos têm seus perfis postados no site de candidatos à vaga no programa.’


 


 


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