Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Isabelle Moreira Lima

‘A idéia de unir vários clássicos da literatura brasileira em uma única novela pode ser mais uma maneira de pôr em prática algum tipo de planejamento comercial do que um ato de amor à literatura. A estratégia será usada pela TV Record em ‘Essas Mulheres’, que estréia amanhã às 19h15, horário reservado exclusivamente para produções de época, depois do sucesso de audiência obtido por ‘A Escrava Isaura’.

A uma semana da estréia, a Record chegou a anunciar o sucesso financeiro da novela em sua coletiva de lançamento, com todos os intervalos comerciais vendidos.

Em 140 capítulos, ‘Essas Mulheres’ deve mostrar em cores e com elenco ex-Globo as cerca de 130 páginas de ‘Lucíola’, as 240 de ‘Senhora’ e as 120 de ‘Diva’, escritas por José de Alencar.

Para estudiosos ouvidos pela Folha, a proposta não é exatamente ousada, porque os três romances têm semelhanças fundamentais: todos abordam o universo feminino e se passam no Rio de Janeiro urbano do século 19.

‘Há coerência na escolha dos romances porque são antecipadores da modernidade no traço da personagem mulher. Transgridem e enunciam inovação no comportamento, no sentimento, no casamento’, explica Maria José Paulo, professora de literatura brasileira da PUC-SP.

Para João Roberto Faria, professor de literatura brasileira da USP, ‘como as novelas costumam ter enredos principais e secundários, é possível criar um tronco e juntar outros subsidiários’.

‘Senhora’, que conta os encontros e desencontros de Aurélia, que era pobre e fica rica, e Fernando, bom, bonito e inteligente, mas cheio de vícios, é o fio condutor da novela. Na TV, os personagens serão vividos por Cristine Fernandes e Gabriel Braga Nunes.

A atriz Carla Regina será a prostituta Lúcia de ‘Lucíola’, uma das tramas secundárias. A história de ‘Diva’, que gira em torno do romance conturbado entre o médico Augusto e a rica Emília, será liderada por Miriam Freeland, que vive Mila na versão adaptada.

Diferentemente do personagem do livro, Augusto será negro na TV. Para Maria José Paulo, a inserção de um núcleo negro na novela pelo autor Marcilio Moraes pode ser o ponto problemático da adaptação. ‘Ele [Alencar] foi um escritor voltado para a leitora mulher. Queria conscientizá-la para uma leitura mais crítica sobre o seu papel. Questiono se o negro entra na novela como elemento que retarda essa postura e desloca o foco do romance alencarino.’

Campeão de bilheteria

José de Alencar é, para alguns, o maior campeão de bilheteria. No período compreendido entre 1951 e 1963, pelo menos seis adaptações de romances foram produzidas: ‘Diva’ (Paulista, 1952), ‘Senhora’ (Paulista, 1953, e Tupi, 1962), ‘O Guarani’ (Paulista, 1959), ‘A Mão e a Luva’ (Tupi, 1959) e ‘O Tronco do Ipê’ (Paulista, 1963). No mesmo período, Erico Verissimo e Machado de Assis disputam o segundo lugar, com duas adaptações cada um.

Sandra Reimão, autora do livro ‘Livros e Televisão – Correlações’, cita os ‘mitos românticos’ de Alencar como o principal motivo para seu sucesso na TV. ‘Essas oposições românticas combinam bem com a visão um pouco maniqueísta da teledramaturgia.’’

CHAVES
Bia Abramo

‘Ingenuidade se perde com o fim de ‘Chaves’’, copyright Folha de S. Paulo, 1/05/05

‘Depois de mais de 20 anos na TV brasileira, ‘Chaves’ deve deixar de ser exibido. O SBT desistiu de renovar o contrato das séries com a Televisa. A emissora mexicana ofereceu para a Record, que ainda não se manifestou. A notícia, publicada na coluna de Daniel Castro (Ilustrada, 22 de abril), deixou os fãs do Chaves em polvorosa.

É pena. Quer dizer, ‘Chaves’ é uma série precária, barata, rasteira, além de anacrônica. Mas, de alguma forma, levou para a televisão uma série de formatos populares com enorme eficiência.

‘Chaves’ nasceu em 1971 como um esquete de um programa dirigido pelo próprio Roberto Gómez Bolaños, o ator que encarna o menino, e teve o último episódio gravado em 1983. Quando a série estreou no Brasil, já era passado, mas mesmo assim atravessou anos a fio na programação, repetindo os mesmos episódios, alternando com ‘Chapolim Colorado’, outro personagem de Bolaños, e ‘Clube do Chaves’, um subproduto da série.

Com a saída de ‘Chaves’ e a ausência de ‘Os Trapalhões’, quase que desaparece da TV o humor ingênuo, popular da programação infantil. Ambos os programas traziam alguma coisa das palhaçadas de circo, adultos vestidos de forma engraçada, fazendo cabriolas.

As crianças são levadas muito a sério pela TV de hoje, e, nessa cartilha, comungam tanto a publicidade mais cínica quanto as produções imbuídas das melhores intenções pedagógicas. Seja como consumidores vorazes, seja como aprendizes em potencial, há quase nenhum espaço para o descompromisso didático, para a besteira divertida, para o riso frouxo. É preciso ensiná-las e já, sem muita distração.

Claro que há abismos entre o que quer a publicidade basicamente -transformar as crianças em monstros de exigência arrogantes e direcionar a avidez infantil para os produtos que anuncia- e o que quer, por exemplo, um programa com ‘Cocoricó’ ou o ‘Sítio do Picapau Amarelo’ (e foi difícil pensar em mais do que esses dois nomes). Mas, mesmo assim, há em comum a idéia de que as crianças não devem ser deixadas em paz se estão diante da televisão -melhor que aprendam a comer nuggets ou a contar até dez.

Programas como ‘Chaves’ ou ‘Os Trapalhões’ partem de uma noção de que há nos negócios humanos, na vida cotidiana, um ridículo quase universal, apreensível até por crianças bem pequenas, e que isso é matéria suficiente para o riso e para a diversão. É uma concepção de entretenimento que soa, a esta altura, um tanto antiga diante da sobre-estimulação dos desenhos animados e da alegria obrigatória, compulsória das apresentadoras.

É entretenimento sem vergonha de sê-lo. A gratuidade nas piadas, a pobreza proposital da produção, o ar meio patético provocado pela visão de adultos fazendo papel de crianças: quase tudo é ruim, mas, à maneira do filme B, também pode ser bem divertido.’

BATMAN NA TV
Flávia Guerra

‘Um novo Batman, com 20 anos a menos ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 2/05/05

‘O homem-morcego está de volta à TV. E desta vez com 20 anos a menos, senso de humor muito mais sarcástico e acessórios ainda mais modernos. A partir de hoje, o Cartoon Network exibe a nova série O Batman. Este é um ano especial para o Cavaleiro das Trevas, que em breve volta ao cinema em Batman – O Começo, de Christopher Nolan, no quinto filme da série iniciada em 1989 com o longa de Tim Burton, Batman – O Filme.

Enquanto o longa não chega, conferir o novo desenho é uma boa oportunidade para os fãs conhecerem esta nova fase do herói, que volta, digamos, mais uma vez repaginado. Esqueça o Batman criado por Bob Kane em 1939, que se transformou em um dos maiores fenômenos do mercado de quadrinhos. Esqueça também o Batman da série de TV dos anos 60, produzida por William Dolzier, que transformou o sombrio cartoon em comédia. O novo Batman também não lembra o já clássico desenho animado dos anos 90, que revolucionou as animações de aventura. Poderia ser Batman – O Recomeço. Este primeiro episódio, Morcegos no Sótão, apresenta Batman e personagens de maneira quase didática. Mas a direção de arte traz cenários mais contemporâneos. Os mais puristas podem não gostar. Nesta nova versão, Batman não é figurinha fácil e o povo de Gotham City nunca o viu desde que ele começou seu ofício de herói, há três anos. O novo Bruce Wayne, com cara de quem acaba de sair da adolescência, em nada lembra os galãs Michael Keaton, Val Kilmer e George Clooney, que já o encarnaram no cinema. O mistério em torno de sua personalidade mais uma vez acaba servindo à polícia local, que clama para si a diminuição da violência na cidade e passa a persegui-lo. O tradicional Bat Sinal também não aparece. Muito menos o já há tempos falecido Robin. No episódio de estréia, Batman se vê às voltas com o Curinga, que invade o hospício da cidade e planeja espalhar seu gás do riso.

O roteiro e a produção desta nova fase ficou a cargo de Duane Capizzi, responsável por séries de sucesso como Homens de Preto e As Tartarugas Ninja. A direção é assinada por Brandon Vietti, que também criou o novo Homem-Aranha, em 2003, Sam Liu, do desenho animado Godzilla; e Seung Eun-Kim, de As Aventuras de Jackie Chan. O cartoon também ganhou novo tema musical, que ficou a cargo de ninguém menos que The Edge, guitarrista do U2.’

TELEJORNALISMO
Beatriz Coelho Silva

‘Telejornalismo no divã ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 2/05/05

‘Desde a criação do Instituto de Estudos de Televisão (IETV), há três anos, o diretor Nelson Hoineff tenta aproximar os profissionais da área e acadêmicos que refletem sobre o veículo. O 2.º Seminário Brasileiro Esso – IETV de Jornalismo, na quinta e sexta-feira que vêm, no Arte Sesc Flamengo, vai exibir as dez melhores reportagens do último Prêmio Esso e reunir seus autores com estudantes e teóricos de comunicação.

‘As quase 50 matérias concorrentes primam pela qualidade e diversidade, mas dada à instantaneidade da televisão, foram exibidas uma, no máximo duas vezes. Vamos mostrá-las de novo e saber com os repórteres e editores como foram feitas’, diz Hoineff, um dos raros profissionais que atuam na TV e refletem sobre o veículo. ‘Foi um grupo da Universidade de São Paulo (USP), que me chamou atenção para esse fato: quem faz televisão quase não fala com quem pensa sobre ela. O IETV foi criado para fazer essa ponte.’

No primeiro dia do encontro serão exibidas sete reportagens. Diretor da All TV, canal da internet que fica 24 horas no ar, Alberto Luchetti falará sobre novas mídias. No dia seguinte, serão exibidas mais três matérias, entre elas a vencedora do ano passado, Mulheres Que Amam Demais, de Cristiane Finger, do SBT. Em seguida, Glória Maria, Mônica Waldvogel, Ana Constábile e Zevi Ghivelter vão participar do debate O Que É Ser um Bom Repórter de TV.

Os interessados em participar podem se inscrever pelo site www.ietv.org.br ou pelo e-mail inscrição@ietv.org.br. O preço: R$ 120 para profissionais e R$ 60 para estudantes.’