Sunday, 13 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Jornais noticiam possível fusão entre Oi e Brasil Telecom

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Último Segundo


Sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


TELECOMUNICAÇÕES
Último Segundo


Jornais noticiam negociações para consolidar Oi e Brasil Telecom


‘SÃO PAULO – Conforme noticiário dos jornais ‘O Globo’, ‘O Estado de S. Paulo’, ‘Folha de S. Paulo’ e ‘Valor Econômico’ existe a forte possibilidade de o Brasil vir a ter uma megaempresa de telecomunicações, resultado da consolidação dos ativos de Oi e Brasil Telecom, esta última controladora do iG. Sobre o assunto, a Brasil Telecom divulgou fato relevante na última quarta-feira (leia a íntegra no final da página).


Conforme o ‘Valor Econômico’, a Oi (ex-Telemar) e a Brasil Telecom (BrT) ‘deram ontem (9/1/08) importante passo para formar uma megaoperadora de capital nacional’. A Oi teria oferecido R$ 4,8 bilhões pela compra dos ativos da Solpart, holding controladora da BrT’.


Ainda conforme o Valor, ‘o negócio não está fechado, mas há boas chances de que um acordo ocorra em breve’ e a operação ‘é mais complexa que uma simples aquisição’ porque envolve a saída do Citibank da BrT e a venda da participação que o grupo GP Investimentos tem na Oi para a Andrade Gutierrez e La Fonte, da família Jereissati. ‘Para isso, os empresários deverão receber financiamento do BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social’.


Segundo a ‘Folha de S. Paulo’, espera-se uma mudança na legislação do setor para permitir que o negócio seja fechado. De acordo com a ‘Folha’, a fusão entre as duas empresas é apoiada pelo governo.


O jornal afirma que o acerto final sobre o preço foi verbal, sem assinatura de acordo, e ocorreu na última quarta-feira em reunião do Conselho de Administração da Oi em Botafogo, Rio de Janeiro, com a presença dos acionistas controladores.


De acordo com a ‘Folha’, caso a lei seja alterada, a Telefônica também terá interesse na compra da BrT.


O ‘Estado de S. Paulo’ trouxe a chamada ‘Telemar está perto de levar a BrT’ e afirmou que a empresa enviou um comunicado para Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas não detalhou quais as operações em andamento.


Segundo apuração dos jornais, o presidente Lula deve baixar um decreto permitindo a união das operadoras. De acordo com o ‘Estado’, a compra da Brasil Telecom deve sair antes mesma da publicação do decreto.


O jornal afirmou ainda que, a princípio, os fundos e o Citigroup pediram R$ 5,2 bilhões por sua participação na BrT. Carlos Jereissati, do grupo La Fonte, e Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, falavam em R$ 4,3 bilhões. De acordo com a coluna Radar, da revista Veja, a venda teria sido fechada por R$ 4,8 bilhões.


De acordo com o ‘Estado’, estão programados financiamentos bilionários do BNDES para Jereissati e Andrade comprarem participação de outros acionistas na Telemar e também para assumirem o controle da Brasil Telecom.


‘Negociação intensificada’


Segundo notícia publicada na manhã desta quinta-feira na Folha Online, a direção da companhia de telefonia Oi (Telemar Participações) negou nesta, através de comunicado ao mercado, que já realizou a aquisição da Brasil Telecom. Porém, admite que as negociações se intensificaram.


‘Em relação a realização de outros investimentos em empresas de telefonia celular ou fixa, especificamente em relação a Brasil Telecom Participações S.A., informamos que vimos mantendo conversações com seus controladores, que se intensificaram nas ultimas horas, não tendo sido firmado documento de qualquer natureza até o momento’, diz o comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).


Fato relevante divulgado ontem pela Brasil Telecom:


‘Brasil Telecom Esclarece Consulta da CVM


Em atendimento aos Ofícios CVM/SEP/GEA-2/No. 003/08 e CVM/SEP/GEA-4/No. 004/08, enviados, respectivamente, em 08 e 09 de janeiro de 2008, sobre notícias que vêm sendo veiculadas na imprensa, como o jornal Valor Econômico, sob o título ‘BrT prepara reestruturação societária’ e ‘Oi recompra ações de olho em possível consolidação’, comentários da coluna ‘De olho na bolsa’, assim como em razão de notas hoje veiculadas no Radar On-Line (‘Telemar Compra Brasil Telecom’), a Brasil Telecom Participações S.A. e a Brasil Telecom S.A. (em conjunto, as ‘Companhias’) esclarecem que não têm qualquer participação em eventual negociação sobre a alienação das ações de empresas de sua estrutura societária por seus acionistas controladores. Adicionalmente, as Companhias reforçam que não firmaram qualquer entendimento, mesmo que preliminar, sobre fusão ou compra ou venda com a Oi/Telemar ou com qualquer outra empresa ou veículo de investimento.


As Companhias comunicam ainda que as empresas do grupo de controle da cadeia societária de Brasil Telecom (Solpart Participações S.A., Techold Participações S.A., Invitel S.A. e Zain Participações S.A., aqui referidas como as ‘Sociedades Controladoras’) foram indagadas e se manifestaram nos seguintes termos:


‘Como é de amplo conhecimento dos acionistas das Companhias e do mercado em geral, as Sociedades Controladoras têm avaliado, com o auxílio de assessorias especializadas, várias alternativas estratégicas para as suas participações societárias nas Companhias.


As Sociedades Controladoras esclarecem que, em que pesem rumores em contrário, e nada obstante haver discussões a respeito, não tomaram qualquer decisão no sentido de realizar uma reorganização societária das Companhias, nem tampouco firmaram qualquer compromisso, mesmo que preliminar, sobre fusão ou compra ou venda com a Oi/Telemar ou com qualquer outra empresa ou veículo de investimento.


As Sociedades Controladoras informam que, nos termos da legislação e regulamentação aplicáveis, divulgarão prontamente qualquer ato ou fato relevante nesse sentido que possa vir a se configurar.’


Brasília, 9 de janeiro de 2008.


Paulo Narcélio Simões Amaral


Diretor de Relações com Investidores


Brasil Telecom Participações S.A.


Brasil Telecom S.A.’’


 


 


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Comunique-se


Sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


TELECOMUNICAÇÕES
Carla Soares Martin


iG confirma negociações de sua controladora com a Oi


‘Uma notícia do portal iG, publicada nesta quinta-feira (10/01), encerra as possíveis dúvidas quanto ao interesse da Oi (ex-Telemar) na compra da Brasil Telecom (detentora do iG e do iBest). A nota diz que ‘existe a forte possibilidade de o Brasil vir a ter uma megaempresa de telecomunicações’, que seria criada com a fusão de ambas. A citada megaempresa ficaria sob o controle da Andrade Gutierrez e do empresário Carlos Jereissati.


Na quarta (09/01), a Oi divulgou uma nota aos seus acionistas confirmando as negociações, mas afirmando que nada de concreto ainda há. Nesta quinta, a assessoria de imprensa disse que a Oi não comentaria a compra. Em nota, a Brasil Telecom afirmou aos investidores que qualquer mudança em seu controle acionário será devidamente informada. O valor da compra, especulado pela mídia, seria o de R$ 4,8 bilhões.


O negócio, no entanto, depende de muitos fatores. A compra envolveria financiamento do governo, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de decreto, pois não é permitido que uma concessionária adquira outra no Brasil, por se constituir uma brecha ao oligopólio.


Oi


A empresa Oi tem a concessão para operar serviços de telefone fixo em 16 Estados brasileiros, localizados principalmente no litoral, e 17 de telefonia móvel. Na concessão de celulares, a empresa conseguiu em setembro de 2007 a possibilidade de atuar no Estado de São Paulo. A Oi adquiriu ainda, no ano passado, uma TV paga, a Way TV, que é transmitida em quatro cidades mineiras: Belo Horizonte, Poços de Caldas, Barbacena e Uberlândia.


Brasil Telecom


A Brasil Telecom é a primeira operadora de telefonia fixa do Brasil que surgiu depois da privatização da Telebrás. A empresa adquiriu a concessão de telefonia fixa e celular para 10 Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Além de serviços de telefonia, o Grupo Brasil Telecom é proprietário do iG e do iBest.


Cobertura da Mídia


O jornal Estado de S.Paulo e o Valor Econômico foram cautelosos ao anunciar a compra. Ficaram na suposição da aquisição e informaram as dificuldades que existem na legislação e internamente, nas empresas, para que as negociações avancem.


Já a Folha de S.Paulo afirmou que o governo federal é a favor da compra. Disse, inclusive, que a compra já foi acertada verbalmente.


No Rio, o Jornal do Brasil deu apenas uma nota sobre a possível aquisição. O Globo, por outro lado, fez uma ampla cobertura, informando todos os percalços da venda.’



 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


TELECOMUNICAÇÕES
Guilherme Barros


Controladores porão US$ 2 bi em nova tele


‘Os empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, da La Fonte, vão injetar US$ 1 bilhão cada no capital da Oi (ex-Telemar) para a concretização da compra da Brasil Telecom (BrT). Será uma quantia quase três vezes superior aos US$ 350 milhões que cada um desembolsou na privatização da tele, há dez anos.


Depois de dois meses de negociações, com o envolvimento direto de membros do governo, a Oi praticamente selou na segunda-feira, em acordo verbal, sem que nenhum documento tenha ainda sido assinado, a compra da Brasil Telecom por R$ 4,8 bilhões. Pelo acerto, a Andrade Gutierrez e a La Fonte tornam-se controladores da nova empresa, com 51% das ações ordinárias (com direito a voto). Os dois terão -cada um- 10% do capital total.


A aquisição obrigará um rearranjo societário na nova empresa. Ficou acertado, no negócio, que deixarão de ser acionistas o Citigroup, que tem participação relevante na BrT, a GP, que pertencia ao bloco de controle da Oi, e o Opportunity, que também possuía fatia no capital das duas teles. O BNDES e os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros continuarão com participação, menor, na nova empresa.


O negócio só foi concretizado por intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Havia fortes resistências à operação do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e de alguns setores da Previ, que queriam manter influência na tele. Já o presidente da Previ, Sérgio Rosa, não impôs muita resistência.


Para o negócio ser concretizado, será necessário decreto do presidente Lula alterando o decreto 2.534/98, que aprovou o Plano Geral de Outorgas. O decreto determina que, se uma concessionária adquirir outra, terá que abrir mão de sua concessão original em até seis meses.


Lula já teria concordado com a possibilidade de mudar o decreto, o que deve ser feito nas próximas semanas. O objetivo de Lula, ao dar o sinal verde para o negócio, seria criar uma grande empresa nacional para competir com gigantes mundiais do setor como a mexicana Telmex, de Carlos Slim -que no Brasil controla a Claro-, e a espanhola Telefónica. A Telecom Italia, que controla a TIM, deixou recentemente a BrT e estava fora da disputa.


O principal argumento que convenceu Lula a apoiar o negócio foi o fato de essas empresas internacionais serem praticamente monopolistas em seus países. Ele recebeu estudos mostrando que os preços praticados por elas, principalmente a Telmex, estão muito acima das tarifas do Brasil.


Os novos controladores já chegaram a algumas conclusões sobre a nova empresa. Como se trata de aquisição, deve mesmo se chamar Oi -o nome Brasil Telecom deve desaparecer. A presidência será ocupada por Luiz Eduardo Falco, que já é o principal executivo da Oi.


O atual presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, é muito próximo tanto de Jereissati como de Sérgio Andrade. Ele já trabalhou com ambos, e os dois empresários irão convidá-lo para ficar numa função estratégica para a nova companhia. O executivo Octávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, é o nome mais cotado para presidir o conselho de administração da nova empresa.


O negócio entre a Oi e a BrT ainda é nebuloso no que se refere a seus reflexos para os acionistas minoritários. Para Edison Garcia, superintendente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), ainda não se sabe qual é exatamente o desenho da operação. ‘O que pedimos é que haja transparência. É preciso que as companhias envolvidas sejam mais claras sobre a operação.’’


 


Kennedy Alencar e Valdo Cruz


Planalto quer limitar acordo entre teles


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a mudança da legislação para permitir que a Oi (ex-Telemar) compre a Brasil Telecom a um formato jurídico que dê aos fundos de pensão e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poder de veto sobre eventual venda da companhia que será criada.


Segundo a Folha apurou no Palácio do Planalto, haverá ‘travas’ para que Lula aceite editar um decreto alterando o Plano Geral de Outorgas, que hoje proíbe uma empresa fixa de adquirir outra do mesmo setor. A negociação deverá criar, por exemplo, uma cláusula para que os principais acionistas concordem com eventual venda da futura empresa.


Lula pediu ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que acompanhasse os detalhes da negociação entre a Oi e a Brasil Telecom para mudar o Plano Geral de Outorgas.


A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que retornou anteontem das férias, também participa ativamente dos bastidores da negociação. O negócio deverá ser fechado oficialmente em 15 dias no valor de R$ 4,8 bilhões.


Lula, Coutinho e Dilma são favoráveis ao negócio e têm atuado para viabilizá-lo. Um auxiliar direto de Lula disse à Folha que, se não acontecer a fusão, a Oi e a BrT (Brasil Telecom) seriam ‘engolidas’ pela Embratel e pela Telefónica, companhias estrangeiras que se instalaram no Brasil. A primeira é do grupo mexicano Telmex, do empresário Carlos Slim. A segunda é uma das maiores empresas espanholas.


Na avaliação do presidente Lula, o negócio permitirá a manutenção de três grandes empresas no mercado brasileiro. O presidente acha ainda que a nova empresa terá condições de competir com a Telefónica e a Telmex no mercado da América do Sul.


Conversas


Os executivos da Oi e da BrT disseram ao governo que a empresa deverá faturar cerca de R$ 12 bilhões por ano no prazo de 24 meses.


O próprio Lula conversou com os empresários Sérgio Andrade (grupo Andrade Gutierrez) e Carlos Jereissati (grupo La Fonte) para dizer, de acordo com relato de auxiliares, que o governo não mudaria a lei, se o negócio se destinasse apenas a uma jogada comercial de curto prazo.


Por esse motivo, Lula insistiu em criar um mecanismo que permita aos fundos de pensão de empresas públicas e ao BNDES terem poder de decisão no processo de governança da nova empresa. O Planalto disse ter convencido o presidente da Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a negociação. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, tem participação relevante na Oi e na Brasil Telecom.


O governo avalia ainda que as duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a Embratel e a Telefônica na área de transmissão de dados, por exemplo.


Para a mudança do Plano Geral de Outorgas, o conselho consultivo da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) terá de sugerir ao presidente essa alteração na legislação em vigor, o que já está acertado. A alteração permitirá que uma tele compre outra companhia de telefonia fixa, desde que não na mesma área de sua atuação.


Causou preocupação no Palácio do Planalto o vazamento do valor da negociação entre a Oi e a BrT, pois a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) pediu esclarecimentos às empresas sobre a movimentação dos acionistas, que provocaram valorização de ações das duas empresas.


Com a mudança da legislação, a Telefônica diz ter interesse na BrT. Essa possibilidade não é levada a sério no governo. Os fundos de pensão, acionistas das duas teles, já definiram que aceitariam participar do negócio se a venda fosse feita para um grupo nacional. Com isso, ficaria inviabilizada a venda para um grupo estrangeiro, como Telefónica ou Telmex, que controla a Embratel.


O BNDES participará da operação em duas pontas. Por meio de sua participação acionária e oferecendo empréstimo para os dois grupos que serão os controladores da nova tele.


Para que o negócio fosse viabilizado, o governo e as duas empresas tiveram de aceitar uma exigência do empresário Carlos Jereissati, que inicialmente não manifestava grande interesse na operação. Ele exigiu participar do controle da empresa, juntamente com o grupo Andrade Gutierrez.


No governo, a provável saída do GP Investimentos da composição da Telemar tem a ver justamente com essas ‘travas’ a uma venda rápida da nova empresa. O grupo, do empresário Jorge Paulo Lemann, não teria interesse em capitalizar a empresa de telefonia.’


 


Elvira Lobato


Aquisição da Brasil Telecom deixa 30% do faturamento do mercado com a Oi


‘Se a compra da Brasil Telecom for efetivada -o que depende de mudanças na legislação em vigor-, a Oi ficará com 29,6% do faturamento total das operadoras de telefonia fixa, celulares, banda larga e TV por assinatura, contra 29,9% da Telefônica/Vivo, 20,1% da Claro/ Embratel e 12,1% da TIM.


A futura Oi seria dominante na telefonia fixa local (com 56,7% do total de assinantes do serviço no país) e na banda larga, com 42,7% do mercado, tomando por base o total atual de assinantes de cada empresa em setembro do ano passado (último dado disponível).


A nova empresa teria um faturamento anual da ordem de R$ 40 bilhões, e seria a quarta na telefonia celular, com 16,8% dos assinantes.


A Telefônica/Vivo lidera na telefonia fixa (com 32,8% dos assinantes), e os mexicanos, controladores da Claro e da Embratel, estão em terceiro na telefonia celular (24,8%) e em primeiro na televisão por assinatura (com 46,5%, por meio da Net).


A TIM está presente apenas na telefonia móvel, com a segunda colocação.


Críticas


A perspectiva de aumento da concentração na telefonia fixa local foi criticada por duas entidades do setor: Telcomp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas), à qual está afiliada a Embratel, e Abranet (Associação Brasileira de Provedores de Internet).


Segundo Luiz Cuza, presidente da Telcomp, a competição desenhada no modelo de privatização não aconteceu e persistem monopólios regionais. ‘O número de linhas fixas está caindo ano após ano, mas as tarifas não caem’, afirmou.


Para ele, se o governo autorizar o negócio, precisará tomar medidas que estimulem o ingresso de competidores no mercado e a redução dos preços ao usuário.


Eduardo Parajo, presidente da Abranet (que tem entre seus associados provedores ligados à Brasil Telecom e à Oi), afirmou também ver com preocupação a fusão das duas concessionárias, pelo impacto negativo na competição.


A hipótese de o BNDES financiar a Andrade Gutierrez e o grupo La Fonte na aquisição do controle da Brasil Telecom foi também criticada pela Telcomp. ‘O dinheiro do BNDES deve ser utilizado para financiar o desenvolvimento do país, e não a expatriação de investimentos do Citibank [um dos controladores da BrT]’,’ afirmou Luiz Cuza.


Gigantes


A compra da BrT pela Oi ou a fusão entre as duas gigantes é cogitada desde 2006, quando o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, defendeu a idéia com o argumento de que as duas empresas acabariam engolidas pelos grupos Telefónica (da Espanha) e Telmex (mexicana, controlada pelo magnata Carlos Slim), dominantes nos demais países da América Latina.


Segundo o presidente da Teleco, Eduardo Tude, a América Móvil (do grupo Telmex) e a Telefónica concentram 70% dos telefones celulares da América Latina.


Privatizada em 1990 (oito anos antes da Telebrás), a Telmex começou a se expandir para os países vizinhos em 99, com a compra da Telgua, da Guatemala. Nos anos seguintes, comprou a Concel (Salvador), Comcel e Occel (Colômbia), Claro (Brasil), CTI (Argentina), CTE (El Salvador), Enitel (Nicarágua), Embratel (Brasil), Smartcom (Chile), Net Paraguai e Peru, entre outras.


A Telefónica, por sua vez, tem operações no Chile, na Argentina, no Peru, no Brasil, em El Salvador, na Guatemala, no México e na Colômbia.


Escala


A Brasil Telecom e a Oi alegam que há um movimento mundial no setor de consolidação de empresas, em busca de ganhos de escala, como a redução de preços na compra de equipamentos. No ano passado, a Folha teve acesso a um estudo da BrT, em que ela previa dois cenários para o mercado brasileiro: de duopólio entre a Telefônica e a Telmex e outro com empresas dominantes.


O primeiro cenário previa que a Telefônica absorveria a Oi, a Intelig, a Vivo e a TVA e que ela, Brasil Telecom, seria engolida pela Telmex. Segundo cenário previa a fusão da BrT com a Oi e que a empresa resultante dessa fusão teria 34% da receita total do mercado.’


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Clóvis Rossi


Hillary e Roberto Carlos


‘SÃO PAULO – Se predominasse a versão hegemônica no imediato pós-vitória de Hillary Clinton em New Hampshire, a primária democrata viraria um show de Roberto Carlos, na base de, ‘se chorei ou se sorri/ o importante/ é que emoções eu vivi…’.


Refiro-me à catarata de interpretações que atribuíram a vitória à lágrima que a senadora derramou (ou quase) em um boteco durante conversa com eleitores. É um insulto à capacidade de análise das mulheres americanas.


Se verdadeira, o subtexto, um clássico do machismo, seria: homem vota pelas idéias/propostas do candidato/a, mulher vota pela lágrima/emoção. Significaria também que Hillary poderia encomendar a lágrima da posse, já que é a única mulher candidata, homem não chora (outro clássico do machismo) e a maioria das mulheres não resiste a uma lágrima.


Significaria, por fim, que Hillary passou 60 anos de sua vida como uma estátua de gelo e só virou ‘humana’ no undécimo minuto. Ainda bem que já há análises menos sentimentalóides.


Na Folha, o notável acadêmico que é Kenneth Maxwell escreve que ‘foi organização política à moda antiga que levou os eleitores democratas às urnas. (…) No dia da decisão, foram os velhos e confiáveis sindicalistas democratas, preocupados com a economia, bem como uma maioria das mulheres maduras, que foram de fato às urnas para conceder à senadora Clinton sua famosa vitória’.


Reforça, no espanhol ‘El País’, seu excelente correspondente Antonio Caño (apesar de ter se deslumbrado, até a véspera, com a ‘Obamamania’): ‘Sindicatos, grupos feministas, praticamente todas as estruturas organizadas do Partido Democrata estão por agora com Hillary Clinton’.


Se a tese da lágrima vencesse, haveria inundações em todo o Brasil durante a campanha municipal.’


 


INTERNET
Nelson Motta


Os livros do futuro


‘SALVADOR – É um livro? É um site? É um livro virtual!


Talvez por sua origem gutemberguiana, a indústria do livro está demorando a descobrir e a usar os recursos digitais que estão à sua disposição. E que são o complemento ideal para vários gêneros literários.


Melhor do que ler uma boa biografia é ler a história de um Picasso -e ver num site todos os seus quadros, esculturas e fotos de seus modelos e cenários. Se tudo isso fosse impresso, seria inacessível, em volume e preço. Com o site, é acessível e grátis para todos, um complemento da edição impressa. Como fazem as revistas e jornais. Melhor do que ler a biografia de um Cole Porter é também ouvir as suas músicas, ver suas fotos e vídeos. Ou a vida de Orson Welles, com seus roteiros e trechos de seus filmes.


Melhor ainda para os livros de história -com seus documentos, mapas, quadros, links para sites específicos: os extras do livro. Nunca mais os livros de história serão os mesmos.


Porque esta é a linguagem e a expectativa das novas gerações, alfabetizadas digitais, habituadas a encontrar com um clic as palavras, sons e imagens que procuram.


Ao contrário da música, que passou por vários formatos e suportes, do gramofone ao CD e ao ‘pen drive’, os bons e velhos livros não mudaram muito nos últimos séculos, apenas se desenvolveram nos processos de impressão e tiveram inovações discretas nas artes gráficas. O resto, que é quase tudo -palavras no papel-, continua como sempre. Como no jogo do bicho, continua valendo o escrito.


O livro continuará com cheiro de livro, com a textura do papel, poderá ser lido em qualquer lugar, sem precisar de tomada nem de bateria. O livro de papel não vai acabar tão cedo. Mas terá na internet o seu melhor complemento.’


 


GOVERNO
Folha de S. Paulo


Depois da CPMF, querem derrubar a TV pública, diz Gil


‘O ministro Gilberto Gil (Cultura), ao dar posse ontem ao novo secretário do Audiovisual, Silvio Da-Rin, defendeu em seu discurso a TV Brasil, acusando os ‘mesmos que derrubaram a CPMF’ de desejar ‘derrubar a legítima aspiração do Brasil para criar a TV pública’.


Os dois maiores partidos de oposição e que foram contra a prorrogação da CPMF também criticam o gasto com a criação de uma televisão estatal. O DEM entrou com ação contra a criação da TV Brasil e o PSDB pediu a suspensão do projeto.


‘Não acho que conseguirão porque a TV Brasil foi produto de anos de luta e discussão não de um partido, mas de boa parte da sociedade. Devemos fazer valer esse consenso e fazer o país avançar, sem permitir que a oposição partidarize uma discussão que é republicana.’


Segundo o ministro, ainda não está decidido se o fim da CPMF afetará ou não o orçamento de sua pasta. Ele destacou ainda que TV pública e a chegada da TV digital abrirão oportunidades para que produções brasileiras ganhem mais espaço.’


 


Sílvia Freire


TV do filho de peemedebista é investigada


‘O Ministério Público Federal no Maranhão investiga se uma emissora de TV de Edison Lobão Filho- filho e primeiro suplente de Edison Lobão (PMDB-MA), que agora deve assumir uma cadeira no Senado- foi irregularmente arrendada a uma ONG do Rio de Janeiro.


A investigação surgiu da representação do Sindicato dos Jornalistas de Imperatriz, que consultou a Anatel sobre a legalidade do suposto arrendamento da TV Difusora, que retransmite o SBT. Segundo o sindicato, a resposta foi que a ONG Idetec (Instituto de Desenvolvimento Tecnológico) não tem a concessão e não pode gerenciar a TV. A Anatel não quis se pronunciar ontem.


A direção do Sistema Difusora em São Luís disse ontem desconhecer as investigações e negou o arrendamento. Segundo ela, o empresário Ernani Ferraz, responsável pela ONG, assumiu o setor comercial da emissora em 2006, mas foi afastado da emissora no ano passado.


A Folha não conseguiu contato com Lobão Filho ontem -a informação era de que ele estava viajando sem celular. Ernani Ferraz também não foi localizado -ele estaria viajando pelos EUA.


Para a Procuradoria, há indícios de que houve o arrendamento da emissora. Entre eles está a exibição na TV de vinhetas sobre a ‘nova administração’ Ernani Ferraz. A imprensa também noticiou mudança de comando na TV Difusora. A Procuradoria também apura possíveis fraudes com servidores. Em dezembro de 2007 Lobão Filho se comprometeu a registrar todos os servidores.’


 


CENSURA
Sérgio Rangel


Juiz proíbe mídia de citar agressores de prostituta


‘O juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, do 9º Juizado Especial Criminal, proibiu dez veículos de comunicação de exibir imagens e citar os nomes de três estudantes condenados por agressão a uma prostituta em novembro passado no Rio.


As entidades que representam veículos de comunicação repudiaram o veto e defenderam ações judiciais contra ele.


Três estudantes de classe média (Fernando Mattos Roiz Júnior, 19, Luciano Filgueiras da Silva Monteiro, 21, e um menor) agrediram prostitutas e travestis com um extintor de incêndio roubado na Barra da Tijuca dois meses atrás.


Eles foram presos, e o juiz Almeida Neto condenou os dois universitários (Fernando e Luciano) a prestar oito horas semanais de serviços à companhia de limpeza urbana do Rio por um ano -os dois recolhem lixo e ajudam a limpar pichações em postes e muros.


A ação contra os meios de comunicação foi proposta pelo Ministério Público do Estado a pedido dos advogados dos universitários, Leonardo Siqueira e Bruno de Oliveira. ‘Eles já estão cumprindo a pena e estavam sofrendo represálias na rua por causa das cenas exibidas nos jornais’, disse Siqueira.


O juiz proibiu os veículos de mencionar os estudantes em reportagens, inclusive via internet. Caso a decisão seja descumprida, o juiz estabelece na sentença multa de R$ 10 mil.


Segundo a decisão (tomada em 22 de novembro, mas só informada anteontem), os ‘principais veículos de comunicação locais [redes de TV Globo, TVE, Bandeirantes, CNT, Record, Rede TV] e jornais de grande circulação [‘O Globo’, ‘Jornal do Brasil’, ‘Extra’, ‘O Dia’]’ terão que se abster ‘de veicular imagem dos autores do fato’.


A ANJ (Associação Nacional de Jornais), a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) protestaram contra a decisão. Segundo a ANJ, o juiz ‘praticou censura prévia e afrontou a Constituição’: ‘Não cabe a ninguém decidir qual informação deve chegar aos cidadãos’. A ANJ recomenda que os veículos de comunicação recorram da proibição, para que o Judiciário restabeleça o princípio da liberdade de expressão.


A Abert repudiou a decisão e disse ter ‘confiança no Poder Judiciário como guardião dos princípios da liberdade de imprensa’. A ABI declarou que a decisão ‘ofende à Constituição, ignorando a disposição mencionada, e devolve o país aos tempos do autoritarismo’.’


 


FRANÇA
Folha de S. Paulo


Para ex, Sarkozy é mulherengo e sovina, diz livro


‘Sovina, ‘galinha’ e problemático são alguns dos adjetivos usados por Cécilia Sarkozy para descrever o presidente da França -de quem se separou em outubro-, em livro lançado na quarta pela jornalista Anna Britton, antiga confidente de Cécilia.


Seria a primeira crítica pública feita pela ex-mulher de Nicolas Sarkozy, que tentou impedir a publicação da obra, alegando ‘séria invasão de privacidade’. A questão será julgada por um tribunal de Paris. Revistas divulgaram trechos do livro.


Em passagens da obra de Britton, Cécilia diz que o ex-marido é ‘um homem que não ama ninguém, nem os próprios filhos’.


Sarkozy parece ter superado a separação. No início da semana, ele insinuou que pretende se casar com a cantora Carla Brunni.’


 


HOLLYWOOD EM GREVE
Sérgio Rizzo


O poder dos roteiristas


‘Muitos dos nova-iorquinos e dos turistas que circulavam por Times Square na última quarta, no horário do almoço, nem notaram que, no quarteirão da avenida Broadway entre as ruas 44 e 45, cerca de 200 pessoas participavam de um ordeiro e silencioso piquete grevista.


No espaço reservado para a manifestação, em frente ao prédio do grupo Viacom, que controla a Paramount e a MTV, roteiristas de cinema e TV marchavam lentamente com cartazes em punho, formavam pequenos grupos para conversar e tentavam se proteger das ocasionais rajadas de vento.


Um boneco inflável em forma de porco, com cifrões pelo corpo, simbolizava a suposta ganância dos conglomerados de entretenimento, como Viacom, Disney-ABC, Fox, Warner Bros., CBS e NBC-Universal, descritos em panfletos como os que ‘se recusam a discutir um acordo’ com os roteiristas.


A discrição do evento contrasta com os prejuízos causados pela paralisação, iniciada em 5/11, e com a sua importância política, ao menos na avaliação de Michael Winship, 56, presidente da divisão Leste do Writers Guild of América (WGA), o sindicato norte-americano dos roteiristas.


Para Winship, que falou à Folha durante o piquete, a greve seria ‘o primeiro grande movimento trabalhista do século 21’, por defender o valor do ‘trabalho mental’ na economia digital. Pelo dissídio coletivo que vigorava até 31/10, os roteiristas recebiam 0,3% sobre o valor das vendas em DVD dos produtos que escreveram.


Para celebrar novo acordo, o sindicato quer 2,5% sobre as vendas em disco (DVD, HD-DVD ou Blu-Ray), bem como de streamings e downloads pela internet. Inflexível nesse ponto, que abriria precedentes, a Alliance of Motion Pictures and Television Producers (AMPTP), representante dos produtores, interrompeu as negociações e se recusa a retomá-las. O impasse forçou emissoras de TV a suspender programas e a exibir reprises de séries.


Prejuízos


No cinema, foram alterados cronogramas de filmes em pré-produção, projetos foram suspensos, e preparativos do Oscar estão atrasados. A mais longa greve dos roteiristas, em 1988, durou cinco meses e gerou à indústria do setor perdas estimadas em US$ 500 milhões.


Na atual paralisação, o WGA tem o apoio do Screen Actors Guild (SGA), o sindicato dos atores. A solidariedade se mostrou estratégica com a recusa destes em participar da cerimônia do Globo de Ouro, neste domingo. O esvaziamento da festa, organizada pelos correspondentes estrangeiros de Hollywood e transmitida pela NBC, vai gerar prejuízos de cerca de US$ 60 milhões, entre publicidade e direitos de transmissão a outros países, calcula Winship. ‘É mais que os 2,5% que nos pagariam neste ano.’


A esperança do WGA é que o incidente ajude a convencer a AMPTP a reabrir negociações. Teme-se, porém, que os produtores, enfurecidos com o episódio, endureçam ainda mais.’


 


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‘Greve é exemplo para o mundo todo’


‘A programação da TV dos EUA se tornou curiosa vitrine do que significa o mundo do entretenimento sem roteiristas. Suspensos desde o início da greve, em novembro, os principais talk-shows retornaram à ativa em condições distintas.


Enquanto David Letterman celebrou acordo independente com seus roteiristas, que voltaram ao trabalho, Jay Leno e Jon Stewart estão por conta só deles mesmos e de seus produtores. A diferença de qualidade a favor do primeiro é sensível, reforçando a idéia -martelada pelo WGA, o sindicato dos roteiristas- de que os autênticos criadores dos programas são os profissionais que os escrevem.


Michael Winship, presidente da divisão Leste do WGA, crê que acordos isolados como os celebrados por Letterman e pela United Artists apontam para o fim do impasse, pois atendem as exigências feitas à AMPTP, a aliança dos produtores.


‘Os parâmetros desses acordos são idênticos aos que tentamos estabelecer inicialmente nas negociações’, diz Winship. ‘O entendimento com a United Artists, onde estão Tom Cruise e Paula Wagner, é especialmente simbólico. Foi numa situação como essa, de confronto entre artistas e produtores, que Charles Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith fundaram o estúdio.’


Satisfeito com a solidariedade dos atores, que decidiram boicotar a cerimônia do Globo de Ouro, Winship lembra que o Directors Guild of América (DGA), o sindicato dos diretores, poderá viver impasse similar ao dos roteiristas nas negociações com os produtores. ‘O dissídio coletivo dos diretores termina em 30 de junho, e a primeira rodada de negociações, marcada para iniciar na última segunda, foi adiada. Espero que o nosso movimento sirva como referência para o que pode ocorrer se não houver diálogo.’


Segundo a ‘Variety’, o mais prestigioso veículo de cobertura da indústria norte-americana do entretenimento, há uma ‘grande distância’ entre o DGA e a AMPTP em relação a pontos-chave do dissídio, o que inviabilizaria ainda a realização de um primeiro encontro.


Entre as prioridades dos diretores, também estaria um aumento na remuneração pelas vendas em novas mídias. Eventual entendimento do DGA com a AMPTP sobre esse tópico poderia orientar contratos subseqüentes com o WGA e com o Screen Actors Guild (SGA), o sindicato dos atores, cujo acordo com os produtores também se encerra em 30/6.


‘Interesse universal’


‘O que acontece aqui é de interesse universal’, diz Winship, para quem a greve é exemplo para roteiristas do mundo todo. ‘Nossas exigências dizem respeito à economia do século 21, e não só à do entretenimento. Cerca de 26% dos americanos assistiram a filmes ou programas pela internet em 2007.’


Para ele, é ‘território inexplorado, com muito a crescer’. ‘Se os produtores fazem dinheiro com isso, queremos nossa parte.’ A convicção não gera otimismo. ‘Não tenho previsão de quando a greve terminará. Gostaria que tivesse terminado ontem, porque é difícil para muita gente. Espero que os produtores percebam os danos que causam aos roteiristas, ao público e a eles mesmos.’


Enquanto um acordo não vem, as demissões já rondam os estúdios. Nesta semana, a Warner anúnciou que fará neste mês mil dispensas temporárias -sem roteiros, seus funcionários estão ociosos.’


 


‘Eles fazem de tudo para não dividir lucros’


‘Recebido com alegria por roteiristas, o ator David Morse (‘Dançando no Escuro’, ‘À Espera de um Milagre’), 54, falou à Folha durante o piquete do WGA anteontem. (SR)


FOLHA – Como você avalia o boicote ao Globo de Ouro?


DAVID MORSE – Fatos assim trazem um sentimento de solidariedade. Infelizmente, ainda não conseguimos ajudar os roteiristas a chegar a uma solução. Todos amamos nosso trabalho e amamos celebrá-lo em ocasiões como a do Globo de Ouro. [O boicote] não é algo que façamos com prazer. Mas sabemos ver outros problemas na sociedade além dos nossos. Não falo só de problemas da indústria do entretenimento, mas do país.


FOLHA – Você está satisfeito com o que os atores recebem dos lucros em novas mídias?


MORSE – Claro que não. Os produtores sempre agiram assim na divisão dos lucros, conosco também. Quando veio o videocassete, disseram: ‘Isso não dá dinheiro, vamos deixar fora [dos contratos]’. Quando passaram a lucrar, não queriam mais falar disso. Foi assim com o DVD e a internet. Eles sabem que vão ganhar dinheiro e fazem de tudo para não dividir. Nesta greve, está claro que querem enfraquecer o sindicato dos roteiristas.


FOLHA – Os diretores se sentem em outra situação?


MORSE – Eles estão em posição diferente e parecem se orgulhar do modo como negociam com os produtores. Aí você vê uma manifestação dessas sem ninguém prestando apoio em nome dos diretores… É uma situação… curiosa.’


 


CRONOGRAMA DO OSCAR ESTÁ ATRASADO


‘Marcada para 24/2, a cerimônia de entrega do Oscar está com o cronograma de roteirização atrasado. A esta altura, já haveria uma equipe trabalhando na redação do programa. O trabalho seria intensificado com o anúncio das indicações, em 22/1. A Academia aguarda o término da greve. Caso não ocorra logo, pode celebrar um acordo com o sindicato. Em 1988, a entrega ocorreu durante uma greve de roteiristas.’


 


Brasileiros também cruzam os braços


‘A greve em Hollywood fez pelo menos dois roteiristas brasileiros cruzarem os braços.


Bráulio Mantovani (‘Cidade de Deus’, ‘Tropa de Elite’) e Marcos Bernstein (‘Central do Brasil’, ‘O Outro Lado da Rua’) são filiados ao sindicado WGA.


Mantovani freou o ‘Projeto Beslan’. Ele faria a segunda versão do roteiro do filme -sobre o massacre na escola russa, em 2004, ainda sem título- quando a greve começou.


Bernstein estava em negociações para fechar um contrato. Foram suspensas. Como o sindicato norte-americano exige a paralisação apenas dos projetos produzidos pelos EUA, os dois continuam trabalhando em outras produções.


Bernstein escreve o filme sobre o médium Chico Xavier, que Daniel Filho dirigirá. Mantovani prepara a produção inglesa ‘Nanny’, a ser rodada no Brasil, entre outros países.


Os dois são membros também da AC (Autores de Cinema), versão brasileira do WGA, que reúne 25 roteiristas -trata-se de uma associação, não de um sindicato. ‘Aqui, lidamos com questões mais simples, no entanto muito concretas, como definir o valor justo a ser pago por um roteiro’, diz Bernstein.


A AC sugere R$ 50 mil como valor mínimo para o roteiro de um longa. ‘Estamos engatinhando. A AC é uma tentativa de profissionalizar as relações com os roteiristas. Lá, a briga é como a das montadoras multinacionais com o sindicato dos metalúrgicos [nos 80, aqui]. Não chegamos nem perto do volume de dinheiro que eles geram’, afirma Mantovani.


‘A reivindicação dos roteiristas americanos se refere a uma luta específica pela preservação e o respeito aos direitos autorais. Estamos em sintonia com esta greve por sua razão filosófica e causal, mas ainda muito longe da paridade com as conquistas dos colegas americanos’, diz o presidente da AC, Di Moretti (‘Latitude Zero’).’


 


CINEMA E TV
Laura Mattos


Novelista faz filme de sexo e volta à Globo


‘A última novela de Euclydes Marinho na Globo foi a das sete ‘Desejos de Mulher’ (2002), protagonizada por Regina Duarte. Depois disso, o escritor, também autor de ‘Andando nas Nuvens’ (1999), ficou na chamada geladeira, com dois projetos de novelas engavetados pela direção (uma história contemporânea para as sete e uma adaptação de um romance do século 19 para as seis).


Em 30 de novembro último, seu contrato venceu, e ele, insatisfeito, não quis renovar. Recebeu proposta da Record, e a Globo decidiu não perdê-lo para a concorrente. Com boa oferta financeira e promessa de ter propostas avaliadas, Marinho voltou a ser global após 12 dias. A história foi contada à Folha pelo próprio autor, que surpreende pela sinceridade. ‘Fiquei em leilão entre as duas redes, e a Globo venceu.’


Ele é também sincero ao falar sobre ‘Mulheres Sexo Verdades Mentiras’, seu primeiro longa como diretor, que estréia hoje nos cinemas. O filme mescla depoimentos reais sobre sexo com uma história fictícia da documentarista Laura (Júlia Lemmertz). Apesar do ritmo de documentário, Marinho o define como comédia romântica. ‘Até porque chamar de documentário é afastar o público.’


Por que assim? ‘O formato com depoimentos foi escolhido porque é mais barato e cabia no meu orçamento’, manda o supersincero. Marinho, que trabalhou com Daniel Filho no cinema e na TV -era roteirista de ‘Confissões de Adolescente’-, diz estar tirando ‘da poupança’ os R$ 600 mil gastos na produção. ‘Dei esse presente para mim. Claro que ficaria feliz em recuperar o investimento com a bilheteria, mas não estou contando com isso.’’


 


Sergio Rizzo


Banalidades dominam filme mal executado


‘Ainda que requentada vagamente a partir do argumento de ‘sexo, mentiras e videotape’ (1989), que revelou o diretor e roteirista norte-americano Steven Soderbergh, a idéia desenvolvida por Euclydes Marinho e Rafael Dragaud para ‘Mulheres Sexo Verdades Mentiras’ tem atrativos: agora, é uma mulher (Julia Lemmertz), e não um homem, quem usa a câmera para extrair confissões de outras mulheres.


Não é uma empreitada de cunho unicamente pessoal. A personagem é uma documentarista que resolve se dedicar à investigação dos desejos e do comportamento sexual de mulheres de diversas idades, classes sociais e interesses. Ao mesmo tempo, ela vive nova relação.


O filme que está sendo realizado -com a ajuda de um cinegrafista (Fernando Alves Pinto), e acompanhado por amigas, pela filha e pela irmã- se confunde com o filme a que assistimos. O que pertence inteiramente à ficção se mistura com o que talvez não pertença, lembrando um pouco o grau de incerteza que paira sobre ‘Jogo de Cena’, de Eduardo Coutinho.


A fragilidade na execução da estratégia, no entanto, impede que se vá muito além da mera brincadeira. As banalidades de tom naturalista que pautam algumas das confissões, por sua vez, se aproximam perigosamente das conversas entre personagens de reality show.


MULHERES SEXO VERDADES MENTIRAS


Direção: Euclydes Marinho


Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex e no HSBC Belas Artes


Avaliação: ruim’


 


LEMBRANÇA
Carlos Heitor Cony


Viagem à sala de imprensa


‘FOI AQUI: há 50 anos iniciei minha vida profissional, substituindo o pai na Sala de Imprensa da Prefeitura. Tinha ido à cidade para comprar uns troços, aproveitei e visitei meu primeiro chão de trabalho.


A sala continua a mesma, toda forrada de madeira escura e lavrada, com painéis no teto e nas cantoneiras, encaixando pinturas representando alguma coisa a ver com os trabalhos do campo.


Os mesmos móveis, as mesmas poltronas, as mesmas janelas que parecem portas gigantescas dando para a rua Álvaro Alvim -em cujos peitoris via as mulheres rumo aos cinemas da Cinelândia e onde arranjei uma namorada, foi a primeira que passou a noite inteira comigo, no apartamento em Copacabana que eu tinha em sociedade com um capitão-de-fragata que morreu como capitão-de-mar-e-guerra.


Olhei aquilo tudo, tudo no mesmo lugar e na mesma importância, como se de repente ali entrasse o Cristóvão Freire, o Santos Melo, o Álvaro Pinto da Silva, o Raymundo Athayde, o Gilberto Pimentel, o Salvador Neno Rosa, o Breno Pessoa, o Deodoro Costa Lopes, o Faustino Passarelli, o Pereira Filho, o Amorim Neto, o Lourival Pereira, o Vítor do Espírito Santo, o contínuo Zé Porfírio e, sobretudo, o pai.


Uma tarde, recebemos a visita de Eisenhower, logo depois da guerra, quando ele veio agradecer a presença do Brasil na campanha da Itália. Tenho a foto da turma, estou ao lado do general. Eu usava óculos, ele se admirou de ver um jornalista tão jovem, chamou-me de ‘young boy’.


A sala me marcou quase tanto quanto o seminário. O velho prédio do Rio Comprido não mais existe, a parte que sobreviveu, tombada pelo Patrimônio Histórico, é uma jóia da era colonial. Todos os cenários da minha infância desapareceram. Somente a Sala Inglesa, vazia àquela hora, continuava intacta, nada havia acontecido na minha vida nem na dela.


Foi com intimidade, uma intimidade que só se consegue nos sonhos, que passei a mão em seus lambris, na escultura de bronze onde está escrito ‘Pour la Patrie’, nas maçanetas de bronze, no pequeno console à direita da entrada. De olhos fechados eu faria aquele roteiro. Em qualquer parte do mundo, em qualquer situação, bastará fechar os olhos e tudo aquilo virá como se nunca tivesse ido.


Parado naquela sala, olhando aquelas paredes, aqueles lustres redondos, aqueles lambris de madeira escura e trabalhada, é como se nada houvesse acontecido.


Tudo poderia voltar a acontecer a partir daquela sala sombria, solene, cenário que nunca tive outro igual. E o Lourival entrasse por ela, dando a arrecadação do dia (‘A Secretaria de Finanças arrecadou 53.697 cruzeiros provenientes de tributos diversos’). O Cristóvão Freire, barrigudo, de suéter cor de vinho, lendo em voz alta um novo capítulo do romance que vinha escrevendo, nunca encontrou quem o editasse.


Lembro o Deodoro, o Papai Deodoro, sentado de costas para o mesmo relógio redondo que ali está até hoje. Volta e meia pedia genericamente: ‘Vê que horas são para o Papai Deodoro’; tinha preguiça de virar a cabeça.


Havia o Osvaldo Furtado Luz, ex-integralista, que estivera preso por causa do ataque ao Palácio Guanabara, quando queriam matar o Getulio. Era filho de Fábio da Luz, que deu nome a uma rua no Méier. Ele tinha um bordão: ‘Eu sou macho!’ Grandes tipos viveram ali, e eu com eles.


Outras lembranças: o enterro de Carmem Miranda. Ela estava sendo velada no hall de entrada. Foi o primeiro cadáver maquilado que vi. E não me lembro quando nem por que houve festa no salão nobre, o anfitrião era o poeta Jorge de Lima, então na presidência da Câmara Municipal. O personagem mais importante era Luiz Carlos Prestes, foi a primeira vez que apertei a mão do grande líder nacional. Ele era senador, recebia os convidados ao lado de Jorge de Lima, que nas horas vagas da presidência fazia a sua monumental ‘Invenção de Orfeu’.


De repente, Ary Barroso, então vereador, sentou-se ao piano e começou a tocar. Todos pararam de dançar, mas Ary pediu que o baile continuasse. Muitas outras lembranças vieram ao mesmo tempo, fragmentos do homem aos pedaços que o tempo não apagou, mas nem por isso lhe deu sentido.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 11 de janeiro de 2008


TELECOMUNICAÇÕES
Nilson Brandão Junior


Fundos querem mais poder na Oi


‘Os fundos de pensão estão negociando um aumento de sua participação na megaempresa de telecomunicações que surgirá a partir da compra da Brasil Telecom (BrT) pelo Grupo Oi. A idéia é reduzir a diferença de tamanho com relação a outros acionistas, principalmente a Andrade Gutierrez (AG)e a La Fonte Participações. Para isso, as fundações discutem a compra de uma fatia acionária do BNDES no negócio.


Ontem, representantes dos seis acionistas que deverão formar o bloco de controle da nova empresa reuniram-se no Rio para discutir o acordo de sócios e as regras internas. Caso os entendimentos evoluam, deverão integrar o bloco da megaempresa a La Fonte, do empresário Carlos Jereissati, a AG, o BNDES, além da Previ, Petros e Funcef, fundações do Banco do Brasil, Petrobrás e Caixa Econômica Federal (CEF).


A La Fonte e a AG devem se tornar os principais controladores do novo grupo. Num primeiro momento, as duas empresas devem comprar a parte da GP Investimentos no Grupo Oi – avaliada em US$ 500 milhões. Em um segundo momento, a Oi deverá assumir o controle da Brasil Telecom, ao comprar por cerca de R$ 4,85 bilhões a parte dos fundos de pensão de estatais e do Citi na empresa. As operações deverão ser financiadas pelo BNDES.


Os fundos de pensão não querem ficar com pequeno peso dentro do bloco de controle. Uma das versões é de que, caso não cheguem a um acordo, as fundações poderiam até a vender sua participação na Oi e ficar de fora da nova empresa. Essa, contudo, não é a tendência natural, na avaliação de observadores do negócio. Na quarta-feira, representantes dos fundos e do BNDES reuniram-se na sede do banco para tratar do controle na nova empresa.


Alguns dos temas do encontro foram a definição de quais assuntos da gestão da Oi que teriam de ser necessariamente levados ao conselho de administração da nova empresa e o quórum mínimo para a decisão de assuntos relevantes. Uma das preocupações dos fundos é que apenas dois acionistas não decidam tudo na supertelefônica.


Ontem, ainda, a TmarParticipações – holding da Oi – enviou comunicado à Comissão de Valores Mobiliários, confirmando que está negociando com os controladores da BrT e as conversas ‘se intensificaram nas últimas horas, não tendo sido firmado documento de qualquer natureza até o momento’.


Informações de fontes que acompanham os entendimento dão conta que os valores finais da venda do controle da Brasil Telecom ainda estão sendo detalhados e deverão chegar a R$ 4,85 bilhões – valor relativo à holding Solpart, controladora da BrT. Além do acerto final de valores e do desenho do bloco de controle, falta contornar questões regulatórias para a compra da BrT sair do papel. Teria de haver um decreto presidencial para mudar a lei e permitir a união das duas empresas. O governo deu sinais que a medida será tomada rapidamente.


Na prática, a formação da nova companhia se dará em várias frentes. Segundo o plano original, o Citi e o Opportunity (que estão na BrT e Oi) e o GP (controladora da Oi) ficarão fora da nova empresa. Em paralelo à aquisição do controle da BrT – que é exercido pelo Citi, Opportunity e fundos -, os controladores da Oi comprarão a fatia da GP na Oi. A estrutura acionária da ex-Telemar vai ser simplificada, ainda, com a extinção da Lexpart, empresa formada pelo Citi, Opportunity e fundos. A Lexpart participa como investidor no controle da Oi e sua fatia acionária também seria, em princípio, comprada pelos sócios.


Os investidores reagiram ao anúncio das negociações. As ações PN da Tmar Participações subiram 13,6%, enquanto os papéis ON avançaram 10,4%, com a perspectiva de crescimento da empresa. As ações da Br Telecom ON subiram 7,14% e os preferenciais caíram 4,54%.’


 




Gerusa Marques


A lei deverá ser mudada pelo governo para viabilizar o negócio


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, reafirmou ontem que o governo é favorável à fusão da Oi/Telemar com a Brasil Telecom (BrT).


Em entrevista ao Estado, Costa disse que não vê problemas na operação e que o governo, em princípio, está disposto a mudar a legislação para permitir a criação do novo grupo.


‘O governo já acenou em diversas oportunidades que poderá, dependendo do entendimento entre as empresas, rever o Plano Geral de Outorgas (PGO), que é a única relação do governo com esta proposta de compra’, afirmou o ministro, que está de férias nos EUA.


O governo, segundo Costa, está atento às negociações, mas não foi informado oficialmente do negócio. ‘Nosso acompanhamento é puramente informal e nada temos a dizer até sermos informados’, disse.


Para que a compra seja concretizada, é necessária uma mudança, por decreto presidencial, no PGO, instrumento que distribui as áreas de atuação de cada empresa. A legislação atual proíbe que concessionárias – como a Oi e a BrTelecom – realizem fusões ou operações de compra e venda entre si (ver abaixo).


Costa acha que a iniciativa de mudar as regras não deve partir do governo e não deve anteceder o negócio. Segundo ele, as empresas têm que tomar primeiro sua decisão para depois o governo avaliar se altera o PGO. ‘Senão, ficaria parecendo que o governo está promovendo esse entendimento’, afirmou. Costa disse que o governo é apenas ‘observador’ no processo e que ‘estará preparado para tomar a decisão correta’ se o negócio se concretizar.


Golden share


Na verdade, Costa sempre defendeu a fusão entre as duas operadoras para que fosse criada uma grande empresa brasileira no setor. No ano passado, chegou a cogitar a criação de uma ‘golden share’ que daria ao governo poder veto em determinados assuntos, como a venda da nova empresa para grupos estrangeiros. A idéia foi mal recebida pelos controladores da BrT e da Telemar.


Para o ministro, não há impedimento para a mudança de regras. ‘A não ser que apareça alguém que diga que é uma coisa absolutamente impossível, mas eu não vejo assim’, reiterou. Ao ser questionado se as empresas não estariam fazendo um contrato de gaveta, já que o negócio não é permitido por lei, Costa afirmou que, até onde ele sabe, não há nenhum contrato assinado, são apenas negociações e que, portanto, não é uma atitude contrária à lei.


O ministro disse que não falou, neste dias, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a compra da BrT pela Oi, mas que sempre que esse assunto vem à tona, a reação do presidente é sempre de tranqüilidade. ‘Nossa posição é esta, de acompanhar, e se amanhã tiver de haver uma intervenção nossa, a intervenção será de análise do PGO e, em princípio, nós acenamos favoravelmente.’’


 


Fusão terá de vencer obstáculos regulatórios


‘A fusão entre a Oi e a Brasil Telecom (BrT) tem de vencer obstáculos políticos e regulatórios para ser oficialmente concretizada. O governo já deu sinais de que está disposto a fazer as mudanças necessárias, mas, na avaliação de especialistas, o rito exigido pela Lei Geral de Telecomunicações (LGT) deve ser cumprido para que a operação seja legítima e garanta a concorrência.


A principal mudança exigida pela legislação é a do Plano Geral de Outorgas (PGO), instrumento que determina a divisão de áreas de atuação entre as empresas de telefonia fixa e que foi estabelecido por meio de decreto presidencial. A regra em vigor proíbe que as concessionárias – como a Oi e a BrT – realizem fusões e operações de compra e venda entre si.


O ex-ministro das Comunicações, Juarez Quadros, disse que, antes da edição de um novo decreto mudando o PGO, é necessário que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprove a proposta de alteração do plano e a encaminhe ao Palácio do Planalto.


Antes de apresentar a proposta, explica Quadros, a Anatel tem de estabelecer um prazo, por meio de uma consulta pública, para que empresas e sociedade civil possam opinar sobre o assunto. Ele disse que o processo não é complicado, mas assegura que o rito previsto na LGT tem de ser cumprido. ‘Se o rito não for obedecido, qualquer mudança pode ser questionada, pois a sociedade estaria sendo impedida de se manifestar.’ Permitida a mudança no modelo, com a edição do decreto, a Anatel terá de voltar a analisar a mudança de controle das empresas no processo de anuência prévia para a compra. A agência também faz uma análise sob o aspecto da concorrência antes de encaminhar o processo ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Anatel disse ontem que ainda não foi informada oficialmente das negociações.


Juarez Quadros, que hoje atua como consultor no setor de telecomunicações, acha que permitir a fusão entre as duas empresas é estimular a criação de um monopólio privado nacional no setor de telefonia. Oi e Brasil Telecom juntas, segundo ele, concentrariam quase 70% do potencial de consumo do setor de telecomunicações.


Quadros avalia que uma empresa extremamente fortalecida, operando em quase todo o País, poderia passar da posição de vendedora para compradora. ‘A tendência é de este grupo, com um poder de mercado significativo, tente assumir as outras operações, seja da Embratel, seja de Telefônica, porque a fusão diminui muito o poder de mercado das outras.’


O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), acredita, porém, que uma fusão pode até estimular a competição no setor de telefonia. ‘Se for feita dentro de uma visão mais moderna da concorrência, que considere as novas tendências de concentração, sou a favor de que se mude o PGO’, afirmou.


O apoio à mudança de regras, disse o deputado, se dá com o objetivo de se criar uma empresa forte que possa consolidar sua participação no mercado nacional e garantir a competitividade, que hoje não existe. Semeghini lembra que o atual modelo não trouxe competição para a telefonia fixa. O Brasil dispõe de menos de 40 milhões de linhas fixas, enquanto os celulares já passam de 116 milhões.


‘Hoje, o que se está discutindo é um novo formato de concorrência para evitar que o setor fique nas mãos de apenas duas ou três empresas’, afirmou. Ele ressalta, no entanto, que não é possível alterar o PGO apenas para as empresas nacionais, como a Oi. Uma alteração poderia permitir, por exemplo, que a Telefônica também se juntasse a um outro grupo.’


 



ROUBO NO MASP
O Estado de S. Paulo


O Masp depois do susto


‘Depois de ter recebido, às vésperas do Natal, como um ‘castigo’, o furto de dois preciosos quadros – o Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso, e O Lavrador de Café, de Cândido Portinari (com valor estimado, em conjunto, de R$ 100 milhões) -, do Museu de Arte de São Paulo – Masp, o mais importante da América Latina, furto esse realizado com facilidade beirando o surrealismo (como dissemos em editorial anterior, sobre o assunto), a população de São Paulo recebe, neste início de ano, como um presente, a descoberta das obras furtadas, não danificadas, com apenas um arranhão no verso da moldura do quadro de Portinari, graças à rapidez e eficiência – além de muita sorte – da polícia paulista, que encontrou uma pista dos ladrões pela escuta telefônica que fazia de bando envolvido em assalto a carro-forte.


Entende-se que os indícios de fragilidade de proteção do valiosíssimo patrimônio cultural, que é o acervo instalado em um dos principais marcos arquitetônicos da cidade, somados a outras precariedades incompatíveis com o grau de importância do Masp, tenham despertado discussões as mais apaixonadas sobre a atual gestão do museu paulista – gerando manifestos pela internet, ataques e defesas acirradas de pontos de vista, inclusive sobre a oportunidade ou não de passar a instituição à administração do poder público – nisso também se levando em conta o momento, que se aproxima, de se negociar a continuidade (ou não) do comodato entre a instituição e a Prefeitura, tendo por objeto o imóvel da Avenida Paulista, de autoria da arquiteta Lina Bo Bardi.


É necessário, contudo, que essa discussão não se perca no acirramento entre grupos, em adjetivações acusatórias que resvalem para as idiossincrasias políticas – nem sempre providas da melhor argumentação técnica – e se enderece a questões mais substantivas, tais como, por exemplo, a precariedade de proteção dos bens culturais brasileiros – pertençam estes a instituições públicas ou privadas -, a forma de manutenção dessas instituições, pela via dos recursos públicos associados a parcerias privadas – como ocorre em tantos países do mundo desenvolvido -, e as estratégias mais modernas de gestão dos equipamentos indispensáveis ao aprimoramento cultural, artístico, estético e cognoscitivo de uma sociedade.


É bom lembrar que o Brasil já chegou ao destacável terceiro lugar – atrás apenas de Estados Unidos e França, países com acervos muito maiores do que os nossos – no ranking dos países com maior número de obras de arte furtadas, segundo dados da Interpol. Nos últimos dez anos, foram recuperadas somente 35 das 933 obras furtadas em território nacional, entre quadros, esculturas, documentos históricos, preciosidades bibliográficas e obras sacras. Observe-se, também, que, segundo a Interpol, o roubo de bens artísticos e históricos já é o terceiro delito mais rentável do mundo (depois do tráfico de armas e de drogas), sendo o Brasil o principal alvo dos ladrões da América Latina.


Sem dúvida cabe o surrado ditado ‘há males que vêm para bem’ ao se ter notícia de que o Masp recebeu doação de moderníssimo sistema de segurança, com 48 câmeras com infravermelho, dezenas de sensores de pressão e demais equipamentos da LG Security System, no valor de R$ 1 milhão – em troca da divulgação da logomarca da empresa doadora em adesivos espalhados pelos corredores do museu. Segundo o presidente do Masp, Julio Neves, ‘o Louvre é um dos museus do mundo que têm as melhores condições de segurança e nós estamos colocando aqui equipamentos de última geração, tão bons ou melhores do que tudo aquilo que existe no mundo’. Bem, aí caberia o outro surrado ditado ‘antes tarde do que nunca’…


De qualquer forma, visões apaixonadas à parte, pode-se assegurar que, ao custo de um grande susto – e de um pequeno arranhão no avesso de uma moldura -, se instalou importantíssima discussão sobre um valioso acervo cultural do País e, mais do que isso, sobre a maneira de manter e proteger nossas riquezas culturais e artísticas. Como este é um país de sorte, nisso até os surrealistas ladrões do Masp ajudaram…’


 


INCLUSÃO DIGITAL
Renato Cruz


Governo negocia redução de preço de computador


‘O resultado final do pregão para a compra de 150 mil laptops de baixo custo para estudantes de escolas públicas deve sair na semana que vem. O processo, iniciado pelo governo federal em dezembro, foi paralisado porque o preço foi considerado alto. A melhor oferta foi da Positivo Informática, com o Classmate, desenvolvido pela Intel. O lance da empresa foi de R$ 98,18 milhões, o que representa R$ 654 (US$ 360) por máquina.


O governo negocia agora condições melhores com a Positivo. Se não for alcançado o valor esperado pelo governo, há a possibilidade de um novo pregão.


O Uruguai pagou US$ 199 pelo XO, criado pela organização não-governamental One Laptop Per Child (OLPC), do professor Nicholas Negroponte. No Brasil, a oferta da OLPC foi de US$ 386 por máquina. A Positivo participou da concorrência uruguaia, e seu preço ficou em US$ 245. Ou seja, 32% menor do que aqui.


De acordo com Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Informática, as diferenças nas condições dos editais explicam a distância entre os preços. O Uruguai pediu 90 dias de garantia, a entrega foi centralizada num depósito, o pagamento era antecipado e houve isenção de todos os tributos.


Aqui, a garantia é de três anos e no local: se algum quebrar, o fornecedor terá de atender ao estudante em uma das 300 escolas que participam do projeto em todo o País. O fornecedor é responsável pela entrega, instalação e testes em todos os estabelecimentos de ensino, o que inclui a configuração de um servidor fornecido pelo governo local. Além disso, o preço inclui impostos (o governo prometeu isenção, que ainda não está em vigor) e a fabricação local é mais cara. Os laptops comprados pelo Uruguai são importados de Taiwan.


‘A fabricação local é mais cara, mas garante a geração de empregos aqui’, afirmou Rotenberg. ‘O preço do pregão não considera a isenção de impostos, pode diminuir. Se tirarmos todos os diferenciais da concorrência do Uruguai, o preço aqui seria mais baixo do que lá.’


No mês passado, David Cavallo, diretor da OLPC, disse ao Estado que o laptop custa mais no Brasil por causa das exigências feitas pelo governo no edital, principalmente de fabricação local. Ele também considerou pequeno o lote de 150 mil máquinas. A expectativa do governo era pagar menos de US$ 300 por laptop.


LAPTOP DE US$ 75


Apesar de a OLPC ainda não ter conseguido trazer o laptop aos US$ 100 prometidos, já há gente com planos mais ambiciosos. Mary Lou Jepsen, que era diretora de tecnologia da OLPC, deixou a ONG para criar a Pixel Qi, uma empresa que se propõe a criar um laptop de US$ 75.


‘O XO é somente o primeiro passo’, apontou a empresa em seu site. ‘A Pixel Qi busca atualmente criar o laptop de US$ 75, e também fornecer telas que podem ser lidas sob o sol, de baixo custo e baixo consumo, para laptops convencionais, celulares e câmeras digitais.’ Mary inventou a tecnologia de tela usada pelo XO, que permite a leitura sob o sol, e participou do desenvolvimento do sistema de gerenciamento de energia do aparelho.’


 


CENSURA
O Estado de S. Paulo


Juiz proíbe imprensa de citar nome de agressores


‘A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) condenou ontem, por meio de nota, a decisão do juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, do 9º Juizado Especial Criminal, do Rio, que proibiu seis redes de televisão (Globo, TVE, Bandeirantes, CNT, Record e Rede TV) e quatro jornais (O Globo, Jornal do Brasil, Extra e O Dia) de veicular imagens ou fazer referências aos nomes de dois estudantes que agrediram uma empregada doméstica num ponto de ônibus da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, em 4 de novembro de 2007.


Conforme a nota, assinada pelo vice-presidente da entidade, Júlio César Mesquita, ‘a ANJ considera que não importa o caso em questão, mas sim o princípio de que os cidadãos brasileiros têm o direito de serem livremente informados do que se passa na sociedade. Por isso, a Constituição proíbe de forma categórica e explícita a censura prévia. O juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto praticou censura prévia e afrontou a Constituição’.


Na decisão do juiz, tomada no dia 22 de novembro, ele argumenta que ‘o artigo 198 da Lei de Execuções Penais veda a exposição do réu à inconveniente notoriedade’. ‘Houve, de certa forma, uma excessiva exposição dos autores do fato na mídia, o que pode ter efeitos perversos’, diz o texto. O Estado não conseguiu falar com o juiz, que está em férias.


O advogado dos jovens, Ubiratan Guedes, disse que recorreu à Justiça porque os dois vinham sofrendo ameaças nas ruas.’


 


INTERNET
Rebecca Cathcart


MySpace é intimado após suicídio de garota


‘The New York Times, Los Angeles – Na semana passada, um júri federal de Los Angeles intimou o site de relacionamentos MySpace e outros ligados ao caso de Megan Meier, de 13 anos, do Missouri, que se suicidou após receber mensagens cruéis de pessoas que se passavam por um adolescente. Segundo o Los Angeles Times, a investigação vai definir se a criação de uma identidade falsa para importunar a garota pode ser considerada fraude na web.


Por falta de tipificação legal do delito, promotores federais não vão apresentar acusações contra Lori Drew, sua filha adolescente – colega de Megan – e um ex-funcionário. Lori foi acusada de criar uma conta online usando a identidade falsa de Josh Evans, de 16 anos, para se comunicar com Megan no MySpace. A última mensagem de Josh para a garota dizia: ‘O mundo seria um lugar melhor sem você.’ Naquele dia, a jovem se enforcou.


Megan era amiga da filha de Drew, mas a relação esfriou quando as duas entraram na 5ª série, há dois anos. Logo depois, Josh apareceu no MySpace e começou a enviar mensagens a Megan – a princípio afáveis, segundo Jack Nabas, promotor de Missouri. Mas, em 15 de outubro de 2006, o tom mudou. Josh e outros usuários do MySpace começaram a atormentar Megan com comentários negativos.


‘Embora estivesse a par da conta, Lori Drew nunca enviou mensagens a Megan nem a ninguém usando esta conta no MySpace’, disse seu advogado, Jim Briscoe. Segundo a promotoria, o autor da última mensagem foi provavelmente Ashley Grills, que trabalhava para Drew e tinha 18 anos na época.’


 


HOLLYWOOD EM GREVE
Flávia Guerra


Greve dos roteiristas, também no Brasil


‘Cena 1: um hóspede preenche a tradicional ficha de entrada em um hotel qualquer no Brasil e escreve profissão: roteirista. ‘De que agência de turismo você é?’, indaga o atendente. Parece ficção, mas é verdade. ‘Todo mundo acha que faço roteiros de viagens! Sempre brinco que ninguém sabe o que faço. Nem minha mãe nem a mídia nem o próprio cinema sabe para quem eu escrevo’, afirma Di Moretti, roteirista de Cabra Cega. Se o Brasil ainda está na ‘pré-história’ da afirmação do roteirista como profissional indispensável aos bons produtos audiovisuais, nos EUA a classe não só já é consolidada como tem força para fazer barulho quando insatisfeita – descontentes com as negociações sobre os ganhos com a reprodução de suas histórias na internet, os 12 mil roteiristas (americanos ou não) afiliados à WGA (Writers Guild of America, a Associação dos Roteiristas da América) iniciaram uma greve em 5 de novembro .


O maior estrondo foi sentido nesta semana. A cerimônia do Globo de Ouro, prevista para domingo, no Beverly Hilton Hotel, foi cancelada. Em vez da tradicional festa prévia do Oscar, haverá apenas anúncio formal dos vencedores. A NBC (no Brasil, a cerimônia seria transmitida pelo canal TNT) cancelou a transmissão. A CNN deve exibir ao vivo o anúncio dos melhores do ano escolhidos pelos correspondentes da imprensa estrangeira em Hollywood.


Por falar em estrangeiros, dois ‘estranhos no ninho’ hollywoodiano também sentiram os efeitos da mobilização. Por mais distante que pareça, o Brasil não sofre só com a reprise das séries para a TV a cabo sem novos episódios – dois roteiristas nacionais, afiliados à WGA , foram atingidos pela greve: Bráulio Mantovani, indicado para o Oscar pelo roteiro de Cidade de Deus, e Marcos Bernstein, um dos autores das falas de Central do Brasil. Ambos tiveram de engavetar projetos que estavam tocando com produtores americanos.


‘Escrevo um roteiro de um filme, talvez se chame Day of Knowledge, que será rodado na Alemanha. É sobre o atentado em que terroristas mataram dezenas de crianças na Chechênia em 1998. Vai ser dirigido pelo alemão Oliver Hirschbiegel, de A Queda, e produzido pela Universal e pela Imagine (cujo um dos sócios é Ron Howard)’, conta Mantovani. ‘A greve também me prejudicou. Levei meses para escrever e, quando recebi o sim para fazer um segundo tratamento, a greve começou.’


A pedra no caminho de Bernstein é ainda maior. ‘Além do roteiro de 11 Minutos, baseado no livro do Paulo Coelho, que será produzido pela New Line (de Os Infiltrados), que entreguei antes da greve, ainda vou dirigir um filme, Furious, um thriller psicológico. Mas vou ter de esperar. Além de emperrar a produção das histórias, a greve trava o fechamento dos contratos com atores, à espera que seus outros projetos também se realizem’, conta ele, que estreou na direção com O Outro Lado da Rua.


Os percalços de Mantovani e Bernstein podem ser pessoais, mas são o elo entre realidades muito díspares. ‘É claro que o Brasil está a anos-luz da condição dos EUA. Lá, brigam pelo lucro em cima de exibição na internet. Nós lutamos por direitos autorais. É o argumento que conta mais oficialmente. Mas esta é uma discussão, tanto aqui quanto lá, que não vai acabar tão cedo’, comenta Mantovani.


A greve e a decepção com o cancelamento da festa de domingo podem parecer mera futilidade cinéfila, mas o Globo de Ouro é a ante-sala do Oscar. E as cerimônias, mesmo as que contam com as piadas mais enfadonhas, são escritas por alguém. Quem? Roteiristas, é claro. E a WGA proibiu que qualquer afiliado fure a greve e escreva uma linha sequer para qualquer mídia enquanto a greve não termina. O resultado não é só falta de glamour, mas milhões perdidos com a falta de audiência e anunciantes. Não se pode esquecer o fato de milhares dos grevistas serem autores dos seriados para a TV fortalece a greve. ‘Se fosse só cinema, levaríamos um ano para sentir o vácuo da produção. Na TV tudo é feito com semanas de antecedência e se sente muito mais rápido. A força do meio ressalta o trabalho do roteirista’, diz Rene Belmonte, vice-presidente da Associação do Roteiristas de TV do Brasil.


Em 1988, ano da última greve, Hollywood empregava cerca de 80 mil profissionais e não havia DVDS, iPods, Podcasts nem internet. Hoje, emprega mais de 250 mil. Mas esse número tem tudo para cair. Nada melhor que o pretexto de uma greve para alegar que a produção parou e, sem produção, não há produto. Sem produto, não há venda. Sem venda, não há lucro e assim por diante. Vários estúdios já começaram a demitir. A Warner Bros., que pertence ao Time Warner, anunciou ontem que em breve haverá demissões.


O advogado do diabo diria que esta greve é injusta porque quem corre risco ao investir em um produto é o produtor. ‘Se há lucro, o roteirista quer ganhar. Mas, e se há prejuízo? Vai querer dividir as contas também?’, alegam produtores que tiveram de parar projetos. ‘O roteirista já ganha seu cachê pelo trabalho quando recebe a encomenda de um roteiro e o entrega. A negociação pode ser de caso a caso e não engessada em regras sindicais’, brada a Associação dos Produtores da América.


Mas como brincavam as vinhetas do site da WGA, para toda grande cena do cinema, ‘alguém escreveu isso’. E, sem romantismo, roteiro é obra autoral. Dramaturgia que faz a história existir. ‘O Fernando (Meirelles, diretor de ‘Cidade de Deus’) me deu uma caneca com essa frase. Parece bobo, mas resume tudo. Alguém tem de escrever tudo que é filmado’, declara Bráulio Mantovani. David França Mendes, roteirista de O Caminho das Nuvens, acrescenta: ‘Esta greve ocorre em momento especial. A internet é grande componente. Não só é o meio em que os filmes e programas estão sendo baixados, mas também é por onde a informação circula mais rápido.’ Vale reforçar que a briga dos americanos não é precipitada. ‘Eles estão escaldados. Perderam muito há décadas, quando começou a era do homevideo. Os produtores alegavam que não era possível estabelecer diretrizes para um mercado que não estava firmado. E que tudo teria de ser revisto depois. Os roteiristas acreditaram. Hoje o mercado de DVD é mastodôntico e os roteiristas só levam 3% dessa megacirculação de lucros’, diz Bernstein.


É esse tropeço que desta vez os autores da América não querem dar. ‘Agora, pretendem deixar tudo previsto. Hoje o mercado na internet é incipiente e não há tecnologia para controlar isso. Mas imagine no mercado que isso será em alguns anos’, agrega Mantovani.


Enquanto isso, em águas tupiniquins, a Associação dos Autores de Cinema batalha para ter seus direitos de autor valorizados e para conseguir padronizar contratos no País e até mesmo obter parcela sobre os residuais. Ou seja, a venda de DVDs, exibição no exterior, na TV e na internet. Apesar de previsto por lei, não é sempre que um roteirista brasileiro ganha sua parcela de lucro quando um filme é lançado no homevideo. Carolina Kotscho, que co-escreveu 2 Filhos de Francisco é exceção. ‘Consegui isso por negociação pessoal. E muito disso por uma política da Conspiração (a produtora do filme) e do Breno (Silveira, diretor). No Brasil, os contratos e o direito ainda variam muito de caso a caso.’


Quem sabe muito bem disso é Marçal Aquino. Um dos roteiristas mais festejados da Retomada, parceiro de diretores como Beto Brant e Heitor Dhalia, Aquino não esconde a visão realista. ‘Vivemos em um faroeste. É outra coisa. Aqui tudo é ainda muito pessoal e amador. Nos EUA, é indústria. Pense no quanto vai se perder com o atraso das filmagens de um próximo Homem Aranha, por exemplo. Eu e Beto Brant planejamos o próximo filme para daqui um ano. E eu só teria algum lucro com o roteiro em 2012. Não é pessimismo. É realismo.’


Resta saber se no domingo, sem festa, haverá piquetes e figuras como Tom Cruise distribuindo panfletos diante do Beverly Hilton. Panfletária ou não, um passo à frente já foi dado. A United Artists, cujo um dos sócios é Cruise, já aceitou as exigências da WGA e voltou a funcionar. David Letterman também não abriu mão de seus autores e capitulou. ‘Embora estejamos mais em clima de produtores e roteiristas se unirem para firmar nossa indústria, só o tanto de gente que nos procurou para saber o que achamos da greve já é sinal de algo mudou’, concluem Mantovani e Di Moretti.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Palavras que destroem e redimem


‘Contam os detratores de Desejo e Reparação, a suntuosa adaptação que Joe Wright fez do romance Atonement (Reparação, no Brasil), de Ian McEwan, que o diretor sequer havia lido o livro ao ser sondado para realizar o filme que estréia. Pode até ser verdade, posto que o próprio Wright o disse, ao participar do Festival de Veneza. Mas ele também conta outra coisa muito interessante no dossiê de imprensa que, na verdade, é outro livro, agora sobre o filme. Durante os dois anos que consumiu para realizar sua adaptação, Wright teve tempo de ler muitas vezes o livro de McEwan. Debruçado continuamente sobre o original, ele o (re)descobria a cada leitura. Coisas que estavam escondidas ganhavam um novo significado e, com ele, era toda a história, o próprio conceito da adaptação que ele queria fazer, que mudava.


‘Um livro é uma ilusão, um monte de signos e símbolos numa página que criam uma narrativa em nossa mente. Podem existir tantas versões deste livro quantas são os seus leitores. Eu fiz a adaptação que fui construindo em minha cabeça enquanto o lia’, diz Wright. O filme que estréia hoje lidera as indicações para o Globo de Ouro, cuja festa, neste domingo, foi cancelada por causa da greve dos roteiristas, de TV e cinema, dos EUA. O anúncio dos vencedores será feito numa entrevista coletiva. Desejo e Reparação concorre em sete categorias, incluindo melhor drama, diretor, atriz (Keira Knightley), ator (James McAvoy) e roteiro adaptado (Christopher Hampton). O filme concorre ainda na categoria de melhor atriz coadjuvante de drama, mas o colegiado da Associação dos Cronistas Estrangeiros de Hollywood preferiu indicar a garota Saoirse Ronan à veterana Vanessa Redgrave. Ambas fazem a mesma personagem, Briony, uma na infância, outra na terceira idade. Há uma terceira atriz que também faz o papel – Romola Garai. Ela interpreta Briony aos 18 anos.


Briony é a pedra de toque sobre a qual se constrói o filme. No início, ela é esta jovem impressionável que imagina ter visto alguma coisa e cuja afirmação destrói muitas vezes. Briony adulta, mas ainda não madura, tenta consertar o estrago que produziu na vida da irmã, Cecília (Keira), e de seu amado Robbie (McAvoy). Mais tarde, já idosa, ela encontra na literatura a possibilidade de redenção. Como diz Joe Wright, seu filme é sobre o poder de destruição e redenção contido no ato de contar histórias. Parece simples. Durante 1001 noites, Xerezade inventava uma história por vez, para distrair o sultão que poderia matá-la. Mas o processo pode ser, e muitas vezes é, mais complicado. Joe Wright já havia feito uma boa adaptação de Jane Austen, Orgulho e Preconceito – e a escritora lhe fornece a epígrafe para Reparação, retirada da fala para a senhorita Morlan que discute justamente as aparências, em Northanger Abbey. Mas ele tem consciência do que este filme representa. Define-o assim: ‘A jornada criativa mais importante da minha vida, até agora.’


Tudo o que você escutar de ruim sobre Desejo e Reparação – a fotografia é bonita demais, a música é adocicada – pode ser usado a favor do filme. É melodramático? Luchino Visconti, o grande diretor italiano, dizia que Verdi e o melodrama eram suas grandes paixões e, quando os críticos reclamavam do perfume melodramático que encontravam em seus filmes, na verdade, mesmo que quisessem desmerecê-lo, estavam a elogiá-lo, porque era este perfume que ele perseguia. A referência a Visconti é apenas isto, uma frase pinçada entre as muitas que o artista disse. Pois Desejo e Reparação, apesar da beleza das imagens – aquele campo de papoulas vermelhas pelo qual avançam os soldados será uma lembrança do Claude Chabrol de Quem Matou Leda? -, e da música – o tema de Briony foi trabalhado antes pelo diretor com o compositor Dario Martinelli, uma frase musical, plangente, ao piano que se desenvolve numa melodia que reproduz, percussivamente, o ruído de uma máquina de escrever – é muito duro, na sua elegância, para ser melodramático.


Nem Martin Scorsese, ao filmar as esquinas perigosas da aristocracia nova-iorquina nos salões de A Idade da Inocência, foi mais violento. Toda a tragédia de Desejo e Reparação não é só produto da imaginação delirante da garota Briony, mas também é conseqüência da sociedade de classes britânica. Já era assim na adaptação de Orgulho e Preconceito, mas agora ainda mais. O grito da mãe de Robbie, quando o filho vai preso – ela é interpretada por Brenda Blethyn -, representa a angústia e a impotência dos humildes diante das injunções caprichosas do poder. A palavra de Robbie vale menos do que a de Briony e este é um dos temas de Desejo e Reparação. Stanley Kubrick via na crise da palavra a dissolução do único elo que une os homens. A palavra que destrói vira literatura que traduz o desejo de reparação de Briony, mas se fosse apenas isto o filme seria, talvez, acadêmico, porque estaria sendo submisso ao livro, desenvolvendo apenas uma reflexão de segunda mão.


Há uma outra reflexão, que vai além da do livro – e da própria sociedade de classes – em Desejo e Reparação, o filme. Ela se refere ao próprio cinema. O poder destruidor de uma imagem mal interpretada tem de ser resgatado por uma outra imagem que traduz o desejo de reparação. A imagem e o som, sobre os quais se constrói a estrutura audiovisual do cinema, são trabalhados aqui como conceito, não apenas beleza. A decisão de Joe Wright de filmar a cena dos soldados em Dunquerque num só plano, uma longa seqüência de câmera fluida – steadycam -, não nasceu apenas de um capricho ou de uma vontade de mostrar malabarismo técnico. O plano, preparado das 6 da manhã e executado às 6 da noite, em três tomadas, descreve o teatro de operações que vai selar o destino de um dos personagens. Mas o movimento prossegue em relação a um cinema em que está sendo exibido um filme – Cais das Sombras, de Marcel Carné, com Jean Gabin e Michèle Morgan.


O filme sobre o poder regenerador da literatura vira sobre o poder do cinema. A partir daí, Desejo e Reparação toca o sublime. Os cinco minutos finais com Vanessa Redgrave trazem para o trabalho de Joe Wright o ‘pathos’ da própria atriz, a riqueza que sua persona imprime ao que está dizendo. O roteirista (Ligações Amorosas, de Stephen Frears) e diretor (Carrington) Christopher Hampton considera Reparação um dos melhores livros dos últimos 20 ou 30 anos. Preservar suas qualidades, trabalhando num meio como o cinema, ele diz, foi, mais do que um desafio, uma responsabilidade. O próprio Ian McEwan, que acompanhou o processo, sem interferir, diz que Hampton e Wright fizeram um trabalho de demolição. Foi preciso reduzir um texto de 130 mil palavras num roteiro com menos de 20 mil. A dificuldade era tanto maior porque o romance é muito interior. Passa-se na consciência de vários personagens. Você pode até continuar preferindo o romance, como se pode preferir O Processo de Franz Kafka ao de Orson Welles e o Leopardo de Giuseppe Tommaso di Lampedusa ao de Luchino Visconti. Desonesto é levar o próprio preconceito ao limite de não reconhecer que Joe Wright – e seu elenco e o roteirista Christopher Hampton – conseguiram a grandeza de McEwan em excelente cinema, atingindo um público maior que o do romance.’


 


Luiz Zanin Oricchio


Sobre o mal que se pode causar ao outro


‘As primeiras cenas de Desejo e Reparação prometem um filme suntuoso – no melhor sentido do termo. O que temos é uma hábil alternância de pontos de vista sobre o mesmo acontecimento, com uma câmera que também testemunha os pouco amistosos relacionamentos de classe na sociedade inglesa. Esse é um ponto forte, pois, afinal, o personagem Robbie (James McAvoy) é filho de um empregado e, portanto, ‘inferior’ à sua amada Cecilia e também a Briony. Esse é um aspecto da trama, e não é preciso acreditar em luta de classes, como conceito marxista, para que a história faça sentido.


De fato, essa questão dos desníveis sociais interferindo nas relações amorosas é um tema recorrente na literatura e vai do próprio romance original de Ian McEwan, traduzido simplesmente como Reparação, até o clássico Lady Chatterley, de D.W. Lawrence, que recebeu magnífica adaptação da francesa Pascale Ferran.


Mas não é esse o sujeito principal do filme e sim um aspecto de ordem pessoal, e que envolve a possibilidade de fazermos mal aos outros a um ponto em que esse dano se torne irreversível. Esse aspecto, costurado em filigrana, está presente no trabalho de Joe Wright, talvez não com a profundidade desejada (e presente no romance) mas, de qualquer forma, digna.


É pena que, na segunda parte, Wright tenha optado de forma aberta pelo melodrama ‘de qualidade’, o que desequilibra o projeto. Nada contra o melô. Uma coisa é você assumir o melodrama desde o início, não apenas como opção ‘ad hoc’ mas como filosofia de vida, como faz às vezes o mexicano Arturo Ripstein e, sempre, Pedro Almodóvar. Outra é mudar o registro no meio do caminho, provavelmente para tornar o conjunto todo mais palatável para o público médio, e para o Oscar. E assim prossegue a trama, de maneira meio cansativa, até uma reviravolta final, que não pode ser revelada. Enfim, um truque ficcional que não deixa de ser inteligente e joga com o temor e a esperança do público.


A opção pelo ‘emocional’, no entanto, acaba por pesar nas cores. E nos sons. O compositor da trilha, Dario Marinelli, constrói a sua trilha sonora sobre o ritmo de uma máquina de escrever porque, afinal, se trata – também – de uma história sobre escritores, ou sobre um escritor em particular, que se divide entre a mera rememoração e a invenção ficcional. Acontece que Marinelli injeta dose brutal de açúcar em sua música, o que não apenas a torna ineficiente, como cansativa e redundante. De certa maneira, a música apenas expressa a orientação geral do projeto, que visa a provocar emoção a qualquer preço e não confia na capacidade do espectador em detectar sutilezas e sensibilizar-se com elas.


Serviço


Desejo e Reparação (Atonement, Inglaterra/2007, 130 min.) – Drama. Dir. Joe Wright. 14 anos. Cotação: Bom’


 


TELEVISÃO
Thaís Pinheiro e Keila Jimenez


SBT encurta novela


‘Mudanças no SBT já não soam como novidade. A escolhida da vez foi a novela Amigas e Rivais, que tinha término previsto para fevereiro e, na próxima semana, já apresentará seus últimos capítulos.


Depois de passar por várias mudanças de horário, a trama adaptada por Letícia Dornelles teve de ser encurtada e reeditada para se enquadrar, segundo a Assessoria de Imprensa da emissora, ‘às estratégias de lançamento da nova grade’.


Na verdade, o que empurrou a novela para seu fim antecipado foi o ibope. Amigas e Rivais registra média de 3 pontos de audiência, uma das mais baixas da história das novelas do SBT.


Com o encurtamento da trama, no dia 21 entram no ar os novos episódios de Chiquititas e a estréia da novela argentina La Lola. Já no domingo, dia 20, a emissora apresenta os inéditos Nada Além da Verdade, com Sílvio Santos, e o desfile da Victoria Secret 2007.


Em sua nova atração, SS submeterá celebridades a uma bateria de perguntas pessoais com uso de uma máquina da verdade. O prêmio máximo é de R$ 100 mil. Silvio Santos já gravou com Rita Cadillac, Jorge Kajuru, Sérgio Mallandro e Gretchen.’


 


LIVRO
Roberta Pennafort


Quem dá o tom do carnaval é a sátira política


‘Corria o ano de 1881 quando uma das sociedades carnavalescas que agitavam o Rio, chamada Os Fenianos, saiu às ruas com uma figura de dom Pedro II suja com a ‘mancha’ do escravagismo. Era uma época em que os foliões brincavam embalados por temas como a defesa da Proclamação da República e a luta pela emancipação feminina.


Passado mais de um século, os pleitos são outros, mas a sátira política continua dando o tom do carnaval, conforme mostra, em seu novo livro, o jornalista e pesquisador Haroldo Costa – referência no assunto. Política e Religiões no Carnaval (Irmãos Vitale) será lançado na segunda-feira, no restaurante La Fiorentina, no Rio.


Autor de outras seis publicações sobre o carnaval, Costa começa seu relato com as primeiras manifestações do gênero em solo brasileiro, na segunda metade do século 18 – antes, portanto, da chegada da família real ao País, ao contrário do que se apregoa. Passa pela tradição do entrudo, pelo advento dos chamados ‘carros de idéia’ (antecessores dos carros alegóricos de hoje), e chega às marchinhas, aos sambas-enredo e às escolas.


O aparecimento das sociedades carnavalescas, já no fim do século 19, ele mostra, fez com que o carnaval carioca assumisse ‘uma forma pessoal’, tivesse ‘uma cara’. Os sócios desses grupos, fundados por jovens escritores, desfilavam pelas ruas e distribuíam flores e confetes. Logo começaram a se mobilizar por demandas que lhes eram caras: o fim da escravidão, a extinção da monarquia.


Suas idéias eram expressas nas músicas que animavam a folia. Em 1889, por exemplo, ano seguinte à assinatura da Lei Áurea, cantou-se: ‘Venceu-se, finalmente, a tremenda campanha/ maio, o divino mês, deu-nos a abolição!’ Não eram poucas as letras que ironizavam autoridades (neste caso, o Marechal Deodoro da Fonseca): ‘‘Fui ao campo de Santana/ beber água na cascata/ encontrei o Deodoro/ dando beijo na mulata.’


Foi no início do século 20, dita o livro, que o gênero ‘música de carnaval’, de fato, se consolidou. Considerado o primeiro samba já gravado, Pelo Telefone, de Donga, foi o maior sucesso de 1917. Sua primeira versão diz: ‘O chefe da folia (chefe da polícia, na adaptação posterior)/ pelo telefone/ manda me avisar/ que com alegria/ não se questione/ para se brincar.’ Era uma forma de debochar da determinação da polícia em combater o jogo para agradar à imprensa, que fazia campanha contra a prática, explica Costa.


De lá para cá, presidentes (Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, especialmente), governadores, acontecimentos históricos, tudo foi objeto de chacota. ‘A originalidade do nosso carnaval reside exatamente aí. É um campo de provas para as nossas constatações espirituais e necessidades lúdicas’, analisa o pesquisador, que também trata da relação entre as religiões (católica e correntes africanas) e o carnaval.


‘O carnaval carioca, especialmente através das escolas de samba, é hoje a síntese da nossa nacionalidade. Dá o espelho que reflete o que somos, com as angústias, expectativas, frustrações, anseios, vitórias, enganos e desenganos que compõem o nosso retrato falado’, conclui o escritor.’


 


 


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