Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

José Ramos

‘O projeto de lei que acaba com o limite de 49% para o capital estrangeiro nas empresas de TV a cabo só irá a votação no plenário do Senado se as empresas interessadas se mobilizarem em defesa da proposta, avisou ontem o autor do projeto, senador Ney Suassuna (PMDB-PB). ‘Aqueles que se interessam que se manifestem, pois eu só levei pau.’, disse o senador, citando as organizações Globo e Abril, e reclamando das críticas que recebeu da Rede Bandeirantes. ‘Se os que necessitam se manifestarem, peço para pôr em pauta.’

O projeto interessa às Organizações Globo, que anunciou na segunda-feira acordo com a empresa mexicana Telmex para dividir o controle da Net, maior empresa de TV a cabo do País. Com a restrição legal, a Telmex ficará com 49% de uma nova empresa que controlará a Net, e 51% ficarão com a Globopar.

Existem três legislações diferentes para TV por assinatura: para cabo, para microonda e para satélite. Só empresas de cabo têm limite de 49% para capital estrangeiro.’



TELEJORNALISMO
Antonio Brasil

‘Jornalismo internacional invade telejornais’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 25/07/04

‘Qual seria o papel do noticiário internacional nos telejornais locais? Como podemos relacionar os acontecimentos importantes em países distantes com as pequenas matérias do nosso dia-a dia? Os telespectadores estariam realmente interessados em ‘conexões’ internacionais nas matérias do nosso dia-a-dia? Afinal, o que é noticia em um telejornal local?

Essas questões são complexas e ainda demandam análise e pesquisa de verdade. Certamente não há um consenso entre os editores e os críticos ou analistas. Continuo acreditando que jornalismo de TV não é uma mera ‘commodity’. A justificativa de que ‘colocamos no ar, o que o público quer ver’, é irresponsável e perigosa. Jornalismo, mesmo na TV, deve ser, antes de tudo, prestação de serviços à comunidade. Tem uma obrigação educativa e uma responsabilidade formadora com os telespectadores. Telejornal não é novela. Não podemos eliminar personagens ou adaptar o roteiro conforme a vontade do freguês, ou melhor, do telespectador. O problema, no entanto, em tempos de processo acelerado de globalização, é como definir os limites do interesse ‘local’ em nossos telejornais.

O mundo não mais se resume aos limites das nossas cidades. O que acontece em lugares distantes como a China, Índia, Estados Unidos ou Iraque afeta a todos nós. Podemos ‘tentar’ ignorar o mundo, restringir nossos interesses pela proximidade geográfica, mas essa atitude é perigosa. Hoje, o público dos telejornais americanos, percebe que os acontecimentos no Afeganistão ou no Iraque têm o potencial de se tornarem notícias locais a qualquer momento. Se não percebemos a importância do noticiário internacional nos pequenos acontecimentos do nosso dia-a-dia, corremos o risco de ‘tropeçar’ e ‘explodir’, vítimas da nossa própria ignorância.

Esse tem sido o meu desafio aqui na redação da WPBF, a pequena estação de TV de West Palm Beach na Flórida. Tento convencer os editores da importância do noticiário internacional na produção das matérias locais.

Não é uma tarefa fácil. Insisto que para muitos telespectadores das diversas comunidades ou minorias étnicas locais, o que acontece em Cuba ou na América Latina não é uma noticia internacional. A globalização, a imigração, o turismo e as facilidades de comunicação afetam e transformam a nossa vida. Está cada vez mais difícil definir o local em contraposição ao internacional. As distâncias diminuem e as categorias se confundem. A própria identidade do telespectador dos telejornais se transforma. Os interesses do público estão acima dos limites geográficos. Hoje, aqui, amanhã…só Deus sabe! Mas como fazer conexões entre essas pequenas, porém importantes notícias dos telejornais locais com o resto do mundo?

Esta semana tive um bom exemplo dessas dificuldades, mas também tive a oportunidade de comprovar a importância de algumas idéias e alternativas. Noticiário local não tem que ser chato e limitado às próprias fronteiras.

Uma das nossas principais pautas desta semana era sobre uma menina dinamarquesa, Helene Jensen, 16. Ela estava sendo ‘deportada’ dos EUA. Parece mais uma história sem a menor importância em um país que tem milhares de casos semelhantes. Mas a pauta tinha algumas peculiaridades interessantes. A primeira, meio óbvia e meio ‘racista’ é que tratava-se de uma ‘dinamarquesa’. Não se espera que uma jovem rica e bonita, com os pais e irmã vivendo nos EUA, pudesse estar sendo mandada de volta para o seu país de origem. O problema, no entanto, era bem mais complicado. Os pais também são dinamarqueses, moram e trabalham há anos nos EUA, tiveram uma filha no país e querem se tornar cidadãos americanos. A situação deles em termos de visto é legal. A filha, que nasceu nos EUA, pode ser ‘responsável’ pela presença dos pais. Mas por uma dessas sutilezas das leis de imigração americanas, ela não pode se responsabilizar pela presença da ‘irmã’. Alguém no congresso americano ‘esqueceu’ ou não se importou com esse detalhe. Ou seja, a menina que estuda em um High School americano, tem namorado, cachorro e família aqui nos EUA, teria que sair do país. Até aí, tudo bem. Mais uma historinha lacrimogênea para o telejornal das 6. Mas Helene, além de todos os problemas ‘pessoais’, sofre de uma doença grave: uma forma de reumatismo crônico paralisante. A pauta está ficando mais interessante. Mas tem mais. A menina dinamarquesa fazia parte de um tratamento científico experimental.

Ela tomava regularmente drogas caríssimas que podem vir a solucionar o problema. A história está cada vez mais ‘interessante’. Tudo a ver com o jornalismo de TV. Muita emoção, pouca informação.

Resolvi acrescentar uma contribuição ou conexão internacional a essa matéria local com cara de telenovela. Aproveitei a reunião dos editores para sugerir um contato com a TV dinamarquesa. Trabalhei para eles durante anos, ainda tenho bons amigos em Kopenhagen e certamente estariam interessados nesse tipo de matéria.

Por outro lado, para a WPBF, seria muito interessante acompanhar a chegada e a adaptação da jovem Helene de volta a Dinamarca. Helene estaria voltando para um país que ela mal conhece, longe dos pais e dos amigos em um momento difícil e delicado. E o tal experimento científico? E os custos do tratamento? Teria que ser interrompido? Será que a menina corre o risco de ficar paralítica devido a uma ‘tecnicalidade’ das leis e de uma insensibilidade do serviço de imigração americano? Uma histórica local com um conteúdo humano e uma ‘possível conexão internacional’.

Fiz a minha parte. Entrei em contato com os velhos amigos dinamarqueses, conseguimos uma equipe local e produzimos boas imagens e uma entrevista exclusiva com a menina no aeroporto de Kopenhagen. Apesar de sermos pequenos, a WPBF, afiliada da ABC, está em terceiro lugar no Ibope local, demos um ‘banho’ na competição. A matéria foi um sucesso absoluto. A pequena matéria local atravessou fronteiras. Foi ‘exclusiva’ no circuito da Eurovisão e foi oferecida pelas agências de notícias para quase todas as televisões do mundo. As redes americanas ABC e CNN também se interessaram pela matéria e a WPBF em parceria com a TV2 da Dinamarca deram um exemplo raro de parceria e solidariedade no jornalismo de TV.

A saga da pequena família Jensen emociona o público. O diretor de jornalismo da WPBF está até mesmo considerando cometer um ‘pecado mortal’ – ultrapassar os limites da ditadura do nosso orçamento – e enviar uma equipe da WPBF até a Dinamarca para acompanhar a jovem Helene.

Por outro lado, o que poderia ter sido somente mais uma materinha local acabou se tornando exemplo de parceria internacional e mobilização pública pela TV. Vários telespectadores de Palm Beach e até mesmo da Dinamarca ligaram para a WPBF. Eles estavam emocionados com a matéria e preocupados com o destino da menina dinamarquesa. Muitos telespectadores sugeriram alternativas, ofereceram ajuda e orações. Todos querem a volta da jovem Helene.

Aqui entre nós, tenho minhas dúvidas se a matéria faria tanto sucesso e teria essa repercussão se Helen tivesse nascido no Haiti ou no Brasil. Tento evitar, mas anos de jornalismo nos tornam meio céticos. Mas não se pode negar que a matéria, apesar de local, tinha todos os ingredientes para crescer. Uma pequena família de estrangeiros com cara bonita, honestos, respeitadores das leis, mesmo as leis absurdas, com problemas de saúde e esperança no futuro. Tudo isso recheado com muitas ‘lágrimas’ em close-up no aeroporto de West Palm Beach e mais lágrimas em Kopenhagen. Só precisava de um certo toque de ‘produção’.

Os Jenses agora são celebridades locais e internacionais. Hoje, foram convidados a participar do Good Morning America da ABC em rede nacional. Mas apesar de todos os problemas, ainda não consigo entender por que eles queiram tanto morar na Flórida e se tornar cidadãos americanos. Eles devem ter problemas no país de origem ou odiar o frio. A Dinamarca é certamente um dos melhores e mais belos países que jamais conheci.

Esta pequena e pouco importante matéria de um telejornal local demonstra o potencial das conexões e parcerias internacionais. Mas também comprova a capacidade da TV em mobilizar o público. De vez em quando, jornalismo não deveria se limitar a observar e relatar os fatos. De vez em quando, jornalismo de TV se torna uma arma poderosa e muda o mundo.’



TV GLOBO
Daniel Castro

‘Globo deve abrir ‘base’ na avenida Paulista’, copyright Folha de S. Paulo, 5/07/04

‘As centrais de jornalismo e de engenharia da Globo estudam três projetos para driblar a imensidão e o trânsito de São Paulo.

Estão em análise a criação de uma base de jornalismo na avenida Paulista (região central), o uso de ‘motolinks’ e o emprego da internet em transmissões.

A sede da Globo fica no Brooklin, zona sul da cidade, o que dificulta o deslocamento rápido para o centro e as zonas norte e leste.

A emissora já usa helicópteros para deslocamentos rápidos. As aeronaves são úteis para entradas ao vivo, mas não resolvem quando há necessidade de gravação de reportagens em solo.

Para essas situações é que serviriam a base da avenida Paulista, os motolinks e a internet. Na base da Paulista ficaria de plantão pelo menos uma equipe de reportagem (repórter mais cinegrafista), que acessaria mais rapidamente as regiões norte e leste.

A internet seria usada para substituir motoqueiros no transporte de fitas com imagens. Na hipótese da cobertura de um fato no extremo da zona leste, a internet seria meio de ‘transporte’ mais rápido do que motocicletas.

Já os motolinks (motocicletas com equipamento de transmissão para helicópteros, que rebatem o sinal para a emissora) seriam empregados para driblar o trânsito em coberturas de acidentes e incêndios, por exemplo.

Band e Record já usam motolinks em seus telejornais policiais.

OUTRO CANAL

Pontapé

A Globo começa na próxima semana a gravar a minissérie ‘Mad Maria’, de Benedito Ruy Barbosa, que exibirá no início do ano que vem. Ricardo Waddington, diretor-geral, viaja dia 14 para Rondônia, onde irá fazer tomadas do que restou da ferrovia Madeira-Mamoré (‘personagem’ da minissérie).

Casal

Além de Ana Paula Arósio (protagonista), Juca de Oliveira e Antonio Fagundes, Claudia Raia e Edson Celulari já estão confirmados na épica ‘Mad Maria’.

Sigilo

O diretor Luís Fernando Carvalho está tocando o projeto de uma microssérie para comemorar os 40 anos da TV Globo, em abril do ano que vem. O conteúdo ainda é secretíssimo.

Restrição

A Band vai enviar cerca de 50 profissionais para a cobertura das Olimpíadas de Atenas. O número, que inclui seis equipes de reportagem, é praticamente a metade do que a emissora enviou para Sydney, em 2000 -110 pessoas.

Esquentou

O cantor Orlando Moraes procurou Herval Rossano, da Record, querendo saber qual é a proposta da emissora para ter Cléo Pires (sua enteada) como protagonista de ‘Escrava Isaura’.

Descanso

Este colunista sai em férias hoje. Será substituído por Laura Mattos.’

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‘Acerola e Laranjinha perdem a virgindade’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Eles passaram toda a última temporada tentando. Finalmente, no primeiro dos cinco episódios deste ano da série ‘Cidade dos Homens’, que a Globo exibe a partir de outubro, Laranjinha (Darlan Cunha) e Acerola (Douglas Silva) vão conseguir perder a virgindade.

No seriado criado por Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’), filmado em película, Laranjinha e Acerola são dois adolescentes negros e pobres, moradores de morro do Rio.

Laranjinha transará com Poderosa (Roberta Rodrigues, a empregada Zilda de ‘Mulheres Apaixonadas’) e arrumará encrenca com o traficante que a namora. Terá que fugir do morro.

OUTRO CANAL

Intercâmbio Em um dos novos episódios de ‘Cidade dos Homens’, Acerola e Laranjinha viajarão a São Paulo. A dupla irá conhecer o hip hop politizado da periferia paulistana.

Vozeirão José Luiz Datena será o Galvão Bueno da Band nas Olimpíadas de Atenas. Será o principal narrador de jogos coletivos (futebol feminino, vôlei, basquete etc.).

Drama Atração da Fashion Rio, na semana passada, a top model Liliane Ferrarezi, 16, estará no ‘Domingão do Faustão’ de hoje. Ela tem história: menina pobre de Minas Gerais, venceu um concurso que reuniu mais de 3,5 milhões de garotas do mundo todo. Hoje, ela vive em Nova York.’



TV CAÇA NÍQUEL
Laura Mattos

‘TVs brasileiras se abrem à interatividade caça-níquel’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Quem costuma passear por todos os canais da TV na madrugada provavelmente já se deparou com Syang, aquela loira tatuada que protagonizou barracos na ‘Casa dos Artistas 2’, do SBT.

Parece mentira, mas o programa de cenário trash comandado por ela em plena madrugada da TV Gazeta é o primeiro fruto de um investimento milionário que tem o ambicioso objetivo de revolucionar a televisão brasileira.

‘Swing com Syang’ apresenta bandas alternativas e convidados praticamente desconhecidos, mas seu segredo está no chamado chat telefônico. Ao ligar para um número de celular exibido na tela -e pagar por isso-, o telespectador pode gravar recado para a apresentadora, ser escolhido para conversar com ela ao vivo ou entrar em salas de bate-papo.

O sistema, adotado também por SBT e Band na semana passada, parece ser um negócio de ouro para TVs, que têm a possibilidade de fazer pesquisas com a audiência, agregar conteúdo a seus programas e ainda pôr tudo na conta (telefônica) do telespectador.

As empresas donas da tecnologia do chat têm contrato com as operadoras de telefonia e ficam com uma porcentagem do valor da ligação. A emissora, dependendo do acordo, recebe parte desse lucro ou simplesmente não paga pelo novo -e útil- serviço.

No ‘Swing com Syang’, um público formado principalmente por jovens das classes B e C torra salários e mesadas atrás de namoro ou amizade. O programa é exibido diariamente da 0h às 2h, e o chat fica no ar 24 horas. E há telespectador que passa até quatro horas jogando conversa fora com desconhecidos.

A tecnologia do chat e a produção do ‘Swing’ são da britânica One World Interactive, uma das maiores distribuidoras de conteúdo digital do mundo. A empresa está presente em mais de 70 países e é responsável, por exemplo, pelo sistema de votação telefônica do ‘reality show’ ‘Who Wants to Be a Millionaire’, da rede inglesa BBC (algo como a eliminação do ‘Big Brother’). No Brasil há pouco mais de seis meses, a companhia divulga que investirá R$ 65 milhões no país ao longo de 2004.

A One World produz ainda o programa ‘Happy Lyne’ (no ar após o ‘Swing’), com meninas de pouca roupa conversando com telespectadores e comandando jogos de perguntas e respostas. Fora isso, arrenda horários em vários canais para exibir seguidos comerciais de chats. Também elaborou técnica de participação de ouvintes para as FMs Energia 97 (97,7 MHz) e Mix (106,3 MHz).

Estreou, em parceria com a Bandeirantes, o ‘Alô Band’, primeiro canal de interatividade voltado à programação completa de uma rede brasileira. Ao discar o número -também de celular-, o espectador pode opinar sobre os programas, concorrer a prêmios, conversar ao vivo com apresentadores e participar de chats com entrevistados.

Exemplo: um ginecologista participa do ‘Melhor da Tarde’ e, após o programa, entra no chat telefônico para tirar dúvidas de telespectadores. ‘Nosso objetivo com o ‘Alô Band’ é traçar um perfil de nossa audiência e definir o conteúdo da programação de acordo com a votação telefônica’, diz Milton Turolla, diretor de novos negócios da Bandeirantes.

Só no primeiro dia, o ‘Alô Band’ recebeu mais de 30 mil ligações, cujo custo, assim como no ‘Swing com Syang’, é o de uma chamada normal de celular.

O ‘Portal de Voz do SBT’ (preço de ligação de longa distância para celular mais impostos) estreou no ‘Programa do Ratinho’, com 40 mil chamadas. Em breve, deve ir ao ar em todos os programas da casa. Dentre as opções, pode-se participar de promoções, bate-papo com telespectadores e gravar recados para artistas (‘meta a boca no trombone para o Ratinho, deixe uma mensagem legal para o Gugu, uma gracinha para a Hebe ou fale francamente com a Sônia Abrão’). Há um jogo no qual o vencedor da semana recebe o seguinte ‘prêmio’: conhecer o SBT e ‘fazer parte da platéia de seu programa favorito’.

A tecnologia é concorrente da One World e foi elaborada pelo SBT, em parceria com a Vivo, Brasil Telecom e Suportecom, segundo a assessoria da emissora.

Por enquanto, não está nos planos da Band e do SBT mudar completamente o formato de sua programação, a fim de colocar a interatividade em primeiro plano. A participação do público ao vivo e os chats serão, no início, complementares ao conteúdo tradicional dos programas. Poderão ganhar mais espaço se houver resposta positiva da audiência.

Já o ‘Swing com Syang’ foi justamente criado para veicular o chat e é totalmente bancado por ele (nem tem intervalo comercial, já que o horário é arrendado pela One World). Gira em torno da participação dos telespectadores ao vivo (que conversam com Syang e convidados) e da entrada da apresentadora nas salas de bate-papo -o que, de certa forma, inaugura um formato televisivo.

No ar desde maio, movimenta a estagnada programação da TV Gazeta e subiu consideravelmente sua audiência nas madrugadas. Quando estreou, registrava 0,2 ponto no Ibope (menos de dez mil domicílios na Grande São Paulo) -resultado chamado de ‘traço’. Atualmente, a média está em 1,8 e o pico chega a 3,5 pontos (171,5 mil lares na Grande SP).

‘No começo, a gente tinha até dificuldade para conseguir os convidados. Agora, as pessoas me ligam pedindo para participar do programa’, afirma Syang.’

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‘Bicheiro paquera em bate-papo televisivo’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Meia-noite e meia, e Rui*, 23, está cansado depois de um longo dia de trabalho. Gerente do jogo do bicho, ele comanda 50 pontos-de-venda na região central de São Paulo. Sozinho em casa, brigado com a namorada (‘quase solteiro’), ele não resiste e novamente telefona para o bate-papo que a televisão anuncia.

Liga de seu celular pré-pago e não se preocupa com o custo da brincadeira, já que gasta em média R$ 900 por mês com suas ligações. ‘Estava sem nada para fazer, não tinha nada melhor na TV para assistir e era tarde para ligar para os amigos’, explica ele, ao cruzar com a reportagem da Folha em uma das salas do chat.

Morador de São Miguel Paulista (zona leste de São Paulo), Rui parou de estudar no segundo ano do ensino médio e começou no jogo do bicho aos 18. Ganha ‘bem’, o suficiente para ir aos shoppings nos finais de semana e pagar o celular. Seu prazer, conta, é conhecer novas pessoas, e por isso começa a se tornar adepto dos chats televisivos (para os da internet, diz não ter tempo). E não nega a intenção de paquera. Se ‘rolar’ algo interessante, pode marcar um encontro pessoalmente.

Baixaria

‘Tchau, Rui.’ E a reportagem da Folha disca o três e muda de sala (é assim o chat do ‘Swing com Syang’). Alguém, voz masculina, grita ‘eu sou o língua de ouro’ e inicia um festival de baixaria e palavrões. ‘Quero arrancar sua roupa todinha’ e por aí vai.

‘Que cara mala, que contêiner’, reclama uma garota. ‘Que nível! Tem muito otário nessa sala. Vou mudar.’ Muda. A Folha também.

O clima não melhora muito. ‘Flávio, o pastor’ quer converter os companheiros ao pecado. Tentemos discar o três de novo.

‘Alô.’ ‘Oi, quem fala?’ ‘É a Laura.’ ‘Oi, meu nome é Carlos, tudo bem?’ ‘É a primeira vez que entra no chat, Carlos?’, pergunta a Folha, já para explicar que o papo era uma entrevista. ‘É a primeira, sim.’ Mas entra outro alô feminino. ‘É a Luana.’ Carlos se desvia. ‘Oi, gatinha, que bom que te achei de novo! Não ia conseguir dormir sem falar com você.’

E a Folha: ‘Mas, Carlos, não disse que era a primeira vez no chat? Como já conhece a Luana?’. Em tom de desprezo: ‘Se liga, mina, é que estou aqui há muito tempo’.

Paquera de Carlos havia dez minutos, Luana já vem ciumenta: ‘Ué, Carlos, já está me traindo, é?’. ‘Não. É tão difícil achar uma gata de ouro como você nas salas… Acha que eu ia te trair? Passa o seu celular que eu te ligo direto.’ Luana passa, e os dois saem da sala virtual para algo mais real.

A Folha anotou o número de Luana e, para não atrapalhar, ligou no dia seguinte. Ela tem 17 anos, é estudante do segundo ano do ensino fundamental numa escola particular e mora também em São Miguel.

Disse que o papo com Carlos não havia ido muito adiante. Nem houve encontro marcado, como já aconteceu com outro garoto.

Luana mora com o pai aposentado e a mãe dona-de-casa e assiste ao programa de Syang na televisão do seu quarto. Já entrou no chat telefônico quatro vezes, mas nunca saiu com ninguém que conheceu por lá. Tem namorado há um ano e meio. ‘Ele não tem ciúme, acha que conversar por telefone não tem nada a ver.’

Já passou quatro horas pulando de sala em sala, paquerando, conhecendo pessoas. E não foi à falência com tanta ligação? ‘Não, porque meu celular pré-pago tem uma promoção por um ano, com chamadas grátis a partir das 21h.’ Ah, bom. (*) Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.’

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‘Telefone ‘casa’ melhor com TV do que internet’, copyright Folha de S. Paulo, 4/07/04

‘Uma das grandes promessas da TV digital é a possibilidade de o telespectador interagir com a programação.

Enquanto isso parece um sonho distante no Brasil, a interatividade começa a ser testada por meio do bom e velho telefone, que há anos deixou de ser artigo de luxo.

Especialistas avaliam ainda que a telefonia, reforçada pela penetração do celular, se mostra mais viável para esse propósito do que a internet por computador. Afinal, o que é mais fácil: participar de um programa deitado no sofá, falando ao celular ou sem fio, ou se levantar, ligar o computador, entrar na internet e acessar o site?

Fora isso, o conteúdo da TV já migra para a telinha dos telefones móveis. Stanly Hiwat, presidente da One World Interactive do Brasil, afirma que o ‘Swing com Syang’ logo poderá ser acessado pelo celular.’