Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Kate Aurthur

‘Duas meninas de 14 anos estão conversando. Uma delas, chamada Manny, diz para a outra: ‘Estou tentando fazer o melhor, aqui. Para mim. Para todos, acho’. Manny é uma personagem em ‘Degrassi: The Next Generation’ (Degrassi: a próxima geração), uma popular novela canadense para adolescentes, que conta à melhor amiga que fará um aborto. O episódio foi exibido pela CTV do Canadá em janeiro. Mas o canal N, controlado pela Viacom, que transmite a novela nos EUA, decidiu que não o exibirá.

Diferentemente de outros temas que foram tabus no passado, como os encontros que terminam em estupro, os relacionamentos homossexuais e o sexo entre adolescentes, o aborto continua a ser uma aberração na TV. Gravidez como conseqüência de sexo casual é um dos temas de roteiro favoritos dos seriados de televisão desde ‘Peyton Place’ (‘A Caldeira do Diabo’), nos anos 60. Mas agora as mães jovens e sem marido são retratadas como balzaquianas elegantes capazes de se relacionar bem com seus filhos.

Na televisão, a maior parte das mulheres e meninas que contemplam um aborto tomam, muitas vezes no último minuto, a decisão de manter seus bebês (‘Barrados no Baile’, ‘Dawson’s Creek’, ‘The O.C.’), mesmo que tenham chegado à porta de uma clínica ou consultório (‘Felicity’, ‘Sex and the City’). Foi essa tendência que inspirou Greg Berlanti, o criador de ‘Everwood’, uma das poucas séries na televisão, desde ‘Maude’, em 1972, a retratar uma personagem que decide fazer um aborto. ‘Eu estava imaginando motivos para que as pessoas não falassem disso na TV, fingissem que não existe até que, para sermos francos, o direito seja abolido?’, disse Berlanti em entrevista recente.

‘Six Feet Under’ também mostrou um aborto. Na terceira temporada, Claire descobre que está grávida de um ex-namorado provavelmente gay e trata a decisão com franqueza: ‘Você pode me dar uma carona?’, pede ela a Brenda. ‘Tenho de fazer um aborto’.

Ao explicar a origem dos episódios sobre aborto, os roteiristas de ‘Degrassi’ disseram sentir a responsabilidade por falar diretamente com os jovens.

Não se sabe se os episódios serão exibidos pelo canal N, que já adiou a exibição de episódios controversos, no passado, mas terminou por exibi-los. O comunicado oficial diz que se trata de uma ‘decisão editorial’. Mas Schuyler mantém o otimismo: ‘Estamos esperançosos de que o canal N exiba o episódio, se e quando for apropriado para eles’.’



Laura Mattos

‘Mundo cão mia na TV’, copyright Folha de S. Paulo, 25/07/2004

‘Depoimento 1: ‘Esses telejornais policiais têm um tempo de vida que já passou. Perdem na profundidade, é tudo muito imediato. O que adianta pôr um helicóptero horas em cima de um cara que caiu de moto? Isso não é jornalismo’. Depoimento 2: ‘Eu acabaria com esses programas, e acho mesmo que eles vão acabar’.

Não, as declarações acima não são de ativistas dos direitos humanos ou intelectuais. O primeiro é de Marcelo Rezende, apresentador do ‘Cidade Alerta’ (Record), líder do chamado jornalismo ‘mundo cão’ na TV. O segundo, de José Luiz Datena, que já comandou o programa da Record e hoje apresenta o ‘Brasil Urgente’, similar da Bandeirantes.

A opinião dos dois sobre esse tipo de telejornal não é semelhante. Rezende acha que o formato deveria mudar completamente. Datena diz que os programas são violentos porque têm matéria-prima para isso, que a realidade é que deveria ser transformada.

Mas ambos concordam num ponto: inaugurada em 1991 pelo ‘Aqui Agora’, no SBT, a fórmula está em crise, perdeu espaço e corre o risco de desaparecer.

O ‘Brasil Urgente’ foi cortado em 50 minutos para dar lugar à série infanto-juvenil ‘Cavaleiros do Zodíaco’, que praticamente dobrou a audiência do canal no horário (de 3,5 pontos para 6,5 no Ibope). Apesar de a emissora negar oficialmente, o telejornal poderá sair do ar dependendo sobretudo do rumo que a Record der ao seu ‘mundo cão’.

O ‘Cidade Alerta’ perderá uma hora (metade da duração) a partir de agosto, quando passa a ser exibido ‘Tudo a Ver’, de Paulo Henrique Amorin. A direção tem planos de tirá-lo definitivamente do ar a partir de setembro, mês de estréia da novela ‘Escrava Isaura’ e da nova programação, em comemoração dos 51 anos da emissora.

O terceiro da lista é ‘Repórter Cidadão’, da Rede TV!. Sua duração não foi cortada, mas o programa não tem mais a audiência de antes (chega a ficar com apenas um ponto) e perdeu prestígio na emissora. Já teve Datena e Rezende no comando e hoje conta com o desconhecido Jacaré, um clone do Ratinho, que tinha um programa na Rede 21 em que chutava anões, entre outras bizarrices.

Por que essas atrações, antes tratadas como ‘prioridade zero’ pelos canais, perdem espaço?

A audiência é uma pista, mas não uma resposta definitiva. Obviamente, os três policiais não atingem os recordes do extinto ‘Aqui Agora’ (mesmo porque ele era único no segmento, e agora são três concorrendo no mesmo filão).

Há alguma queda, mas nada que justifique a redução e, muito menos, a extinção dos programas.

A melhor resposta está em outro ponto da balança da TV: faturamento. Um ponto de audiência num programa que atrai anunciantes pode valer muito mais do que dez em outro que os afasta.

E o ‘mundo cão’ vem afugentando patrocinadores. Antes empolgadas com o alto Ibope, as empresas começam a se preocupar em associar suas marcas ao sensacionalismo e à superficialidade.

‘Há hoje uma baixa demanda do mercado para programas mais populares. Isso pode ser constatado pelo preço dos comerciais, que são mais baratos’, diz Antonio Rosa Neto, consultor de mídia e ombudsman comercial do SBT.

‘O anunciante constatou que não há valor agregado nesses programas, que um comercial é mais eficaz se exibido num intervalo de um programa considerado de qualidade. A audiência dos policiais pode ser boa, mas a comercialização não é. Eles não geram receita para as emissoras’, afirma.

A preocupação em associar a marca ao ‘mundo cão’ é um assunto abordado na ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). A entidade, no entanto, declarou não ter uma posição oficial e preferiu não conceder entrevista.

Falar abertamente sobre a crise do ‘mundo cão’ ainda é tabu também para a Band.

Fernando Mitre, diretor de jornalismo, diz apenas que o ‘Brasil Urgente’ está sendo reformulado, que dará mais espaço à prestação de serviço. ‘O âncora se coloca cada vez mais como porta-voz do brasileiro que não tem como reclamar das autoridades nem exigir respeito a seus direitos.’

Douglas Tavolaro, diretor de jornalismo da Record, trata a questão de forma mais aberta. ‘Esse já era um fim anunciado. É uma fórmula que não funciona mais. As pessoas vivem com medo 24 horas por dia e não precisam ver só violência na TV, querem jornalismo de qualidade.’

Já José Emílio Ambrósio, diretor de jornalismo da Rede TV!, é pragmático. Diz que a emissora deverá investir mais no ‘Repórter Cidadão’ se Band e Record acabarem com seus policiais. ‘Não é hora de tirá-lo do ar, mas de aproveitar o filão que está sendo deixado pelos outros canais’, afirma.

Gil Gomes, repórter policial há 40 anos, diz acreditar que a crise seja conseqüência da vontade de Rezende e Datena de deixarem o segmento. ‘Os programas não saturaram. Eles sofrem preconceito. A Folha noticia um crime nos Jardins por dez dias seguidos, mas quando alguém morre na periferia é mundo cão’, diz ele, que foi repórter do ‘Aqui Agora’ e hoje está no ‘Repórter Cidadão’.

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‘‘A periferia hoje se vê em outros programas’’, copyright Folha de S. Paulo, 25/07/2004

‘Uma das razões para a diminuição do interesse pelos programas policiais está na ampliação da oferta de outras formas de jornalismo, que, em vez de só explorar a violência, oferece aos habitantes dessas áreas informações sobre serviços e dá voz a suas reivindicações. Outro fator está na teledramaturgia, que passou a ‘abraçar’ temas dessa realidade.

Essa é a opinião da advogada Luciana Guimarães, diretora de projetos do Instituto Sou da Paz. Ela cita como exemplo a série ‘Cidade dos Homens’ (Globo), criada por Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’), que mostra a vida de dois garotos de uma favela do Rio, e o seriado ‘Turma do Gueto’ (Record), ambientado na periferia da Grande São Paulo.

‘Os moradores das periferias deixavam claro que assistiam a esse tipo de programa ‘trash’ porque era a única oportunidade de encontrar a realidade deles na TV. Hoje isso mudou.’

Ela considera positiva a diminuição de espaço do ‘Cidade Alerta’ e ‘Brasil Urgente’. ‘Eles contribuem para o clima de medo e não para que tenhamos bons diagnósticos da violência, que possam pautar políticas eficazes de segurança.’

Em sua opinião, esses telejornais usam como ‘desculpa’ a suposta cobertura da realidade. ‘A violência é uma questão muito séria para ser tratada com irresponsabilidade.’

Guimarães vê ainda outra razão para a crise do ‘mundo cão’ na TV. ‘O desemprego passou a ser um terror ainda maior que a violência para a população. É um assunto que tirou a falta de segurança do foco central’, afirma a advogada.

O sociólogo Laurindo Lalo Leal, diretor da ONG TVer e membro da campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania, afirma que as emissoras não reduziram os tempos dos telejornais policiais por ‘altruísmo’. ‘As redes perceberam que o telespectador está cansando dessa fórmula. Mais que isso, sentiram pressão de anunciantes, que já evitam patrocinar programas que afrontam a dignidade das pessoas e criam um clima de pânico.’

Na avaliação do sociólogo, a ‘gritaria’ dos apresentadores pode dar fôlego à violência. ‘Há o risco de que influencie principalmente jovens sem raízes, que podem buscar se impor ou elevar a auto-estima através da violência.’

Para Lalo Leal, a campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania teve forte influência na decisão das emissoras. ‘O grande acerto desse projeto foi ter focado em quem anuncia em televisão. Recebemos várias manifestações de anunciantes dizendo que passariam a ter mais cautela na hora de escolher que programas irão patrocinar’, diz Lalo Leal.

A campanha irá agora criar comitês estaduais, a fim de pressionar anunciantes regionais. ‘Fora esses telejornais policiais, há muitos programas locais na mesma linha, até mais sensacionalistas.’’



JOEY
Kike Martins da Costa

‘Sozinho, Joey sente saudade dos ‘friends’’, copyright Folha de S. Paulo, 26/07/2004

‘Quando o seriado ‘Joey’ estrear nos EUA e na TV brasileira, daqui a cerca de três meses, não serão só os telespectadores que sentirão falta dos demais astros de ‘Friends’. O próprio Joey (Matt LeBlanc) confessa no primeiro episódio da nova série que sente saudade de seus amigos e que se viu obrigado a mudar para Los Angeles porque cada um seguiu um novo rumo e ele ‘sobrou’.

A sitcom ‘Joey’ é o grande investimento da próxima temporada da televisão americana, que viu no primeiro semestre de 2004 o fim de seriados como ‘Friends’, ‘Sex and the City’, ‘Frasier’ e ‘Whoopi’, entre outros.

Desenvolvida a partir do personagem Joey Tribbiani, o ator canastrão interpretado por Matt LeBlanc em ‘Friends’, a nova série foi apresentada na semana passada à imprensa em Los Angeles e uma cópia do episódio de estréia vazou para a internet. Quem baixá-lo verá que Joey continua divertido e completamente trapalhão, mas também poderá notar uma ponta de melancolia e nostalgia no personagem.

A história começa com o ator se mudando de Nova York para Los Angeles, e nem mesmo a viagem transcorre sem trapalhadas. Por engano, nosso anti-herói desembarca no aeroporto de Dallas, mas consegue chegar à Califórnia. Lá, ele encontra a irmã, Gina (Drea de Matteo, de ‘Família Soprano’), e seu sobrinho. Ela é uma cabeleireira estabanada e burralda como o irmão, mas seu filho, Michael (Paulo Costanzo), é um jovem engenheiro espacial, um rapaz bastante inteligente que por sorte não herdou o Q.I. dos Tribbiani.

Sonhando com uma carreira de sucesso em Hollywood, Joey aposta todas as suas fichas no papel principal que sua nova agente consegue para ele em um seriado de ação, mas a produção é abortada antes de ir ao ar. Para não ficar sem trabalho, Joey acaba se metendo em várias confusões e faz até um teste para ser apresentador de telejornal.

A parte triste é quando, no final do episódio, Joey explica para sua irmã que, às vezes, decisões aparentemente dolorosas e mudanças drásticas podem ser a solução para grandes problemas na vida das pessoas. ‘Eu era feliz em Nova York e não queria que as coisas mudassem, mas meus amigos se casaram, saíram da cidade ou tiveram filhos. Todos mudaram, então eu também resolvi dar uma chance à mudança, mas confesso que está sendo dureza’, diz.

Enquanto em Nova York os amigos eram a família de Joey, na Califórnia ele tenta fazer de seus familiares os seus novos amigos.

Matt LeBlanc está bem à vontade no papel -e não poderia ser diferente, já que há dez anos ele encarna esse personagem. Drea de Matteo e Paulo Costanzo também desempenham seus papéis com um ‘timing’ perfeito e surpreendem positivamente. A vizinha gostosa de Joey, que foi interpretada pela loirinha Ashley Scott (de ‘A.I. – Inteligência Artificial’) no piloto disponível na web, não foi aprovada pelos produtores e por um grupo de telespectadores que assistiu a uma sessão fechada. Quando a série chegar à TV, o personagem será encarnado por outra atriz.

Pelo que se vê no episódio de estréia, ‘Joey’ dá pinta de que será um seriado bacaninha, mas tem uma grande desvantagem em relação a ‘Friends’. Enquanto a sitcom que ficou dez anos no ar tinha seis protagonistas e os roteiristas conseguiam fazer malabarismos incríveis para contar às vezes seis historinhas paralelas em um só episódio, em ‘Joey’ o astro é só um, e isso iguala a série a tantas outras comédias que atualmente estão no ar na TV.

Com um só astro, é como se os produtores estivessem decretando ‘Joey’: ame-o ou deixe-o’. Com vários personagens fortes, capazes de segurar sozinhos uma subtrama, os telespectadores não enjoam fácil do protagonista e muito menos do seriado. Resta saber se Joey vai segurar a onda sozinho.’



GASTRONOMIA NA TV
Bruno Yutaka Saito

‘Receitas ficam em segundo plano nos programas sobre gastronomia’, copyright Folha de S. Paulo, 25/07/2004

‘Num cenário asséptico e claríssimo que chega a lembrar a leiteria do filme ‘Laranja Mecânica’, o chef Alex Atala maneja facas e panelas com uma rapidez que deixa desconcertados aqueles telespectadores que tentam apenas anotar receitas básicas.

Ao lado de Flávia Quaresma ele apresenta ‘Mesa pra Dois’, que estréia nesta sexta-feira no GNT, um dos poucos programas brasileiros sobre gastronomia exibidos na TV paga. O setor preenche sua grade com inúmeros similares importados -são mais de 25-, mas brasileiros são poucos. Atualmente, apenas ‘A Arte da Gastronomia pelo Brasil’ (Canal Brasil) e os interprogramas ‘Alimente-se Bem por R$ 1’ (Futura) também falam o idioma local.

‘Mesa’ é produzido no país, mas tem a cara e o sotaque dos estrangeiros, que investem no entretenimento e dão mais ênfase a itens como produção, fotografia e cultura do que às receitas propriamente ditas. ‘Elas são apenas ilustrativas, é quase impossível ensinar algum prato em tempo real’, diz Atala. ‘Fazemos entretenimento gastronômico, pinçamos as curiosidades, vamos muito além da cozinha. O passo-a-passo está no site [www.gnt.com.br].’

A Folha consultou 20 profissionais, entre chefs e proprietários de alguns dos principais restaurantes de São Paulo, para saber, enfim, se tais programas da TV paga rendem um bom prato.

‘A maioria a que assisti são pretensiosos demais e mostram receitas que só funcionam em restaurantes. Mas gosto do ‘Truques de Oliver’ (GNT) principalmente pela linguagem, fotografia e direção de arte’, diz Cassio Machado, 41, do Di Bistrot.

Outra que desconfia da eficácia das receitas é Danielle Dahoui, 35, do Ruela, que, apesar de gostar da apresentadora Nigella Lawson (GNT), não aprova os pratos. ‘Já tentei fazer várias coisas que ela ensina, mas vi que suas receitas não funcionam. Seus pratos têm pouco tempero, ou então misturam muitos ingredientes.’ Nigella chega a ser uma espécie de apoio emocional para profissionais como Maria Helena Guimarães, do Spot e do Ritz. ‘Ela tira aquela angústia do tipo ‘o prato não vai funcionar’ que costumamos ter.’

Atala diz que essa tendência tem um sentido. No ‘Mesa pra Dois’, por exemplo, Flávia visita restaurantes para contar a origem de determinados pratos, enquanto Atala chega a usar referências do cinema -no primeiro programa, ele cita ‘Vatel’ quando fala sobre culinária francesa. ‘Isso serve como um incentivo para o cara que quer aprender a cozinhar -ele vai começar a pesquisar mais sobre o assunto. A panela é o elo entre a natureza e a cultura.’

Mara Salles, 50, do Tordesilhas, acredita que muitos dos importados pecam pela maquiagem. ‘Falta conteúdo, muitos mostram resultados que só ficam bonitos na TV. Já vi muitos programas com apresentadores que mais parecem animadores de auditório. Para ser bom, ele deve ter receitas.’

Assim como Mara, Roberto Ravioli, 51, do Emporio Ravioli, cita programas que passam no People + Arts e TV Casa Club. O primeiro traz atrações como ‘Duas Gordas de Talento’, que acrescenta turismo à fórmula, enquanto o segundo tem ‘Sizzle’, que investe no humor, com um ‘apresentador jovem, moderno e irreverente’. Já Marie France Henry, do La Casserole, acredita que uma receita só ganha vida quando ela está inserida em um contexto cultural. No entanto, ela tem dúvidas sobre a eficácia. ‘Por estarem restritos à TV paga, acredito que não devem atingir muitos profissionais de nível médio. Já os grandes chefs buscam outras fontes, e não a televisão.’ Prato bonito nem sempre enche a barriga. MESA PRA DOIS. Quando: sex., às 21h, no GNT; reprises: sáb., às 12h e 16h30.’



ABRIL COM SÓCIO


Denys Monteiro


"O profissional global de comunicação", copyright AOL Brasil (/www.aol.com.br), 26/07/04


"A venda de 13,8% do capital da Editora Abril para Capital International, anunciada recentemente, é um marco na história da comunicação brasileira. Após dois anos de trâmite e aprovação no Congresso e lobby das empresas de comunicação, o primeiro grande negócio rumo à globalização se consolida. Discussões políticas à parte, a pergunta agora é: será que o profissional de comunicação brasileiro está preparado para trabalhar em uma empresa global?


Ser um bom editor ou um gerente comercial ou criativo não será o único pré-requisito que garantirá um lugar nas organizações corporativas que estão surgindo. Não dá mais para adiar, os profissionais de comunicação vão ter que repensar sua carreira e habilidades. É preciso que falem outros idiomas (parece lugar comum, mas até hoje muitos profissionais deste segmento não conseguem se comunicar em inglês), entendam sobre princípios e conceitos financeiros (muitos não conhecem siglas como EBITDA ou ROI) e conheçam o consumidor do veículo de comunicação (um consumidor global de conteúdo).


No Brasil, há uma produção considerável de conteúdo de qualidade – novelas, revistas especializadas, comerciais – que pode ser exportado pelas empresas de comunicação. É claro que algumas, como a Rede Globo, já fazem isto há alguns anos, mas, com a nova movimentação no mercado, tende a expandir. Mais ainda, os produtos serão concebidos de olho em um público globalizado. É muito importante que o profissional de comunicação saiba quem é este ‘cliente’ e passe a pensar além das fronteiras geográficas, políticas, culturais e econômicas da caixinha chamada Brasil. Saber quem é o cliente não é exclusividade do profissional que trabalha na área comercial ou de marketing. O jornalista, o produtor, o ator, o diretor, o criativo de agência, enfim, todos na empresa de comunicação precisam tê-lo em mente.


Esta ‘cartilha’ já foi revirada e estudada pelo mercado de propaganda, uma vez que a globalização teve início já há algum tempo com a compra de empresas brasileiras por agências globais. Consequentemente, as filiais no Brasil ganharam clientes globais em seus portfólios. Trabalhar para estes clientes globais – e para a matriz – requer um aprendizado e, por isto, as agências prepararam e municiaram-se de profissionais que têm esta visão ampliada sobre o seu cliente e o consumidor de seu cliente. Hoje, são consagradas pelo mercado internacional e colecionam prêmios, como os Leões de Cannes.


As empresas de comunicação não só terão que prestar satisfação ao mercado financeiro interno e ao governo, mas também a um sócio lá fora que está de olho em uma palavra: rentabilidade. Não há dúvida que o negócio fechado pela Editora Abril é só o começo. Praticamente virgem de investimentos estrangeiros, o mercado de comunicação brasileiro oferece boas oportunidades e pode ser muito rentável. De acordo com estudo da PricewaterhouseCoopers, os gastos em mídia que vinham em declínio há algum tempo aumentarão em 6,3% ao ano até 2008. Do ponto de vista macroeconômico, o país passa por uma estabilidade, e o PIB deve crescer. Diante deste cenário, só falta o profissional de comunicação se preparar e se adequar para ocupar as novas vagas que tendem a surgir."