Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

O Estado de S. Paulo

‘O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza resolveu abrir o jogo: confessou ontem que contraiu ‘vários empréstimos bancários’ em nome de suas agências de publicidade, mas o dinheiro, na verdade, foi para o PT. Disse que o mensalão nunca existiu e que todo o dinheiro que viabilizou foi para o PT. Segundo Valério, ‘pessoas do PT’ iam à agência bancária receber o dinheiro. O esquema foi montado por ele, explicou, a pedido do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares.


O dinheiro, segundo o publicitário, foi usado para pagar dívidas de campanha que o PT tinha contraído antes de 2003 e para fazer caixa para a campanha do partido nas eleições municipais de 2004. Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, e em nota que distribuiu à imprensa, ele disse que o esquema de empréstimos e saques durou de julho de 2003 a maio deste ano.


Ele não revelou os nomes dos petistas que foram à agência receber dinheiro e das empresas favorecidas por depósitos, mas disse que todos eram indicados por Delúbio e que os nomes estão disponíveis no banco.


EMPRÉSTIMOS VULTOSOS


Valério explicou que houve ‘vários empréstimos’, e eles foram ‘vultosos’, mas não esclareceu o número de operações, nem seus valores. Também não contou o trato que teria feito com o partido para receber os valores dos empréstimos.


O publicitário informou apenas que, por enquanto, as suas empresas vão se responsabilizar pelos valores, enquanto ele negocia com a nova direção do PT a forma de ser ressarcido do dinheiro. Segundo Valério, desde os primeiros empréstimos, a justificativa que lhe foi apresentada foi que o PT estava ‘com muitas dificuldades financeiras’.


Valério contou que aceitou tomar os empréstimos e dar avais porque havia um grau de confiança muito grande entre ele e Delúbio, mas disse que em nenhum momento o ex-tesoureiro do PT ajudou as suas empresas na relação com o governo.


INTERLOCUTOR


Valério explicou que não revelou os empréstimos à CPI dos Correios porque tinha sido apenas o avalista inicial. ‘As pessoas que me pediram é que tinham de se pronunciar. Quando eu vi que as coisas estavam tomando uma proporção completamente equivocadas, tive de falar com as pessoas. Mas aí eu perdi a interlocução porque as pessoas saíram. Delúbio não é mais o tesoureiro’, afirmou.


Segundo ele, ‘nunca houve malas’ para transportar o dinheiro. ‘Tudo era feito dentro das agências bancárias’, completou.


O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse ontem que Valério detalhou ao Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Souza, todos os empréstimos feitos para PT, mas negou a existência do mensalão. Delcídio disse que receberá segunda-feira cópias dos depoimentos de Valério e Delúbio na Procuradoria.’


 


Gustavo Freire


‘BB rescinde contrato de publicidade com a DNA’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/7/05


‘O Banco do Brasil decidiu ontem rescindir o contrato de publicidade com a agência DNA Propaganda, do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Prevista em contrato, a rescisão foi causada pelos danos à imagem do banco provocados pela sua associação pública com a empresa. Por causa disso, o BB não será obrigado a pagar multa.


De acordo com o BB, o contrato venceria em setembro, quando poderia optar entre prorrogá-lo por um ano ou suspendê-lo. Desde o início de 2003, o banco vem trabalhando com a DNA e as empresas D+ e Ogilvy no desenvolvimento de suas campanhas publicitárias. No primeiro ano, o banco gastou R$ 153 milhões em publicidade. Em 2004, o valor passou para R$ 262 milhões e a previsão é de que sejam gastos R$ 140 milhões neste ano.


Os valores eram divididos entre as três empresas. Pelas regras, nenhuma delas podia ter mais de 50% dos recursos nem menos de 15%. Com a saída da DNA, a verba passará a ser parcelada entre a D+ e a Ogilvy.


Na semana passada, o BB já havia anunciado a suspensão de todas as novas campanhas publicitárias, patrocínios e promoções de eventos. A decisão havia sido tomada para preservar a imagem da instituição.


PIZZOLATO


O BB anunciou ontem o substituto interino do ex-diretor de Marketing e Comunicação Henrique Pizzolato. O escolhido foi Paulo Rogério Caffarelli, diretor de Logística. Pizzolato deixou anteontem a diretoria, depois de pedir aposentadoria do banco. Ele estava desgastado com o envolvimento do seu nome com Marcos Valério.


O mensageiro Luiz Eduardo Ferreira da Silva, cujo nome e CPF aparecem no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como uma das 13 pessoas que sacaram dinheiro da conta da DNA no Banco Rural, trabalhou diretamente com Pizzolato, na Previ. Silva confirmou a informação ontem ao Estado e disse, num primeiro momento, não ter sacado ‘dinheiro nenhum’.


Depois, passou a adotar um discurso menos taxativo: ‘Não posso falar nada agora. A empresa está cuidando de tudo para mim’, comentou, referindo-se à Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Silva é funcionário da Conservadora Itauité Ltda, que terceiriza serviços para a Previ.’


 


Gerson Camarotti, Regina Alvarez e Geralda Doca


‘CPI acha notas frias nos documentos da DNA’, copyright O Globo, 16/7/05


‘BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. A CPI dos Correios identificou notas frias entre os papéis da DNA Propaganda apreendidos anteontem na casa do ex-carcereiro Marco Tulio Prata. Marco Tulio é irmão do contador Marco Aurélio Prata, um dos donos da Prata e Castro Associados, uma das empresas que respondem pela contabilidade das agências de Marcos Valério. Numa amostragem de cinco notas fiscais recolhidas pela CPI, pelo menos duas notas emitidas para o Banco do Brasil não são reconhecidas pela instituição. As notas fiscais da DNA 031230 e 031231 foram emitidas em 19 de agosto de 2003. A primeira é de R$ 540 mil e a segunda, de R$ 120 mil.


Segundo o BB, as duas notas não constam dos registros da instituição como pagas. Os integrantes da CPI também recolheram um nota emitida para o Ministério do Trabalho no valor de R$ 386 mil, outra para a Telemig Celular no valor de R$ 1,347 milhão e uma terceira de R$ 823 mil para o cliente Brasil Telecom.


— Como a DNA estava queimando essas notas de valores muito altos? Os indícios apontam para lavagem de dinheiro, já que esses valores entravam na contabilidade. Pelo menos nas notas emitidas para o Banco do Brasil, está claro que eram frias. Vamos agora requerer às instituições públicas e privadas que enviem à CPI a segunda via dessas notas. Temos que identificar se elas foram pagas e se os serviços contratados foram executados — disse a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL).


As notas encontradas foram emitidas em nome de órgãos públicos, como o Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho, que são clientes da agência. Algumas das notas chegam a R$ 1 milhão. Elas se referem ao pagamento de veiculação de peças publicitárias em veículos de comunicação. Parlamentares da CPI que analisaram os documentos acreditam que esses serviços não foram prestados.


— A tentativa de incinerar os documentos já indica que houve irregularidade. O mais provável é que sejam notas frias — disse o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).


Notas estavam com as quatro vias, o que é irregular


Algumas das notas encontradas nas 12 caixas de documentos estavam com as quatro vias, o que é outra evidência de irregularidade. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), que faz parte da comitiva de parlamentares que veio a Belo Horizonte conferir os documentos, informou que a maior parte das notas é de 2002, 2003 e 2004.


— A legislação determina que esses documentos sejam mantidos na empresa por cinco anos. Nenhum empresário que não tenha o que esconder destruiria notas fiscais de 2004 — disse o deputado.


No fim da manhã, mais notas fiscais com a marca da DNA Propaganda foram encontradas parcialmente carbonizadas, em um lote vago no município de Contagem, próximo à casa de Marco Tulio Prata. Um morador da região teria avisado a uma emissora de TV, que chamou a polícia. Uma equipe da Corregedoria foi até Contagem e recolheu os documentos, que também vão ser periciados.


Os peritos acreditam que cerca de 200 caixas de documentos da DNA de 1998 e 2002 possam ter sido incinerados nas últimas 24 horas no local. Nos pedaços de notas que restaram, que couberam em uma sacola, era possível identificar a marca da DNA propaganda e ver que se tratavam de notas fiscais emitidas para a Eletronorte, Ministério do trabalho e outras empresas com valores em torno de R$ 200 mil.


Investigação será mantida em sigilo


O Ministério Público estadual confirmou que os documentos encontrados em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, envolvem empresas e órgãos públicos, incluindo os governos federal e estadual. Em nota distribuída à imprensa, a procuradoria reafirma a disposição de apurar e de cooperar nas investigações com a CPI dos Correios. Entretanto, a investigação será mantida em sigilo.


Dois senadores e três deputados da CPI estiveram em Belo Horizonte para analisar os documentos apreendidos pela Polícia Civil. Os parlamentares ficaram impressionados com a diversidade dos documentos, emitidos em favor de empresas públicas e privadas. As notas tinham valor de face variando entre 600 reais e um milhão de reais. O que mais chamou a atenção do deputado Jamil Murad, do PCdoB de São Paulo, foi o fato de que boa parte dessas notas estava guardada nas caixas com as quatro vias, o que, segundo os parlamentares, está sendo entendido por técnicos da Receita como um forte indício de lavagem de dinheiro:


— Técnicos da Receita Federal que nos acompanhavam, analisando, ainda falaram que um dos mais provável seria a sonegação ou a destruição de documentos. A outra seria que estes documentos poderiam ser apenas para receber dinheiro sem ter serviço prestado.’


 


Fausto Macedo


‘Contrato liga Correios a assessor de Gushiken’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/7/05


‘Documentos oficiais emitidos pela Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica e a presidência dos Correios comprovam operações com indícios de violação à Lei de Licitações e à Lei da Improbidade envolvendo um assessor de Luiz Gushiken – chefe da Secom – na contratação de empresa ligada ao grupo dirigido pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão.


Os papéis revelam como foi planejado e executado suposto esquema para favorecer a empresária Telma dos Reis Menezes Silva, mulher de Marco Antonio da Silva, que trabalha com Gushiken na Secom. Telma é dona da microempresa Astral, com sede em Brasília, subcontratada da MultiAction em negócios com os Correios.


A MultiAction, empresa de entretenimento, eventos e marketing, pertence a Valério, mas a suspeita é que Telma seria controladora oculta. Rastreamento do Banco Central mostra que a MultiAction contabilizou seu maior faturamento durante o governo Lula – R$ 28 milhões. Entre 2000 e 2002, os negócios renderam R$ 13 milhões aos cofres da empresa.


Os documentos mostram que Marco Antonio foi escalado para compor a Comissão Especial de Licitações dos Correios abrindo caminho para favorecer Telma. A preparação do esquema teve início com o ofício 855 – subscrito por Jafete Abrahão, chefe da Subsecretaria de Publicações, Patrocínios e Normas da Secom -, encaminhado em 5 de agosto de 2003 ao então presidente dos Correios, Airton Langaro Dipp.


NOMES


Nesse documento, a Secom indicou três nomes para a comissão de licitação dos Correios, Alexandre Pinheiro de Morais Rêgo, José Otaviano Pereira – chefe do Departamento de Comunicação e Marketing – e Marco Antonio da Silva. Eles ganharam poderes para ‘processar e julgar a seleção de prestadoras de serviços de publicidade para a estatal’. Outro documento, 010/2003, em papel timbrado dos Correios estabelece a finalidade da comissão, seguindo termos do Decreto 4.799/2003.


Os componentes da comissão passam a ter atribuição de ‘realização de processo licitatório de contratação de agências de propaganda e publicidade para prestação de serviços aos Correios’. Além de exercer ‘outras atividades compatíveis’, a comissão ganhou poderes para participar de eventuais audiências públicas marcadas para esclarecimento do objeto a ser licitado bem como para manifestação dos interessados.


O documento que mais chama a atenção é de 26 de março de 2004 e se refere a uma consulta feita pela SMPB Comunicação – uma das agências de publicidade de Valério – sobre ‘a possibilidade de contratação da MultiAction’ para a realização de ação promocional no evento Paixão de Cristo.


A consulta foi feita dois dias antes por Ana Paula Sanches, da SMPB. A resposta foi dada pelo então chefe do Departamento de Marketing dos Correios, José Otaviano Pereira, hoje diretor comercial da estatal. Ele fez menção a ‘melhores preços e condições’ e respondeu: ‘Informamos que não há contestação de nossa parte, desde que também haja aprovação da Secom para esse fornecedor’.


A direção dos Correios informou que não pode adotar qualquer procedimento relacionado à publicidade se não houver concordância da Secretaria de Comunicação. A MultiAction informou que Telma Menezes ‘não trabalha mais na casa’.


Ela não foi localizada para falar sobre os negócios com os Correios. A Secom nega irregularidades. Segundo a Secretaria de Comunicação, Marco Antonio participou apenas da primeira fase da licitação.’


 


LULA EM PARIS


Clóvis Rossi


‘O nervo exposto’, copyright Folha de S. Paulo, 16/7/05


‘PARIS – Sabe aquela pessoa que está com o nervo exposto? Por instinto, protege-se sempre, temerosa de que toquem o ponto nevrálgico.


Mas, se mesmo assim houver um toque na região atingida, contrai-se vigorosamente como gato que se prepara para a defesa contra um atacante -suposto ou real.


Estou descrevendo o que pareceu ser a atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus três dias de Paris. Descrição aliás doada de graça pelo excelente jornalista chamado Raymundo Costa, ex-Folha, hoje no ‘Valor Econômico’.


Ontem, durante seu comparecimento ante os jornalistas, no palácio dos Campos Elíseos, Lula exibia fisionomia carregada, pesada. Enquanto seu colega francês Jacques Chirac falava, parecia ausente, longe, muito longe dali.


Pouco mais tarde, na breve visita à réplica do 14-bis, no Museu do Ar e do Espaço, até apressava o passo da mulher, Marisa, embora só estivessem cercados pela própria comitiva e por seguranças. Jornalistas dos quais fugiu sempre. Éramos tão poucos que nem conseguiríamos forçá-lo a parar para conversar.


Essa impressão, além de Raymundo Costa, foi compartilhada por vários companheiros que, por serem de Brasília, têm uma convivência mais constante com Lula e podem, por isso, fazer comparações. Eu posso comparar com o que conheço dele após quase 30 anos de acompanhar suas atividades, às vezes intermitentemente, às vezes com grande freqüência e proximidade.


Pois bem: acho que nunca o vi tão tenso, tão com o tal nervo exposto. Combina à perfeição, portanto, com a informação de um amigo próximo de Lula, no começo do mês, segundo a qual ele estava mais triste do que quando perdia eleição.


Não vou tirar conclusões ou fazer ilações, até porque confesso que não sei exatamente quais seriam. Fica só o registro, por enquanto, como uma espécie de enviado especial do leitor junto ao presidente.’


 


***


‘Chirac protege Lula de pergunta sobre crise’, copyright Folha de S. Paulo, 16/7/05


‘O presidente francês Jacques Chirac estendeu o carinho com que recebeu seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao ‘point de presse’ (o jargão francês para breve contato com os jornalistas) que os dois mantiveram ontem no início da tarde, ao evitar que o presidente brasileiro respondesse a uma pergunta sobre a crise política no Brasil.


A pergunta buscava uma ‘reflexão’ dos dois governantes sobre o mau momento que ambos vivem. Chirac, pela derrota do ‘sim’ no recente referendo sobre a Constituição européia, reflexo de sua baixa popularidade. Lula, pelos motivos arqui-conhecidos por todos no Brasil. Mas Chirac, entre irritado e mordaz, disse que notava como o tema das relações Brasil/França ‘eletrizava’ os jornalistas e despachou a pergunta:


‘Não tenho o hábito, e creio que o presidente Lula também não, de comentar problemas políticos internos quando de uma reunião internacional’.


Não é bem verdade: em todas as cúpulas da União Européia e do G8 (os sete países mais ricos do mundo e a Rússia), Chirac e os demais mandatários comentam, sim, assuntos internos, em meio às discussões internacionais.


Mas Lula aproveitou a deixa para também descartar a pergunta. ‘O presidente Chirac tem razão’, disse ele. ‘Penso que os três dias que passamos aqui foram demasiadamente fortes para que vocês tenham perguntas a fazer sobre a relação Brasil-França. Os problemas do Brasil, tratarei com muito prazer quando chegar ao Brasil’.


O ‘point de presse’ foi o único momento, nos três dias da viagem à França, em que os jornalistas teriam a chance de fazer perguntas sobre a crise que monopoliza a atenção no Brasil, já que Lula, em nenhum outro momento, conversou com os repórteres.


O único membro da comitiva que concordou em tratar desse assunto foi o ministro demissionário da Educação e novo presidente do PT, Tarso Genro.


Ontem, Tarso aproveitou para criticar duramente a afirmação do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, que em discurso anteontem disse que ‘o presidente Lula ou é idiota ou é corrupto’.


Enquanto Lula subia em um banquinho para ver o interior de uma réplica do 14-Bis, o primeiro avião a voar no mundo (1906), projetado pelo brasileiro Santos Dumont, no Museu do Ar e do Espaço, Tarso atacava a declaração de Virgílio como ‘irresponsável e inaceitável’. Deu até um conselho ao senador tucano: ‘As pessoas maduras e inteligentes põem a cabeça no freezer antes de fazer esse tipo de declaração’.


Mesmo duro, o novo presidente petista conseguiu ser conciliador, ao dizer que tinha a certeza de que o líder tucano no Senado ‘vai revisar a sua afirmação, que atinge um homem honrado como o presidente da República, que tem se portado com muito respeito pela oposição’. Genro acha que esse tipo de declaração prejudica mais a própria oposição que o governo. ‘Ela é que se desgasta.’


Sobre as informações de que líderes do PT ou pessoas próximas a eles foram detectadas no Banco Rural, em Brasília (em um levantamento do deputado do PFL fluminense Rodrigo Maia), a famosa agência em que o empresário Marcos Valério sacava dinheiro em abundantes quantias, Tarso limitou-se ao que parece ser a frase padrão do PT doravante:


‘Defendo a apuração de todas as denúncias, seja quem for a pessoa denunciada, seja qual for o partido, seja qual for o motivo da eventual irregularidade’.


Relato aos socialistas


Antes, a crise brasileira já havia sido discutida entre Lula, parte de sua comitiva e o secretário-geral do Partido Socialista (PS) francês, François Hollande, que os visitou na Residence Marigny, a casa de hóspedes do governo da França.


Lula fez ao líder socialista um relato sobre a situação, que o seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, definiu como ‘jornalístico’. Ou seja, puramente factual, sem maiores comentários.


Hollande não se mostrou particularmente espantado, até porque o PS da França teve problemas de irregularidades vinculadas a financiamento eleitoral.


Ele lembrou que um de seus antecessores, Henri Emmanueli, chegou a ser declarado inelegível por dois anos, como conseqüência desse tipo de irregularidade.


Lula, ao menos na reconstituição de Garcia, é que foi menos condescendente, ao dizer que o PT já estava tomando as devidas providências e que elas têm mesmo que ser tomadas.


Pelo menos na versão de diferentes auxiliares de Lula, a crise brasileira só surgiu, nas reuniões mantidas na França, durante a conversa com o socialista Hollande, assim mesmo por iniciativa do próprio presidente.’


 


LULA NA ECONOMIST


João Caminoto e Marina Guimarães


‘‘Economist’ vê Lula politicamente ferido’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/7/05


‘As grandes expectativas despertadas pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva ‘tornam as revelações de corrupção no Brasil ainda mais chocantes’, diz em editorial a revista The Economist. O texto avalia, também, que a crise deixa o presidente ‘politicamente ferido’ e que a história bem mereceria uma novela, ramo no qual o Brasil é tão famoso. ‘Ela também oferece muita evidência circunstancial de que, uma vez no poder, o PT, o bastião do governo limpo, começou a se autofinanciar e a comprar a lealdade dos aliados retirando sistematicamente dinheiro das empresas estatais. Se for verdade – o que é negado com veemência -, Lula sabia disso? Se não sabia, como os assessores insistem, ele parece ter ficado muito por fora do que estava acontecendo.’


Em seguida, observa que as taxas de aprovação popular do governo foram preservadas, principalmente graças à política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ‘que obteve estabilidade e crescimento moderado’. Mas o escândalo ‘feriu Lula e seu partido’. ‘Há uma conversa (ainda prematura) de que Lula poderá não buscar um segundo mandato, embora as pesquisas mostrem que ele tem boa chance de vitória.’


A revista comenta, no entanto, que essa leitura da crise é equivocada, já que as raízes dela ‘estão na inocência arrogante de um partido cuja aceitação do capitalismo e os compromissos com a democracia são muito recentes’. Vários assessores de Lula ‘parecem ter levado ao governo duas noções marxistas: que um fim correto justifica meios não santos, e que o partido é superior ao Estado’. ‘Isso parece ter causado uma mistura fatal dos papéis do partido e do governo, e uma exploração cínica do Estado para fins políticos.’ Mas, para o Economist, se forem tiradas lições corretas, a democracia brasileira e o PT podem emergir mais fortes.


Os problemas do presidente e do PT mereceram também editorial, ontem, do El Clarín, de Buenos Aires. ‘O governo de Lula se encontra em dificuldades para explicar que, em lugar de renovar a vida política brasileira, tem apelado para as mesmas velhas práticas de clientelismo em troca de apoios políticos’, cobra o jornal. A seguir, destaca que ‘grande parte da confiança e credibilidade obtida pelo PT foi por ter sido um partido alheio às velhas práticas de corrupção’.’