Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

VIOLÊNCIA & MÍDIA
Miguel Reale Júnior

Falência da racionalidade

‘Domingo de carnaval, Renato Janine Ribeiro publicou, no caderno Mais da Folha de S.Paulo, artigo afirmando não defender a pena de morte contra os assassinos de João Hélio porque acha que é pouco. E confessa: ‘Não paro de pensar que deveriam ter uma morte hedionda, como a que infligiram ao pobre menino. Imagino suplícios medievais, aqueles cuja arte consistia em prolongar ao máximo o sofrimento, em retardar a morte… Torço para que, na cadeia, os assassinos recebam sua paga; torço para que recebam de modo demorado e sofrido.’

Quando um mestre da filosofia política, estudioso do Iluminismo, escreve algo desse feitio, é porque houve a falência da racionalidade e o instinto tomou o lugar da sensibilidade.

Os bandidos venceram, passaram a ditar o comportamento do filósofo, que aderiu aos valores do desprezo à pessoa humana em nome da pessoa humana, vitimado por uma contradição insuperável, tanto que chega a perguntar: ‘É-se humano somente por se nascer com certas características?’

Essa pergunta já produziu genocídios. Haveria pessoas a serem consideradas titulares de direitos e outras sem direitos.

É justamente em situações-limite, como a morte horrorosa infligida ao pequeno João Hélio, que se testa a validade dos princípios que devem valer mesmo em face daqueles que nos são abjetos.

Cumpre, então, pensar acerca da razão pela qual há sempre reações instintivas em face de dificuldades complexas. Será satisfatório dar vazão ao desejo de vingança? Exorciza-se o medo com a ilusão penal, esperando que medidas drásticas como a pena de morte, a prisão perpétua e a tortura sejam soluções mágicas?

Percebe-se o reducionismo dessas posições infensas à menor reflexão. Primeiramente, a vingança é compreensível no sentimento de revolta de familiares da vítima. Jamais o juiz, o promotor, o advogado, o filósofo, o assistente social podem dar prevalência à primária reação taliônica do ‘olho por olho, dente por dente’. É o preço cobrado pela razão: dominar o instinto.

Depois, a pena grave não intimida apenas por ser grave. Isso a História ensina. Voltaire relata que em França, nos meados do século 18, havia muitos assaltos às carruagens nas estradas. Resolveu-se punir os assaltantes com a morte pela roda, sofrimento cruel, em que se despedaçam os membros aos poucos. Uma morte lenta e dolorida, tal como agora se chega a sugerir. Diz, então, Voltaire ter havido no primeiro mês da cruel ameaça redução dos assaltos, que voltaram depois ao número anterior. Entre nós, a Lei dos Crimes Hediondos, de 1990, teve como conseqüência o aumento vertiginoso dos delitos que se passara a punir gravemente.

Beccaria, em 1764, já prodigalizava que o importante não é a gravidade da pena, mas sim a certeza de sua aplicação. A ameaça penal constante da lei paira num universo distante. Tão-só a efetividade da aplicação concreta da lei, em pelo menos 20% dos fatos, pode prevenir, em parte, o delito.

Como, então, enfrentar a questão da criminalidade? Em 2000 foi entregue ao Ministério da Justiça um Diagnóstico do Sistema Criminal, realizado por comissão que presidi. Destaco as seguintes análises: ineficiência policial, ausência do Estado nas periferias das grandes cidades, banalização da vida e cotidiano violento nos bolsões de pobreza dos maiores centros urbanos.

A ineficiência policial revela-se pela descoberta de autoria de roubos em apenas 2% dos casos. Faltam meios de apuração da autoria, há ausência de cruzamento de dados e de análise do modus operandi do delito. Se não houver flagrante delito, não há processo. A impunidade impera.

Na minha breve passagem pelo Ministério da Justiça, planejamos um Boletim de Ocorrência nacional, com dados a serem informatizados, bem como a utilização de verbas do Fundo de Telecomunicações para unificar a identificação e as informações criminais no Brasil. Com tristeza, vi depois o abandono do projeto.

A ausência do Estado se verifica em todos os setores básicos, mas principalmente na falta de acesso à Justiça. O Brasil é o país das grandes cidades, dos aglomerados nas periferias ocupados por pessoas vítimas da mais profunda orfandade. O juiz e o promotor estão a quilômetros de distância. A polícia abusa do poder e como única autoridade presente não ouve e muito menos resolve os problemas sociais que lhe são apresentados.

Estabeleceu-se no Ministério da Justiça o programa Indústria da Paz, em conjunto com a CNI, para ter estagiários de psicologia e de serviço social atendendo os problemas sociais levados a uma delegacia. Esse programa não teve continuidade. Igualmente, é importante a criação dos Centros Integrados de Cidadania nas periferias das cidades, onde haja juiz, promotor, advogados, Polícia Civil e Militar, assistente social, psicólogo. A Justiça próxima ao povo é um grande instrumento de paz social.

É necessário promover espaços de sociabilidade. Foi proposto aos Ministérios da área social um trabalho conjunto para transformação das escolas em centros comunitários. O projeto paralisou-se. No Jardim Ângela a criminalidade decresceu a partir do programa Criança Esperança, dando lazer, esporte e integração social.

Os centros de convivência visam a ensinar que a violência não é a única linguagem, em especial para as muitas crianças vítimas de agressões dentro do lar.

Se mudanças legislativas são necessárias, mais importantes são medidas, as mais diversas, de política criminal de cunho social, rejeitando as reações primárias instintivas que facilmente seduzem do homem simples ao intelectual.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor-titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça’



MEMÓRIA / L. V. DE CARVALHO MESQUITA
O Estado de S. Paulo

Dez anos sem Luiz Vieira de Carvalho Mesquita

‘Em 1997, morria o então presidente dos Conselhos Consultivo e de Administração do Grupo Estado

Há dez anos, em 1997, morria em São Paulo o engenheiro Luiz Vieira de Carvalho Mesquita, então presidente dos Conselhos Consultivo e de Administração do Grupo Estado. No seu velório estiveram presentes autoridades e empresários de destaque nacional – mas o comparecimento de dezenas de funcionários do quadro industrial da empresa terá sido a homenagem mais comovente. Uma despedida dos amigos que o dr. Zizo, como era tratado por todos, fez ao longo dos anos entre os técnicos da área gráfica.

Luiz Vieira de Carvalho Mesquita mantinha com eles um compromisso de preceito: todas as sextas-feiras, encerrado o expediente administrativo, fazia uma sossegada visita ao setor onde trabalhavam. Durante o passeio, como definia essa rotina sem pressa, havia tempo para um café, um momento de conversa, a troca de idéias, livre e franca, sobre procedimentos de produção. Foi o último item de sua agenda, preservado por ele até poucos dias antes da internação no Hospital do Coração.

O engenheiro Luiz Mesquita começou a trabalhar no Estado em 1947, aos 25 anos, logo após graduar-se na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Uma época de grandes transformações – no Brasil e no jornal. Com o fim do Estado Novo do ditador Getúlio Vargas e o retorno do País ao regime democrático, Francisco Mesquita, pai de Luiz, e seu tio, Julio de Mesquita Filho – ambos diretores do Estado nessa fase crítica da história recente – sentiram o ambiente seguro para executar um abrangente plano de modernização. Entre as metas estavam a construção da nova sede no centro da cidade, e a compra de rotativas no exterior. O engenheiro, que a princípio não via como utilizar sua formação numa empresa jornalística, logo envolveu-se com o projeto de transformações.

Designado assistente de diretoria, viajou em seguida para os Estados Unidos e o Canadá. Durante oito meses acompanhou as providências para a instalação das máquinas recém-adquiridas, visitou empresas jornalísticas que utilizavam equipamentos semelhantes e analisou as tendências que sinalizavam para o futuro dos jornais – especialmente na área industrial. No retorno, supervisionou a construção do prédio na Rua Major Quedinho.

PENSAMENTO ESTRATÉGICO

Era o início de uma longa e bem-sucedida carreira de quase 50 anos. Durante quase meio século, Luiz Mesquita cuidou de manter permanente a ampliação e o aperfeiçoamento industrial da empresa. Ao mesmo tempo dr. Zizo também dava ênfase ao pensamento estratégico. Desde que passou a ocupar cargos na diretoria do Grupo Estado – de 1959 até 1997 -, defendeu a idéia de que não haveria lugar no futuro para os grandes jornais e revistas que insistissem em permanecer ilhados, como unidades isoladas. Criticava a imobilidade diante do avanço tecnológico. Numa entrevista de 1985, disse: ‘Cada vez mais se fortalecem em todo o mundo – e isso ocorre também no Brasil – os que se organizam como empresas de comunicação, dedicadas a atuar em diversos campos afins’.

Em 1971, durante uma conferência na recém-inaugurada Faculdade de Comunicações da Universidade Católica de Minas Gerais, antecipou aos estudantes uma realidade que só viria na virada do século: jornalistas produzindo eletronicamente páginas inteiras e enviando-as para impressão sem etapas intermediárias.

DISCRIÇÃO

As pessoas que conheceram de perto Luiz Mesquita costumam ressaltar a discrição como uma de suas características principais. Limitava suas aparições públicas a raros eventos que considerasse relevantes. Como ocorreu quando foi escolhido para receber o Prêmio Idort-1989, uma distinção conferida pelo conselho consultivo da Instituto de Organização e Racionalização do Trabalho ao executivo empresarial de maior destaque no âmbito das ciências da administração.

A escolha de Luiz Mesquita deveu-se à sua atuação na Pisa – Papel de Imprensa S.A., unidade do Grupo da qual era o presidente do Conselho de Administração. Uma escolha difícil. Naquele mesmo ano também haviam sido indicados para receber o prêmio José Ermírio de Moraes, Max Feffer, Edson Vaz Musa e Eugênio Staub.

Luiz Vieira de Carvalho Mesquita era um leitor voraz, sempre atualizado em história e política. Também acompanhava os esportes em geral. Um apaixonado pela música de concerto, condição que o levou a substituir sua tia Esther Mesquita na direção da Sociedade Cultura Artística. Em janeiro de 1967, chegou à presidência, cargo para o qual foi sucessivamente reeleito até o ano de sua morte.

Gostava de cavalos de raça e assim instalou seu próprio haras, outro sucesso, que o levou à presidência da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo de Corrida. Também ganhou um prêmio pelas atividades rurais. Foi em 1980, quando a sua Fazenda São José do Palmital, de Botucatu, interior de São Paulo, foi considerada ‘campeã em conservação de solo’ entre cerca de mil propriedades avaliadas pela Secretaria de Agricultura. Na fazenda eram cultivados grãos e café fino.

Foi todavia a criação da Pisa S.A. a empreitada que melhor evidenciou sua capacidade. No dia da inauguração, em 1985, permitiu-se uma breve centelha de emoção, ao dizer que aquele era ‘o final feliz de uma longa e distante história’, referindo-se ao desejo do pai e do tio de dotar o País de uma sólida fábrica de papel de imprensa.’



ISTOÉ EM CRISE
Irany Tereza

Daniel Dantas fecha acordo para comprar a Editora Três

‘O Grupo Opportunity, de Daniel Dantas, acertou a compra da Editora Três, que publica as revistas IstoÉ, IstoÉ Dinheiro, Dinheiro Rural, IstoÉ Gente, Planeta, Motor Show e Menu. A IstoÉ é a terceira maior revista semanal do País, com tiragem de 350 mil exemplares. A Veja tem tiragem de 1,08 milhão de exemplares por semana e a Época, de 437 mil exemplares.

Fontes ligadas ao banqueiro informaram que ele encaminhou ontem ao empresário Domingo Alzugaray, dono da editora, proposta de aquisição de 51% da companhia. A empresa será repartida em duas, para que o Opportunity assuma as marcas, mas não herde as dívidas da editora.

Essa é a segunda incursão do Opportunity no setor de mídia. A primeira, com o portal de comunicação pela internet IG, terminou em setembro de 2005, quando o Opportunity foi afastado da Brasil Telecom, que controla o portal. Há informações de que Dantas convidou o jornalista Matinas Suzuki, ex-presidente do IG, para a direção editorial da Editora Três.

A saída de Dantas da Brasil Telecom faz parte de uma extensa lista de litígios do empresário com fundos de pensão de empresas estatais (Previ, Petros e Funcef) com os quais o Opportunity atuava como gestor de recursos.

A batalha se transformou na maior briga de acionistas da história empresarial brasileira. No processo, o banqueiro chegou a ser indiciado criminalmente e responde a inquérito por formação de quadrilha. É acusado de divulgação de segredo e corrupção ativa no inquérito que apura o caso da contratação da empresa investigações Kroll para um serviço de espionagem na Telecom Italia, uma das controladoras da BrT.

A assinatura do contrato com a Editora Três, prevista para ocorrer até o início da semana que vem, selará a primeira parte do negócio, que envolve recursos para o pagamento dos salários atrasados dos funcionários da empresa. O valor do negócio não é conhecido.

O acordo é como uma joint-venture para licenciamento da marca, estruturando a montagem de um novo negócio. Não haverá assunção das dívidas da Editora Três, que giram em torno de R$ 600 milhões.

Alzugaray, dizem as fontes, continuará com participação de 49% da marca e será inteiramente responsável pelo passivo do grupo, que acumula dívidas trabalhistas e tributárias.

‘A dívida continua sendo do Alzugaray. O acordo é com a marca e prevê a montagem de um negócio novo’, afirma uma fonte ligada a Dantas. O Opportunity vinha negociando a compra há cerca de três meses e pretende fechar o negócio em duas etapas.

A primeira, estabelece a liberação de recursos para honrar, de imediato, os compromissos da folha de pessoal. Na segunda, serão definidos critérios como tempo de vigência do contrato. Não há, no acordo, nenhuma cláusula que vincule a aplicação de recursos gerados no novo negócio à quitação dos débitos acumulados pelo grupo.

Ontem, funcionários da Editora Três distribuíram manifesto, por e-mail, anunciando a deflagração de uma greve exigindo o pagamento dos salários ‘e obrigações trabalhistas não cumpridas’. Em comunicado público, os funcionários se colocaram a favor da ‘finalização das negociações que envolvem o controle da companhia’. A transferência efetiva do controle, porém, não irá acontecer.

A exemplo do que foi feito na venda do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil, hoje controlados pelo empresário Nelson Tanure, a empresa deve ser dividida em duas, sendo uma parte apenas para a marca IstoÉ.

Domingo Alzugaray negocia há cerca de um ano a transferência do controle da empresa, que atravessa grave crise financeira. Outros dois grupos chegaram a se apresentar durante as negociações: a CBM, de Nelson Tanure, e o Grupo Camargo de Comunicação, associado ao Grupo Bandeirantes.’

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Semanal ‘IstoÉ’ é o carro-chefe da editora

‘A Editora Três foi fundada em 1972, com a criação da revista mensal Planeta, dedicada a temas esotéricos e ambientais – publicação que permanece no portfólio da empresa, com aproximadamente 76 mil exemplares por edição. Quatro anos depois surgiu a revista semanal de informações IstoÉ, que acabaria se tornando o carro-chefe dos negócios. Atualmente, ela circula com cerca de 350 mil exemplares.

O sucesso da IstoÉ gerou novos produtos com a mesma periodicidade, mas para públicos diversos. Em 1997, apareceu a IstoÉ Dinheiro (92 mil exemplares), para o meio empresarial e, em 1999, a versão IstoÉ Gente (90 mil exemplares), para um público interessado no universo das celebridades e do entretenimento. A editora ainda publica as revistas MotorShow, Menu e Dinheiro Rural. Hoje, a empresa tem aproximadamente 900 funcionários.’



TELEVISÃO
Sérgio Augusto

A turma do sofá precisa mesmo é de um divã

‘A sedução, agora, é domiciliar. Com tendência de alta. As ruas andam perigosas, os estacionamentos pagos ou escassos, os televisores se agigantam e sofisticam – para que sair de casa se nos cinemas os filmes são iguais, se não piores? Assim definha a humanidade, milhões de ‘couch potatoes’ plugados em telesséries, cuja maioria, como na tela grande, é produzida em Hollywood. A magia do espetáculo cinematográfico tradicional, coletivamente desfrutado, parece ter sido condenada à obsolescência pela geração cuja janela para o mundo é medida em polegadas (poucas polegadas) e pelos comodistas de qualquer idade. Todo dia, agora, ‘é dia de sofá’.

A audiência da TV a cabo no Brasil ainda é uma piada. Ou uma extorsão: mensalidades caras e muito osso para pouco filé. Passo batido por pelo menos 50 canais dos 72 a que a minha assinatura da Sky-Net dá direito. Não obstante, em determinadas faixas da população, a audiência da TV paga aumentou 24% em 2006. No horário nobre e por causa dos seriados.

Alguns são bons, até ótimos, cheios de personagens de grande empatia (dr. Gregory House, Adrian Monk, os Sopranos, Gil Grissom, Elliot & Olivia), aos quais nos ligamos dramática e afetivamente, e engendrados por roteiros espertos, enxutos, e mesmo fascinantes por sua expertise em medicina legal, balística, direito e nanotecnologia. Se perdemos um episódio, podemos recuperá-lo horas, semanas, meses ou até anos depois. Ao contrário das telenovelas, não nos escravizam a horários rígidos e peripécias intermináveis. Entre as raras exceções, 24 Horas e Lost, dois tremendos sucessos internacionais assegurados pela paciência e pelo masoquismo de milhões de aficionados radicais.

Viciam. Conheço adictos cujo grau de dependência justificaria a criação de uma clínica de recuperação, um AA especializado. Um VA, em suma. VA: Videotas Anônimos. Quando largam o vídeo, enfiam-se na Internet, visitando, montando e alimentando sites sobre os seriados que mais consomem, ou produzindo blogs sobre os mesmos. Esses, coitados, abriram mão da vida. Começaram abrindo mão da maturidade, o que explica porque vários entre eles vararam a noite na fila de Guerra nas Estrelas, fantasiados de Darth Vader. Aqueles a quem os deuses querem destruir, primeiro infantilizam.

Noite dessas, na brecha de uma reapresentação de C.S.I., respirei aliviado (‘Que bom, este eu já vi’), e comecei a ler um livro. Eis a melhor prova de que, embora telespectador mais ou menos assíduo de C.S.I. Las Vegas (Sony), House (Universal Channel), Law & Order S.V.U. (idem), Monk (idem) e Crossing Jordan (idem), não sou um adicto. O viciado padrão ou assistiria ao episódio novamente ou procuraria distração similar em outro canal. Ler? Talvez Não é Preciso Dizer Adeus, de Allison DuBois, lançado há pouco no Brasil. Allison DuBois é a personagem de Patricia Arquette em Medium, seriado da Sony protagonizado por uma dona de casa que tem visões, interage com defuntos e ouve vozes do além.

O livro que não troquei por uma velha investigação do laboratório comandado por Gil Grissom – A Filosofia do Tédio, do norueguês Lars Svendsen, recém-traduzido pela Jorge Zahar Editor – prometia me jogar numa galáxia bem distante do telentretenimento. Logo nas primeiras páginas, povoadas por conceituações gerais sobre o tédio, do próprio autor (‘Vivemos numa cultura do tédio, fenômeno vago e multiforme’), de Fernando Pessoa (entediar-se é ‘sofrer sem sofrimento, querer sem vontade, pensar sem raciocínio’), de mais dois nórdicos, Kierkegaard (‘o tédio é a raiz de todo mal’) e Jon Hellesnes (‘nada é mais existencialmente perturbador que o tédio’), fui ter num parágrafo que me levou de volta à videotia. Ou, melhor dizendo, à videopatia.

Depois de relacionar as associações do tédio com abuso de drogas, álcool e fumo, com distúrbios alimentares, promiscuidade, vandalismo, depressão, agressão, violência, suicídio, etc, Svendsen faz duas perguntas: ‘Será que a extensão da indústria do entretenimento e o consumo de tóxicos, por exemplo, não seriam claros indícios da prevalência do tédio? As pessoas que vêem televisão quatro horas por dia não se sentem nem se confessam necessariamente entediadas, mas por que outra razão despenderiam dessa maneira 25% das horas que passam acordadas?’

Para não estragar a festa dos videopatas, não os exortarei, à maneira de Nelson Rodrigues (‘Amadureçam, meninos’), a lutar contra o tédio que os consome. Que, por ora, se regalem com as novas temporadas (Lost, House) e as estréias (Heroes, Kidnapped). Heroes debutou ontem no Universal Channel. Na segunda-feira, o AXN inicia a terceira temporada de Lost, e, na terça, apresenta aos tapuias o fracassado Kidnapped (22 episódios projetados, 12 produzidos e apenas quatro exibidos pela NBC).

Só com base nas chamadas, decretei: Heroes não me pega. Dei férias ao sobrenatural e alta ao déjà vu. Não tenho tempo a perder com mais um seriado sobre pessoas aparentemente comuns que forças desconhecidas e invisíveis dotam de superpoderes que nem Jesus possuía. Sei que corro o risco de ser queimado vivo virtualmente na Internet, pois, como recentemente alertou Alessandra Stanley, do New York Times, os fãs desse tipo de seriados são surpreendentemente passionais e devotos, com uma postura parecida com a dos ativistas antiaborto.

Heroes é a febre da vez. Com muita grana em jogo. Sua campanha de lançamento, entre nós, consumiu 60% da verba anual dos marqueteiros do Universal Channel. Com quatro patrocinadores (Caixa Econômica Federal, McDonald’s, Nissan e Oi), é um coquetel de 4400 (pedi arrego no terceiro episódio) com X-Men e, dizem, O Médico e o Monstro. Segundo um crítico nova-iorquino, Heroes oferece uma sociedade alternativa para desajustados adultos e menores de 12 anos. Bom proveito. E não esqueçam a pipoca.

Beneficiado por uma temporada extra na TV aberta (Rede Globo), Lost é um thriller de ficção-científica cuja(s) intriga(s) não faz(em) muito sentido. Seu ponto de partida (as agruras dos sobreviventes de um desastre aéreo numa ilha ou num arquipélago) já não era novidade antes da invenção dos ‘reality shows’. O animismo paranormal, sim, é contribuição nova ao gênero. Alguns personagens se chamam John Locke, Rousseau e Burke, mas o máximo que o seriado oferece, nesse campo, são filosofices. As tietes de Rodrigo Santoro aguardam, ansiosas, sua aparição nessa terceira temporada, à qual, dizem, não sobreviverá. Igual destino está reservado para outra nova sobrevivente, cuja intérprete, Kiele Sanchez, deverá integrar-se ao elenco de um seriado em gestação, Football Wives, cujas semelhanças com Desperate Housewives não serão meras coincidências.

A Lei de Lavosier também orienta o receituário da indústria das telesséries. Nada se perde, tudo se transforma. C.S.I. virou franquia, com ‘representantes’ em Miami e Nova York. Nova York Contra o Crime (NYPD, sim, houve tempo em que os seriados tinha nome em português) inspirou Law & Order: Criminal Intent, que, por sua vez, gerou Law and Order: Special Victims Unit, de cujo ventre saiu Cold Case. Prison Break (Fox) é um guisado de Golpe Baixo com Um Sonho de Liberdade e Fugindo do Inferno. Em cima de Lost, a ABC produziu (e a Warner aqui lançou) The Nine, a partir de uma idéia de Hank Steinberg, um dos criadores de Without a Trace: no lugar da ilha, um banco e nove reféns cujas vidas se entrelaçam a partir de um assalto. No quarto episódio, balançou. Ainda assim durou mais do que Invasion, outro sucedâneo de Lost que, no ano passado, ficou à deriva.

A baixa audiência de The Nine foi um alerta. Kevin Reilly, presidente da NBC Entertainment, não maneirou no diagnóstico: ‘As pessoas cansaram de imitações.’ O fastio se amplia. Mesclando o investigativismo de C.S.I. com a ação contínua de 24 Horas, Vanished, sobre o rapto da mulher de um senador e suas conseqüências, foi cancelada pela Fox ainda na primeira temporada. Runaway, outro criminal com uma família de peso sob ameaça, não chegou à quinta semana de exibição. Fiasco mais retumbante foi o da série Smith, da CBS. Estreou no final de setembro e saiu do ar no início de outubro. Um time de ladrões planeja e executa crimes de alto nível em diferentes cidades da América. Já vimos isso onde? Ok, sem Raty Liotta e Virginia Madsen no mesmo elenco; mas, como diria Ira Gershwin, ‘who cares?’

Dia 15, a NBC estréia, com comedido entusiasmo, o seriado Raines. Sintam a originalidade: um detetive chamado Michael Raines (Jeff Goldblum) soluciona crimes comunicando-se com os assassinados. Mais um mediúnico para a coleção. Raines é a versão masculina de Allison Dubois (a dona de casa paranormal de Medium) e Melinda Gordon (a interlocutora de fantasmas de Ghost Whisperer).

James Randi, pertinaz fiscal da propaganda sobrenatural e fraudes pseudocientíficas, com site na Internet, já está de orelha em pé. Foi ele quem caracterizou o frenético culto a seriados como Lost, Heroes, Medium, 4400, Ghost Whisperer como ‘um sinal claro de declínio social’, uma falta de bom senso massificada, um perigoso apego a defesas que repudiam a razão, ao pensar sem raciocínio. Videotas, tudo bem. Mas videotas levitantes já é demais.’

O Estado de S. Paulo

Decoradores se revezam no Todo Seu

‘Vai rolar um momento Casa Cor no programa que Ronnie Von comanda na TV Gazeta. A partir desta segunda-feira, o Todo Seu inicia um revezamento de cenários criados por um time de decoradores grifados, especialmente convidados pelo staff do apresentador.

Todo mês, até o fim do ano, um nome do design de interiores assinará o cenário do programa. A troca de cenário, ao todo dez, ocorrerá sempre na primeira segunda-feira de cada mês. O time é composto por Alessandro Jordão, Bya Barros, Dado Castello Branco, Flávio Miranda, Gilberto Cione & Olegário de Sá, José Roberto Moreira do Valle, Patrícia Anastassiadis e Teresinha Nigri.

O cenário inaugural é de Jô Candeloro, responsável pelo cenário atual do programa e, justamente por isso, convidada a iniciar o projeto.

A promessa do programa é fazer da iniciativa uma aula de decoração para o telespectador. E, diga-se, nesta época em que reality show de decoração virou febre com variantes na TV paga, com títulos com Minha Casa Sua Casa, Entre Quatro Paredes, Enquanto Você não Vem e Reconstrução Total, a aposta da TV Gazeta vem bem a calhar.

O Todo Seu vai ao ar de segunda a sábado, às 22 horas.

Maluquinho na madrugada

Ingrid Guimarães, Lázaro Ramos e Ziraldo são convidados do Altas Horas hoje. O cartunista, que fará 75 anos, relembrará bons momentos de sua carreira e discutirá com a platéia do programa a importância da educação. O programa vai ao ar na Globo, à 1h30.

Entre-linhas

A fim de encarar Ana Maria Braga de ponta a ponta, o Hoje em Dia, da Record, passa a ser entrar no ar mais cedo a partir da próxima segunda-feira. Vai ao ar das 8h30 às 12h.

Atualmente, o Hoje em Dia entra no ar às 9h, pegando só o fim do programa do Mais Você e todo o TV Xuxa. Anteontem, na prévia de audiência instantânea na Grande São Paulo, o programa de Britto Jr. & cia. empatou com a Globo em 8 pontos.

Dentro do pacote de reformas em operação na Band, o Programa Raul Gil, ainda no ar aos domingos, passa a ser apresentado também aos sábados a partir de hoje, às 15h.

Soninha é convidada do Loucos por Futebol hoje, sob o pretexto do Dia Internacional da Mulher. Às 22 horas, na ESPN Brasil.

Também sob a guarda do Dia Internacional da Mulher, a Cultura exibe na próxima semana, de segunda a sexta, documentários sobre Clarice Lispector, Lina Bo Bardi, Dorina Nowill e Cora Coralina. No ar às 20h.

O TNT estréia hoje as terceiras temporadas de Veronica Mars e Battlestar Galactica. A série de investigação vai ao ar às 15 horas e a ficção científica, às 16 horas.

Daniella Cicarelli estréia amanhã, às 22 h, na MTV, o Batalha de Modelos, um gameshow sobre o mundo da moda em que quatro modelos disputam provas em busca da fama e uma vaga na agência de modelos da MTV.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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