Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Globo

LITERATURA
Editora boicota Prêmio Jabuti após vitória de romance de Chico Buarque

A Câmara Brasileira do Livro (CBL), que há 52 anos promove o Prêmio Jabuti, anunciou ontem que vai discutir os critérios de premiação nas categorias Melhores Livros do Ano de Ficção e Não Ficção, depois que Sérgio Machado, presidente do Grupo Editorial Record, anunciou que sua empresa não participaria mais do prêmio, o mais tradicional do país.

A decisão de Machado, anunciada em carta enviada dia 9 à direção da CBL e numa entrevista publicada ontem na ‘Folha de S. Paulo’, foi tomada em protesto contra a escolha de ‘Leite derramado’ (Companhia das Letras), de Chico Buarque, como Livro do Ano de Ficção, embora na categoria romance ele tivesse ficado em segundo lugar, atrás de ‘Se eu fechar os olhos agora’, de Edney Silvestre, da Record. Este ano, ‘Leite derramado’ ganhou também o Portugal Telecom.

Na entrevista, Machado disse que ‘o Jabuti virou um concurso de beleza, com critérios de programas como os de Faustão e Silvio Santos’. Na carta, o editor afirma que ‘as normas do Jabuti desvirtuam o objetivo de qualquer prêmio, pondo em desigualdade os escritores que não sejam personagens mediáticos. Para não mencionar fato ainda mais grave: quando é evidente que a premiação foi pautada por critérios políticos, sejam da grande política nacional, sejam da pequena política do setor livreiro-editorial.’ Na nota oficial divulgada pela CBL no final da tarde de ontem, a entidade lembra que o prêmio ‘sempre se pautou pela lisura e cumprimento de seu regulamento’, mas que o assunto seria debatido pela comissão organizadora na primeira reunião preparatória para a edição de 2011.

A incongruência entre os dois resultados é consequência do modelo de julgamento adotado pelo Jabuti desde 1993, que estabelece júris diferentes para as categorias específicas (romance, contos e crônicas, poesia etc.) e para a premiação geral do Livro do Ano.

As premiações por categorias são decididas por um júri de três pessoas especializadas na área, enquanto a premiação final, de melhores livros do ano (em que cada vencedor leva R$ 30 mil), é decidida pelos votos de todos associados das organizações do mercado editorial responsáveis pelo Jabuti. O peso acaba sendo mais comercial, como a própria CBL admite.

Desde 1993, o Jabuti já escolheu como Livros do Ano 17 obras que não foram as ganhadoras em sua categoria.

José Luiz Goldfarb, curador do prêmio desde 1991, disse que os comentários de Machado são ‘choro de perdedor’.

— Ele sabia da regra do jogo.

O Jabuti tem regras estabelecidas e fizemos o processo todo cumprindo o que está no regulamento — afirmou.

 

PRESIDENTE
Lula, agora em quadrinhos

Editora que, de 2007 a 2009, recebeu R$ 13,35 milhões do Ministério da Educação, para distribuição de livros didáticos no ensino fundamental, a Sarandi acaba de estrear a Série Brasileiros com ‘Luiz Inácio Brasileiro da Silva’, história da vida do presidente Lula em quadrinhos. Afirmando que a série retratará ‘importantes personalidades cujas realizações marcaram a história nacional’, a editora mantém o tom de homenagem nas 48 páginas da obra: na capa, destaca, como se indicando um brinde, que o livro traz ‘mensagem do presidente Lula para você!’, texto em primeira pessoa de Lula, com o brasão da República.

O livro começa com o episódio, em 2009, em que o presidente Barack Obama chamou Lula de ‘o cara’ e ‘o político mais popular da Terra’. É o gancho para a pergunta: ‘Quem é ele? De onde veio? Como chegou até aqui?’.

O que se segue lembra o tom de biografia autorizada do filme ‘Lula, o filho do Brasil’.

Com texto de Toni Rodrigues e desenhos de Rodolfo Zalla, a história narra a infância pobre de Lula, a relação difícil com o pai, a perda da primeira mulher, as greves no ABC — com frases como ‘Discursa brilhantemente’ e ‘Não tenho medo de mais nada!’. O primeiro mandato de Lula, porém, cabe num quadro da penúltima página. O segundo, em outro.

O livro terá tiragem inicial de 37 mil exemplares, a R$ 4,95. Pela assessoria, a sócia-diretora da Sarandi, Aloma Carvalho, disse que o foco da empresa é difundir informação, não fazer política. Segundo Aloma, a Sarandi tem uma participação modesta no universo de livros adquiridos pelo MEC e ‘está longe de pertencer aos grandes grupos editoriais que têm o governo como principal cliente’.

 

TECNOLOGIA
Merval Pereira

Democracia virtual

Os países no topo do ranking são: Coreia do Sul, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Países Baixos.

A Macroplan, empresa de consultoria especializada em análises prospectivas, fez um levantamento inédito em parceria com pesquisadores do Instituto Universitário Europeu (Florença, Itália) sobre democracia eletrônica publicado pelo Centro Global de Tecnologia da Informação e Comunicação em Parlamentos, das Nações Unidas.

O economista Gustavo Morelli e o cientista p o l í t i c o To b i a s A l b uquerque, da Macroplan, foram os representantes da empresa brasileira.

O estudo avaliou 92 sites de casas legislativas em países de sistema federativo (Brasil, Espanha e Estados Unidos), assim como 30 espaços virtuais de informação e deliberação que têm o p o t e n c i a l d e t o r n a r o processo político mais participativo, transparente e legítimo.

A pesquisa, que teve o objetivo de servir de referencial para políticas de inovação em matéria de democracia eletrônica aqui no Brasil, encomendada à Macroplan pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, revelou que — quando bem empregadas — as tecnologias de informação e comunicação estão contribuindo, e muito, para aumentar a transparência do processo político, abrindo espaços novos de informação e deliberação e, principalmente, consolidando a democracia.

A nova e grande oferta de possibilidades tecnológicas está revolucionando as antigas práticas de comunicação não a p e n a s n a s e m p re s a s , que têm utilizado as novas configurações para melhorar os seus negócios, mas também na esfera do governo, com impactos diretos na forma de se fazer política, princ i p a l m e n t e n o s p a r l amentos.

As melhores práticas na categoria Transparência da Ação Parlamentar foram desenvolvidas nos Est a d o s U n i d o s — Op e n Congress, Capitol Words for You e Open Legislation — e no Reino Unido — They Work for Us e BBC Democracy Live.

Na categoria Interatividade e Participação, o site da Câmara dos Deputados do Brasil (e-democracia) é citado como um dos destaques, ao lado do inglês No. 10 e-petitions e do TID+, da Estônia.

O e s t u d o , c o n t u d o , aponta que o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente na construção da democracia eletrônica e não traz as melhores notícias para o país.

Por aqui, ainda há poucos exemplos do melhor aproveitamento das novas tecnologias no ambiente público.

No Brasil, ressalta o estudo, as iniciativas no âmbito do Executivo ainda se restringem à publicação de dados para fins de controle e acompanhamento dos gastos públicos.

Segundo o estudo da Macroplan, o problema no Brasil é mais acentuado nas casas legislativas, justamente onde deveria haver mais transparência e interação.

Os níveis de confiança do cidadão e sua disposição em participar de iniciativas levadas a cabo pelo Legislativo ainda são bastante baixos.

Além de expor o reduzido número de iniciativas no Poder Legislativo que servem como exemp l o d e p a r t i c i p a ç ã o e transparência, o estudo sublinha um fato que se pode observar na maioria dos parlamentos est a d u a i s e m u n i c i p a i s b r a s i l e i ro s : o f o r n e c imento de informações de utilidade questionável em seus sites.

Chamou a atenção na p e s q u i s a v o l t a d a a o s parlamentos brasileiros a ausência de informação sobre como a contribuição do cidadão é proc e s s a d a , q u a i s s ã o o s destinatários finais das proposições e de informações relativas à situação orçamentária estadual e ao processo de elaboração orçamentária em si.

Há casos extremos de total ausência de informações sobre a atividade legislativa.

Outro problema recorrente é a falta de reatividade dos políticos. O estudo constatou que um grande número de contatos on-line realizados por cidadãos com deputados e seus respectivos gabinetes permanece sem resposta ou é respondido de maneira genérica.

Existe uma tendência global de universalização das tecnologias de informação e comunicação. No Brasil, por exemplo, o número de usuários de internet passou de pouco mais de cinco milhões, em 2000, para 75 milhões, em 2010.

A população mundial, em breve, passará a ter 20% de penetração de banda larga. Com as novas tecnologias, os princípios da transparência, participação e abertura estão cada vez mais próximos da realidade social e política.

Os governos terão que lidar com a interferência direta de redes organizadas, redes que, por sua vez, irão facilitar a ação coletiva em busca de soluções para problemas comuns.

As redes de comunicação atuais fazem com que a participação esteja ao alcance de cada cidadão e não apenas da chamada sociedade organizada, que muitas vezes se forma em torno de grupos de interesse na defesa corporativa de posições de segmentos, em detrimento do coletivo.

Estamos diante de uma possibilidade concreta de aumentar o papel da sociedade na formulação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, ressalta o estudo. (Amanhã, ‘Os bons exemplos’)

 

Cora Rónai

Kindle: contato imediato

A casa de qualquer amante de gadgets que tenha um mínimo de recursos para dar asas à sua paixão acaba, com o tempo, se transformando numa espécie de cemitério de antigas tecnologias. A minha casa não é exceção. Há velhos PDAs e celulares de diversos tipos e idades pelas gavetas, dispositivos de armazenagem de vários tamanhos e capacidades pelos armários e um baú inteiro de placas, conversores e cabos paralelos e seriais que não tenho coragem de jogar fora porque, afinal, nunca se sabe quando podem tornar a ser úteis.

Há também, num cantinho esquecido do escritório, um objeto meio retangular, do tamanho de um livro, com quatro centímetros de largura e um lado arredondado, que atende pelo nome de Rocket eBook (e você vê no detalhe aqui ao lado). O Rocket foi lançado em 1999 e chegou a ser muito popular no seu tempo como leitor de livros eletrônicos. Era um prodígio, podia armazenar bem uns dez romances, e eu fiquei empolgada com essa possibilidade — mas, na vida real, não consegui sequer chegar à metade de um dos livros que armazenei nele. A tela ruim me cansou, e o peso de quase 700 gramas também não ajudou a consolidar nossa relação. Não tive coragem de jogá-lo fora, achando que um dia, quem sabe, ele me poderia ser útil numa viagem. Os anos foram passando, continuei viajando com dois ou três livros na mala, e o Rocket eBook continuou encostado.

O seu fantasma, porém, me assombrou por muito tempo.

Tanto que, quando a Amazon lançou o Kindle, não tive coragem de ir atrás. ‘Vai ser mais um gadget morto numa gaveta’, pensei com os meus pendrives. E assim é que fiquei olhando o movimento dos ebooks de longe, às vezes com um pouco de cobiça, mas de modo geral muito tranquila na minha relação com os velhos livros de papel.

Há um mês, porém, uma amiga que não se entendeu com o Kindle me emprestou o brinquedo. É um Kindle da segunda geração, portanto já ultrapassado pelo espertíssimo Kindle da última geração, que não só é mais leve e tem tela com melhor contraste, como vem, de fábrica, com 3G gratuito no mundo todo, inclusive Brasil — uma perdição para quem acredita em gratificação instantânea.

Esta foi, aliás, a primeira sensação que experimentei com ele. Alguém me recomendou um livro, e em vez de encomendar o exemplar em papel, como teria feito normalmente, baixei a versão eletrônica. Ao contrário do que eu esperava, o preço foi um dólar mais caro do que o da edição tradicional (que estava com desconto), mas o que economizei no transporte foi ótimo e, maravilha das maravilhas, em alguns minutos eu já estava mergulhada na leitura.

Porém… sim, a minha experiência com o Kindle tem um porém, um grande porém — ele não é um livro, séria falha para quem, como eu, tanto ama o objeto em papel. Kindle e livros não se comparam sensorialmente. Quem pega um livro em papel sabe, imediatamente, quanta leitura tem pela frente.

Embora o Kindle mostre numa barrinha a percentagem de páginas lidas, não é a mesma coisa. O Kindle perde também num quesito básico para o leitor contumaz: a folheada que se dá antes da leitura, em que se pescam frases aqui e ali, numa espécie de trailer do livro.

Se eu tivesse comprado um Kindle, ele não seria mais um gadget no cemitério; eu o usaria para ler artigos encontrados na internet (nisso ele é excelente) e, eventualmente para baixar livros que não tivesse paciência para esperar pelo correio. Talvez também o levasse em viagens, em vez dos volumes que habitualmente carrego. De qualquer forma, depois de um mês de convivência, já sei que, para mim, ele é apenas o complemento da biblioteca, uma forma a mais de buscar livros — mas não a fonte primária de toda a leitura.

 

FORMAÇÃO
Adauri Antunes Barbosa

De olho nos desafios do jornalismo moderno

A Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) está lançando, em parceria com o Instituto de Altos Estudos em Jornalismo (Iaej), o curso de pós-graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial. Segundo o professor Eugênio Bucci, diretor do curso, a iniciativa, inédita no país, tem como foco a formação de diretores editoriais para diversas mídias e empresas jornalísticas.

O curso vai oferecer o treinamento necessário para o desempenho de direção editorial em empresas de comunicação e mídia em geral, como jornais, revistas, websites, emissoras de rádio e TV. De acordo com a ESPM, o curso foi criado para preparar o profissional de jornalismo em meio de carreira para posições de liderança. Um esboço do que seriam as disciplinas já havia sido pensado pelo empresário Roberto Civita, presidente do conselho de Administração do Grupo Abril, com base em seus 50 anos de experiência jornalística. No ano passado, ele visitou várias universidades de diferentes países e consolidou a proposta curricular.

As inscrições estão abertas até 3 de dezembro para uma turma inicial de 35 alunos. Os aprovados no teste de seleção, que já devem ter experiência no jornalismo e domínio de inglês, terão aulas a partir de 14 de março de 2011, uma semana por mês, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. O curso terá dois semestres letivos e custará R$ 27 mil à vista ou 18 mensalidades de R$ 1.650 (R$ 29.700).

Segundo Bucci, o curso de Direção Editorial vai aprofundar o conhecimento jornalístico e, ao mesmo tempo, pensar a essência da profissão para desenvolver ideias, como parte da função da imprensa na democracia. Entre as disciplinas oferecidas serão estudados temas como o design, que, embora pareça de interesse apenas para veículos impressos ou para a TV, tem ainda um enfoque para o rádio. Serão várias abordagens, feitas por um corpo docente de alto nível, experiente nas áreas de comunicação, marketing e negócios, que também abordarão temas que vão do jurídico ao prático, à liberdade de imprensa.

O corpo docente é formado por Alberto Dines, Caio Túlio Costa, Carlos Eduardo Lins da Silva, Edson Crescitelli, Gilberto Cavicchiolli, João Sayad, Júlio César Bastos de Figueiredo, Judith Brito, Luís Francisco Carvalho Filho, Renato Janine Ribeiro, Ricardo Gandour, Roberto Camanho, Roberto Civita e Thomaz Souto Corrêa.

Veículos de comunicação precisam se modernizar Eugênio Bucci, que é doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), observa que a ‘complexificação da democracia, assim como outros fatores que trazem importantes modificações sociais para o país, deve ser acompanhada pelos veículos de comunicação, que, ao mesmo tempo, precisam se modernizar’.

— É claro que a complexificação da democracia no Brasil, o aumento de escala da democracia, a ampliação das classes médias, o acesso de mais brasileiros a um novo padrão de consumo, as inovações e transformações que vêm chegando junto com a globalização da economia, a sofisticação das relações internacionais, a necessidade de sintonias finas em políticas públicas as mais diversas que se conjugam de maneiras diversas, exigem da imprensa um preparo muito melhor. Em uma sociedade que se moderniza, a imprensa precisa se modernizar em um velocidade igual ou maior. Isso explica um pouco a razão desse curso — disse.

Orientado para formar diretores editoriais, o curso ainda terá o viés político, levantando, de acordo com Bucci, a necessidade de se discutir o papel da imprensa, mas deixando de forma clara o ‘perigo’ que é a possibilidade de o governo, ou o Poder Executivo, querer controlar o que é publicado: — Digo que é muito positivo quando a sociedade discute a imprensa. Mas é muito perigoso quando o Poder Executivo, o governo, começa a querer dar a baliza do que é a qualidade jornalística.

A democracia exige que o Poder Executivo se exima de querer editar a informação para o público, ditar os parâmetros de qualidade editorial. O Executivo e o governo são fontes do jornalismo. Não podem querer ser condutores do jornalismo.

 

TELEVISÃO
Globo News premiada por especial sobre ditadura

O especial ‘Os generais falam’, apresentado pelo jornalista Geneton Moraes Neto, da Globo News, ganhou na noite de quarta-feira, no Rio, o Prêmio Imprensa Embratel 2010 na categoria televisão. Exibido no início deste ano, no programa ‘Dossiê Globo News’, o especial trouxe entrevistas com generais da época do regime militar no Brasil.

Newton Cruz e Leônidas Pires Gonçalves revelaram a Geneton detalhes das ações do governo para reprimir manifestações de cunho político no país.

Na categoria fotografia, o prêmio Embratel foi para Marcos Tristão, do GLOBO, pelo trabalho ‘Luto no AfroReggae’. A foto flagrou o choro comovente do músico Diego Frazão, de 12 anos, durante o enterro de Evandro João Silva, ex-coordenador do AfroReggae. Diego era amigo de Evandro, que foi morto durante um assalto no Centro.

Com a premiação de ‘Os generais falam’, a Globo News decidiu reprisar as entrevistas neste domingo, às 16h05m. Numa delas, Newton Cruz revela que impediu que militares cometessem um segundo atentado nos anos 80, que seria parecido com o que ocorreu no Riocentro. Geneton disse que a premiação foi o reconhecimento de que não existe assunto esgotado.

— Uma das funções do jornalismo é produzir memória, e tentamos com as entrevistas fazer isso. Sempre me lembro do meu guru, Joel Silveira, tido como o maior repórter brasileiro. Ele andava com uma lista de assuntos que muitos consideravam esgotados, mas que ele insistia que mereciam ser investigados — afirmou Geneton.

O jornal ‘Extra’ venceu o Embratel na categoria Sudeste com a série ‘A escola como ela é’, publicada em maio deste ano e produzida pela repórter Letícia Vieira. Ela e o fotógrafo Fabiano Rocha acompanharam a vida de nove alunos e oito professores da rede pública durante o primeiro ano letivo sem aprovação automática nas escolas do Rio.

O Imprensa Embratel 2010 premiou jornalistas em 12 categorias nacionais e cinco regionais.

A reportagem ‘Senado usou 300 atos secretos para beneficiar amigos’, do jornal ‘O Estado de S.Paulo’, foi a grande vencedora do troféu Barbosa Lima Sobrinho.

 

Geneton Moraes Neto

‘Não existe assunto esgotado’

Toda atividade — seja qual for — precisa de um lema, uma bandeira, um slogan. O meu poderia ser qualquer outro, mas é : ‘Fazer jornalismo é produzir memória’. O jornalismo pode ser útil, então.

Pode jogar luzes sobre o passado. Por que não? É preciso ter convicção.

Pois bem: posso estar errado, mas acredito que fazer jornalismo é olhar o mundo, os fatos, os personagens e as histórias com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez. Somente assim o jornalismo será vívido, interessante, inquieto — não este monstro burocrático, chato e cinzento que nos assusta tanto. Fazer jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu; fazer jornalismo é ter a certeza de que não existe assunto esgotado.

Há fatos a explicar sobre 1964, por exemplo. Tudo pode ser revirado: a crucificação de Jesus Cristo merece ser investigada. Por que não? Jornalista não pode se deixar vencer pelo tédio destruidor — nunca; se um estreante perguntasse, eu diria: deixe o tédio em casa.

Traga a vida das ruas para a redação. Porque, em 98% dos casos, o que a gente vê na vida real é mais colorido e mais arrebatador do que o que se publica nos jornais ou o que se vê na TV.

Diria também: não faça jornalismo para jornalista.

Faça para o público! Fazer jornalismo é não praticar nunca, jamais, sob hipótese alguma, a patrulhagem ideológica. Ponto. Um general — seja quem for — deve ser ouvido com tanta atenção quanto o mais renitente dos guerrilheiros. Lugar de votar é na urna. Não é na redação (eu disse ao general Newton Cruz: não quero parecer bom moço, jornalista vive procurando escândalo e declarações bombásticas, mas, como personagem jornalístico, o senhor me interessa tanto quanto Luís Carlos Prestes, a quem, aliás, entrevistei algumas vezes).

Por fim: fazer jornalismo é desconfiar, sempre, sempre e sempre. A lição de um editor inglês vale para todos: toda vez que estiver ouvindo um personagem — seja ele um delegado de polícia, um praticante de ioga ou um astro da música — pergunte sempre a si mesmo, intimamente: por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?’

 

INTERNET
Revista ‘Newsweek’ se une a site de notícias para tentar recuperar brilho

Tina Brown voltou para o mundo do impresso.

Depois de uma longa negociação, a revista ‘Newsweek’, de 77 anos, e o site de notícias The Daily Beast, criado há dois anos por Tina, colocaram suas diferenças de lado e uniram suas forças. Em uma coluna publicada na noite de quinta-feira, ela informou que o acordo fora fechado com um brinde de café na terça-feira.

‘Serei agora a editora-chefe tanto do Daily Beast como da ‘Newsweek’, afirmou Tina. As duas publicações manterão suas próprias identidades.

O acordo junta Sidney Harman, o empresário de 92 anos que recentemente comprou a ‘Newsweek’ por US$ 1; Barry Diller, o magnata da mídia que financia o Daily Beast e outros sites; e Tina, cujas bem-sucedidas passagens como editora, nas revistas ‘Vanity Fair’ e ‘New Yorker’, sempre atraíram a atenção da mídia.

O acordo beneficia todos: Harman consegue uma editora respeitada que vai chamar a atenção para uma revista que muitos consideravam morta, e Tina volta a comandar uma publicação conhecida. E Diller, membro do conselho da Washington Post Co. (ex-controladorada ‘Newsweek’), obtém uma revista impressa, com mais potencial de lucro que o Daily Beast.

A ‘Newsweek’, que sofreu com queda nas vendas e fuga de jornalistas e anunciantes, é uma sombra do tempo em que fazia parte de um seleto clube de revistas que dava o tom do noticiário. O propósito de colocar Tina no comando é recuperar o antigo brilho.

A nova empresa, Newsweek Daily Beast, será dividida igualmente entre a revista e o site. O primeiro a noticiar a fusão foi o ‘New York Observer’.

 

News Corp: aplicativos do iPad canibalizam jornais

A venda de aplicativos de jornais para aparelhos como o iPad, da Apple, está canibalizando as vendas de jornais impressos, afirmou James Murdoch, vice-presidente operacional da News Corp na Europa e na Ásia, e filho do presidente-executivo da companhia, Rupert Murdoch.

— O problema com esses aplicativos é que eles canibalizam muito mais os produtos impressos do que o website — disse James Murdoch. — As pessoas interagem muito mais com eles do que com o produto tradicional.

A News Corp fechou o site gratuito do diário ‘Times’, de Londres, em junho deste ano. O ‘Times’, sua versão dominical ‘Sunday Times’ e o ‘News of the World’ — tabloide mais vendido do Reino Unido — estão disponíveis na internet apenas para assinantes.

No início deste mês, a unidade britânica de jornais da News Corp, a News International, informou que as publicações perderam até 90% de seus leitores on-line e hoje têm 105 mil leitores pagantes, incluindo clientes dos aplicativos dos jornais para iPad e Kindle, leitor eletrônico da Amazon.

A indústria está de olho nos resultados das medidas adotadas pela News Corp para a internet, uma vez que vem perdendo leitores e receita com publicidade para fontes gratuitas de informação. Por isso, busca novos modelos de negócios na era digital.

 

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