Tuesday, 07 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Silvio Navarro e Andréa Michael

‘A Polícia Federal apreendeu ontem, em Brasília, sete malas de dinheiro com mais de R$ 10,2 milhões que estavam em poder do deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP), bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Ele estava em avião particular, no hangar da TAM, e se preparava para decolar rumo a São Paulo.


Depois de passar dez horas e meia contando o dinheiro, às 21h30 a PF divulgou o total apreendido: R$ 10.202.690.


O deputado João Batista passou o dia na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde prestaria esclarecimentos, juntamente com outras seis pessoas que o acompanhavam na viagem.


O transporte do dinheiro, que, segundo o deputado, é fruto do dízimo recolhido dos fiéis, foi abortado por causa de uma denúncia anônima.


Na noite de ontem, o delegado David Sérvulo Campos, chefe da Delegacia de Crimes Financeiros, disse que encaminharia o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) por envolver um deputado federal. Caberá ao tribunal avaliar se instaura inquérito para apurar se foram praticados os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, crime contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro.


A base da suspeita é que o único documento apresentado pelo deputado para justificar a origem e a legalidade do dinheiro é uma declaração da igreja, assinada pelo próprio deputado, que é o presidente da instituição. O documento diz que o dinheiro resulta do dízimo, mas não faz referência ao valor transportado. Nem o parlamentar soube dizê-lo de pronto.


Segundo o delegado, as explicações dadas pelos acompanhantes do deputado são ‘insuficientes’: ‘Não recebemos nenhuma comprovação veemente de que o dinheiro seja da Universal’.


As malas de viagem estavam lotadas de cédulas de diversos valores – variavam de R$ 5 a R$ 100. O volume de dinheiro era tão grande que foram requisitadas do Banco do Brasil cinco máquinas para contagem de cédulas, duas das quais tiveram problemas.


O advogado Sebastião da Costa Val, que acompanhava o deputado, disse que ‘não existe nenhuma ilegalidade’, que ‘o dinheiro não é dele [do deputado]’ e seria encaminhado para São Paulo. À noite chegaram à PF quatro advogados da Igreja Universal que vieram de São Paulo à Brasília tentar a liberação do dinheiro.


Vigias de dinheiro


No final da tarde, a PF deteve onze homens armados -oito pistolas e dois revólveres- na área externa das instalações da Superintendência. São policiais militares -dez do Distrito Federal e um de Goiás- que, à paisana, prestavam serviço de segurança para a Rede Record (braço de comunicação da igreja). Disseram que escoltavam o deputado e vigiavam o dinheiro apreendido.


Os documentos dos dois carros nos quais estavam os supostos seguranças estão em nome da Igreja Universal. A jornada dupla de policiais militares é irregular e eles deverão ser alvo de processo administrativo na corporação.


A Folha tentou contatar a Universal no início da noite de ontem, mas ninguém atendeu às chamadas. Sobre as malas, eles divulgaram uma nota na qual afirmam que a origem de dinheiro foi a coleta de doações dos fiéis por ocasião de cerimônias celebradas no dia 9 de julho, em comemoração aos 28 de fundação da Universal.


Primeiro mandato


Antes de chegar ao Congresso, em 2002, Ramos foi diretor-presidente da Rede Mulher de Televisão e da Rede Record. Economista, exerce seu primeiro mandato.


De acordo com a PF, Ramos e o grupo viajariam para Goiânia e, na sequência, seguiriam para São Paulo num jatinho arrendado pela igreja por US$ 90 mil mensais. Antes de pousar em Brasília, o avião passou por Manaus (AM) e Belém (PA). O contrato com a TAM é somente para atendimento e abastecimento da aeronave em solo, o que aconteceu uma hora antes da batida policial.


Todas as sete malas possuíam papéis indicando diferentes cidades, mas a PF não informou se os nomes indicariam a origem e o destino do dinheiro.


Segundo informaram a assessoria de imprensa da PF e o assessor jurídico da Câmara dos Deputados, Marcos Vasconcelos, o parlamentar teria permanecido na superintendência por sua livre e espontânea vontade. O dinheiro será depositado em uma conta judicial, segundo disse a PF.


PFL


Em reação para conter os danos à imagem do partido, o PFL convocou para hoje uma reunião extraordinária da Executiva para analisar o afastamento ou até a desfiliação de João Batista.


Após os esclarecimentos feitos pelo senador Marcelo Crivella (PL-RJ), em nome da Igreja Universal, sobre a origem e o destino do dinheiro, a principal preocupação do partido era se desvincular ao suposto ‘mensalão’, denúncia de pagamento de mesadas, em malas de dinheiro, a deputados da base aliada.


Para isso, os membros do partido querem pedir que o deputado se licencie do PFL durante as investigações.


Segundo o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), a Executiva irá analisar tecnicamente se o deputado está envolvido em algum ilícito e já pediram à PF cópia do auto de apreensão do dinheiro. Se houver ato criminal, será feita uma expulsão sumária.


‘Lamentamos o estrago político. Mas não vamos ser transigentes. Manteremos a atitude de oposição fiscalizadora e responsável’, disse Bornhausen, que interrompeu uma viagem por causa do incidente.’


 


Rainier Bragon


‘Deputado do PFL presidiu a Rede Record até 1996’, copyright Folha de S. Paulo, 12/7/05


‘O deputado federal João Batista Ramos, 61, ingressou na política em 2001, ano em que acertou com o PFL sua filiação. O acordo foi feito com o presidente estadual da sigla, Cláudio Lembo, hoje vice-governador, e com Gilberto Kassab, vice-presidente estadual do PFL e hoje vice-prefeito de São Paulo.


O entendimento consistia em dar legenda para que Batista disputasse as eleições de 2002. Além dele, ingressou no PFL na mesma época outro expoente da Igreja Universal, o hoje deputado federal Marcos Abramo.


Batista deixou então o cargo de diretor-presidente da Rede Família (que exercia desde 1998) e da Rede Mulher (que exercia desde 1999). Ele também já foi diretor-presidente da Rede Record de 1992 a 1996.


‘Eles nos procuraram há uns dois anos [em 2001, na verdade] e pediram a legenda. Eu conhecia o João Batista, pessoa de currículo excelente, homem de boa presença nos meios de comunicação, então não houve problema algum’, afirmou Lembo.


O vice-governador defendeu a concessão de ‘legenda partidária às minorias’ e afirmou ser contra o afastamento do deputado do partido antes que sejam analisados os argumentos prestados por ele à Polícia Federal.


Eleito deputado federal em 2002, João Batista teve atuação reservada, tendo votado quase sempre de acordo com a orientação do PFL. Economista, sua atuação no Congresso em nome da igreja é classificada por colegas como tendo um ‘perfil gerencial’ mais do que político.’


 


Elvira Lobato


‘TV foi paga em espécie, diz testemunha’, copyright Folha de S. Paulo, 12/7/05


‘Não é a primeira vez que dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus são associados a malas de dinheiro. A compra da TV Record do Rio de Janeiro, segundo depoimento prestado à Polícia Federal pelo ex-integrante da igreja José Antônio Alves Xavier foi paga em espécie.


No depoimento à PF, Xavier disse ter visto ‘uma quantidade enorme de dinheiro acondicionada em malas’ na noite em que a igreja fechou a compra da emissora, em junho de 1992. Ele presenciou a transação porque a TV foi adquirida em nome dele e de mais cinco fiéis que frequentavam o templo da Universal no bairro da Abolição, na zona norte do Rio.


O depoimento de Xavier consta do inquérito, em curso no STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga o suposto envolvimento da Universal com duas empresas de paraísos fiscais, Cableinvest e Investholding, que teriam financiado a compra da TV Record do Rio e de outras emissoras.


Documentos da Junta Comercial de São Paulo mostraram que a Cableinvest e a Investholding eram acionistas de outras empresas ligadas à Igreja Universal: Credinvest, Unimetro Empreendimentos e Cremo Empreendimentos. Um dos sócios da Cremo era o então presidente da Rede Família e Rede Mulher e hoje deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP), que ontem teve de prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre as sete malas com dinheiro que transportava em um avião.


O senador Marcelo Crivella (PL-RJ), sobrinho do bispo Edir Macedo, e o deputado federal João Batista Ramos (PFL-SP) são investigados no inquérito sobre a Universal.


Xavier afirmou à PF ter visto, além de malas de dinheiro, ‘armamento de grosso calibre’ e muitos seguranças na assinatura do contrato, e que, em seguida, a igreja tomou posse da TV, embora, oficialmente, os proprietários fossem os seis fiéis.


O Ministério Público Federal considera que já há prova da participação de Marcelo Crivella como dirigente da Investholding (empresa registrada nas Ilhas Cayman) e como proprietário beneficiário da Cableinvest. Crivella depôs na PF sobre o caso, em março, e negou o envolvimento com as duas empresas.


O caso começou a ser investigado em 1999, depois que a Folha revelou que as duas empresas bancavam investimentos da Universal e que haviam remetido pelo menos US$ 18 milhões para o Brasil, entre 1992 e 1994.


Outro inquérito


O deputado João Batista Ramos já responde a inquérito penal no STF por suspeita de falsidade ideológica e crime contra o sistema tributário, juntamente com o senador Marcelo Crivella. Eles foram acusados de ter permanecido como dirigentes da TV Cabrália, da Bahia, após assumirem o mandato parlamentar, em 2003, o que é proibido pela Constituição.


A acusação de falsidade ideológica decorre do fato de que, após assumir o mandato, eles teriam prestado declaração falsa sobre a inexistência de impedimento para que continuassem na função de sócio-gerente da emissora baiana.


Já a suspeita de crime contra a ordem tributária é porque eles teriam omitido a renda que receberam como dirigentes da TV.


Na defesa prévia feita à Procuradoria Geral da República, no ano passado, Ramos disse que pedira a sua substituição na empresa antes de ser eleito, em outubro de 2002, mas afirmou que a Junta Comercial dependia da anuência do Ministério das Comunicações para registrar a transferência, o que não teria acontecido.’


 


Elenilce Bottari e Flávio Freire


‘Deputado é investigado pelo STF por figurar em empresas ligadas à Record’, copyright O Globo, 12/7/05


‘RIO e SÃO PAULO. Em seu primeiro mandato como deputado federal pelo PFL-SP, João Batista Ramos da Silva acumula desde 1992 cargos e posições de importância na Igreja Universal do Reino de Deus. Bispo e um dos principais homens de confiança do bispo Edir Macedo, fundador da seita, ele é o atual presidente e seu nome consta em pelo menos cinco empresas ligadas à Rede Record no país como sócio ou dirigente, segundo o Ministério das Comunicações. Situação que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a investigá-lo.


O inquérito foi aberto em outubro passado a pedido do Ministério Público Federal para apurar a ocorrência de crimes de falsidade ideológica e contra a ordem tributária. João Batista consta como sócio-gerente da TV Cabrália, na Bahia, como um dos sócios da Rádio 99 FM de Santo André, da Rádio e Televisão Record de São Paulo, da Rádio Atalaia de Londrina, da TV Cabrália, na Bahia, e da Rádio e TV Record, das quais também é dirigente.


A Constituição e o Código Brasileiro de Telecomunicações proíbem que a diretoria ou a gerência de empresas de radiodifusão sejam ocupadas por pessoas com imunidade parlamentar ou foro especial.


Compra de emissora foi investigada pelo MPF


João Batista também é presidente licenciado da Rede Família de Comunicação Ltda e da Rede Mulher de Televisão Ltda. Pelo menos até 1999, o deputado era sócio da Unimetro Empreendimentos, que a Universal usa para administrar imóveis. A Unimetro, por sua vez, é associada das empresas Investholding e Cableinvest, ambas com sede em paraísos fiscais e responsáveis pelo empréstimo para a compra da TV Record Rio.


Tanto a compra da emissora como as empresas foram objetos de investigação do Ministério Público Federal, no inquérito que apura evasão de divisas por parte de membros da seita. Até 1999, pelo menos, João Batista figurava ainda na sociedade de uma outra empresa da Universal, a Cremo Empreendimentos, cuja atividade definida na Junta Comercial de São Paulo é prestar ‘serviços auxiliares a empresas, pessoas e entidades’.


Filiado ao PFL desde 2001, João Batista chegou à Câmara no ano seguinte. Formado em economia, em 2000 esteve envolvido em uma série de denúncias sobre contrabando de equipamentos.


Presidente do PFL-SP: ‘pouquíssimas informações’


À época, o Tribunal Regional Federal (TRF) o acusou, juntamente com o fundador da Universal, Edir Macedo, e outros cinco pastores, de crime de descaminho e uso de documento falso em importação de equipamentos para a Rádio Record, que pertence à igreja.


O prestígio que tem entre os evangélicos não se repete no PFL. No diretório estadual, os assessores não têm informação sobre o deputado. O presidente estadual do partido, o vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, disse ter ‘pouquíssimas informações’ sobre ele.


Nascido no Rio de Janeiro, onde trabalhou como auxiliar de escritório, João Batista foi técnico em contabilidade no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e economista da Embratel. Da estatal, convertido à religião evangélica, assumiu a presidência da Rede Record de Televisão entre os anos de 1992 e 1996.


COLABOROU Carolina Brígido’


 


Ricardo Brandt


‘De auxiliar de escritório a dono de império de comunicação’, copyright O Estado de S. Paulo, 12/7/05


‘Detido ontem com sete malas de dinheiro no Aeroporto de Brasília, o deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP), de 61 anos, é um dos homens de confiança dos negócios da Igreja Universal. De ex-auxiliar de escritório da companhia de gás Gasbras, no Rio, e funcionário da Embratel, o bispo João Batista, como é conhecido, virou um executivo da área de comunicação pelas mãos da Universal.


Entre 1992 e 2002 Batista ocupou o maior cargo, o de diretor-presidente, das emissoras de TV ligadas à igreja: Rede Record, de 1992 a 1996, Rede Família, de 1998 a 2002, e Rede Mulher, de 1999 a 2002. Durante esse período, o deputado aproveitou para montar um pequeno império pessoal das comunicações. Adquiriu cotas de sociedade em nove empresas do setor espalhadas pelo País, entre rádios e televisões – quatro já vendidas -, segundo sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral em 2002.


Seu patrimônio oficialmente declarado, de R$ 1,5 milhão, é composto ainda por duas empresas das quais aparece como sócio: a LM Consultoria Empresarial e Participações e a New Tur – Novo Turismo.


Tido no PFL como um homem de poucas relações partidárias, o bispo João Batista entrou para a legenda em 2001, com o objetivo de ser candidato pela Igreja Universal. Foi eleito com 121,2 mil votos.


O período de atuação nas emissoras de TV e de compra de suas empresas coincide com a época em que a Universal é apontada como beneficiária de um esquema de evasão de divisas e sonegação fiscal que teria rendido pelo menos US$ 18 milhões para a igreja.


A Universal é investigada pelo Ministério Público Federal desde 1999, por supostamente manter duas empresas, a Cableinvest Limited e a Investholding Limited, em paraísos fiscais. As empresas teriam sido usadas de 1992 a 1994 para remessas de dinheiro, via doleiros do Uruguai, para líderes da igreja e para laranjas. Um dos negócios investigados é a compra da Record do Rio, em 1992.


Bispo João Batista é um dos investigados pelo Ministério Público Federal no processo. Cruzamentos de dados da Receita Federal mostram que pelo menos R$ 56 milhões foram parar em contas de bispos da igreja, entre eles João Batista.


Ele seria também sócio, juntamente com as duas empresas investigadas, da Unimetro Empreendimentos – usada para administrar imóveis da igreja.’


 


CRISE E REFORMA


Tânia Monteiro e Leonencio Nossa


‘Presidente troca mais quatro ministros e rebaixa Gushiken’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/7/05


‘BRASÍLIA – Ao promover mais uma etapa da reforma do primeiro escalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu rebaixar o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, responsável por toda a publicidade federal. Gushiken perdeu o status de ministro e, a partir de agora, sua secretaria ficará subordinada à Casa Civil do Planalto, comandada por Dilma Rousseff. De acordo com informações oficiais da Presidência, Gushiken – um dos petistas que são alvo de denúncias – continuará a cuidar da estratégia de comunicação do governo.


As mudanças foram anunciadas pelo próprio Lula durante reunião ministerial de uma hora e quinze minutos realizada no Salão Oval do Palácio do Planalto, logo depois da posse do sindicalista Luiz Marinho no Ministério do Trabalho. Gushiken não participou desse encontro. O presidente, que prometera concluir a reforma nesta semana, embarcou ontem para uma viagem de três dias à França e adiou o desfecho para a semana que vem.


Ainda assim, muitas decisões já foram tomadas. Outra secretaria que perdeu o status especial foi a de Direitos Humanos, que passará a ser subordinada ao Ministério da Justiça. Ao contrário de Gushiken, o titular dessa secretaria, Nilmário Miranda, decidiu deixar o governo imediatamente, com a alegação de que precisa se dedicar à campanha interna pela presidência do PT de Minas.


FUSÃO DE MINISTÉRIOS


Lula anunciou também a criação da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e Relações Institucionais, que ficará sob a gestão de Jacques Wagner. A nova secretaria terá status de ministério e resultou da fusão do chamado ‘Conselhão’ com a Secretaria de Coordenação Política, cujo titular, Aldo Rebelo, vai finalmente reassumir o mandato de deputado pelo PC do B de São Paulo.


Além de Aldo, vão voltar para o Congresso os ministros de Ciência e Tecnologia, deputado Eduardo Campos (PSB-PE), e da Previdência, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Campos será substituído pelo atual presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Sérgio Resende, que é filiado ao PSB. Não foi divulgado quem ficará no lugar de Jucá, embora um dos nomes mais cotados seja o do atual secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy.


O ministro afastado da Previdência é outro que está sendo alvo de denúncias e é até objeto de investigação aberta por autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Lula não deu indicação também sobre a eventual substituição do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que também está sob investigação do STF.


NOMEAÇÃO E EXTINÇÃO


Embora tenha confirmado na reunião que o novo presidente do PT, Tarso Genro, vai deixar o Ministério da Educação no dia 27, Lula não citou o nome de seu substituto, que já é conhecido: Fernando Haddad, atual secretário-executivo do MEC. Para segunda-feira, aguarda-se a nomeação do substituto de Jucá, possivelmente do sucessor de Meirelles e até mesmo a extinção da Secretaria da Pesca, que será reincorporada ao Ministério da Agricultura.


Também deverá ser anunciada a substituição dos presidentes da Infraero, Carlos Wilson, e da Petrobrás, José Eduardo Dutra, que serão candidatos nas próximas eleições. Lula pediu para que os ministros decididos a disputar cargos eletivos em 2006 deixem seus cargos agora para que os programas de governo não sofram modificações logo início do ano que vem, atrapalhando a gestão administrativa.


A idéia do presidente é de dar início a um enxugamento da máquina administrativa, com a redução do número de cargos de confiança.’


 


Vera Rosa


‘Secretário ficou no governo após garantir blindagem’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/7/05


‘FÓRMULA: Luiz Gushiken, secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, só concordou em permanecer na equipe de Lula se tivesse uma blindagem do Palácio do Planalto. Foi essa a conversa que ele teve com Lula na sexta-feira, dois dias depois de pedir demissão. A fórmula encontrada para proteger Gushiken – alvo de denúncias envolvendo fundos de pensão e aumento da publicidade da revista de um cunhado – foi vincular a Secom à Casa Civil. Em outras palavras: ele perdeu status de ministro e poder.


‘Assim eu saio de foco’, afirmou Gushiken, na conversa com o presidente. ‘Isso é bom para o governo, para mim, minha família, todo mundo.’ Ele disse estar sofrendo um ‘massacre’ por parte da imprensa e garantiu não ter influenciado nenhum contrato dentro do governo.


Em nota divulgada ontem à noite, a Secom afirma que Gushiken solicitou ao controlador-geral da União, Waldir Pires, maior controle em sua pasta, além do que já é efetuado pela Casa Civil. Ele quer que Pires indique um corregedor para a Secom. No texto, também diz que encaminhará às emissoras de rádio e ao Congresso a proposta de ‘flexibilização’ da Voz do Brasil. Desta forma, cada emissora poderá pôr o programa no ar no horário que julgar mais conveniente.


Apesar de afirmar que agora quer ser um mero ‘cumpridor de ordens’, Gushiken assegurou na nota que foi ele que apresentou medidas para a reforma da comunicação, iniciada neste ano com a fusão do gabinete do porta-voz e da Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência.’


 


Eliane Cantanhêde, Valdo Cruz e Ana Flor


‘Gushiken diz ter sugerido mudança de status’, copyright Folha de S. Paulo, 13/7/05


‘Um dos principais conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até aqui, Luiz Gushiken perdeu ontem não apenas o status de ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica como também a vaga cativa na reunião de coordenação política do governo.


Gushiken mantém a função de chefiar a comunicação e definir as contas de publicidade do governo, mas como secretário e subordinado à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.


Sob suspeita de favorecimento de seus ex-sócios numa empresa de consultoria, Gushiken nem mesmo participou da reunião ministerial de ontem. Estava em São Paulo e dali viajou ao Rio de Janeiro. Na versão dos que são próximos a ele, Gushiken acertou toda a sua mudança de status no governo numa reunião a dois com Lula, na semana passada.


Em nota divulgada ontem, Gushiken afirma que partiram dele as sugestões de tornar a Secom uma secretaria de outro ministério e de tirar o status de ministro de seu dirigente. Ele teria sugerido ainda que o presidente ampliasse a coordenação de governo.


Há, entretanto, a desconfiança de que a decisão tenha sido unilateral de Lula, que na reunião ministerial de ontem comunicou que a Secom (Secretaria de Comunicação) passaria a ser subordinada à Casa Civil, sem fazer nenhum elogio nem mesmo menção ao velho amigo Gushiken.


Na sexta-feira, ao dar posse aos três novos ministros do PMDB, Lula fora enfático ao dizer que Gushiken seria mantido no cargo.


Com o esvaziamento do poder de Gushiken no governo, Lula perde mais uma ponta do seu tripé político inicial, formado por José Dirceu na Casa Civil, Gushiken cuidando da publicidade e Antonio Palocci Filho na Fazenda. Dirceu voltou à Câmara como deputado, e Gushiken perde espaço. A tendência é a de que deixe o governo no médio prazo.


Resta Palocci e emergem na cena política o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, cada vez mais ouvido por Lula, e o ministro Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), que passa a acumular a coordenação política.


Gushiken tinha um papel de moderador nas crises internas e era considerado o conselheiro ‘zen’ do presidente. Sua perda de prestígio corresponde a denúncias de que, no atual governo, houve aumento do faturamento da empresa Globalprev, que pertence a seus ex-sócios e funciona na casa de um parente seu. Além disso, há denúncias de que a revista de um cunhado do ministro vinha sendo favorecida em cotas de publicidade oficial.


Na nota de ontem, Gushiken fala ainda de medidas que atingem a área de comunicação do governo. A primeira que ele tomou foi encaminhar às rádios e ao Congresso Nacional a discussão de uma ‘proposta de flexibilização’ da ‘Voz do Brasil’, programa transmitido em rede nacional e obrigatório. O projeto deve fazer com que o horário de retransmissão do programa -que hoje ocorre diariamente às 19h- fique a cargo da emissora.


A terceira medida parece ser relacionada às denúncias de favorecimento que atingem o ministro. Ele solicitou à CGU (Controladoria Geral da União) a indicação de um corregedor para controle interno da Secom.’


 


Eliane Cantanhêde, Eduardo Scolese e Ana Flor


‘Lula reclama de invasão de sua vida privada’, copyright Folha de S. Paulo, 13/7/05


‘No seu discurso mais incisivo desde a eclosão da atual crise política, feito ontem durante a reunião ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de ‘baixaria’ e ‘golpe baixo’ o que disse ser uma suposta invasão da sua privacidade. Segundo ministros que estiveram na reunião, realizada sem a presença da imprensa, o presidente se referia às reportagens que revelaram a sociedade da Gamecorp, empresa que tem o filho do presidente Fábio Lula da Silva como um dos donos, com a Telemar.


Conforme a Folha apurou com participantes da reunião, Lula disse: ‘Estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é uma baixaria, um golpe baixo, um desrespeito. Isso é irracional’. Ele atribuiu as denúncias a ‘ex-arapongas’ que serviram a governos anteriores. Foi o momento mais tenso da reunião, com os ministros diante de um presidente nervoso e visivelmente emocionado.


Reportagens veiculadas nos últimos dias revelaram que a Telemar investiu R$ 5 milhões na produtora Gamecorp. O negócio, já na pauta de investigações do Congresso, foi intermediado pela empresa de auditoria DBO Trevisan, cujo principal sócio é Antoninho Marmo Trevisan, amigo de Lula.


Ontem, Lula também criticou o PT por ter, no primeiro momento, se mobilizado contra a CPI dos Correios. Justificou que estava distante do país, no Japão e na Coréia, e que só depois percebeu a importância das denúncias e da comissão. ‘O PT errou. Ninguém pode ser contra a CPI.’


Lula disse que ainda ‘não sabe’ se disputará a reeleição em 2006. O presidente afirmou, num processo de médio ou longo prazo, ser a favor de um mandato presidencial de cinco ou seis anos sem direito à reeleição. Mas atacou a tentativa da oposição de optar por isso já no ano que vem.


Na seqüência, o presidente fez uma menção direta aos governadores tucanos Geraldo Alckmin (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais), dizendo que os respeita como adversários.


Cobrou rigor contra desvios, mas também ‘disposição de combate’ para reagir a denúncias, dar respostas à opinião pública e manter a confiança da sociedade e da militância que elegeu o governo federal. Pediu ainda ‘muito trabalho’ à equipe.


Lula anunciou que na próxima semana haverá outra reunião ministerial, para anunciar um ‘pacote de medidas contra a corrupção’, que vem sendo elaborado pelos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Waldir Pires (Controladoria Geral da União).


Segundo o ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Lula fez um discurso ‘positivo e forte’: ‘Ele demonstrou que tem uma visão lúcida e clara da dimensão da crise e do momento pelo qual o país passa e conclamou todos a reagir’.


Lula se mostrou ‘indignado’ com o que classificou de ‘exageros da oposição’. Na sua opinião, estão culpando e criminalizando tudo e todos por causa de qualquer indício e sem nenhuma prova. ‘Qualquer um que denuncie tem espaço garantido.’


O presidente também pediu mais disposição da equipe para defender um ‘projeto que tem raiz e história’ e os ‘companheiros que têm uma vida dedicada a uma causa’.


Foi a décima reunião ministerial de seu governo, a segunda deste ano, e ele justificou a importância de dar mais espaço ao PMDB no primeiro escalão federal para ampliar o diálogo com o Congresso. Disse, ainda, que todas as ações e programas de governo devem ser ‘acelerados’ a partir de agora.


A reunião foi dividida em duas partes e ele falou durante uma hora e meia, diante de 30 ministros. Na primeira parte, anunciou os novos ministros e prometeu para a próxima segunda-feira a conclusão da reforma.


Citou nominalmente os ministros Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), dizendo que pediu seus retornos à Câmara para reforçar a articulação do governo no Congresso.


Na segunda parte, fez o discurso político, considerado como o início da contra-ofensiva contra a crise. Momentos antes de embarcar para a França, Lula disse que a partir do mês que vem irá priorizar os deslocamentos nacionais.’


 


Carlos Heitor Cony


‘Molho nas barbas’, copyright Folha de S. Paulo, 13/7/05


‘RIO DE JANEIRO – Em século passado, quando eu era menino, ficava espantado nas aulas de catecismo. Não me interessava a leitura, mas as gravuras. E todos os homens ali eram barbudos. Nem Deus-Padre escapava. Era um barbudo como os outros, no centro de um triângulo luminoso, que, mais tarde, virou caixinha de fósforo da marca ‘Fiat lux!’


Por que todos eles eram barbudos? Durante os anos de minha infância, também havia barbudos, mas poucos. Tão poucos que qualquer um deles arrastava o apelido de ‘barbudo’. Era ao mesmo tempo uma referência, um sinal que os distinguia dos demais, como o ceguinho, o coxo, o maneta, tudo politicamente incorreto pelos padrões atuais.


Bem mais tarde, durante a onda hippie da paz, do amor, da contestação da sociedade opressora, machista, consumista e hipócrita, alguns jovens também usaram barba. Não sei por que, era uma forma de agredir os valores de um tal ‘status quo’ que eu nunca entendi direito, pois tudo no mundo sempre foi um sucessivo, um monótono ‘status quo’.


Até que vieram os tempos de redenção com o PT e suas barbas, que davam a seus adeptos a aparência de figurantes de uma via-sacra, personagens saídos do catecismo de minha infância. A cara raspada de Collor e a barba então espessa de Lula eram emblemas de dois universos, de duas visões de mundo.


Mundo que girou enquanto a Lusitana rodou. Lula e outros barbudos chegaram ao poder. Estão agora mais ou menos encalacrados. É raro o dia em que os jornais não estampam um barbudo que entrou em fria. Não botaram as barbas de molho ou a culpa foi do molho que botaram nas respectivas barbas?


Nada contra as barbas. Pelo contrário: quem jogou molho em cima delas foi um publicitário sem barba e sem cabelo, um careca integral, radical, que parece habitante de um desses planetas dos filmes de ficção científica. Daí que ter ou não ter barba nada prova, nem contra nem a favor. O que prova realmente alguma coisa é o molho.’




 


 


Luiz Francisco


‘Petista segue popular, aponta pesquisa’, copyright Folha de S. Paulo, 13/7/05


‘As denúncias de corrupção envolvendo o governo e o agravamento da crise política não afetaram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com a pesquisa Sensus divulgada ontem pela CNT (Confederação Nacional do Transporte).


Embora 40,3% dos 2.000 entrevistados considerem que a corrupção aumentou no governo Lula -9,1 pontos percentuais a mais do que em maio-, a avaliação pessoal do presidente oscilou positivamente, passando de 57,4% (maio) para 59,9% o total dos que aprovam sua administração -2,2 pontos percentuais a mais do que em relação à pesquisa anterior. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.


Já a desaprovação em relação ao desempenho pessoal do presidente caiu de 32,7% para 30,2% -a variação permanece dentro da margem de erro da pesquisa, realizada entre os dias 5 e 7.


Segundo a maioria dos entrevistados, o escândalo da corrupção está mais vinculado à Câmara dos Deputados e ao próprio PT. ‘Até agora, a blindagem que fizeram em cima do presidente Lula e a melhoria da economia nos últimos seis meses funcionaram perfeitamente’, disse Clésio Andrade, presidente da CNT e vice-governador de Minas pelo PL.


Para 35,4% dos entrevistados, o escândalo está ligado à Câmara; para 31,2%, ao PT; e para 12%, ao presidente Lula. Segundo 45,7% das pessoas ouvidas, o presidente não tinha conhecimento prévio das denúncias sobre o suposto pagamento de ‘mensalão’ na Câmara e de corrupção nas estatais. Para outros 33,6%, Lula sabia das denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).


A maioria dos entrevistados (76%) tem acompanhado ou tomou conhecimento das denúncias apresentadas pelo presidente licenciado do PTB -67,1% consideram que Jefferson fala a verdade e outros 18,1% não crêem nas afirmações do parlamentar.


Os entrevistados (47,8%) classificaram como positivas as atitudes tomadas pelo presidente no combate à corrupção. Para 31,9%, o presidente age de forma errada.


Os dados da pesquisa CNT/Sensus revelam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria um segundo mandato se as eleições fossem realizadas hoje. Na pesquisa espontânea (quando os entrevistados dizem em quem pretendem votar sem um cartão com nomes), Lula aparece com 21,1%, seguido pelo prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que tem 4,5%, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com 1,9% e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também do PSDB, que tem 1,8%, aponta a pesquisa.


Nos cenários estimulados (quando os entrevistados vêem os nomes dos candidatos), o presidente Lula somente disputaria o segundo turno na eventual candidatura do prefeito Serra. Nesse caso, no primeiro turno, Lula teria 37,1% dos votos, contra 19,1% de Serra, 9,8% de Anthony Garotinho (PMDB), 6,6% de César Maia (PFL), 3,1% da senadora Heloisa Helena (PSOL) e 0,8% do sociólogo Roberto Mangabeira Unger.


Sem o nome do seu adversário no segundo turno da última eleição, o presidente venceria no primeiro turno. Os pesquisadores ofereceram ainda uma lista de seis nomes para a disputa de um eventual segundo turno -em todas, o presidente Lula venceria a disputa com uma ampla margem -a menor diferença seria se o seu adversário fosse Serra (46,3% contra 32,7%). A maior diferença seria na disputa com César Maia (54,5% contra 16,8%).


‘Os resultados demonstram que, se as eleições fossem disputadas hoje, o presidente Lula seria imbatível e sem adversário à altura’, disse Clésio Andrade. Realizada em 24 Estados e 195 municípios, a pesquisa foi feita em áreas urbana e rural e os entrevistados foram divididos por sexo, renda, idade e escolaridade.’


 



MUSA DA CPI


Kátia Brasil


‘Karina diz que pode se candidatar a deputada federal’, copyright Folha de S. Paulo, 13/7/05


‘Depois de ter ido à CPI dos Correios, em meio à crise política, depor como testemunha sobre o suposto pagamento de ‘mensalão’ a parlamentares, a secretária Fernanda Karina Somaggio decidiu ser candidata a deputada federal pelo PSDB nas eleições de 2006.


Ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza na agência SMPB, Karina diz em entrevista à Folha que tomou a decisão com base na notoriedade que ganhou nas ruas de Belo Horizonte com sua exposição no episódio.


Na entrevista abaixo, Karina diz que as investigações ainda não chegaram à pessoa-chave do suposto esquema do ‘mensalão’. ‘O Marcos Valério é um intermediário. O sócio dele, Cristiano de Mello Paz, veio de família rica, é de alto relacionamento, e não foi investigado até agora.’


A assessoria do empresário Cristiano Paz, presidente da agência SMPB Comunicação, disse ontem que, por ser publicitário, ele tem relações profissionais com diversas pessoas, inclusive com políticos de Belo Horizonte.


A secretária está sendo processada por Valério por tentativa de extorsão. O processo é anterior às primeiras denúncias sobre a suposta existência do esquema de ‘mensalão’.


Karina, que se declara admiradora da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), afirma que sua agenda -em poder da Polícia Federal e da CPI dos Correios- já revelou muita coisa, mas que as agendas de outras secretárias podem revelar muito mais.


Folha – O que mudou na sua rotina após sua ida à CPI dos Correios?


Fernanda Karina Somaggio -Eu moro no mesmo endereço. A minha vida está uma bagunça. É complicado porque tenho uma filha e não posso sair de casa, não posso ficar andando na rua pela segurança. No momento estou em férias do trabalho.


Folha – Como suas revelações na CPI refletiram na convivência com sua filha e com seu marido?


Karina -Eu e meu marido explicamos à ela que quando eu trabalhava com o Marcos Valério eu vi algumas coisas que eram importantes, não falei de ‘mensalão’ e muito dinheiro, ela não iria entender. Estou em paz com minha família, não tenho meu coração contrito nem a cabeça pesada.


Folha – Como a sra. avalia as atuais investigações do escândalo do ‘mensalão’?


KarinaEu espero, sinceramente, que as pessoas envolvidas com tudo isso que está acontecendo sejam punidas. Tem pessoas que não foram investigadas. O Marcos Valério é um intermediário, um operador. O sócio dele, Cristiano de Mello Paz, veio de família rica, é de alto relacionamento, e ainda não foi investigado.


Folha – Na SMPB, qual era o relacionamento do Cristiano de Mello Paz na SMPB com pessoas do governo federal?


Karina -O Cristiano conhece várias pessoas, como o ministro [Walfrido] Mares Guia [Turismo]. Tem muita amizade com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves [PSDB], mas com o Mares Guia ele conversava sempre.


Folha – O que a sra. sabe sobre o relacionamento do Cristiano com o Mares Guia?


Karina – Eles nunca conversavam na empresa. O Cristiano tem uma fazenda e ele [Mares Guia] sempre ia para lá.


Folha – E qual era a freqüência da troca de telefonemas entre os dois?


Karina -Eram muitos telefonemas, todos os dias. Eu não sabia o que eles tratavam, mas ele [Cristiano] sempre dizia que era amigo íntimo do Mares Guia.


Folha – A sra. chegou a anotar na sua agenda alguma reunião entre os dois?


Karina – Não, eu não era a secretária dele, a secretária dele [Cristiano] é a Adriana Fantini Boato. A agenda dela pode revelar isso.


Folha – Mas a Adriana Boato não é só secretária, ela aparece como sócia de uma empresa.


Karina – Ela é uma das sócias da empresa 2S Participações. O outro sócio é o chefe dos motoboys da SMPB, Orlando Martins.


Folha – A sra. tornou-se uma figura popular, cumprimentada pelas pessoas na rua. Já tem pretensões políticas?


Karina -Fui sondada pelo PSDB e tenho coragem de me candidatar, sim. Gosto muito do que a Heloísa Helena [senadora do PSOL-AL] faz e gostaria de ser deputada federal. Eu amo política, sempre gostei, mas sempre fui petista, voto no Lula desde os 16 anos. Quando ele ganhou achei o máximo. ‘Agora vai ter uma pessoa que foi da gente’, pensei.


Folha – Mas, se a sra. tem simpatia pelo PT, escolheria o PDSB?


Karina – Nunca fui tucana, mas acho que tem que ser um partido que tenha visibilidade política, não quero ficar lá [no Congresso] com um monte de gente que está lá e não serve pra nada.’