Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Telefônicas querem
disputar mercado de TVs


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de julho de 2006


TELEVISÃO
Renato Cruz e Marina Faleiros


Operadoras de telefonia brigam por espaço no mercado de televisão


‘A definição do padrão de TV digital foi só o começo da briga entre operadoras de telecomunicações e empresas de televisão. Com a recente escolha da tecnologia japonesa para a TV digital, as emissoras conseguiram fechar as portas para novos concorrentes. Agora, as teles estão buscando outro caminho para se lançar no mercado televisivo e, para isso, voltam a enfrentar as emissoras numa disputa política.


As operadoras de telefonia querem desenvolver no País a IPTV, sigla em inglês para televisão por protocolo de internet. Por enquanto, o sistema ainda não chegou ao Brasil porque há uma disputa em torno da lei que regula as transmissões de TV. Até agora, o esforço das operadoras em convencer o governo não tem dado resultados. Como no caso da TV digital, ele tem ficado ao lado das emissoras.


Com a IPTV, as teles podem transmitir televisão pela linha telefônica e competir com a TV aberta e com a TV a cabo. As empresas de telefonia consideram essencial para a sua sobrevivência oferecer, num único pacote, voz, dados e imagem. ‘As operadoras sofrem uma competição muito agressiva’, afirmou Ricardo Distler, sócio responsável por Estratégias em Comunicações da consultoria Accenture.


A IPTV ainda está começando em todo o mundo. Somente duas empresas têm mais de 500 mil assinantes: a Free (França) e a PCCW (Hong Kong). Mas o mercado é promissor. Globalmente, a IPTV deve movimentar, até 2010, US$ 10 bilhões, com 25 milhões de usuários, segundo a Accenture.


Com as licenças que têm hoje, as teles brasileiras não podem operar o sistema. ‘Para oferecer TV a cabo, é necessário uma outorga de TV a cabo’, afirmou o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Roberto Pinto Martins. Não existem planos de mudar a legislação.


As operadoras poderiam comprar uma licença, mas a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não está fazendo licitações. Ou adquirir uma empresa que possui licença. As alternativas, porém, não estão disponíveis a uma operadora como a Telefônica, de origem espanhola. A Lei do Cabo exige que as companhias tenham controle nacional. Diante disso, a Telefônica pediu à Anatel uma licença de TV paga via satélite, que não tem restrição ao capital estrangeiro.


‘Do ponto de vista regulatório, existe uma enorme zona cinzenta’, afirmou Alexandre Annenberg, diretor executivo da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA). ‘Mas algumas premissas precisam ser respeitadas: as regras têm que ser as mesmas aplicadas aos operadores atuais.’


A Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) fez um estudo em que defende a revisão do modelo de telecomunicações, com a entrada das teles em TV por assinatura pela IPTV e a TV via celular. Ele foi entregue a ministros e a parlamentares, sem resultado.


‘O que não pode acontecer é que os serviços sejam confundidos e misturados’, afirmou Ronald Barbosa, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). ‘A digitalização é como uma auto-estrada onde circula todo tipo de veículo, que não são os mesmos e não fazem a mesma coisa.’


O problema da competição entre teles e emissoras está na diferença de tamanho. Em 2005, a Globo faturou R$ 5,3 bilhões, o equivalente a 5% das receitas globais da Telefónica. A receita da Globo foi pouco mais de 20% do que o da Telemar, maior operadora brasileira. ‘Eles têm poder de mercado. Podem querer oferecer espaço para anunciantes de graça por um ano. O que acontece com o resto?’, questionou um executivo do setor de TV paga.’


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Telemar, Telefônica e BrT vão lançar novo serviço de TV


‘Mesmo sem mudança da lei, companhias telefônicas preparam transmissão de programas ainda este ano


Mesmo sem mudança na lei que regula as transmissões de tevê, as operadoras de telefonia já preparam sua entrada no mercado televisivo. Telemar, Telefônica e Brasil Telecom (BrT) têm planos para lançar serviços de TV com transmissão por linha telefônica. A princípio, a oferta de serviços deverá ser limitada por causa da lei.


A Telefônica quer oferecer, ainda neste ano, serviços de IPTV no Estado de São Paulo. A BrT até marcou data para estrear o serviço: em setembro, a empresa vai lançar um projeto piloto com 300 clientes. Já os planos da Telemar são para o primeiro semestre de 2007.


‘Com o IPTV, teremos na TV toda a interatividade da internet, ou seja, o número de canais passa a ser ilimitado e ela terá funcionalidades como um DVD, como dar pause ou pular um comercial’, diz Alberto Blanco, diretor de novos negócios da Telemar.


‘Um telespectador que gosta da novela das seis, poderá aproveitar os recursos para assisti-la às 11 horas da noite’, continua Blanco. ‘É lógico que tudo será acordado entre nós e as fornecedoras de conteúdo. Mas, do ponto de vista tecnológico, já podemos fazer isso.’


A operadora de TV a cabo Net coloca em dúvida a viabilidade do serviço a curto prazo. ‘Ainda não conseguimos transmitir IPTV com a velocidade e a qualidade que queremos’, afirma o presidente da empresa, Francisco Valim.


Para ele, a televisão sempre terá a necessidade do conteúdo ao vivo, mas outros negócios podem surgir, como programas sob demanda, principalmente na área de entretenimento. ‘Filmes e seriados poderão ser comprados e isso terá um valor agregado, mas todo mundo quer ver noticiário e jogos ao vivo.’


Outra operadora de TV a cabo, a TVA, tem realizado testes de IPTV. A companhia diz, em nota, que ‘há grandes desafios para as empresas lançarem este serviço’. Entre eles estão a regulamentação do setor, a baixa penetração de internet de banda larga e a falta de provedores de conteúdos.


Mesmo com todas as dificuldades e disputas envolvendo a IPTV, as empresas de tecnologia apostam no novo sistema. Com a necessidade de convergência cada vez maior entre dados, imagens e voz, os fabricantes de softwares estão trabalhando em ritmo acelerado para desenvolver os serviços próprios para a IPTV.


Em 2005, a Cisco, uma das maiores empresas do mundo de tecnologia, adquiriu por US$ 6,9 bilhões a Scientific-Atlanta, especializada em softwares para uso de imagens na internet. Na semana passada, o presidente da empresa, Bob McIntyre, esteve no País para mostrar que a tecnologia para os novos serviços já está disponível. ‘Estou encontrando todos os possíveis clientes e passando a mensagem de que temos as soluções de vídeo, dados e voz, tudo no plano da banda larga’, disse McIntyre.


Para ele, a IPTV terá mercado maior que a TV a cabo, pois o número de assinantes de banda larga cresce no mundo todo – no Brasil, entre 2004 e 2005, o crescimento foi de 73%. Em outras regiões do mundo, ele conta que os projetos começaram a sair do papel. ‘Cada cliente está num estágio e precisa de soluções próprias. Nos EUA, estamos com a AT&T. Na Europa, com Deutsche Telecom.’’


Cristina Padiglione


Prova sai bem na fita


‘É certo que Prova de Amor tenha nascido de um mix de receitas já avalizadas por meio de antigas novelas da Globo, mas nem por isso perde seus méritos. Afinal, muitos são os folhetins que se dão mal mesmo quando calçados em fórmulas manjadas, incluindo remakes. Prova é a primeira novela urbana contemporânea que faz cócegas no até bem pouco tempo inabalável ibope da Globo.


Foram quase nove meses de história com a maior média de ibope da emissora no gênero (16 pontos, com 25% de share), em dados consolidados até o fim de junho.


Pelas contas da Record, a novela ajudou a localizar quatro crianças desaparecidas. Mote de merchandising social feito por Glória Perez em Explode Coração, a questão foi retomada por Prova de Amor. E, no caso de merchandising social, imitar não é mal algum – ao contrário.


O desfecho, feito com ajuda de telespectadores e anunciado como inovadora interatividade em folhetim, vai ao ar hoje para dar lugar, amanhã, a Bicho do Mato, que imita a extinta TV Manchete não só no cenário, nas lendas e macetes cabíveis ao pantanal mato-grossense, mas também na estratégia de estrear numa terça-feira.


A megera da vez


Marta (Lília Cabral), que promete ser a nova Bia Falcão, dá mais uma demonstração de maldade hoje, quando sua filha Nanda (Fernanda Vasconcellos) chega ao Brasil para contar que está grávida. Mais para frente, quando Nanda morrer, Marta vai renegar a neta.


TV Gazeta agenda dois debates


Além de Globo e Bandeirantes, a TV Gazeta entra no páreo eleitoral disputando vaga nas agendas dos candidatos aos governos federal e estadual (São Paulo). Em reunião com os representantes dos candidatos, a emissora agendou para 9 de agosto um debate estadual e para 13 de setembro um embate rumo à presidência.


Como a ausência de um ou outro candidato não fere a lei eleitoral, os debates ocorrerão, segundo a Gazeta, de qualquer forma. A mediação será de Maria Lydia – que hoje estréia novo cenário no Jornal da Gazeta.’


PROJETO DA FENAJ
A revolução da boçalidade


Reinaldo Azevedo


‘A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) realizou em Ouro Preto o 32º encontro da ‘catchiguria’. Jornalistas empregados não puderam comparecer. Estavam trabalhando – uma exigência de seus patrões malvados, que comem a vovozinha. Deveriam comer Chapeuzinho. O Vermelho. A palestra de abertura, no dia 5, foi feita por Marilena Chauí, uma estranha e ambivalente criatura. Como petista, é filósofa; como filósofa, é petista. No partido, é uma inoperante prática; na filosofia, uma extravagante teórica.


O trabalho de media criticism no Brasil é um braço do PT. Perueiros e jornalistas sindicaleiros têm algo em comum: servem ao mesmo patrão, um partido. A revista Imprensa se diferencia. Foi no seu portal que li primeiro a sharia de Marilena contra os meios de comunicação. Ela abandonou a sua madrassa na USP para incitar os conjurados de Ouro Preto. O site da Fenaj traz o melhor da sua intervenção, que segue em itálico: ‘(…) o jornalismo se tornou hoje um dos principais protagonistas da destruição da opinião pública. (…) os meios de comunicação cumprem uma função de reprodução e valorização da ideologia capitalista (…). Com a onda de neoliberalismo instalada no mundo, está ocorrendo o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado (…). Ela cita que há uma verdadeira ‘saturação de informações’ que, assim, contribui para desinformar a população à medida que inibem a reflexão crítica.’


Uma pessoa alfabetizada não emprega assim o verbo ‘citar’. Certas coisas são indecorosas. Não sei como madame conseguiu sair de casa depois que o saudoso José Guilherme Merquior, nos idos de 1980, evidenciou a ‘influência’ que Claude Lefort exercia sobre ela. Ou melhor, sei. É precursora de uma tática tornada um método no seu partido: em caso de flagrante, negue, parta para o contra-ataque e acuse um golpe.


Foi o que fez. Até abaixo-assinados contra Merquior circularam na USP. Essa gente é capaz de levar Fédon a um tribunal para que o Comissariado de Assuntos Filosóficos decida se são válidas as provas da imortalidade da alma. Até Lefort saiu em socorro de Marilena, sem contestar o mérito do que Merquior dissera. Eles adoram um cartório. Melhor ainda se for acadêmico.


Madame é a Tati Quebra-Barraco da filosofia. Seu pensamento é pleno de palavras de duplo sentido e apela à barbárie. É claro que a fatwa contra a imprensa buscava atingir os ‘patrões’. Nós, jornalistas, somos menores de idade ou escravos subjugados por capitães-do-mato. Não lhe ocorre que é possível ser jornalista e gostar do capitalismo por boas e severas razões. Marilena esperneia porque sabe que a esquerda dá o tom na mídia. Ela exerce o poder da vítima porque é o melhor para a sua causa. Afinal, as grandes empresas de comunicação no Brasil, em nome de seus princípios liberais, facultam aos inimigos da liberdade de expressão ‘direitos’ que estes, se estivessem no poder, não lhes facultariam em nome dos deles.


O funk filosófico de Madame impressiona. Até o PT chegar ao poder, não havia ‘pensadora’ mais midiática do que ela. De Spinoza a ovo frito, dava palpite na Folha sobre tudo. Encarnava o eterno feminino e revolucionário, aquela figura rechonchuda de A Liberdade Conduzindo o Povo, de Delacroix (conterrâneo de Lefort), só que tornada ainda mais palpitante pelo sol dos trópicos. Aí ela decidiu silenciar e só se indignar a favor do governo. Parou de falar com a ‘imprensa burguesa’: a fase de ‘resistência’ já havia passado. Não era mais necessário desenhar estrelas na areia, a exemplo dos primeiros cristãos com seus peixes. Agora, pertence ao Tribunal do Santo Ofício. Por isso foi lá incitar os inquisidores da Fenaj.


E o que querem os valentes? Voltaram a defender o Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), um órgão que pretendem apto até a cassar o registro dos jornalistas que não se ajoelharem no altar de suas taras ideológicas. E vão adiante: mantêm a luta pela obrigatoriedade do diploma e dão apoio a um projeto boçal, aprovado no Senado, que amplia de 11 para 23 as funções que só podem ser exercidas por diplomados. Até o câmera, coitado!, terá de ouvir as sharias pucuspianas contra a imprensa burguesa.


A Fenaj tornou público um documento sintetizando o encontro. Chama-se Por ideais ousados e democráticos ainda que tardios. O Virgílio amputado da bandeira não merecia isso. Prega a retomada dos ‘princípios que inspiraram a criação do movimento pela ética na política nos anos 80’ – ou seja, retorno ao petismo original – e cobra dos candidatos a luta contra a corrupção eleitoral. Sobre os escândalos do PT, nada!


A entidade, que poupa o babalorixá de Banânia, ataca George W. Bush! Está lá: ‘A consolidação de governos sul-americanos não alinhados aos Estados Unidos, principalmente sob a doutrina Bush, traz sérios transtornos aos interesses estratégicos norte-americanos e, certamente, gera reações.’ O ‘não-alinhado’ Evo Morales expropriou a Petrobrás. Bush perdeu o sono. Mais adiante, assegura: ‘Não por acaso, o primeiro passo da invasão na região é conquistar ‘corações e mentes’, por meio da hegemonia cultural, a partir do controle dos sistemas de mídia e telecomunicações.’ Gente que ainda emprega ‘corações e mentes’ merece chicote. Parte da Editora Abril foi comprada pelo imperialismo sul-africano…


Depois de outras considerações, conclui: ‘É por conta desse pano de fundo multifacetado que o jornalista brasileiro precisa trabalhar pela consolidação de um Código de Ética que seja aplicado por um Conselho Federal dos Jornalistas.’ O pano de fundo sempre teve duas faces. Agora tem muitas caras. Como o PT. Não entendi bem como é que o CFJ poderia colaborar no combate ao imperialismo. Vou perguntar a Tati Quebra-Barraco. A original.


*Reinaldo Azevedo é jornalista (blogdoreinaldoazevedo. blogspot.com)’


PUBLICIDADE
Alberto Komatsu


Futuro dá as caras no marketing


‘Enquanto um consumidor caminha pela rua, painéis e outdoors detectam sua presença pela leitura da íris dos olhos e mostram propagandas direcionadas ao seu gosto e perfil, inclusive chamando-o pelo nome. A cena se passa no filme Minority Report, dirigido pelo cineasta Steven Spielberg, estrelado por Tom Cruise e ambientado em 2054. Embora seja coisa de ficção científica, alguns programas e portais da internet já usam técnicas semelhantes, provando que o marketing eletrônico direcionado não é algo tão futurístico assim.


O sistema de mensagens MSN Messenger, oferecido pela Microsoft, por exemplo, já é utilizado pelo mercado publicitário em campanhas que pretendem atingir públicos específicos. Quando o usuário do MSN é uma criança, aparece um anúncio da Turma da Mônica; quando é jovem, o produto anunciado pode ser um tocador de música digital.


‘Temos cientistas trabalhando nisso’, afirma o diretor da área de Vendas Estratégicas da Microsoft para o Canadá e América Latina, Maurício Tortosa. E com razão. ‘Quando direcionado para a pessoa certa, na hora certa, o retorno do investimento para o anunciante é maior’, justifica o executivo.


Em janeiro de 2005, o MSN Messenger contava com 9 milhões de usuários. Onze meses depois, o cadastro saltou para 15,6 milhões de potenciais consumidores. O crescimento da base de clientes, diz Tortosa, oscila entre 5% a 10% ao mês. Segundo o executivo, o MSN Messenger faz campanhas publicitárias direcionadas para 200 empresas por ano, em média. O principal anunciante é a Coca-Cola, além de grandes grupos como a Fiat.


O MSN Messenger trabalha com sete tipos de identificação comercial com o usuário, que variam de acordo com a localização, profissão, idade, dia e hora de acesso à internet, comportamento de navegação, estágio de vida (se é estudante ou está prestes a se casar, por exemplo) e os portais mais visitados. O Brasil conta com quatro dessas modalidades.


ESTÍMULO ÀS VENDAS


Segundo o diretor-geral da consultoria de comércio eletrônico Ebit, Pedro Guasti, aumentou a participação de sites de busca e comparação de preços nas vendas online. Em 2001, lembra o executivo, a participação era de 6%, ante 19% de 2005. Já os negócios gerados por envio de e-mails teve leve recuo no período, passando de 17% em 2001 para 16% em 2005. A contribuição dos banners passou de 5% para 9%, na mesma comparação.


‘Hoje é possível, por meio do celular, receber um torpedo quando você estiver passando ao lado de um shopping e ser avisado de uma liquidação’, diz Guasti. Segundo pesquisa da Ebit, no Natal de 2005 as vendas virtuais cresceram 61%, enquanto o comércio tradicional avançou 1,1% em São Paulo.


EM BUSCA DE NOVOS USUÁRIOS


O portal de comércio eletrônico Mercado Livre, com 6 milhões de usuários cadastrados, faz uma espécie de filtro ao enviar e-mails aos seus clientes para estimulá-los a comprar ou vender produtos. Segundo o diretor-presidente do Mercado Livre, Stelleo Tolda, a segmentação é feita de acordo com três parâmetros: data da última transação, freqüência de negociações e gasto médio.


‘Há 30 milhões de usuários de internet no Brasil, para uma população de 180 milhões. Mas apenas 6 milhões fazem comércio online. Nosso foco está concentrado em adquirir novos usuários.’’


INTERNET
Ricardo Anderaos


Síndrome de Frankfurt


‘Dia 7 de junho, pouco antes de meu embarque para participar da cobertura da Copa da Alemanha, escrevi as primeiras notas no meu blog (www.wireless.jor.br). Foi uma espécie de batismo. Apesar de trabalhar criando sites e portais desde que o acesso comercial à internet começou no Brasil, em 1995, nunca me animei a ter meu próprio blog.


Para quem ainda se confunde com a terminologia, o blog é um tipo de site no qual são colocadas notas como em um diário. As mais novas são gravadas acima das antigas. Alguns blogs trazem comentários ou notícias sobre um tema específico. Outros abordam assuntos variados. Além do texto, permitem exibir fotos, vídeo e áudio.


Acompanhei essa onda desde o surgimento, no final dos anos 90, até sua disseminação aqui no Brasil, há pouco mais de três anos. Mas sempre me pareceu meio besta o formato de colocar uma notinha sobre a outra e obrigar a pessoa, do outro lado da tela, a ler as coisas do final para o começo.


Essa é a prova de que a tese central do livro Mente Zen, Mente de Principiante, de Shunryu Suzuki, está certíssima. O especialista, muitas vezes, não é capaz de perceber as coisas tão bem como os iniciantes. ‘Na mente do principiante existem muitas possibilidades, mas na do perito poucas’, diz o autor.


O fato é que o blog se impôs como forma e como gênero. E, de repente, lá estava eu,sentado no saguão do aeroporto, escrevendo meus primeiros posts – ou notas, no jargão dos blogueiros.


Assim que cheguei ao meu hotel nas cercanias de Frankfurt, encontrei no saguão a jornalista Cora Ronai, editora do caderno de informática do jornal carioca O Globo. Entusiasta e pioneira dos blogs, foi minha primeira conhecida a atualizar seu blog utilizando apenas e tão-somente o telefone celular. Quando contei que estava superando minha resistência e dando os primeiros passos na área, ela vaticinou: ‘prepare-se, essa coisa vicia.’


Cora foi a primeira de uma série de jornalistas brasileiros que encontrei por lá e que estavam blogando na Copa, como Daniel Piza do Estadão, Soninha Francine da ESPN, José Roberto Torero da Folha ou Bob Fernandes, do Terra.


À medida que os dias foram se passando, a profecia de Cora se realizou. Essa coisa é realmente um chazinho. A gente começa se relacionar com as pessoas que deixam seus comentários, vai encontrando o tom certo, e em pouco tempo não quer parar.


Às vezes, entretanto, o relacionamento com o público que deixa seus comentários no blog pode ser tempestuoso. Como minha cobertura da Copa tinha um viés leve e descompromissado, chegando por vezes a ser humorístico e adotando francamente a perspectiva de um torcedor invadindo os bastidores do evento, coloquei um comentário nessa linha sobre a fatídica cabeçada de Zidane no zagueiro italiano Materazzi.


Nele, eu me confessava ‘vingado’ pela expulsão de Zidane. O post gerou dezenas de comentários irados contra uma posição que, acredito, deve ser majoritária entre torcedores brasileiros. Alguns, entretanto, passaram do ponto: foram grosseiros e ofensivos.


Uma das maiores dificuldades nessa relação entre o blogueiro e os internautas que deixam comentários é que o primeiro tem nome completo e endereço certo, ao passo que os segundos estão cobertos pelo manto de anonimato da internet. Muitas vezes, não têm sequer a hombridade de deixar um endereço de e-mail.


Minha saída, no caso, foi apelar novamente para o humor. Reproduzo a seguir a nota que coloquei em resposta à avalanche de impropérios que desabaram sobre mim.’


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A Síndrome de Estocolmo é um clássico da psicologia. Define o estado mental de vítimas de um seqüestro ou cárcere privado que acabam se afeiçoando ao seu agressor. A coisa é tão forte que os coitados chegam a ponto de ajudar seus captores a fugir da polícia. Pois acabo de descobrir que os torcedores brasileiros estão sofrendo de uma doença parecida, que tomo a liberdade de batizar com o nome de Síndrome de Frankfurt. Um processo no qual torcedores de futebol fazem uma transferência da adoração pelos jogadores de seu próprio time para o craque adversário que os humilhou e eliminou de uma competição. Exatamente como ‘Se dane’ fez com a seleção brasileira.


Os sintomas dessa doença podem ser vistos nos comentários publicados abaixo. Enquanto a adoração é transferida para o craque-algoz, a frustração e a raiva pela eliminação de seu time são canalizadas contra o jornalista que critica esse algoz.


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Terminada a Copa, não consigo mais largar do meu chazinho. Agora estou procurando novos assuntos, que também pretendo abordar de maneira irreverente. Com o tempo, espero acertar a mão. Quanto aos impropérios, acho melhor ter comentários injuriosos do que ficar falando com as paredes. Vale aqui adaptar a máxima: falem mal, mas falem comigo!’


Pedro Dória


O pecado de Eva


‘No último dia 2 de junho, a jovem de pouco menos de 30 anos que online atende pelo nome Saudi Eve – Eva Saudita – chegou em casa de uma viagem ao exterior para descobrir que seu blog estava bloqueado. Nenhum de seus compatriotas sauditas pode lê-la desde então. Não lhe foi explicado o porquê, ela também não perguntou. Afinal, na Arábia Saudita, certas coisas aprendem-se desde muito jovem a não perguntar.


A blogosfera saudita ainda é incipiente. Não se trata do único país em que o governo começa a se mexer preocupado com blogueiros – o vizinho Irã e a China são casos mais que conhecidos e, de certa forma, piores. Há muitos motivos para isto. Irã e China têm uma extensa classe média bem educada e com acesso à internet.


O vácuo entre quem tem e quem não tem, na Arábia Saudita, é bem maior – embora a classe média, não muito grande, viva com bastante conforto. Entenda-se: não é tudo o que uma mulher pode estudar na universidade. Elas não têm permissão de dirigir, precisam ter sempre um homem como guardião legal – seja seu pai, irmão, tio ou marido. Mas, bem ou mal, em algumas famílias pais, irmãos, tios e mesmo maridos permitem alguma liberdade de fato. Não chegam a poder sair nas ruas mostrando braços ou cabelos, mas teocracias wahabitas têm disto.


Acessa-se a internet, por lá, nas lojas de café Starbucks, em casa através de um dos provedores de acesso oficial ou pagando-se pouco mais de US$ 100 mensais por uma conexão via satélite. Essa é livre e escapa dos filtros governamentais, por ela se vê na rede o que qualquer um pode ver aqui no Brasil. Mas é cara para o bolso-padrão.


E aí está outra das idiossincrasias sauditas. O governo está preocupado em censurar o que o grosso da população vê, mas quem tem dinheiro pode certas coisas. Uma conexão de satélite, mesmo sem censura, é legal. Só que como quem pode tê-la já faz parte do establishment, então tudo bem.


Na China, como no Irã, blogueiros são presos, a perseguição é violenta. Na Arábia Saudita, por enquanto, só Saudi Eve teve seu blog bloqueado. E, aparentemente, ninguém no governo se mexeu muito para descobrir quem ela é. Aí vai outra peculiaridade saudita: seu pecado não foi fazer críticas ao governo da família Al-Saud, que controla as terras ao redor de Meca e Medina desde que os ingleses a entronizo, e já se vão uns 80 anos.


Saudi Eve escreveu sobre sexo e sobre Deus num mesmo post. Ela já havia feito isso. Mas, desta vez fatal, escreveu em árabe. Aí era demais. Em inglês, pode-se escrever bem mais. Pouca gente entenderia e quem entenderia é o status quo. Mas em árabe aumenta demais o público potencial.


Segundo Rasheed Abou-Alsamh, jornalista que escreve tanto para a imprensa norte-americana quanto para a de seu país, o tipo de coisa que a jovem Eva escreveu não chamaria a atenção de ninguém no naco da Grécia para cá do mundo. Não há nada de explícito, é uma visão romântica e pessoal. Mas é sexo, sexo com amor entre um homem e uma mulher e com a graça de Deus. Para ser mais pecado, do ponto de vista do Islã wahabita, só faltava incluir ao lado de Deus também seu Profeta.


Há uma última diferença entre o modo de censurar saudita e o iraniano e chinês: os dedos-duros. Em 2005, um grupo de blogueiros achou por bem organizar a Comunidade Oficial dos Blogueiros Árabe-Sauditas. São conservadores e têm regras para entrada. É preciso ser temente a Deus, seguir os modos do Profeta, transparecer essa crença. Não toleram diários pessoais, embora política seja, sim, bem-vinda. Até com uma dose – modesta – de crítica ao governo.


A boa gente da Comunidade não é do governo mas lhe faz o favor de patrulhar a blogosfera local. Desconfia-se que foram eles que chamaram a atenção para o blog de Saudi Eve. Não se sabe – sabe-se, isso sim, que eles já haviam deixado uma penca de comentários malcriados por lá. É toda muito peculiar a Arábia Saudita.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 17 de julho de 2006


TELEVISÃO
Paulo Sampaio


‘Mal’ atrai e gera fascinação, diz autor de novela


‘A personagem má é sempre a que faz mais sucesso nas novelas, atesta Agnaldo Silva, criador da bruxa Nazaré de ‘Senhora do Destino’, da TV Globo. ‘O mal é um sentimento fascinante porque é proibido. Somos educados para resistir a esse lado sombrio da existência. Quando ele vence a briga interna contra o bem, que sempre existe dentro de nós, as pessoas ficam intrigadas’, diz.


Isso talvez explique em parte a extraordinária audiência que o caso Suzane von Richthofen atrai, mesmo competindo com PCC, Copa do Mundo e final de novela das oito.


Pelo menos 5.000 pessoas se inscreveram para assistir, hoje, ao julgamento da jovem da ‘elite branca’ que ajudou o namorado pobre a matar seus pais a golpes de barra de ferro.


Ex-estudante de direito na PUC, ela aguardou o julgamento na cadeia, conseguiu liberdade provisória, tentou sensibilizar a opinião pública, foi desmascarada, encarcerada de novo, solta em regime de prisão domiciliar, presa mais uma vez.


‘Em um caso cheio de idas e vindas como esse, o que causa estranheza é a imagem de moça tímida que ela passa. Afinal, não é todo dia que uma jovem de classe média alta participa do assassinato dos pais’, afirma o ex-juiz Dirceu de Mello, professor de direito penal da PUC.


Para Mello, há ainda um ‘agravante’: o júri composto por sete pessoas que não são do ambiente da ré enfrentará um julgamento difícil, que exigirá muito de todos e provavelmente não terminará em um dia. ‘A negativa da autoria é impossível; também não dá para alegar legítima defesa, pois os pais estavam dormindo. Provar insanidade mental demora. Será extenuante para os jurados, que, eventualmente, têm família, profissão, compromissos.’


Se, como Renata Sorrah, Suzane fosse boa atriz, talvez o caso não tivesse tantas reviravoltas. Nas duas vezes em que chorou, ela errou no tom. No enterro dos pais, foi exagerada e levantou suspeitas; quatro anos depois, numa entrevista para o ‘Fantástico’, da TV Globo, não conseguiu produzir uma lágrima, apesar da orientação de seu advogado, e foi presa de novo.


O coordenador do núcleo de psicologia e psiquiatria forense do Hospital das Clínicas, Antônio de Pádua Serafim, acredita que ‘o PCC com certeza perderá alguns pontos de audiência nesta semana’.


O telespectador vibra com a chance de ver o fim da novela, ou a vitória do bem sobre o mal. ‘Toda civilização quer ver o lado ruim sepultado; senão vira selva’, diz Agnaldo Silva.’


Daniel Castro


Band prepara ação contra a Globo no Cade


‘A Band contratou uma equipe de advogados especializados em concorrência empresarial para impetrar uma ação no Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico) contra o ‘abuso de poder’ da Globo na compra dos direitos para TV aberta dos principais torneios do país. Na ação, vai pedir o fim da exclusividade de uma rede de TV aberta no futebol.


Embora a Globo revenda parte dos direitos à Record, a Band entende que a rede exerce ‘atitude monopolista e arrogante’, porque tem o ‘total domínio sobre os direitos esportivos’, determina o que a Record pode exibir e até impõe aos clubes horários e locais dos jogos, tratando como ‘propriedade um bem nacional [o futebol]’.


Os advogados da Band estão fazendo um minucioso estudo sobre os termos de acordo, fechado no final de maio no Cade, em que a Globosat teve que abrir mão da exclusividade no futebol na TV paga _a programadora da Globo terá que negociar os canais SporTV e Première com todas as operadoras e, a partir de 2009, deixar de comprar dois dos cinco principais torneios brasileiros.


A Band procura agora brechas no acordo da Globosat que fundamentem uma discussão em torno da exclusividade na TV aberta. A emissora acredita que o acordo no Cade pela TV paga pode servir de ‘jurisprudência’ contra o ‘monopólio’ da Globo na TV aberta.


A Globo não comentou.


BICADA NO PCC 1Ex-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo ganhou no último dia 30 ação que obriga o SBT a indenizá-lo por danos causados pela exibição de uma encenação, no ‘Domingo Legal’, em 2003, em que dois falsos membros do PCC faziam ameaças a ele a dois apresentadores.


BICADA NO PCC 2A juíza Ana Cristina Bonchristiano, de Osasco, fixou a indenização em R$ 375 mil, que, atualizados, dão mais de R$ 500 mil, segundo cálculos do escritório de advocacia Lobo & Ibeas. O SBT vai recorrer.


DIÁSPORAA TV Canção Nova, da ala carismática da Igreja Católica, rompeu com o canal 40 da Grande SP, que pertence ao publicitário Nizan Guanaes, e está agora no 50, da Band.


À FLOR DA PELE 1As cenas de ‘Páginas da Vida’ em que Ana Paula Arósio ficou totalmente nua foram só um ‘aperitivo’. No site da novela, sua personagem, Olívia, é descrita como uma mulher de ‘idéias avançadas’, que, ‘apesar de não pregar abertamente a infidelidade, não acha que ser fiel seja uma grande virtude’.


À FLOR DA PELE 2 Mais adiante na novela, Olívia irá se envolver com o garotão Léo (Thiago Rodrigues).


BOLSA-TELEVISÃOA Secretaria da Cultura do Estado de SP criou um concurso em que dará uma pequena ajuda na produção independente de programas de TV. Serão oito projetos beneficiados, com verbas R$ 33 mil (documentários), R$ 50 mil (telefilmes) e R$ 100 mil (animações).’


INTERNET
Eduardo Simões


Novela on-line ‘bomba’ com terrorismo em Bagdá


‘Cai na rede na quarta-feira o nono capítulo de uma novela gráfica on-line que já rendeu elogios da revista ‘Rolling Stones’ (‘assustadoramente inteligente’) e da bíblia do mercado editorial, a ‘Publisher’s Weekly’ (‘precisa, relevante e atual’). Espécie de alegoria auto-referente do futuro do jornalismo ‘pessoal’ ou de ‘cidadão’ -leia-se blogs e afins-, ‘Shooting War’ (smithmag. us/shootingwar) tem como pano de fundo o terrorismo e a Guerra do Iraque.


Quem assina a história é o jornalista Anthony Lappé, ex-colaborador do ‘New York Times’ e das revistas ‘Details’ e ‘Paper’, que se inspira na própria experiência na cobertura da guerra e primeiras insurgências no Iraque. Em 2003, Lappé rodou no país um documentário (‘BattleGround: 21 Days on the Empire’s Edge’), produzido para o canal Guerrilla News Network (gnn.tv), e também noticiou sobre o conflito através de um blog. O tom de ‘reality show’ fica por conta do áudio real das batalhas, que o jornalista coloca on-line.


Terror em 2011


Com ilustrações de Dan Goldman, um dos fundadores do estúdio de quadrinhos on-line act-i-vate.livejournal. com, ‘Shooting War’ conta a história do blogueiro americano Jimmy Burns, que em 2011 reporta, com imagens ao vivo, a explosão de seu próprio prédio, durante um ataque terrorista em Nova York.


Burns, cujo blog faz uma campanha de denúncias contra as grandes corporações americanas, se torna uma celebridade midiática da noite para o dia e passa a trabalhar como repórter para uma rede de TV que dedica 24 horas de sua programação ao noticiário de terrorismo.


Como se não bastasse, o nosso ‘herói’ parte para o Iraque para mostrar o que realmente está acontecendo na guerra de guerrilhas que, na novela, já dura oito anos.


‘Eu admito que a minha história traz uma versão sombria do pior cenário que a agenda de Bush poderá nos proporcionar’, diz Lappé à Folha. ‘Na novela, há uma crise global de petróleo, a economia dos Estados Unidos está falida e o Oriente Médio vive um conflito generalizado. No Iraque, é claro, uma guerra civil está a toda, e nós não sabemos quem nossos aliados realmente são. Meu futuro realmente não é bonito. Mas eu apenas extrapolei as manchetes ruins de hoje em dia e multipliquei as notícias ruins por dez.’


Lappé garante que tenta tirar ao máximo suas próprias inclinações políticas da história. Para os críticos que o acusam de maniqueísta, e até mesmo de um tanto contra-Iraque, ele diz: ‘Se o futuro parece sombrio, posso apenas dizer: ‘Leia os jornais de hoje’.


Para criar as ilustrações com forte impacto visual de ‘Shooting War’, Goldman ‘se inspirou’ em fotos e documentários reais da Guerra do Iraque, que, segundo ele, de tão impressionantes, não costumam chegar às telas de televisão. O ilustrador conta que tem tido até mesmo pesadelos por conta da tensão da história que vem criando com Lappé.


Versão impressa à vista


Abrigada no site da revista ‘Smith’, ‘Shooting War’ teve o primeiro capítulo ‘exibido’ no dia 15 de maio. A cada quarta-feira um novo episódio irá ao ar, durante um total de 11 semanas (o plano inicial era de oito semanas) e sempre acompanhado de um trailer com música do americano Paul D. Miller, o experimental DJ Spooky.


‘Estou escrevendo bem no estilo de uma tirinha de jornal ou revista, semana a semana, embora a linha básica já esteja traçada. Também tenho adicionado alguns elementos à medida que as notícias mudam, diariamente’, conta Lappé, que leva em conta também o ‘feedback’ dos seus leitores.


‘Especialmente alguma indicação de que a trama se tornou um clichê ou está previsível. Isto seria uma verdadeira jura de morte para mim. Fizemos até um concurso para títulos no site, e o vencedor foi incorporado ao próximo episódio.’


Goldman e Lappé estão avaliando no momento ofertas para publicar uma versão impressa de ‘Shooting War’. O nome da editora -eles avisam que será ‘uma das grandes’- deve ser anunciado nos próximos dias. ‘O que vocês estão vendo agora, on-line, é apenas um prólogo para uma série maior. Que deve levar Jimmy a outros lugares perigosos no futuro’, promete o jornalista.


Jornalismo de ‘cidadão’


Lappé ressalta que ‘Shooting War’ é também um retrato do futuro da participação de blogueiros nos noticiários. Para ele, não resta dúvida de que o jornalismo tende a se democratizar com a descentralização da produção de noticiários, como os de seu personagem, o blogueiro Jimmy Burns.


Mas ele faz uma ressalva: ‘A questão é se os chamados ‘jornalistas cidadãos’ serão realmente bons no que eles fazem. Parte do conflito em ‘Shooting War’ é o fato de Jimmy perceber que ser um correspondente de guerra é muito mais difícil do que carregar seus discursos inflamados no blog que ele escreve do Brooklin’, diz Lappé, cujo personagem acaba de atravessar uma crise depressiva.’


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Romance ‘in progress’ na internet já tem 35 autores


‘Outra curiosa experiência de produção literária on-line é ‘Novel Twists’ (www.novelt wists.com), um romance que vem sendo escrito a várias mãos, na rede, com a participação dos internautas. Condição para escrever: arrematar, no site de leilões e-Bay, uma das páginas do livro. Atualmente já são 35 autores inscritos, é possível ler o que eles escreveram e até entrar em contato com os autores através de seus e-mails.


O mentor do projeto é Phil McArthur, 31 anos, que teve a idéia do romance on-line enquanto se recuperava de um câncer: ‘Havia acabado de fazer quimioterapia e tinha muito tempo livre. Estava lendo mais, e isso me inspirou a escrever algo também’, disse McArthur ao jornal britânico ‘The Guardian’.


O autor novato logo desistiu de escrever sozinho e pensou em leiloar a participação na internet. Poucos dias depois de colocar na rede o prefácio e a primeira página, McArthur começou a receber colaborações de vários lugares do mundo. ‘O fato de que se trata de um leilão significa que, se as pessoas estão realmente a fim de escrever a próxima página, elas têm uma boa chance de conseguir’, disse McArthur ao ‘Guardian’.


O livro, um ‘thriller’, já está na página 35. McArthur controla a continuidade do livro através de recados aos colegas. Ele pretende leiloar um total de 150 páginas. Ainda não tem a pretensão de lançar uma versão impressa, mas já prometeu doar o dinheiro arrecadado a uma instituição britânica de apoio a doentes de câncer.’


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O Globo


Segunda-feira, 17 de julho de 2006


ELEIÇÕES 2006
Gerson Camarotti


PT teme expor Lula


‘BRASÍLIA. Preocupado com a possibilidade de o candidato Luiz Inácio Lula da Silva cometer erros que possam levar a disputa para o segundo turno, o comando petista produziu recomendações que deverão ser seguidas por Lula, pelos coordenadores da campanha e, em alguns casos, integrantes do governo. Nas cartilhas, chamadas de ‘os dez mandamentos da reeleição’ no Palácio do Planalto, o PT recomenda que Lula se recolha para esfriar a campanha e evitar maiores riscos.


No Planalto, na semana passada comentava-se sobre o risco do ‘efeito Zidane’ na campanha do favorito Lula. Nas conversas sobre as estratégias da campanha da reeleição, vários petistas citaram o exemplo do jogador francês Zidane, eleito o melhor da Copa de 2006 na Alemanha, que estava praticamente consagrado mas cometeu, a dez minutos de encerrar a carreira, o erro de dar uma cabeçada no adversário.


– O presidente Lula tem que ter uma postura de estadista, mesmo em campanha. Em momento algum ele pode correr o risco do efeito Zidane. É preciso tranqüilidade para evitar as provocações dos adversários. O partido é que terá que responder a eventuais ataques – alertou o petista Marcelo Déda, candidato ao governo de Sergipe, que participou de reuniões semana passada, em Brasília.


– A melhor forma de responder a qualquer baixaria é pôr o nível para cima. Não podemos perder o controle. Zidane foi magnífico em toda a Copa, mas perdeu o controle nos minutos finais.Temos que administrar a vantagem e não perder o controle nunca – completou Déda.


Para evitar erros, o decálogo do PT é o seguinte: 1) Não expor o candidato a situações de risco. 2) Evitar viagens para estados com divergências entre aliados. 3) Evitar entrevistas e coletivas. 4) Só falar com a imprensa quando tiver um tema específico e definido pela campanha. 5) Não comentar assunto negativo para o governo, deixando essa função, de preferência, para os ministros. 6) Falar sempre de temas positivos. 7) Não participar de debates. 8) Explorar mais a postura de presidente do que de candidato. 9) Evitar a presença física no comitê de campanha. 10) Esfriar a campanha, participando de poucos atos públicos, pois uma disputa acirrada e dinâmica só interessa aos adversários.


Essa advertência ganhou força na última quinta-feira, com a divulgação da pesquisa do Instituto Vox Populi, cujos números apontaram pela primeira vez para a possibilidade de segundo turno na disputa eleitoral. A pesquisa mostrou que a vantagem de Lula sobre o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que já foi de mais de 20 pontos percentuais, caiu para dez pontos. O petista aparece com 42% das intenções de voto contra 32% do tucano. Na mesma pesquisa, a senadora Heloísa Helena (PSOL) aparece com 7% e o senador Cristovam Buarque (PDT), com 1%.


Rua, só se for essencial


A tentativa do PT e do Planalto é de manter Lula fora de polêmicas e fazer atividades de rua só quando for essencial, principalmente nos meses de julho e agosto. Neste mês, por exemplo, Lula terá apenas um grande evento de campanha em Pernambuco, dia 23.


A estratégia definida pelo marqueteiro João Santana é o de potencializar a campanha da TV, com o horário eleitoral gratuito a partir de 15 de agosto, onde o candidato Lula correria menos risco. Também foi descartado debate no primeiro turno. O PT deve repetir a fórmula utilizada pelo tucano Fernando Henrique, quando disputou a reeleição em 1998. Na ocasião, o ex-presidente tentou e conseguiu esfriar o clima eleitoral, o que impediu o crescimento de Lula.


Análises internas feitas no Planalto apontam que Lula consolidou uma vantagem segura nas classes D e E: o eleitorado mais pobre já reconhece os avanços da gestão Lula e dificilmente esses votos seriam influenciados por um discurso mais radical. Num segundo momento, o esforço será direcionado para conquistar mais votos nas classes A, B e C.


– A possibilidade de um segundo turno depende muito mais de um erro nosso do que do acerto da oposição. Se houver um erro, parte do nosso eleitorado ainda pode migrar. Para não correr riscos, temos que ampliar o eleitorado. Para ter segundo turno é preciso uma queda de 5% nas intenções de voto, o que no cenário atual não é provável – diz o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).


A vitória no primeiro turno é tida, no Planalto e no PT, como essencial para que Lula consolide seu capital político. Assim iniciaria o segundo mandato com maior margem de governabilidade e um menos pressão da oposição.


– A campanha é uma espécie de plebiscito. Lula está sendo julgado por seu governo. Será uma eleição difícil pelo ânimo beligerante da oposição – avalia a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).’


PROJETO DA FENAJ
Elisa Nunes


Sem diploma


‘Sempre defendi o diploma de jornalismo para quem, de alguma maneira, fosse trabalhar com o bem precioso que é a informação ao público. Sempre acreditei que apenas pessoas ‘preparadas’ poderiam lidar com a notícia de maneira responsável. Quanta bobagem. Depois de 18 anos de profissão percebi que a Faculdade de Comunicação foi muito mais importante do ponto de vista da minha formação cultural do que profissional.


E nada como a experiência pessoal para provar que nem sempre a melhor pessoa para escrever um artigo, fazer um comentário ou uma entrevista precisa ser formada em jornalismo.


Em 2001, após nove meses de gestação trabalhando freneticamente, nasceu meu filho mais novo. Com uma pré-adolescente em casa e com chegada de um recém-nascido precisei me socorrer da ajuda do meu marido, médico, para, além de colaborar na produção, ajudar na confecção e gravação de nosso programa de rádio ‘Saúde em foco’, da CBN. O projeto tinha sido aprovado dias antes do nascimento do meu caçula.


Fiquei assustada quando percebi que quem ficaria na linha de frente do programa seria meu marido clínico geral. Na época, não levei a menor fé que ‘o doutor’ escrevesse um texto enxuto, informativo e sem erros de português, apesar de ser ele o produtor, responsável pela seleção dos temas. Escrever e gravar era missão para uma jornalista, pensava.


Em uma semana minha teoria escorreu ralo abaixo. Os ouvintes passaram a enviar e-mails elogiando o novo ‘repórter’ do ‘Saúde em foco’, sugerindo temas, mandando perguntas. Fiquei em casa menos de um mês cuidando da cria, afinal jornalista é bicho workaholic . Mesmo levando meu bebê para o escritório para amamentá-lo, meu destino já estava traçado. Não preciso dizer o que aconteceu. Ou preciso? Mudamos de função: hoje faço a produção, ajudo nas pesquisas e quem escreve e grava os boletins é Luis Fernando Correia, clínico geral e jornalista de primeira. E sem diploma.


Fico surpresa quando meu marido revela a vontade de fazer Faculdade de Comunicação. Depois de mais de 10 anos nos bancos da medicina, e com 15 de profissão, ele ainda parece animado, pois não quer nem pensar na possibilidade de não fazer mais o programa que tanto gosta, por conta do projeto de lei que exige diploma de jornalismo para diversas funções em meios de comunicação.


Em artigo recente, Luiz Garcia mencionou o absurdo que seria José Hugo Celidônio ‘aprender’ a escrever uma notícia e só depois voltar a falar de gastronomia. E Arnaldo Jabor precisar de diploma para nos envolver com seus textos indignados. Acho até que o dr. Luis Fernando vai se inscrever no próximo vestibular de comunicação, se Lula sancionar o projeto. Mas estaríamos perdendo um jornalista-médico cheio de qualidades e muito mais envolvido com a profissão do que centenas de alunos que hoje freqüentam os bancos das faculdades, que não terão onde trabalhar por falta de espaço e péssima formação que algumas instituições oferecem.


Pensando bem, quem vai sair ganhando é a medicina, que terá com exclusividade um dos profissionais mais bem informados que já conheci. Pena para o jornalismo, que perderá um ‘doutor’ nas reportagens de saúde.


Ah, esse Brasil brasileiro…


ELISA NUNES é jornalista.’


PCC EM AÇÃO
Flávio Freire e Tatiana Farah


‘Publicidade’ de chefes incomoda


‘PRESIDENTE BERNARDES (SP). Os ataques em São Paulo aumentaram a rivalidade dentro dos presídios. Mesmo integrantes da facção responsável pela onda de crimes têm se revoltado com a ‘publicidade’ que chefes de quadrilha ganharam com os atentados. Outros grupos de presos, segundo a Secretaria de Segurança Pública, se dizem arrependidos de ter participado do movimento em razão da piora na situação dos presídios.


Segundo agentes penitenciários, presos que já atuaram no comando das ações criaram um ‘grupo de oposição’ e tiveram de ser separados dos ex-colegas para evitar conflitos. Os presos que teriam deixado de agir sob o comando da organização foram transferidos para outros pontos dos presídios.


O plano do grupo dissidente de matar chefes da facção teria sido interceptado em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. Nas conversas, um dos presos teria pedido à pessoa para aproveitar a onda de ataques e matar um dos irmãos de Orlando Mota Júnior, o Macarrão, um dos chefes da organização comandada por Marcola. Macarrão está preso em Presidente Venceslau.


A Secretaria de Segurança pública informou que escutas telefônicas de ligações feitas dentro dos presídios apontam que há presos arrependidos de fazer parte do grupo criminoso depois dos ataques. Em desabafos a companheiros e familiares, eles disseram que, com as rebeliões, sua situação havia piorado, com a suspensão de visitas e a destruição de presídios, fazendo com que tenham de dividir espaços ainda menores nas prisões superlotadas.’


INTERNET
Carlos Alberto Teixeira


WEB: Momentos relaxantes


‘Existe certo tipo de espécime humano cuja característica marcante é ficar online o tempo todo, 24 horas por dia, sete dias por semana. Os motivos que levam seres assim a tal desvio comportamental variam desde o puro vício até a necessidade profissional. No primeiro caso configura-se moléstia que, como toda patologia, requer tratamento médico especializado. Na segunda circunstância, porém, são cavacos do ofício e, neste caso, até os momentos de lazer se dão, durante o expediente, diante do próprio computador. Assim sendo, na hora de relaxar, sem contar as levantadas da cadeira para esticar as pernas, pode ser divertido navegar a esmo pela rede durante alguns minutos. No entanto, a quantidade de sites inexpressivos espalhados pela web, cheios de puro lixo, é alta demais. Pressupondo que a leitora se vire razoavelmente bem no idioma inglês, ouso sugerir algumas escapadas deveras interessantes à mornidão da rede.


A primeira delas é o fark.com, site em que os próprios visitantes contribuem com links que passam pelo crivo do editor e são exibidos em quatro colunas, sendo a primeira delas uma imagem clicável da fonte da notícia, a segunda a classificação do item, a terceira geralmente um espirituoso, às vezes jocoso, comentário sobre o assunto em pauta, e a quarta um link para os comentários referentes ao tópico. Atenção especial aos itens classificados como ‘Photoshop’, nos quais o editor ou algum usuário oferece uma foto provocativa qualquer e a galera sai fazendo montagens hilárias em cima da imagem. Fark nasceu em 12 de dezembro de 1999 das mãos de seu criador, Drew Curtis, e é diversão garantida.


Outra opção é o StumbleUpon, um site de bookmarks sociais que põe um botão no seu browser Firefox (não funciona com Internet Explorer). É preciso baixar um programa que permanece ativo, monitorando suas navegações. Assim, quando se clica no tal botão, o site devolve links que têm a ver com os interesses de cada usuário. É um tanto invasivo, decerto, mas até agora não notei malefício algum, e o retorno tem sido ótimo. O serviço vai aprendendo com as recomendações de todos os usuários que, em função de suas preferências, acabam constituindo grupos informais de afinidade. Conseqüentemente, os resultados retornados para o usuário vão se tornando cada vez melhores e mais aderentes ao gosto de cada um.


Bom também é o Populicio.us, que lista os links mais populares do afamado Del.icio.us. E, para catar novidades tecnológicas, recomendo o Digg.com, verdadeiro tesouro também enriquecido pelas contribuições da galera internauta. Aliás, um interessante híbrido do Digg com o Del.icio.us é o digglicious.com, uma página dinamicamente atualizada a cada poucos segundos. Tal dinamismo para alguns pode ser tão irritante que os responsáveis pelo site puseram até um botãozinho de pausa na página principal do website, de modo que o visitante possa congelar a tela enquanto assim o desejar, de modo a poder explorar os interessantes links sem ter a estressante sensação de estar correndo continuamente atrás de algo que nunca poderá alcançar.


Termino as recomendações da coluna de hoje citando três blogs bastante ricos e que certamente proporcionarão à leitora oportunidades de agradável entretenimento online em seus momentos de pausa. O primeiro desses blogs é o Neatorama, com seus posts geniais e excelentes links para vídeos no Youtube. O outro é o BoingBoing, justificadamente auto-intitulado ‘diretório de coisas maravilhosas’. E, para terminar, o viciante Look At This, que traz o melhor e o pior da inter-web.


– Os links dos sites mencionados na coluna de hoje estão no seguinte endereço: http://catalisan do.com/infoetc/ 20060717.htm.’


TELEVISÃO
Bruno Porto


‘A televisão regrediu’


‘Recém-chegada do Projac, onde havia gravado poucas horas antes sua participação no capítulo final de ‘Belíssima’, Laura Cardoso se maquia no camarim do Teatro I do CCBB. Ela corre contra o tempo, pois dentro de meia hora vai começar mais uma sessão de ‘Outono e inverno’, peça na qual interpreta uma matriarca opressora. Esse ritmo acelerado faz parte do seu dia-a-dia. Levando uma vida do tipo tudo-ao-mesmo-tempo-agora – ela vem dividindo o seu tempo entre a peça; um curso de interpretação na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL); as filmagens do longa-metragem ‘A casa da mãe Joana’, e a preparação para a próxima novela das 18h da TV Globo, ‘O profeta’ – Laura conta que a correria não a incomoda.


– Não me amedronta fazer teatro, TV, cinema…Tudo ao mesmo tempo. Eu sempre fui dessa maneira – diz a atriz de 77 anos, 55 deles dedicados a uma carreira vitoriosa. – Só espero fazer as coisas com qualidade. É uma necessidade positiva. É um prazer, um gosto da minha vida representar.


Ela acha que não conseguiria ficar seis meses parada.


– Eu trabalho desde os 16 para os 17 anos nesse ritmo bacana. Nunca fiquei paradona, sem emprego. Sempre me dediquei demais à minha carreira – afirma, com sua voz rouca e elegante. – Eu respeito o meu trabalho, não faço nada de brincadeira.


Atores não são fáceis, segundo ela


O currículo recheado com diversos prêmios – Shell, Mambembe, APCA – é a confirmação disso. Para manter o Padrão Laura Cardoso de Qualidade, ela conta que analisa com calma todos os convites que recebe. Laura presta atenção tanto nos projetos quanto nos nomes por trás deles.


– Vejo o texto, com quem vou trabalhar e quem vai me dirigir. Presto atenção em tudo. Não penso no lado comercial. Não sei se isso é ruim para outras coisas, mas para manter a qualidade do trabalho é importante – diz ela, que já recebeu convites ‘terroríficos’. – Eu recebi uma vez um texto para um filme que era uma coisa. Nem entendi como o diretor iria fazer aquilo. Todo ator recebe muita proposta. É importante saber selecionar.


Assinada pelo sueco Lars Norén, ‘Outono e inverno’ é sobre uma família que resolve colocar as mágoas em dia durante uma refeição. Com ecos de Bergman, a peça traz diálogos ácidos capazes de chocar muita gente. Antes de encarnar a matriarca Margareta em ‘Outono e inverno’, Laura viveu uma prostituta cega e uma médica cruel nas peças ‘Veneza’ e ‘Laranja mecânica’. Personagens fortes e não convencionais, como se vê, atraem a atriz, que foi elogiada pelos três espetáculos.


– Eu gosto disso, sim. São personagens nos quais eu posso botar minha energia, meu temperamento – explica.


E que tipo de temperamento seria esse?


– Acho que não é um muito fácil ( risos ). O ator é meio esquisito, meio difícil. Ele diz que é fácil, mas não é, não – diz. – É normal que seja assim, pois se lida com muita coisa. Atuar mexe com o seu interior, com o exterior, com a vida passada, a vida que a gente sonha. Com muitas coisas.


Paulistana do Bixiga, Laurinda de Jesus Cardoso começou a atuar com 17 anos, fazendo radioteatro. Em 1950, com 20 anos, ela estreou na televisão, na TV Tupi. Uma época, diz ela, em que a televisão era ‘quase artesanal’.


– Quando começou, ela ( a televisão ) nos veio como um veículo cultural, como um grande veículo de informação, de ensinamento – lembra Laura. – Agora é tudo tecnologia. O artesanal tem sempre o calor do ser humano, tem sangue. A tecnologia é fria.


Para Laura, ‘o elemento humano sofreu um baque na TV’.


– Eu acho que a televisão regrediu um pouquinho no sentido da qualidade. Tecnicamente, não, é maravilhosa. Mas há uma certa pobreza – diz ela. – Isso acontece porque não há uma escolha, uma triagem de verdade. Todo o mundo pode ser tudo em televisão. Pode ser comentarista, ator, locutor… Virou uma vitrine.


Críticas à parte, Laura conta que assiste à TV. Ela costuma ver documentários, filmes europeus e novelas (‘Preciso saber o que acontece no meio em que eu trabalho’). Com passagens marcantes por novelas como ‘Irmãos Coragem’ e ‘Mulheres de areia’, Laura mergulha mais uma vez na teledramaturgia em setembro, quando estréia ‘O profeta’. Ela adianta que interpretará uma mulher cética na novela.


– Eu ainda não sei o nome da personagem, mas sei que ela é casada com um homem espírita. Naturalmente, vão acontecer coisas que a levarão a não ser mais cética – diz ela, que se identifica um pouco com o papel. – Eu fui casada com um espírita ( o jornalista e ator Fernando Balleroni, já falecido ). Em relação a ser cético ou não, eu não sei. Às vezes, acredito. Em outras, acho que é a ciência que tem razão.


A atriz estreou no teatro na peça ‘Plantão 21’, de Sidney Kingsley, de 1959, pelas mãos do amigo Antunes Filho. Mais de 40 anos depois, Laura diz que é do palco (‘Onde os deuses te abençoam ou não’) que vem a sua força. Apesar disso, ela vem estreitando cada vez mais a sua relação com o cinema. Depois de atuar recentemente nos inéditos ‘Fica comigo esta noite’, de João Falcão, e ‘Muito gelo e dois dedos d’água’, de Daniel Filho, Laura vem se dedicando a ‘A casa da mãe Joana’, novo longa-metragem do também amigo Hugo Carvana.


No último sábado, ela começou a dar aulas de interpretação na CAL. Laura diz que decidiu fazer o curso para aprender e não para ensinar.


– É verdade o que eu estou falando, não é besteirada. Eu gosto muito da juventude. Ela vem com novos sonhos, novas idéias – diz ela. – Esse tipo de experiência rejuvenesce a gente.


Laura já fez de tudo um pouco, mas ainda assim não se dá por totalmente satisfeita.


– Eu ainda quero fazer ‘O doce pássaro da juventude’ ( peça de Tennessee Williams ). É um texto belíssimo.’


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