Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Tribune Company é vendida por US$ 8,2 bilhões


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 2 de abril de 2007


MERCADO EDITORIAL / EUA
Katharine Q. Seelye e Andrew Ross Sorkin


Tribune é vendida por US$ 8,2 bi


‘Sam Zell, um magnata do setor imobiliário de Chicago que nunca administrou um jornal, venceu a batalha dos bilionários pela Tribune Company, dona dos jornais The Los Angeles Times e Chicago Tribune, entre outros. Ele atendeu ao pedido da empresa por um lance mais alto para cobrir a oferta feita por Ronald W. Burkle e Eli Broad.


A Tribune anunciou ontem que seus acionistas receberão US$ 34 por ação, ou US$ 8,2 bilhões. Zell apoiará a transação com um investimento de US$ 315 milhões e ingressará no conselho administrativo. A peça central de sua proposta é uma complexa estruturação financeira conhecida como plano de propriedade de ações de empregados, que pagará grande parte da operação. Separadamente, a companhia anunciou que venderá o time de beisebol Chicago Cubs depois da atual temporada.


A venda encerra um agitado capítulo de dez meses na história de 160 anos da Tribune Company, que ocupa a famosa Tribune Tower, no centro de Chicago. Além de jornais, o grupo conta também com 23 estações de televisão.


O acordo também põe fim à participação financeira na Tribune de duas grandes dinastias americanas do ramo dos jornais: os McCormick, cujo patriarca, o coronel Robert R. McCormick, fundou a companhia em 1847; e os Chandler, cujo patriarca, o general Harrison Gray Otis, fundou a Times Mirror em 1884. Os Chandler se tornaram os maiores acionistas da Tribune quando esta comprou a Times Mirror, em 2000.


O prolongado leilão, que pareceu sem rumo diante dos poucos lances e do anúncio da Tribune de que poderia se refinanciar, tomou impulso repentinamente no fim de semana, quando a companhia pressionou Zell para que ao menos igualasse a oferta de US$ 34 por ação de Broad e Burkle.


Zell, de 65 anos, filho de refugiados que deixaram a Polônia na véspera da invasão de Hitler, é um bilionário que começou do zero e prosperou comprando empresas em dificuldades. Não está claro o que ele planeja fazer com a Tribune. Ele afirma que vai manter a atual administração e que seu interesse não é editorial, e sim econômico.


Alguns empregados temem que ele continue a enxugar a companhia, que cortou pessoal e custos nos últimos anos, enquanto seus jornais, ao lado de muitos outros, perdiam leitores e anunciantes para a internet.


Zell também diz que não vai dividir a companhia com a venda de ativos individuais nem separar as estações de televisão. Mas ele pode não ter escolha. Qualquer novo proprietário está sujeito a obstáculos regulatórios que impedem uma empresa de jornais de possuir canais de radiodifusão no mesmo mercado.


A Tribune pensava exatamente nessa sobreposição quando comprou a Times Mirror, que possuía os jornais The Los Angeles Times e Newsday, entre outros. A intenção era promover simultaneamente as funções editoriais e de publicidade dos jornais e canais de radiodifusão. A Tribune realizou essa ‘sinergia’ com sucesso em Chicago, mas não teve sorte em seus outros dois grandes mercados, Nova York e Los Angeles.


Em junho do ano passado, os Chandler reclamaram em público da sinergia fracassada e da fraqueza das ações da Tribune e deram início ao leilão.


A maioria das empresas de jornais americanas viu suas ações despencarem nos últimos anos. As ações da Tribune fecharam sexta-feira em US$ 32,11, ganhando força com a expectativa de que uma venda pagaria grandes dividendos. Mas o preço está bem abaixo do recorde de US$ 60,88 registrado em novembro de 1999.


Fontes que acompanharam as negociações disseram que, embora Burkle e Broad tivessem inicialmente oferecido mais dinheiro que o rival, executivos da Tribune queriam que a companhia ficasse com Zell. O diálogo com Zell tinha começado antes e os detalhes de sua proposta já haviam sido acertados. A aceitação da oferta de Broad e Burkle provavelmente teria adiado o anúncio da venda – e a companhia dizia querer divulgá-la até o fim de março.’


TELEVISÃO
Lauro Lisboa Garcia


Um novelista musical


‘Quem acompanha novela sabe a diferença que faz quando entra no ar uma história assinada por Gilberto Braga. Além da realização da trama em si – geralmente com temas e personagens que instigam o telespectador comum, pela inteligência, a enxergar um pouco além do cotidiano tacanho -, ele sempre teve um cuidado especial com a trilha sonora que acompanha suas personagens. Gilberto é louco por música, todo mundo sabe, e, como poucos, tem os grandes astros da MPB, como Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, sempre dispostos a oferecer material inédito, seja uma canção ou a gravação nova de um antigo sucesso.


Brilhante, por exemplo, tinha tema de abertura exclusivo de Tom Jobim (Luiza) e acolheu a última gravação de Elis Regina (o bolero Me Deixas Louca), por sugestão do autor. ‘Telefonei para ela, perguntei se gostava do Manzanero, ela adorava, encomendamos a letra, e acabou sendo sua última gravação. Era tema da Vera Fischer e do Tarcísio’, lembra Gilberto.


Com a trilha de Paraíso Tropical, lançada há pouco em CD pela Som Livre, não é diferente. Tem o encontro inusitado de Erasmo Carlos e Chico Buarque, numa recriação do hit Olha, do Rei Roberto, Milton Nascimento cantando Tom Jobim (Samba do Avião), Ana Carolina e Dorival Caymmi com três temas cada, Elis, Bethânia, Marina, Nana, Simone… A seguir, trechos da entrevista em que Gilberto fala de música, seja de preferência pessoal ou seu papel nas novelas que escreve.


Que peso tem a sua opinião na decisão final da montagem do CD de uma trilha?


Tem um grande peso, porque todos os envolvidos sabem que eu adoro música, e se estiver satisfeito com a trilha vou trabalhá-la. Assim, são capazes até de satisfazer alguns caprichos meus, idiossincrasias (que não são poucas). Sabem que as músicas vão ser divulgadas, eu gosto de ouvir música na novela. Claro que preciso gostar das escolhidas para poder abrir espaço. E há outros escritores no mesmo caso que eu. Que eu me lembre, Sílvio de Abreu ou Manoel Carlos, por exemplo.


Você é muito assediado pelos cantores/compositores para entrar na trilha ou aparecer na novela, ou você é quem vai atrás deles, convidando-os para compor ou gravar?


Não gosto muito desse termo ‘assediado’. É muito natural que cantores e compositores nos mandem seus trabalhos. Claro que Chico Buarque e Caetano Veloso não vão mandar, mas eu compro na loja. Para preparar a trilha nacional de uma novela eu ouço: 1) Os últimos discos de cada cantor e compositor que admiro. 2) Seleções que costumo fazer da ‘obra completa’ de cada um, faço por prazer, na hora de escolher trilha ajuda muito. É Com Esse Que Eu Vou (com Elis Regina), por exemplo, veio daí. 3) Rigorosamente tudo o que me mandam, inclusive de desconhecidos. Claro que se eu não gosto, ouço só um pouco, mas ouço. Sem qualquer preconceito.


Dos compositores mais novos, Ana Carolina se destaca como autora de três canções (o mesmo número de Dorival Caymmi) na trilha de Paraíso Tropical. Como ela é considerada um bom potencial de vendas, isso tem peso na hora de montar uma trilha? O que ela representa no seu acervo musical?


Eu fiquei impressionado com as composições da Ana. Carvão me parece uma gravação esplêndida, adorei a interpretação dela, inclusive tem um arranjo incrível. Ruas de Outono me lembrou Roberto Carlos e eu tive o estalo: Gal, que não tinha disco com canções novas. A Ana achou boa idéia, convidamos a Gal, ela gravou especialmente para a novela, adorei o resultado, espero que o público também curta. Vai demorar a tocar, porque é tema da Glória Pires com o Marcelo Antony, e a Glória só entra no capítulo 30. Já Cabide é uma música pela qual eu tinha me apaixonado logo que ouvi o disco da Mart’nália, Menino do Rio. Eu adoro a Mart’nália. O disco todo é uma perfeição, um dos melhores da última década. Parece que Bethânia ajudou muito na concepção do disco.


Você já criou personagens ou mesmo situações a partir da letra de uma canção? Qual(is)?


Já. O samba do Ary Barroso Isto aqui o Que É?, por exemplo, me ajudou muito a desenhar a Raquel de Vale Tudo. Eu conhecia pelo João Gilberto, do admirável JG em Montreux, um dos melhores discos jamais feitos, para o meu gosto. Em Celebridade, o bairro do Andaraí foi escolhido por causa do samba do Nei Lopes, que eu admiro muito.’


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‘Música me ajuda a carregar o piano’


‘O público de tevê aberta (especialmente o que vê novelas) está cada vez restrito às classes C e D, conforme dizem as pesquisas. Vivemos um tempo em que não se desenvolve muito a capacidade de raciocínio, cada vez menos se distingue o bom do ruim em questão de gosto, e cada vez mais se consome quase tudo por inércia. Curiosamente, as trilhas de novelas, cujos respectivos CDs já contam com um significativo veículo de divulgação, que é o próprio folhetim, já não reservam tanto espaço aos cantores popularescos. Gilberto Braga diz que ter música boa na trilha é para ele ‘ajudar a carregar o piano’. A seguir, outros trechos da entrevista com o autor.


Com que intenção você recruta autores do porte de um Tom Jobim para compor um tema (como Luiza e Anos Dourados), ou intérpretes como Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, etc., que gravam músicas exclusivas para suas novelas? É para fazer prevalecer o gosto pessoal ou ampliar os horizontes do público?


Basicamente é para me ajudar a carregar o piano. Escrever novela é uma estiva. Se você tem Luiza na abertura, Caetano nas cenas, é um alívio, um incentivo para passar em claro as noites necessárias, por quase um ano da sua vida. Há pouco tempo eu rejeitava uma novela das 6, como espectador, porque não podia ouvir a música da abertura. Claro que não vou citar a novela, acho até que já falei demais.


Nos bastidores da Globo, uma das teorias sobre os índices de audiência de Paraíso Tropical (relativamente menor do que Páginas da Vida) envolve a música. Acredita-se que o telespectador esteja um pouco cansado do universo carioca das duas novelas (que mudou do Leblon para Copacabana) e a música de abertura da antecessora (Wave, de Tom Jobim) e desta (Sábado em Copacabana, de Dorival Caymmi) contribuam para esse suposto desinteresse. Você acredita que um tema de abertura de novela tenha esse poder de definir a audiência?


Acredito que o tema de abertura ajude ou atrapalhe na audiência, sim. Mas não creio que seja o caso, em Paraíso Tropical. Aliás, a novela tinha sido concebida para abrir com Sinatra e Tom cantando Garota de Ipanema, por causa do turismo sexual, um sucesso brasileiro no mundo todo, charminho. Eu mudei a concepção justamente quando Wave foi escolhida para abertura de Páginas da Vida. Sábado em Copacabana não é bossa nova. E a escolha trouxe o bairro de Copacabana, quer dizer, música e história se misturam muito na minha cabeça.


Nos anos 70, criou-se um nicho interessante de criação, com duplas de autores como Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, Toquinho e Vinicius, Antonio Carlos e Jocafi, Raul Seixas e Paulo Coelho e até Roberto Carlos e Erasmo Carlos, compondo exclusivamente para as tramas, baseados nas sinopses e personagens das novelas. E mesmo as que reuniam vários autores (como Saramandaia, Nina e Gabriela) primavam pela coerência e a qualidade do repertório. Hoje as trilhas de novelas viraram picadinhos comerciais que se desdobram em três, quatro CDs sem muito critério. Sem falar que as próprias novelas também se alimentam de muita reciclagem. Onde você acha que se perdeu o senso de direção na parte musical?


Eu, pessoalmente, não gosto de trabalhar encomendando uma música. Até porque, se não nos agradar, como é que nós vamos dizer isso a um criador consagrado? Minha relação com Tom Jobim foi uma exceção. Bom, o Tom Jobim É uma exceção.


Há quem diga que os números musicais em programas de variedades derrubam o ibope, e hoje na tevê há pouco espaço para boa música. Mas, em Celebridade, a personagem de Malu Mader (Maria Clara Diniz) era uma produtora musical e isso abriu brechas para muitos cantores aparecerem na novela. Foi um bom resultado para a música?


Achei ótimo. E curti especialmente divulgar samba de raiz com o Sobradinho, num segundo CD, era um sonho antigo. Aliás, está programado que haja vários shows também em Paraíso Tropical. Já tivemos o Toni Platão, na Lapa, num capítulo que me parecia adequado ao clima das músicas que ele cantou. Na medida do possível, vamos ter vários outros. E não é primeira vez. Gal cantou ao vivo em Dancin’ Days. Água Viva teve todo um capítulo passado no Canecão, com direito a números da Bethânia e cena de surra no banheiro.’


Cristina Padiglione


Nassau em estudo


‘A minissérie é só para início de 2008, mas logo após a Semana Santa, uma equipe de Nassau, o Brasileiro, baixa em Recife para a realização de um workshop. É na capital de Pernambuco que a Globo promove o encontro de historiadores e estudiosos com elenco e equipe. Na seqüência, a diretora responsável pelo programa, Denise Saraceni, inicia o trabalho de definição de locações por lá.


‘Temos um desenho de logística e belas imagens’, conta Denise ao Estado. ‘Nossa cenógrafa, com um diretor geral, deverá ir para Holanda, outro, para Nova York para acertar gravação no navio de época,que está lá.’


Como time que mostrou funcionar bem, Denise reúne para Nassau a mesmíssima equipe da novela Belíssima, encabeçada por ela. ‘Com Carlinhos Araújo e Luiz Henrique comigo na conceituação e Flavia Lacerda e Vinicios Viana, nossos colaboradores, na direção. Será um trabalho duro, mas, certamente inspirado não só pela poética e dura paisagem nordestina, como em sua capacidade de resistência.’


O texto é da expert Maria Adelaide Amaral e Maurício de Nassau, o papel, já tem dono: Dan Stulbach.


entre-linhas


O Skank abre hoje, às 21h, a nova temporada de gravações do Bem Brasil, da Cultura, sob o comando de Wandi Doratioto, no Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93, tel.: 3871-7700). Os ingressos custam entre R$ 10 e R$ 25 e podem ser comprados em qualquer unidade do Sesc.


O Warner Channel fará, no dia 8, uma maratona com os últimos episódios da série The O.C., a partir das 16 horas. Serão exibidos os cinco capítulos que antecedem o final, que vai ao ar no dia 12, às 21 horas.


O Globo Esporte de amanhã comemora os cem dias que faltam para o início dos Jogos Pan Americanos com um especial. A jornalista Glenda Kozlowski vai ancorar o programa diretamente do Parque Aquático e Mylena Ciribelli, do Engenhão, no Rio. Haverá entrevistas com atletas que já ganharam medalhas no Pan e reprise de melhores momentos das edições anteriores.


O Universal Channel alerta os telespectadores que a série Law & Order entrou em intervalo nesta semana. Enquanto os novos episódios da 17.ª temporada não são chegam ao Brasil, o canal exibirá reprises desta fase, às segundas, às 23 horas.


Antes da estréia da sexta temporada de 24 Horas, o canal Fox exibirá todos os episódios do quinto ano da série. A maratona vai começar às 22 horas do dia 7, sábado, e termina às 22 horas de domingo, dia 8, quando vai ao ar o primeiro capítulo do novo dia na vida do agente Jack Bauer, interpretado pelo ator Kiefer Sutherland.’


Patrícia Villalba


Darwiniano, BBB apanha mas não cai


‘Termina hoje mais um Big Brother Brasil, e é a sétima vez que a gente jurou que não o faria, mas acabou assistindo, se identificando e repercutindo aquele que é um dos formatos mais criticados pelos teóricos de televisão, mas que, ao mesmo tempo e inexplicavelmente, dá audiência, gera identificação e repercute, não só aqui, mas mundo afora.


Se já houve o BBB mais violento, o BBB mais gay e o BBB mais sexy, este poderia ser apontado como o BBB mais darwiniano de todos. A opção da direção do programa em confinar apenas belos e alegres jovens, tão criticada no começo do jogo, se confirmou acertada, funcionou. Saíram as lamúrias das minorias e dos menos favorecidos economicamente e entrou a arte da guerra de beira de piscina de Diego ‘Alemão’.


Desta vez, um grupo mais homogêneo que os das edições anteriores, lutando de igual para igual, digamos assim, parecia atuar num laboratório transmitido via satélite. Ali, de certa forma confirmavam, capítulo por capítulo, o livro Uma História das Emoções, do historiador inglês Stuart Walton, que acaba de chegar às livrarias brasileiras (Record, 420 págs., R$ 55).


Com referências que vão das catalogações das expressões faciais associadas a sentimentos feitas por Darwin a ícones pop contemporâneos, ele fala sobre as transformações das emoções básicas humanas – amor, raiva, constrangimento, por exemplo – nos últimos 250 anos. Segundo Walton, mudamos nossa maneira de expor sentimentos. O que é bom, porque trouxe mais veracidade às relações, mas que também nos soa ruim, porque as explosões de raiva e violência aparecem mais. Nesse contexto, mudou também o conceito de privacidade e até quanto se pode avançar sobre ela – olha aí o Big Brother. Nesta entrevista ao Estado, Walton fala sobre como as emoções se tornaram uma ‘commodity cultural’, e também sobre Darwin, celebridades, televisão e Big Brother. ‘Eu mesmo já fui apanhado pelo programa’, confessa.


Por que, até hoje, podemos falar sobre as emoções humanas com base nas teorias de Darwin?


Antes de escrever meu livro, fiquei muito interessado pelo caminho que Darwin tomou ao propor sua teoria nos anos 1870, mas ele não teve como prová-la cientificamente. Não houve até os anos 1960, até que se provou como verdade. Eu quis estendê-la e mostrar que quando falamos de emoções não são só as expressões faciais que são universais, mas as emoções em si.


Um dos pontos mais interessantes do livro é quando o senhor fala sobre a mudança no conceito de privacidade. Na sua opinião, o que move as pessoas que, no mundo todo, sentam no sofá de um programa de TV para expor todo tipo de sentimento?


Em primeiro lugar, temos de pensar o que as move a desejar estar na TV. Eu penso muito sobre como as emoções se tornaram um tipo de commodity cultural, que pode ser oferecida para consumo do público. Por isso, pessoas comuns são cada vez mais usadas em shows de TV, justamente porque as emoções que nos oferecem parecem mais genuínas do que as vividas pelos personagens da ficção.


O que o senhor pode falar sobre o sucesso do Big Brother? Por que nós censuramos tanto o programa e, ao mesmo tempo, permanecemos em frente da TV?


Nós censuramos o programa porque pessoas de verdade são forçadas a viver situações extremas de estresse para o entretenimento de outros, mas permanecemos em frente da TV porque é fascinante ver como aqueles confinados reagem. Eu detestava o Big Brother até o ano passado, quando me peguei assistindo ao programa todas as noites, exatamente porque me interessei pela história de um sujeito em particular. Você está certa: o programa é sobre invasão de privacidade, mas ele nos atrai pela mesma razão de que se nós ouvimos uma discussão no apartamento do lado, querendo saber sobre o que é que estão discutindo.


No livro, o senhor fala sobre a capacidade de amedrontar e como ela foi usada politicamente ao longo dos tempos. Como poderíamos explicar o fato de que sentimentos como esse ainda sejam usados dessa maneira em sociedade evoluídas como a nossa? Por que os governos ditatoriais de hoje em dia se baseiam nas mesmas emoções?


Essa é uma excelente questão. O medo é a mais básica das emoções, e a mais perigosa. Se você amedronta a população, você pode fazer qualquer coisa com ela, sem se preocupar com que nada de bom aconteça em suas vidas. No Reino Unido, houve uma evolução interessante na maneira como a população percebe os truques que o governo pode fazer com ela, e hoje ela não acredita em mais ninguém. A cada eleição, o número de pessoas que vão votar cai. Isso é, estranhamente, uma mensagem de esperança. Mostra que o governo precisa fazer algo a mais para manter a população interessada. No meu entendimento, Lula da Silva se tornou popular no Brasil porque ofereceu às pessoas uma nova visão de esperança.


Depois de escrever esse livro, o senhor pode me dizer que está otimista ou pessimista em relação à evolução das emoções humanas, se é que podemos falar nestes termos? O senhor argumenta que as relações são mais verdadeiras hoje porque as emoções estão mais expostas, mas o que dizer às pessoas que estão amedrontadas com manifestações extremas de violência de todo tipo?


A coisa a dizer é que não tenham medo. Quando perdemos nosso medo, podemos fazer coisas maravilhosas acontecerem. Podemos aprender isso na escola, onde os garotos grandes amedrontam os pequenos. Nós podemos expulsar governos ditatoriais se tivermos coragem para isso, sem parar para ouvir os que temem o que pode acontecer depois. Se nos preocuparmos com o que vai acontecer depois, não faremos mais nada. As emoções, por si só, não estão mudando, mas as pessoas estão encontrando novas maneiras de expressá-las. Em vários países, e não apenas na Coréia do Norte, no Zimbábue, na Colômbia, ou em várias outras sociedades onde governos ruins estiveram no poder.


O que a história das emoções humanas pode nos ensinar hoje?


Ela pode nos ensinar que nossas emoções podem ser livres, mas também podem nos escravizar. As emoções ficam sempre na divisa com sentimentos negativos (exceto a alegria), mas a reação a sentimentos negativos é a maneira como nossa mente nos avisa que coisas precisam mudar. Quando sua mão toca o fogo, a dor diz a você para mudar a situação, tirar a mão dali. Quando medo, raiva ou ciúme entra na sua vida, a mensagem é para que rejeitemos as causas dessas emoções.’


CRÔNICA
Arnaldo Jabor


Mulheres nuas entre cascatas de camarão


‘Quando eu vejo os aeroportos no caos, quando vejo o vice-presidente rindo e dizendo que não tem medo de voar sem radar porque ‘avião tem farol’, quando vejo a impotência dos políticos diante da velocidade dos horrores, do crime, da poluição, quando vejo a paralisia brasileira tocada apenas pelo marketing do Lula e, mais, abrindo os olhos para o mundo, quando vejo a política internacional com o Iraque, Irã, Palestina-Israel, quando vejo o Karl Rove dançando funk como um paralítico bêbado (Rove é o pai do Bush, o formulador do caos mundial), quando vejo isso tudo penso, desculpem, em Hegel. Ele falou em ‘salto qualitativo’. Sabem o que é isso? Bem… quando pequenas mudanças vão se acumulando na História ou num corpo, de repente, o que eram mutações quantitativas, viram qualidade. E pronto… não voltam mais atrás. Muitos pequenos erros acabam virando um grande equívoco definitivo, pequenos desastres organizam aos poucos uma grande catástrofe, como foi, por exemplo, o avião da Gol ou a eleição roubada do Bush. Creio que o mundo está dando um salto qualitativo, para trás. Um salto mortal de costas.


Desculpem o ‘filosofismo’ de um não acadêmico (o título do artigo é um chamariz para me lerem), mas está claro demais que as instituições de poder disponíveis no mundo (no Brasil já temos a zorra institucional) não controlam mais a velocidade da vida social; a superpopulação + tecnologia + descontrole ecológico tramam uma catástrofe no horizonte.


Cada vez mais, a política tem sido um espetáculo, um balé. O mundo será uma grande ‘economia sem sociedade’, se espalhando por cima dos ex-Estados-Nação e os Parlamentos serão circos fingindo legislar. No Brasil, a política já é um país dentro de outro, com leis próprias, ética própria a que assistimos, impotentes.


No mundo inteiro, a esperança de um futuro iluminado está indo por água abaixo e a vontade dos homens está mais submetida às suas produções; as coisas mandam nos desejos e o programam. O antigo sonho de liberdade e harmonia está se esgarçando, enquanto um futuro moldado pelo mercado manifesta-se claramente. As ONGs se multiplicam tentando dar à chamada ‘sociedade civil’ meios de evitar o domínio de um Estado anacrônico sobre a vida. Mas, o problema é que, enquanto o comercio, economia, cultura, terrorismo, pandemias foram globalizadas, o processo da política ficou dentro dos estados nacionais farsescos. A ONU é uma piada. Assim, podemos ir nos conformando com um futuro torto, onde talvez cheguemos (quem sabe?) até a uma forma de psicótica felicidade.


É muito doloroso pensar sem a idéia de fim, de finalidade. Mas, toda a tradição platônica de que, um dia, uma harmonia seria atingida, foi para o brejo mesmo.


Pela aceleração do espaço-tempo, da biotecnologia e da virtualidade da vida, teremos o desespero de um ‘enorme presente’. Tudo se passará aqui e agora, sempre. O passado será chamado de ‘depreciação’. Teremos saudades da linearidade, da perspectiva, do princípio, meio e do fim, teremos saudades do inútil e da lentidão, angustiados diante de um futuro que não pára de não chegar.


(Desculpem; este artigo está muito ‘papo-cabeça’, mas tenho de continuar….)


De certa forma, os islâmicos se ‘adiantaram’ e têm a consciência de que não existem como indivíduos e ficam de rabo para o ar, como um só formigueiro. Nós ainda acreditamos no indivíduo, mas, dentro em pouco, o indivíduo não será uma ilusão?… Os primeiros sinais de nossa futura babaquice já estão presentes na ridícula febre narcisista da celebridades que tomou conta do Ocidente. Será o fim do sujeito. Seremos todos objetos.


Por isso, a luta ‘política’ (vale o nome?) passou a ser uma luta contra o Uno. Antes, as esquerdas queriam fazer a realidade complexa e injusta caber numa utopia total, totalitária. Era o Uno contra o Múltiplo. Hoje, ao contrário, esboçam-se tribos na luta pela diversidade, contra o totalitarismo do Turbocapitalismo. Agora, os novos ‘combatentes’ não sonham com o ‘absoluto’; sonham com o relativo. Eles devem lutar contra inimigos sem rosto: a eficiência corporativa, o ‘downsizing’ da vida, a abolição do humano pela máquina. Hoje, o inimigo principal não é mais a ‘burguesia’ gorda e fumando charuto; o inimigo é um método de ‘coisificação’ global.


Sim, mas estaremos vivos, o que exige projeto e esperança. O que podemos esperar da vida?


Hoje, a felicidade já é considerada uma forma de bom funcionamento. Ser feliz é ser desejado. Felicidade é ser consumido, e entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Hoje confundimos nosso destino com o destino das coisas… Uma salsicha é feliz? Serei delicioso como um caviar Beluga? Fulano é um ‘espada’, comporta-se com a precisão de uma Ferrari; Sicrana é gostosérrima, rebola como um liquidificador.


Além disso, a felicidade hoje está na capacidade de ‘não ver’. De negar. Felicidade é uma lista de negativas. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas tragédias, não olhar os mendigos, ignorar o aquecimento global, não ver cadáveres no jornal, não ter coração. É o fim da piedade, da compaixão. Em breve, ficaremos todos psicopatas.


Além disso, assistiremos ao renascimento das religiões de massa, como já está ocorrendo. Os shows criminosos de falsos milagres e exorcismos na TV (que poderiam ser proibidos, mas quem tem peito?) já denotam o futuro. Vem aí uma pavorosa fome de transcendência, de falsos milagres. Deus, que estava na UTI, vai renascer, como um imenso deus de mercado.


Mas, este quadro de ficção cientifica que traço aqui talvez se aplique mais, na sua algidez, na sua frieza tecnológica, aos países desenvolvidos. Nosso futuro de ex-colônia, nossa índole de toupeiras talvez nos leve para um apocalipse mais lamacento, um hábitat mais de batráquios do que de robôs, sei lá eu…


Até eu fiquei bodeado com este artigo-cabeça…


Chega de sofrer; vou ler a revista Caras e sonhar com mulheres nuas entre cascatas de camarão….’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 2 de abril de 2007


GV, BRASILEIRO DA HISTÓRIA
Carlos Heitor Cony


O centauro dos pampas


‘No último domingo, a Folha divulgou o resultado de uma enquete para saber qual teria sido o maior brasileiro da história. Deu Getúlio Vargas em primeiro lugar, seguido por JK e Machado de Assis. Apesar de convidado a integrar a turma de votantes, um problema no computador me impediu de votar. Mas teria votado em Vargas e se tivesse direito a mais de um voto, também votaria em JK e Machado.


Haveria um consenso nisso tudo? Creio que ainda não, a lista dos que receberam menos votos é grande. Tirante alguns nomes que foram escolhidos pontualmente, sem abrangência histórica (Pelé, Garrincha, Tom Jobim, Evaristo Arns), importantes em suas respectivas áreas, mas que não geraram uma história e um tempo, os demais foram merecedores de votos, como Tiradentes, Aleijadinho, Santos Dumont, Barão do Rio Branco etc.


Meses atrás, foi divulgada uma pesquisa feita em Portugal sobre o maior português da história. Salazar ficou em primeiro lugar, seguido por Álvaro Cunhal. Um ditador de direita e um candidato a ditador de esquerda.


Fiquemos nos dois primeiros, Vargas e Salazar. Não tenho elementos para julgar Salazar, a não ser o óbvio, um ditador que ficou anos no poder, governando com a mão forte da Pide -uma das polícias políticas mais cruéis do século passado.


Vargas é mais complexo, embora tenha sido ditador, com uma polícia especial que deixou marcas na sociedade. Mesmo assim, aos poucos vai se formando um consenso favorável ao centauro dos pampas.


Fui criado no ódio contra Vargas. Quando escrevi um livro sobre ele, descobri o avesso de uma frase de Novalis: ‘Quando avistares a sombra de um gigante, encontrarás um anão’. Fui procurar um anão e encontrei um gigante.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


1964, IPM etc.


‘Por aqui, a Globo dá chamadas sobre ‘a crise provocada quando Lula autorizou um ministro civil a negociar com os controladores, o que desagradou’ chefes militares. Ou, na manchete do ‘Jornal Nacional’, ele ‘tenta acalmar militares após suspender punições’. Ou, na manchete do portal da Globo, ‘Justiça Militar pede abertura de inquérito’, o célebre IPM.


No exterior, a cobertura é diversa. Saudando ‘ação, afinal’, o ‘Financial Times’ diz que ‘a desmilitarização é um primeiro passo que devia ter sido tomado há meses’. No ‘El País’, ‘Lula ganhou uma importante batalha ao impedir que a Força Aérea desse ordem de prisão’ e ao decidir que o tráfego aéreo sai da esfera militar. Ele ‘se impôs para evitar caos maior’. E o ‘Clarín’ destacou que, ‘sob anonimato’, militares ‘entrevistados pela imprensa brasileira compararam o conflito ao golpe de estado de 1964’ e questionam Lula, ‘comandante supremo das Forças Armadas’.


À FRENTE


Por um lado, no despacho da AP, Lula contou em sites como o WSJ.com que George W. Bush avalia em 30 dias o prazo para fechar o acordo na rodada Doha. Por outro, prosseguem nas colunas do ‘Washington Post’ as pressões sobre o governo e o Congresso, contra subsídios agrícolas e outros. Ontem foi a vez do colunista Sebastian Mallaby, que quer ‘fast-forward’.


‘ALTAS TAXAS’


Em longa entrevista ao ‘FT’, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, entrou em economia e, a certa altura, declarou que ‘a África do Sul não é a Índia ou a China ou mesmo o Brasil… mas nós temos que alcançar essas altas taxas de crescimento’. Pelo jeito, o novo PIB colou.


ANTIETANOL


Na capa do ‘Wall Street Journal’ de ontem, a notícia de que ‘um dos obstáculos’ ao plano de ‘Bush, montadoras de carros, fazendeiros e outros’, de ‘encher o tanque com etanol’, é o ‘Big Oil’. São as grandes empresas de petróleo, que não aceitam o biocombustível nos postos, ‘só em poucos’. O blog Energy Roundup ironizou ‘mais um grupo na coalizão antietanol’, com Hugo Chávez etc.


‘COMPETIÇÃO’


De sua parte, depois de Chávez e ‘Big Oil’, o francês ‘Le Monde’ deu especial contra os ‘biocarburantes’. Entrevista o dirigente de uma agência francesa, para quem, ecoando Fidel Castro, é ‘uma competição entre culturas alimentares e energéticas’.


Lado a lado, executivos de EMI e Apple


O INÍCIO DO FIM?


Surgiu no ‘WSJ’ e logo ocupou os sites de edição social Reddit e Digg. Este perguntou se ‘é o início do fim para a música com DRM?’. É que a gravadora EMI decidiu liberar a venda sem DRM, o conhecido ‘software anticópia’, na descrição do ‘WSJ’, que evita falar em antipirataria. Ele é usado pelas gravadoras para, por exemplo, evitar cópias de suas canções vendidas pelo iTunes, da Apple. EMI e Apple oficializaram a decisão horas depois, em Londres.


Segundo a manchete do FT.com à tarde, a decisão veio após a União Européia anunciar investigação de ambas, por vender música sem respeitar regras de concorrência.


PAN, A CENSURA


No ‘New York Times’ de ontem, ‘quando os Jogos Pan-Americanos começarem no Brasil, milhares de atletas vão correr, lutar, mas não poderão se permitir um exercício diário e popular: blogar’. Nem eles nem os médicos, técnicos etc. Um esportista dos EUA chamou a proibição de ‘censura chocante’.


BRASIL E A WEB


O ‘Miami Herald’ deu um levantamento do Fórum Econômico Mundial que põe o Brasil bem distante na lista dos ‘mais avançados’ em web e tecnologia da informação. A Dinamarca lidera, os EUA vêm em sétimo lugar. Em 31º, o Chile é o primeiro latino-americano. O Brasil é só o 53º, atrás também do México.’


MERCADO EDITORIAL / EUA
Folha de S. Paulo


Tribune aceita proposta de compra de US$ 13 bilhões


‘A companhia de mídia Tribune -dona dos jornais ‘Chicago Tribune’ e ‘Los Angeles Times’- aceitou ontem a oferta de compra do investidor do setor imobiliário Sam Zell, estimada em US$ 8,2 bilhões. Além disso, a transação envolve as dívidas do Tribune, de cerca de US$ 13 bilhões.


A Tribune avaliava ofertas até o dia 31, quando se comprometeu a anunciar se aceitaria a venda ou se faria reestruturação. Além de Zell, que fez fortuna recuperando e relançando imóveis, estavam na disputa Eli Broad e Ron Burkle. O negócio deve ser realizado em duas etapas: na primeira, a ser concluída neste trimestre, serão compradas 126 milhões de ações da Tribune (mais da metade dos aproximadamente 240 milhões de ações emitidos) por US$ 34 cada. Na segunda, o restante será comprada pelo mesmo valor cada uma.


O diretor da Tribune William Osborn disse que o processo de revisão das ofertas foi ‘rigoroso e completo’.


O negócio não envolve o time de beisebol profissional Chicago Cubs nem um canal de TV de esportes.’


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