Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1288

Tributo a um companheiro

A voz gutural temperada por uma rouquidão crônica era uma de suas marcas registradas. A barba, outra. Gentleman, só perdia a compostura diante de alguma grande injustiça ou da quebra de palavra. Aí o homem manso, de tez lívida, transformava-se num leão, o sangue a lhe subir às têmporas, na busca obsessiva da coisa justa.

Era generoso nas atitudes, mas incisivo nas cobranças. O tricolor do Morumbi era outra de suas paixões, assim como as filhas, os netos, a família e a inseparável Lucila (Cano), fiel escudeira que até o fim dividiu afazeres domésticos e profissionais, temperados por um amor maduro e intenso.

Caipira da pequena Urupês, no interior de São Paulo, ex-seminarista, viu a vida real pela ótica da publicidade e do jornalismo, mas foi nesse que se encontrou e ao qual devotou grande parte de suas energias. Há mais de duas décadas colecionava tudo sobre imprensa e jornalistas, pensando em projetos que pudessem resgatar e difundir a memória do jornalismo brasileiro e de seus filhos ilustres para as novas e velhas gerações e para a própria sociedade. Foi por isso que seis ou sete anos atrás se aproximou de nós, querendo dar vida a tantos apontamentos e papéis guardados, na esperança de entregar algo útil e de qualidade aos seus pares e de – por que não – ter algum ganho com um trabalho iniciado como hobby, mas que lhe consumira boas horas da vida.

Nasceram, por meio dessa parceria com a Mega Brasil, Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia e a Trajetória de Octavio Frias de Oliveira, possivelmente o trabalho que mais prazer e reconhecimento lhe trouxe e onde pôde exercitar seus dons literários com rara maestria, tendo ainda a felicidade de ver sua obra figurar entre os finalistas do Jabuti de 2007.

Por meio da mesma parceria nasceram também alguns dos especiais deste Jornalistas&Cia, seja na celebração de datas comemorativas, seja em edições temáticas como a que dedicamos em 2008 às agências de comunicação, em parceria com o Jornal da Comunicação Corporativa, do qual ele era colunista, escrevendo sobre Responsabilidade Social e Ética, temas nos quais era doutor.

Dia do Jornalista

Disciplinado, seguiu aplicadamente as recomendações médicas, mesmo tendo de abrir mão parcialmente de alguns prazeres, como um bom vinho, um bom prato, viagens mais longas e outras ‘extravagâncias’ que na saúde sequer são preocupações de qualquer mortal.

Entre perdas e ganhos, foram cinco preciosos anos, que usou para concluir alguns dos projetos que tinha vontade de fazer e para ficar mais próximo daqueles a quem amava e admirava.

Esse era Engel Paschoal, amigo, colaborador e inspirador deste J&Cia, que nos deixou antes do combinado na última semana, após intensa luta contra um câncer que se iniciou na próstata e, em processo de metástase, atingiu os ossos, migrando já no finalzinho para o cérebro. Morreu no dia do 46º aniversário da ‘redentora’ – o 31 de março, que deu início ao golpe de 1964 – e, curiosa e coincidentemente, sua memória foi lembrada, na missa de sétimo dia, na quarta-feira, 7 de abril, Dia do Jornalista.

Vamos sentir sua falta.