Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A reconstrução da imagem na Copa do Mundo

A mídia constrói e destrói imagens. Tem um poder incrível, visto muitas vezes na história social e política. Assim, quando uma coisa vai mal, e se é interessante para a mídia, é preciso reconstruí-la. A Rede Globo dá um exemplo tácito de reconstrução da imagem da seleção brasileira. Fantástico, Esporte Espetacular, Globo Esporte, Jornal Nacional, entre outros programas globais, querem mostrar à sociedade uma boa imagem da seleção. Afinal, ano que vem é Copa do Mundo e neste mês está sendo realizada a Copa das Confederações. Vale tudo. Até mesmo Tadeu Schmidt apresentar uma parte do Fantástico de dentro do Mané Garrincha, o campo de futebol do Distrito Federal, em que o Brasil jogou a abertura da Copa das Confederações. Detalhe: as transmissões são ao vivo. Além de ter o comediante Marcelo Adnet com comentários engraçados de algumas jogadas das partidas da seleção brasileira.

O clamor popular pela Copa do Mundo e o incentivo ao Brasil nos jogos não é de hoje. Quem não se lembra da “Taça do Mundo é Nossa!” dos anos 70, quando a seleção foi tricampeã mundial? Então, o estilo de apelo não é novo. Mas, é preciso entender que parece ser muito fácil capturar o telespectador que assiste aos programas e fazer com que ele passe a torcer pela seleção. O fato de o Brasil ficar dois anos e meio sem ganhar de uma grande seleção não entra no histórico do apelo televisivo que a Globo quer despertar no cidadão brasileiro. Os aspectos negativos ficam em segundo plano.

Tudo isso mostra uma só característica: a mídia tem grande poder de divulgar, como caixa de ressonância, vozes de seu interesse, reproduzir discursos hegemônicos. Ou alguém duvida do grande interesse das televisões pela Copa do Mundo? O montante de dinheiro em jogo, de patrocinadores, de investidores na marca “seleção brasileira” é grande. Desta forma, é preciso despertar no cidadão o espírito de torcedor. Fazer com que ele torça pela sua seleção e esqueça os desmandos existentes em seu país. E a mídia faz muito bem esse papel. Praticamente não dá chance de o telespectador decidir ou optar por uma alternativa que não seja aquela passada na televisão brasileira. Está refém, não de sua própria sorte, mas do que a TV brasileira tem a lhe oferecer.

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Edgar Leite é jornalista, mestre em Ciências Sociais Políticas pela PUC e editor-chefe do Diário de Suzano