Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalistas chineses terão que passar em teste de ideologia

A partir do ano que vem, os jornalistas chineses terão que passar em um teste de ideologia para manterem a permissão para trabalhar, no que profissionais de imprensa consideram como mais um exemplo do crescente controle do Partido Comunista Chinês sobre a mídia desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder – primeiro do partido, em novembro de 2012, e depois do país, em março passado.

A inédita prova terá como base um manual de 700 páginas que traz orientações como “É absolutamente proibido publicar reportagens com comentários contra a linha do partido” ou “a relação entre o partido e a mídia é de líder e liderado”. Os jornalistas também precisarão passar por pelo menos 18 horas de treinamento em assuntos como valores marxistas para notícias e Socialismo com Características Chinesas, assim como ética jornalística. Quem não passar precisará fazer tudo de novo. Não está claro o que acontece com o jornalista que se recusar a passar pela avaliação. “O aperto é muito óbvio sobre os jornais que têm impacto sobre a opinião pública. Há muitos assuntos que somos proibidos de noticiar”, disse um jornalista chinês sob condição de anonimato, temendo retaliações por falar à imprensa estrangeira sem autorização do governo.

Por outro lado, alguns escândalos envolvendo jornalistas abalaram a credibilidade da imprensa chinesa. Um repórter do jornal New Express, de Guangzhou, foi preso depois de confessar que aceitou subornos para escrever textos sobre falsas fraudes envolvendo uma empresa estatal, que negou tudo. Mas os jornalistas têm poucas dúvidas sobre a real intenção do teste. “O objetivo deste tipo de controle é nos esgotar, nos fazer sentir que o controle político é inevitável”, disse um repórter de um jornal de Guangzhou. Segundo a agência reguladora de mídia do governo chinês, o objetivo do teste é “aumentar a qualidade dos jornalistas da China e incentivá-los a estabelecer o socialismo como seu principal conjunto de valores”. A agência não respondeu perguntas sobre a prova ou sobre a liberdade de imprensa na China – segundo o Comitê para a Proteção a Jornalistas, 32 profissionais estão presos no país, o terceiro que mais prendeu jornalistas em 2013, atrás de Turquia e Irã.

Para observadores da mídia chinesa, o governo tem dado demonstrações de que anda preocupado com a perda de controle sobre o discurso ao público, principalmente com o avanço no uso de redes sociais. Vários jornais publicaram editoriais sobre o tema depois que, em agosto, o presidente Xi encontrou-se com os responsáveis pela propaganda oficial. Bem antes, em janeiro, o Partido Comunista já havia sido surpreendido com uma greve no jornal Southern Weekly depois que censores impediram a publicação de um editorial defendendo a instituição de direitos constitucionais na China. “Foi um choque para o círculo de Xi Jinping”, disse Xiao Qiang, especialista em mídia chinesa da Universidade da Califórnia em Berkeley. “Foi uma rebelião interna e pública que deixou a censura em maus lençóis.”

Governo renova permissão para jornalistas estrangeiros

Por outro lado, nesta quinta-feira o governo chinês renovou as permissões de trabalho para jornalistas da Bloomberg e do New York Times, que ficaram mais de um ano sem a autorização depois de publicarem reportagens sobre a acumulação de riqueza por alguns dos maiores nomes do Partido Comunista – entre eles Xi Jinping.

Segundo Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, a renovação dos vistos para jornalistas ocorreu “de acordo com as leis e regras”. “Qualquer pessoa que aproveita o incidente para exagerá-lo não está de acordo com os fatos”, disse (com a Reuters).

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