Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A Câmara vai mudar

No serviço público, é corriqueiro encontrarmos dois tipos de doenças graves: a apropriação do público pelo privado e a inércia. Reforçando o imobilismo, comumente ouvimos a seguinte frase: “Se está dando certo, para quê mudar?” Não raro, conseguem-se barrar processos de mudança óbvios. As resistências ocorrem por motivos diversos, como a manutenção de chefias, de estruturas de poder, de zonas de conforto, de privilégios e o medo de cobrança por eficiência.

Há 12 anos, assumi a direção da TV Câmara com um grupo de jornalistas decidido a mudar essa realidade. Instados a coibir a apropriação do público pelo privado, buscamos em Habermas, no seu célebre livro Mudança estrutural da esfera pública, o princípio de que o Estado é o “poder público”. Vivemos uma experiência que nos apontou o caminho para a estruturação de uma organização de comunicação eficiente e voltada para os interesses da população. Percebemos que era muito comum a confusão de conceitos e de práticas; assim como a apropriação indevida do espaço público por deputados, partidos políticos e funcionários.

Contratamos uma consultoria que realizou um intenso debate com os funcionários e que nos ajudou a definir estratégias: criação de identidade editorial, padronização da cobertura jornalística, criação de grades de programação, acervo, cenários, controle de recursos, fluxograma de produção, controle de custos, investimentos e fluxo de caixa. O resultado, vencidas as resistências, é uma emissora com credibilidade.

Foco no usuário

Vivemos momento semelhante na Secretaria de Comunicação. A direção da Câmara pretende reformular o organograma da Casa, que data de 1971. Novas práticas de administração nos mostram processos modernos e ágeis. A população não aguenta mais carregar um Estado caro e lento. Por isso, estamos fazendo a reestruturação e a integração da estrutura: TV, rádio, jornal, agência de notícias e relações públicas. Segundo a pesquisa Newsroom Barometer, com mais de 700 editores de jornais de 120 países, 86% dos editores acreditam que as redações integradas serão a norma; 83% acreditam que os jornalistas deverão ser capazes de produzir conteúdos para todas as mídias em até 5 anos; 44% já possuem redação multimídia e integrada.

Esses resultados reforçam nossa decisão de mudar. É urgente e necessário evitar a duplicidade de processos entre os veículos; racionalizar a mão de obra, para mais e melhores conteúdos; atualizar o processo de convergência das mídias e a crescente interatividade com os usuários; manter unicidade na gestão de pessoas, relativa a critérios para funções comissionadas, a treinamentos e a licenças. Delineamos uma mudança nos paradigmas que dominam as estruturas, não só no serviço público, mas também em empresas privadas, com foco no nosso usuário: a população.

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[Sueli Aparecida Navarro Garcia é diretora da Secretaria de Comunicação da Câmara dos Deputados]