Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A história das mudanças

Ao falar na abertura do 10° Congresso Mundial de Jovens Empreendedores, em São Paulo, no seu primeiro dia como candidato oficial à presidência, Geraldo Alckmin afirmou: ‘Quem apostar que eu sou de direita ou de centro vai errar. Eu sou o candidato da mudança’.

Palavras dizem alguma coisa. Ou alguma outra coisa dizem… Mudança significa alteração, transformação. Mudança provoca deslocamentos. Mudança nasce de divergências. Mudança pode ser boa, pode não ser. Mas mudança em que nível? Mudança em nome do quê? Mudança onde? Para quem?

A manipulação semântica é amplamente utilizada no discurso político. A palavra ‘mudança’ presta-se a esse tipo de estratagema. Mudança sugere que tudo mudará… para melhor. E que todos se beneficiarão.

No site do PSDB, o partido é apresentado como agremiação vocacionada para mudar o Brasil. Em 1988, Fernando Henrique Cardoso falava de um ‘novo’ partido (‘novo’, ‘nova’ também são palavras encantatórias, mágicas, hipnotizadoras), de cunho socialista democrático.

O PT sempre se divulgou como ‘o partido da mudança’. Lá dentro, no entanto, vozes como a de Raul Pont já denunciaram a incoerência entre o ‘ser’ propagado e o ‘estar’ efetivo: ‘Somos o partido da mudança, mas estamos cumprindo papel de partido da ordem’. Cristovam Buarque, do lado de fora, mais explícito: ‘Lula é um presidente da administração, não o presidente da mudança.’ E o próprio senador, em 2001, declarou em entrevista ao site www.democracia.com.br: ‘Quero mudar o Brasil’.

Todos mudos

Todo mundo quer ser mudança. O prefeito José Fogaça venceu as eleições em Porto Alegre em 2004 por um partido pequeno, o PPS, com apoio de forças de centro-direita e do PDT. Derrotou o PT. Definia-se como candidato do ‘partido da mudança’, acrescentando: ‘Devemos manter o que está bom, mudar o que é preciso’.

Nasce agora um novo partido, o PSOL. E o deputado Chico Alencar, que se mudou do partido que mudou, adota o mesmo discurso: ‘Estamos aqui para renovar as esperanças do nosso povo, pois o PSOL será o partido da mudança social’.

Em 2002, Garotinho já dizia: ‘Vamos mudar o paradigma do governo’. Só não sei quantos eleitores no Brasil sabem o que é paradigma. Não seria mais impactante concluir que temos de mudar os paradogmas do poder?

Falou-se em mudanças todo mundo fica mudo, olhando para o horizonte. A mídia ouviu alguém falar em mudança? Reproduz na hora: ‘candidato da mudança’…

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Doutor em Educação pela USP e escritor, www.perisse.com.br