Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A má qualidade está em tudo

Achamos que esta retórica infernal sobre educação está ficando irritante, mas parece que nossos governantes não vão aprender nunca, ou realmente não têm nenhum compromisso com a geração de educação de qualidade. A maioria dos municípios de nosso país paga muito mal aos professores e promove completa ou total falta de recursos para a educação acontecer e para a escola ser um local de prazer, pesquisa, aprendizado e cidadania. Neste processo podemos entender por que o nosso povo acaba preferindo músicas de baixo nível, ouvindo programas de repetidas apelações pornográficas e aceitando passivamente a poluição de olhos e ouvidos com mensagens deturpadas e que atendem aos interesses de quem tem mais. Se nosso povo tivesse educação suficiente para discernir, escolher e criticar, os que comunicam teriam mais cuidado nos produtos que expõem ao nosso povo.


Quando foi candidato a presidente, o hoje senador Cristovam Buarque foi criticado por ser candidato de uma nota só. Ou seja, só falava em educação. Mas, vejamos: desse tempo para cá, o que mudou na educação brasileira? Temos resultados pífios, temos situação de analfabetismo funcional aos extremos. Temos educadores mal formados pelo clientelismo e corporativismo predominantes em nossas universidades e que provoca a falta de uma ação efetiva em prol da educação de qualidade. Temos uma situação de completo desprezo à educação, como se vê nos sucessivos desastres promovidos nas provas do Enem. Com tudo isso, pode-se dizer que nossa educação vai mal e ninguém faz nada, pois é mais cômodo criticar, editar livros e se beneficiar com o caos em vigor.


A situação da educação no Brasil é gritante e prova descompromisso dos governos de plantão que tem íntimas relações com a economia e desprezando plenamente as demandas sociais. Nos dias de hoje nosso povo tem de ser impelido a acreditar na educação como problema urgente em nosso país. Na situação em que vivemos somente educação de qualidade poderá nos salvar, pois miséria, desemprego, caos social, violência urbana e outras mazelas da sociedade só serão resolvidas se houver massiva campanha em prol do resgate da escola, dos professores e, sobretudo, da educação como fator de crescimento e desenvolvimento.


Discurso de véspera de eleição


O baixo nível cultural de nosso povo faz prosperar heróis sem caráter, situação de completa desmobilização e falta de valores edificantes para gerar um país digno e melhor para todos. A situação de proliferação na mídia de programas sem nível cultural e o crescimento de heróis tipo Big Brother só são possíveis graças ao mundo criado pelos políticos que preferem pessoas sem cultura e com nível de educação sempre abaixo da crítica para que estes se proliferem no poder gerando ignorância, dominação e podres poderes, no dizer de Caetano.


Visualizar uma sociedade com educação firme e forte deve ser uma bandeira levantada pela mídia para levar o povo a cobrar escolas de qualidade, onde métodos, situações avaliativas e conteúdos estejam afinados com o cotidiano de seus filhos. Os pais têm de fazer sua parte, mas isso só será possível se estes forem conscientizados para tal ação. Sem educação nosso país vai continuar amargando uma situação de dependência, pobreza e desigualdade social. A mídia tem de deflagrar esta bandeira com iniciativas de debate, de discussão, de relevância intelectual para que o povo tenha acesso a um conhecimento forte para gerar pessoas questionadoras e ativas contra os tipos de políticos que temos na atualidade. Utopia? Talvez sim, mas junto a todo este sonho é preciso que vozes se levantem para tirar da escuridão um povo que merece ser feliz.


Se nossas escolas fossem mais atraentes que o tráfico ou das banalidades do cotidiano de muitos, certamente teríamos um país melhor, com pessoas saindo da linha da pobreza por méritos próprios, e não por simples assistencialismo; certamente teríamos uma mudança firme em todos os sentidos. A educação é, sim, a solução, porém só será uma solução firme se houver por parte dos agentes midiáticos uma força traduzida por maior espaço para discussão ativa e pragmática. O resto é só balela e discurso de véspera de eleição…

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE