Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A morte da primeira pessoa

De vez em quando, vícios irritantes de linguagem assolam as redações país afora. Atingem jornalistas, comentaristas e palpiteiros em geral, das mais diversas áreas. Até que alguém aponta o fato, não necessariamente um erro, e acontece o fenômeno contrário: passa a ser deselegante ou lugar-comum escrever da forma tal. Foi o que aconteceu com o clássico ‘a nivel de’, que todo mundo escrevia e achava lindo, até alguém mostrar que estava errado.

O vício da moda é a auto-referência na terceira pessoa do singular. Costuma acontecer em textos autorais, onde o autor pode expressar o que pensa sobre determinado assunto. O ícone do movimento é a expressão ‘o colunista’, ou ‘este colunista’. É ‘este colunista’ pensa isso, ‘o colunista’ acha aquilo, na opinião ‘deste colunista’, e por aí vai.

Por exemplo, na edição 390 do Observatório da Imprensa, a página dedicada a Carlos Brickmann contém oito vezes variantes da expressão ‘este colunista’. Artur Xexéo, d’O Globo, também gosta do termo. Tutty Vasques, do NoMínimo, é outro. Até seu aviso de férias, na capa do site, segue o estilo: ‘Sorria! O colunista está tirando 20 dias de férias. Ameaça voltar em agosto’. Uma rápida consulta no Google com o termo ‘este colunista’ revelará inúmeros outros casos, de autores menos famosos.

Este colunista, portanto, fica com a dúvida. Será que nossos jornalistas esqueceram de como se conjuga um verbo na primeira pessoa do singular? Será que o pronome ‘eu’ saiu de moda e este colunista não percebeu?

Em dúvida,

O colunista

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Estudante de Economia, Porto Alegre