Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A urgência da democratização da mídia

Nos dias de hoje, a corrupção é o prato do dia nas notícias de todos os meios de comunicação e parece-nos que tem sido a marca da tal “oposição” de anos atrás no poder, pois o discurso da governabilidade acaba promovendo a troca – troca de cargos e jogo de interesses – que tem transformado a vida de nosso povo em uma situação miséria que só ocorre porque a renda sempre fica nas mãos de poucas pessoas que geralmente estão ligadas a grupos de poder que geralmente fazem parte da vida política e judiciária de nosso país. A questão é : o que estamos fazendo? Como reagimos a tanta bandalheira e tanta falta de respeito ao nosso povo?

Os meios de comunicação estão com parcela de culpa nesta situação, talvez pelo fato das concessões destes pertencerem a grupos políticos ou terem ligações com os grandes grupos econômicos de nosso país, fazendo muitas vezes jogo com as notícias e só publicando o que interessa a tais grupos. Além do mais, a promoção dos tais reality shows onde passar a perna dá Ibope acaba mostrando que todos têm de se dar bem e chegar ao poder de qualquer jeito. As novelas da televisão geralmente têm vilões que sempre se dão bem ou morrem no final sem pagar sua dívida com a justiça. Os bons programas de televisão geralmente só vão ao ar nos horários em que a maioria do povo não tem condições de acompanhar, pois são horários tardios ou na madrugada, o que atrapalha o emprego da maioria dos cidadãos.

No quesito educação, temos também várias anomalias e uma das principais é não publicar experiências exitosas desenvolvidas nos milhares de estabelecimentos de ensino de nosso país e que não são objeto de reportagem dos meios de comunicação, que preferem a violência, a agressão e as greves, sempre culpando os professores pela má qualidade de ensino. Em meio a tantas greves pelo piso salarial, não há nenhum meio de comunicação de nosso país que explique o para o chamado “povão” o que é a tal lei do piso e mostre onde está o imbróglio promovido pelos governos ao negar o cumprimento da lei. Não há na imprensa a independência real de fazer notícia que esteja ao lado das classes menos favorecidas, pois preferem trabalhar Eros (sexo) e Tanathos (morte).

Canais para interatividade e denúncias

O papel da imprensa no mundo de hoje é alertar para o dever do cidadão em fiscalizar o serviço público e dar espaços para o povo falar e dizer a verdade dos fatos, que geralmente nunca vem à tona no sentido de garantir ao povo o esclarecimento real da situação política do nosso país. Muitos dos que fazem a imprensa, tem preferências políticas ou interesses econômicos que acabam calando a boca de muitos repórteres ou oportunizando o falar em função de tais interesses. Se nossa imprensa fosse independente e realista, não teríamos tanta corrupção, pois o povo teria a oportunidade de denunciar e dizer o que pensa. No meio rádio, aqui em Fortaleza, é cada vez mais comum os diretores de emissora cassarem o direito de falar dos ouvintes ou reduzirem a oportunidade de falar tirando até o telefone do gancho para dizer que o mesmo está ocupado.

A grande questão da comunicação em relação ao processo de corrupção no país está na democratização da mídia que faça com que rádio, jornais, revistas e televisão falem a língua de nosso povo e deem a cada indivíduo a oportunidade de dizer o que pensa abrindo canais verdadeiros para interatividade e denúncias, o que infelizmente não tem ocorrido. A formação dos jornalistas anda meio precária, o que acaba fazendo com que estes não tenham a independência necessária nem falem o que realmente deveriam falar para o bem do país e do povo.

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]