Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Vídeo viral revela hábitos de consumo da informação

O vídeo de 30 minutos divulgado pelo grupo Invisible Children, com sede em San Diego, nos EUA, pedindo por ação contra o uso de crianças como soldados pelo guerrilheiro Joseph Kony, de Uganda, serve como um bom exemplo de como adultos jovens e mais velhos consomem informações.

Pessoas entre 18 e 29 anos tinham muito mais probabilidade do que os mais velhos de terem ouvido falar do vídeo “Kony 2012” e de saber sobre a situação em Uganda por meio das redes sociais do que pelas mídias tradicionais. Uma análise de posts no Twitter mostrou que este foi um dos assuntos mais comentados na rede social na semana passada.

Jovens adultos também eram duas vezes mais propícios do que os mais velhos a ter assistido ao vídeo no YouTube ou na plataforma Vimeo. No dia 17/3, “Kony 2012” tinha sido assistido mais de 80 milhões de vezes no YouTube e mais de 17 milhões de vezes no Vimeo.

Viral

O Centro de Pesquisas Pew, nos EUA, analisou como o vídeo “Kony 2012” e informações sobre ele alcançaram esta grande quantidade de americanos, em especial com menos de 30 anos, em um período relativamente curto de tempo. Uma pesquisa nacional feita por telefone nos dias seguintes à divulgação do vídeo mostrou que 58% dos jovens adultos tinham ouvido falar dele – destes, 40% tinham ouvido “muito” sobre ele. Em comparação, apenas 20% dos entrevistados entre 30 e 49 anos tinham ouvido falar; este número caiu para 18% na faixa entre 50 a 64 anos; e ficou em 19% entre os maiores de 65 anos.

Mais impressionante é o modo como as pessoas ficaram sabendo do vídeo: 27% dos jovens souberam por meio de redes sociais como Facebook ou Twitter, e outros 8% via outras fontes da internet. A internet foi três vezes mais importante como plataforma de acesso a informações para jovens adultos do que a mídia tradicional, como TV, jornal e rádio. Somente 10% destes jovens ficaram sabendo do vídeo por meio de veículos tradicionais.

Para as pessoas entre 30 e 49 anos, o mix de fontes de informação foi mais equilibrado: 22% souberam do vídeo pela internet (destes, 15% por meio de redes sociais) e 21%, pelas mídias tradicionais. Já com os maiores de 50 anos, a informação veio principalmente das mídias tradicionais. Quase 30% dos entrevistados entre 50 e 64 anos souberam pela TV, jornal ou rádio, comparado a 12% via internet. Para os entrevistados com mais de 65 anos, 47% obtiveram a informação das fontes tradicionais, e 5% da internet.

O boca-a-boca também foi uma fonte importante para os mais jovens: 9% dos entrevistados entre 18 e 29 anos ficaram sabendo do vídeo desta maneira; o mesmo ocorreu com 7% das pessoas entre 30 e 64 anos, e 2% dos maiores de 65 anos. Além de ouvir sobre o vídeo, jovens adultos tinham mais probabilidade do que os mais velhos de terem visto o vídeo: 23% entre 18 e 29 anos assistiram, em comparação a 11% dos entrevistados entre 30 e 49 anos, 8% entre 50 e 64 anos e 13% dos com mais de 65 anos.

Ajuda das celebridades

O esforço da organização para promover o vídeo por meio das mídias sociais foi bem sucedido. Um dos objetivos da Invisible Children era atrair a atenção para o tema e encorajar celebridades que usam o Twitter a postar sobre ele. Entre os que fizeram estavam os apresentadores Oprah Winfrey e Ryan Seacrest, os cantores Justin Bieber e Taylor Swift, e o ator Alec Baldwin. O vídeo também foi mencionado pelo porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, que disse que o presidente Barack Obama parabenizava a iniciativa de fazer uma campanha para combater Kony e seu exército.

Segundo o Projeto pela Excelência em Jornalismo, do Centro de Pesquisas Pew, quase cinco milhões de tuítes sobre o vídeo foram postados na semana depois de sua divulgação, no dia 5/3. Entre os dias 5 e 12/3, 66% das mensagens no Twitter apoiavam a campanha, 17% eram céticas ou negativas, e 16% eram neutras.

Algumas das respostas positivas vieram de celebridades, com grande quantidade de retuítes. A influência dos comentários da apresentadora Oprah Winfrey foi marcante. Depois que ela tuitou sobre o vídeo para seus 9,6 milhões de seguidores, ele recebeu mais de nove milhões de acessos. A mídia tradicional também fez matérias sobre o vídeo e a reação a ele após o dia 8/3.

Simplificação

Mas a iniciativa também recebeu críticas. Para o pesquisador Ethan Zuckerman, do Centro Berkman para Internet e Sociedade da Universidade de Harvard, simplificar a situação do conflito em Uganda minimiza as tensões étnicas, disputas por terra e o papel dos exércitos estrangeiros. “Quais são as consequências não previstas do vídeo? A principal é o aumento do apoio a Yoweri Museveni, líder ditatorial de Uganda”, diz.

A jornalista e blogueira ugandense Rosebell Kagumire postou um vídeo em que alerta para a necessidade de se fazer uma campanha inteligente por mudanças políticas reais, em vez de propagar uma história “sensacionalista”. Já o perfil @AudraTheRapper, no Twitter, foi além, alegando que Kony não é visto há quatro anos e seu exército não faz nada há seis. “A Invisible Children vai arrecadar todo este dinheiro e ainda assim não vai encontrá-lo”.

O vídeo mostra Kony e seu exército como uma força brutal que sequestra crianças para se tornarem soldados. O narrador pede para que todos participem do movimento anti-Kony entrando em contato com políticos ou doando dinheiro. Informações de Lee Rainie, Paul Hitlin, Mark Jurkowitz, Michael Dimock e Shawn Neidorf [The Pew Research Center, 15/3/12].