Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Respostas conservadoras e reacionárias

Escutando o programa Polêmica, de Lauro Quadros, na Rádio Gaúcha de Porto Alegre pela manhã, me perguntei qual a razão do predomínio do viés reacionário nas respostas dos ouvintes e logo me dei conta de como sou burro em não perceber óbvio: 10 horas da manhã é o horário perfeito de escuta para os blogueiros de pijama. Daí não ser preciso fazer uma pesquisa científica, nem uma interativa não-científica, para chegar à conclusão de o porquê haver sempre um predomínio conservador e até mais do que isso, um viés reacionário, de extrema-direita, no resultado das votações e na maioria das respostas.

É fato sabido que a maioria silenciosa virou minoria ruidosa com o advento da internet. Aquele analfabeto funcional que tinha vergonha de manifestar a sua opinião, hoje se sente à vontade para verbalizá-la de modo anônimo, ou mesmo assumindo por inteiro, até porque “não dá nada”. Sem falar dos reacionários de todas as extrações e latitudes, que se sentem acuados e reagem violentamente com o avanço de qualquer milímetro no direito do pessoal do andar de baixo porque veem aí riscos concretos de perda de seus direitos e privilégios.

Confesso que não sei se o que está acontecendo hoje com todos se sentindo à vontade para se expressar é um avanço ou o contrário. De qualquer modo, este contexto atual é mais democrático e participativo do que o mutismo anterior, mesmo que em um primeiro momento pareça haver um desequilíbrio a favor das forças conservadoras e reativas. É bem verdade que no tempo da ditadura o mutismo era agravado porque estas pessoas viviam escondidas e loucas de medo de falar qualquer coisa que as incriminasse mesmo quando eram ferrados pelo sistema. Também, havia, é claro, o fato de que grande parte da maioria silenciosa concordava com o regime instaurado. Hoje, sob um regime democrático, grande parte do suposto destemor e audácia da minoria ruidosa se deve à consciência de que ao pensar igual aos donos do poder e do dinheiro ficam sob cobertura e proteção destes, podendo assim repetir ad nauseam os clichês do pensamento único aprendidos via TV, internet e de leituras dos jornalões e revistas.

Em defesa dos donos do poder

Da parte desta minoria ruidosa existe até certo orgulho em ver acolhidos os seus toscos conceitos e preconceitos ideológicos por figurões midiáticos. Estabelece-se assim uma via de duas mãos que se retroalimenta e somente é perturbada pela força da realidade que insiste em desmentir muitas das verdades vendidas como o plus ultra da modernidade. Nem mesmo o desfecho catastrófico do modelo neoliberal, através da crise financeira global com epicentro na crise do mercado imobiliário americano e na chamada pirâmide de Madoff, que só não foi pior porque se socorreu do demônio Estado e foi capaz de livrar da cegueira os obstinados e obtusos defensores do mercado.

Um dado positivo importante a favor do programa do Lauro Quadros é que é um espaço democrático, onde querendo ou não as pessoas com este perfil conservador se dispõem a ouvir os debates qualificados que muitas vezes colocam em xeque seus argumentos. Ainda que isto não signifique nenhuma mudança na postura ideológica dos ouvintes fica, no mínimo, o conhecimento de argumentos sólidos e racionais contrários ao mantra em defesa dos interesses dos donos do poder e do dinheiro vendido pelos seus prepostos na mídia impressa e televisiva.

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[Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS]