Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornais analisam Ensaio sobre a Cegueira

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de setembro de 2008


 


CEGUEIRA
Silvana Arantes


teste de visão


‘‘Ensaio sobre a Cegueira’, quarto longa do diretor brasileiro Fernando Meirelles, 53, estréia hoje em 95 cinemas brasileiros e, no fim do mês, em 1.500 salas dos Estados Unidos. Co-produzido por Japão, Canadá e Brasil com R$ 41,4 milhões, o filme teve no 61º Festival de Cannes, em maio, um lugar de honra -a sessão de abertura, em competição pela Palma de Ouro. Mas a reação da maioria da crítica presente ao festival foi de desapontamento. Na entrevista a seguir, Meirelles conta como o escritor português José Saramago, autor do livro no qual o filme se baseia, ajudou-o a recobrar a confiança no filme, fala de sua relação com a crítica e revela que o longa tem de arrecadar cerca de R$ 90 milhões nas bilheterias para remunerar o investimento dos produtores.


FOLHA – Você diz ser movido a desafios. Neste caso, o desafio era filmar um livro tido como infilmável?


FERNANDO MEIRELLES – Era filmar uma história que não se tem por onde pegar. É um filme sobre uma doença que não existe nem nunca vai existir, numa cidade que não existe, com personagens que não têm nem nome nem história. É pura invenção. Eu tinha medo. Pensava em como o espectador iria se interessar por uma história que não tem nada a ver com ele. A primeira coisa que falam nos manuais de roteiro americanos é sobre a identificação com o personagem, para grudar o espectador. Essa possibilidade o filme não tinha. Não contamos quem são os personagens.


FOLHA – O desafio foi vencido?


MEIRELLES – Não sei. Vamos ver como o espectador reage. Mas foi a coisa que mais me angustiou. Eu assistia e falava: tem uma frieza aí. É claro que tem. Se eu mostrasse duas cenas daquele japonês antes de ficar cego, saindo de casa, com a mulher, numa situaçãozinha curiosa, você já ficaria amigo dele. Quando ele cega, você tem pena: ‘Pô, aquele cara tão legal! Hoje era aniversário, ele estava preparando aquela surpresa para a mulher e agora vem isso!’. O filme não tem isso. É daquele momento para a frente.


FOLHA – Como foi a experiência de desagradar no Festival de Cannes?


MEIRELLES – Foi uma surpresa. A [revista norte-americana] ‘Variety’ disse que o filme não deveria ter sido feito. É mais que desagradar. É uma agressão. Nunca tinha passado por algo tão forte assim. Na verdade, não li as críticas. Foram me falando. Fui para Lisboa dois dias depois da sessão em Cannes. Aí, sim, fiquei muito ansioso. Pensei: ‘Esse filme não é o que eu pensava. Agora vou mostrá-lo para o Saramago e tudo estará acabado’. Aí foi aquela reversão de expectativa [a reação do escritor ao filme está em vídeo no Youtube]. Recobrei a confiança. Peguei o pulso do filme de novo.


FOLHA – Após sessões-teste com público no Canadá, você decidiu suavizar as cenas de estupro. Em Cannes, parte dos críticos disse que o filme não retrata o horror descrito no livro. Arrependeu-se de haver suavizado a violência?


MEIRELLES – Não me arrependi. O filme não é para crítico. É para público.


FOLHA – Não é um filme de arte?


MEIRELLES – Não. É um filme de entretenimento inteligente. Não é um filme de estúdio. Tenho o corte final, mas é preciso ter responsabilidade com o investidor. Custou US$ 24 milhões [R$ 41,4 milhões]; tem que ter público. Ninguém espera que seja um blockbuster, mas tem que fazer uns US$ 20 milhões [R$ 34,5 milhões] nos EUA e uns US$ 40 milhões [R$ 61,1 milhões] no resto do mundo, senão não se paga.


FOLHA – Você disse que o filme não é para críticos e que não lê críticas. Qual é sua relação com a crítica?


MEIRELLES- É aquela velha história: se a crítica é boa, você fica se achando. Se é ruim, fica mal, desanimado, desestimulado. Então decidi que leio crítica de outros filmes, dos meus, não.


FOLHA – Uma visão mais otimista classifica a crítica como ‘um diálogo entre pessoas inteligentes’. A crítica no Brasil não é inteligente e não lhe ajuda a pensar sobre sua obra?


MEIRELLES – Acho que é muito inteligente e adoro falar dos meus filmes diretamente com os críticos. Gosto quando, num debate, o cara me desafia. Mas a crítica em jornal é quase uma sentença. Está escrito e não há direito de resposta.’


 


 


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No Brasil, diretor mira público via TV


‘Neste trecho da entrevista, Fernando Meirelles avalia que a atriz Julianne Moore tem chances no Oscar com seu papel em ‘Ensaio sobre a Cegueira’, porque a Academia de Hollywood ‘às vezes faz justiça’; fala sobre a pressão do sucesso e aborda sua relação com TV e cinema no país. (SA)


FOLHA – Você disse que vai dirigir apenas para a televisão no Brasil e que, no cinema, fará sempre projetos internacionais. Por quê?


MEIRELLES – Falei isso embalado pela excelente experiência que tem sido fazer [a minissérie para a Globo] ‘Som e Fúria’. Está sendo tão bom fazer TV. Para que vou fazer cinema? Minha motivação maior é público. ‘Som e Fúria’ provavelmente será visto por 12 milhões de pessoas, sendo pessimista. Se eu fizesse o filme de maior sucesso nos últimos 30 anos no Brasil, não teria esse público. [O maior sucesso nacional desta década, ‘Dois Filhos de Francisco’ (2005), teve público de 5,4 milhões.] Mas vamos relativizar. Falo isso, mas, daqui a dois anos, posso estar fazendo um filme aqui no Brasil.


FOLHA – Os pífios resultados de bilheteria dos filmes brasileiros neste ano demonstram a falência do projeto industrial de cinema no país?


MEIRELLES – Acho que não. Este ano ainda não acabou. Alguns filmes podem reverter a porcentagem [do produto nacional] do mercado interno [em torno de 7%]. Todo ano há filmes para todas as faixas de público. No cinema americano também é assim. Não acho que haja falência. Ao contrário, penso que é uma indústria cada vez mais sólida, que está se consolidando com essa produção crescente ano a ano.


FOLHA – Você foi apontado como o 20º diretor latino mais poderoso do mundo pela revista ‘Hollywood Reporter’ em 2007. É a melhor colocação de um brasileiro. Para que serve esse poder?


MEIRELLES- Botar o cinema brasileiro no mercado internacional é minha bandeira. Estou tendo a possibilidade de produzir filmes de diretores novos, indicar colegas para fazer filmes fora, fazer formação de roteiristas aqui. Se eu der alguma contribuição para o cinema brasileiro, vai ser no sentido de trazer um pouco o cinema internacional para cá e empurrar um pouco o nosso para o mercado externo.


FOLHA – Por causa da fama, sente-se pressionado a não errar?


MEIRELLES – Talvez por mim. Mas a pressão para não errar não é tão grande quanto minha vontade de experimentar coisas. Não deixo de me arriscar porque posso vir a errar. ‘Ensaio sobre a Cegueira’ é prova disso. Tinham me oferecido projetos mais seguros, mais fáceis. Tenho essa tendência de ir para a coisa mais arriscada.


FOLHA – Seus dois filmes anteriores somam oito indicações ao Oscar. Qual é sua expectativa para este?


MEIRELLES – Acho que este não tem muito a cara do Oscar. É um filme mais autoral. Por outro lado, a [atriz] Julianne [Moore] está sempre mencionada nas listas prévias. Se alguém tiver alguma chance nesse filme, é ela, até porque já foi indicada quatro vezes, nunca ganhou e fez um trabalho sensacional em ‘Ensaio sobre a Cegueira’. A Academia tem isso. Às vezes, eles fazem justiça.


FOLHA – Depois de ‘Cidade de Deus’, você se voltou a um modelo de produções internacionais de orçamento médio e declinou das superproduções? Ter o corte final é condição para que faça um filme?


MEIRELLES – Sim. Não vou dizer nunca, mas acho que dificilmente vou topar um projeto em que não tenha o corte final.’


 


 


Inácio Araujo


É um ‘filme de arte’ sem vôo autônomo


‘Fernando Meirelles esquivou-se bem da armadilha maior que a indústria do audiovisual lhe propunha: tornar-se, na ordem global, o cineasta da miséria, dos miseráveis e de suas causas. A isca fora lançada com ‘O Jardineiro Fiel’. O diretor preferiu ir a José Saramago e a ‘Ensaio sobre a Cegueira’, o que lhe garantiu, em termos de produção, o prestígio de um Prêmio Nobel e a identidade com a língua portuguesa (vale lembrar que Meirelles lançou-se à carreira internacional de diretor sem nunca romper laços com o Brasil -sua O2 produz vários filmes). ‘Ensaio sobre a Cegueira’ era, no entanto, desde o início, uma tacada de risco. Em primeiro lugar, por se tratar de um texto literário com muito prestígio (talvez excessivo). Trabalho nessas condições exige fidelidade ao original e busca de imagens concretas para representar idéias abstratas como as do livro. Na história, as pessoas tornam-se cegas, sem razão perceptível. Deixam de ver. As vítimas da epidemia são confinadas em condições desumanas.


Caráter abstrato


O espectador deve refletir sobre um mundo em que guerras parecem nunca terminar ou em que a convivência foi substituída pela competição. Ou seja, idéias com que é fácil concordar, em parte porque são genéricas, mas que, por isso mesmo, não questionam grande coisa. O que constituía um real desafio na feitura do filme era o caráter abstrato disso. O cinema não se dá bem com abstrações. Transformá-las em carne e osso, respiração, objetos, era o desafio e tanto que Meirelles topou encarar. No resultado, não faltam elementos dignos: atores bem dirigidos, cuidado da produção, equilíbrio entre narração subjetiva e objetiva etc. As deficiências do filme devem-se menos a Meirelles do que a seu ponto de partida. Poderia ter sido diferente? Tendo a pensar que, com menor reverência ao texto original e maior audácia em relação ao seu meio de expressão, Meirelles teria podido ir mais longe. Temos aqui, afinal, um filme sobre a cegueira. No entanto, não se percebe nenhuma reflexão específica sobre o tema. É uma pena, porque ajudaria a tirar ‘Ensaio’ da incômoda posição de adaptação literária de prestígio e dar-lhe um vôo autônomo e mais interessante. Como ficou, ‘Ensaio’ resulta num filme aplicado, digno, não destituído de talento. Mas, ainda assim, não mais que um ‘filme de arte’. E essa é a outra armadilha de que vale a pena um cineasta escapar.


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA


Produção: Brasil/Canadá/Japão, 2008


Direção: Fernando Meirelles


Quando: estréia hoje nos cines Bristol, TAM e circuito


Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos


Avaliação: regular’


 


 


GRAMPOLÂNDIA
Folha de S. Paulo – Editorial


Grampo controlado


‘NUM PAÍS em que o presidente do Supremo Tribunal Federal se vê objeto de escutas telefônicas clandestinas, não há dúvida de que o direito à privacidade, garantia fundamental num regime democrático, encontra-se ameaçado. Não apenas a arapongagem ilegal preocupa: mesmo nos procedimentos autorizados pela Justiça, sinais de excesso intromissivo surgem com relativa freqüência no noticiário.


A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou anteontem um projeto de lei com inovações positivas nessa questão. Passa-se a exigir, por exemplo, que sejam mais fundamentados os pedidos de quebra de sigilo telefônico feitos pela polícia.


Consideram-se inutilizáveis, no processo, os registros de conversas entre o suspeito e seu advogado. Penas severas são previstas ao servidor público responsável por escutas clandestinas.


Se o projeto for à frente, vão aumentar em detalhamento as normas destinadas a reger o assunto, datadas de 1996. Ao mesmo tempo, não se trata de diminuir o alcance de um recurso investigativo indispensável, num ambiente em que a sofisticação do crime desafia como nunca o engenho das forças da lei.


Também o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) tratou de regulamentar os procedimentos a serem seguidos pelas autoridades na realização de escutas telefônicas. O órgão estipulou diversas normatizações de ordem técnica que, embora incapazes de prevenir eventuais ações desmedidas de um juiz de primeira instância, obrigam-no a embasar circunstanciadamente a sua decisão.


Num único aspecto, entretanto, o CNJ incorre no risco de ingerência sobre decisões judiciais. Ele determinou que todo magistrado deverá informar mensalmente a quantidade de interceptações telefônicas que autorizou. O perigo, a ser evitado, é essa medida degenerar numa espécie de supervisão estatística, lançando uma sombra de desconfiança sobre os magistrados que mais ordenam quebra de sigilo.


Abusiva ou não, a decisão individual de um magistrado é soberana. Se for o caso de responsabilizá-lo por erros cometidos, eis algo que pode ocorrer apenas ‘a posteriori’, num devido processo legal.


O Conselho Nacional de Justiça tem atribuições puramente administrativas. A tabulação numérica dos grampos, portanto, poderá ser usada legitimamente apenas para constituir um banco de dados -o que, de resto, contribuirá para tornar mais transparentes os atos da Justiça.


Controlar ao máximo o poder das autoridades é uma preocupação que deve ser constante no Brasil. A investigação de criminosos e o combate à impunidade no país não podem ter como custo o desrespeito generalizado a garantias fundamentais, como o direito à privacidade. Chegou a hora, portanto, de reformar a legislação frouxa que hoje confere a servidores inconseqüentes um grau de arbítrio incompatível com a Constituição.’


 


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Juiz extingue ação contra a Folha em MT


‘O juiz Marcos Terencio Agostinho Pires, da comarca de Água Boa (MT), extinguiu ação de indenização ajuizada por Carlos Raimundo Santos Júnior, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, contra a Folha e a jornalista Elvira Lobato.


O pastor alegou que ‘teria tido sua boa reputação e honra abaladas’ com a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, publicada em dezembro.


O juiz entendeu que não houve nenhuma ofensa à personalidade do autor, que não é parte legítima. O jornal já obteve 52 sentenças, todas favoráveis, de um total de 101 ações movidas por seguidores da Igreja Universal.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Antes que custe a vida…


‘Já morreram oito, mas pela cobertura brasileira ao longo do dia a notícia de ontem, na Bolívia, era a volta do fornecimento de gás.


O ‘Jornal Nacional’ até relatou os confrontos em sua escalada, mas para vincular os ‘governistas’ da Bolívia e os ‘sem-terra’ do Paraguai aos ‘atentados’ do 11 de Setembro nos EUA.


Na própria Bolívia, até o oposicionista ‘La Razón’ saiu a pedir ‘a mediação internacional’, no editorial ‘Antes que a diferença nos custe a vida…’.


E por aqui a Reuters Brasil destacou que Lula ligou para Evo Morales e ‘decidiu mandar uma delegação para intermediar o conflito’.


‘MASSACRE’


Foi dia de contar os mortos, na mídia da Bolívia. Meio da tarde e a agência estatal falava em quatro mais 20 feridos em Pando, citando paramilitares vinculados ao governador oposicionista. O número foi confirmado pelo ‘La Razón’, aparentemente mais isento diante do conflito, chegando depois a oito -e sublinhando a qualificação pelo governo Evo de ‘massacre’.


OUTRA VÍTIMA


O ‘La Razón’ noticiou que ‘meios e jornalistas viveram dia de ameaças e agressões’ -e a estatal Agência Boliviana acrescentou que a federação dos jornalistas da América Latina condenou.


O site Comunique-se ouviu correspondentes sobre os problemas que enfrentaram com a destruição da estatal de telecomunicações e também da televisão estatal.


‘GRAVE’


Ao longo do dia na home do ‘La Razón’, a foto da embaixada dos EUA cercada por soldados. E a qualificação pela diplomacia americana da expulsão do embaixador como ‘grave erro’


BRASIL E COLÔMBIA


Nos EUA, correspondentes de ‘New York Times’ e ‘Wall Street Journal’ na Bolívia destacaram a expulsão do embaixador americano, até então sem confirmação, e a explosão que afetou o Brasil.


Fim do dia e, com agências, o site do ‘NYT’ ressaltava o número crescente de mortos. Também o telefonema de Lula para Evo Morales e o envio de delegação conjunta de ‘Argentina, Brasil e Colômbia’.


E por fim, ainda assim sem maior destaque, a expulsão do embaixador boliviano pelos EUA.


OUTRA COISA


Em contraste com a Bolívia, a nova ‘Economist’ dá foto de Lula com o peruano Alan Garcia, que chega ao Brasil semana que vem com metade de ministério e 200 empresários, para fechar ‘aliança estratégica’. A revista saúda, ‘buen provecho, bom apetite’


O VOTO DA CLASSE MÉDIA


Mas a atenção da nova edição da ‘Economist’ era outra, na América do Sul. Sob o título ‘Metade da nação, com a força de cem milhões de cidadãos’, a revista levantou ‘o que a classe média planeja fazer com seu dinheiro -e seus votos’. É ainda a pesquisa da FGV, que mostrou que o Brasil ‘agora é um país de classe média’.


A ‘Economist’ registra que o PSDB costuma ter maior apoio na faixa, mas destaca a avaliação de Mauro Paulino, do Datafolha, de que ‘aqueles que se moveram das classes D e C vão provavelmente se manter com o PT’. Por outro lado, a classe média ‘mudou o PT à sua própria imagem’, a começar da retórica econômica.


BRASIL NA CHINA


Mais da ‘Economist’. Ela foi à ‘maior comunidade de brasileiros da China’, em Dongguang, mais do que em Pequim e Xangai, para contar como ‘aproveitam benefícios da globalização’.


MEXICANO NO ‘NYT’


O próprio ‘NYT’ noticiou, com foto, a aquisição de 6,4% do jornal pelo bilionário Carlos Slim -que tem Claro e Net no Brasil. Diz que ele costuma comprar ações de empresas em dificuldades, como no caso do ‘NYT’, aos poucos, distante dos holofotes


MAIS UMA CHANCE


‘WSJ’, ‘FT’ e ‘NYT’ ainda noticiavam vagamente a busca de um comprador pelo banco Lehman Brothers, quando o site do ‘Washington Post’ entrou à noite com a manchete de que o Tesouro (Fazenda) e o Fed (Banco Central) estavam dando ‘assistência’ à venda para ‘um consórcio de empresas privadas’.


JAPÃO NO BRASIL


Já a Reuters despachou de Tóquio reportagem com os ‘investidores japoneses que esperam explorar o potencial do Brasil’. São os aplicadores individuais, que elevaram a aposta no país.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Andrea Murta


Na primeira entrevista, Palin defende força contra Rússia


‘Ao se dizer ‘pronta para ser presidente’, Sarah Palin, vice na chapa do republicano John McCain à Casa Branca, afirmou em entrevista à rede de TV ABC ontem que as ações de Moscou em agosto contra a Geórgia ‘são inaceitáveis’ e não descartou um ataque ao país para defender o aliado no Cáucaso.


O ataque ocorreria, segundo ela, caso a Geórgia fizesse parte da Otan (aliança militar ocidental) e sofresse uma invasão. ‘O tratado significa que podemos ser chamados à ação.’ A candidata apóia a entrada da Geórgia na aliança, em um processo de adesão que avança a passos lentos. ‘Temos que manter a atenção na Rússia. Invadir um país democrático sem provocação é inaceitável.’


O conflito de seis dias entre Tbilisi e Moscou eclodiu quando o governo georgiano tentou retomar à força a região separatista da Ossétia do Sul -sob tutela russa desde 1992 devido a acordos internacionais. A Rússia reagiu militarmente.


Em um momento explorado na mídia depois, Palin pareceu confusa quando indagada sobre seu apoio à ‘doutrina Bush’ -que admite ataques preventivos-, pensando se tratar da visão de mundo do presidente.


Após uma breve definição, a governadora do Alasca respondeu que não hesitaria em empreender tais ataques se ‘informações legítimas de inteligência’ confirmassem uma ameaça iminente. ‘Há terroristas islâmicos determinados a destruir a América. Devemos usar todas as opções.’


Palin tentou se mostrar diligente em uma área na qual tem tido experiência e conhecimentos questionados -política externa. Admitiu que nunca foi ao exterior se reunir com chefes de Estado e que sua experiência fora do país se resume a visitas a Canadá, México, Kwait e Alemanha (nos dois últimos, para visitar soldados americanos).


Ela ainda criticou o Irã, dizendo que a possibilidade de Teerã obter armas nucleares é ‘extremamente perigosa para todos’ e afirmou que, se Israel atacasse instalações nucleares iranianas, ‘não questionaria as medidas de defesa’ do aliado. O Irã diz apenas buscar energia.


Ainda ontem, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain participaram de um Fórum transmitido ao vivo pela TV na Universidade Columbia, onde discutiram serviço civil e voluntário.


No sétimo aniversário do 11 de Setembro, ambos deram uma trégua nos ataques dos últimos dias e trocaram elogios.


Apresentando-se separadamente, defenderam valores básicos dos partidos sobre o tamanho do governo -mais atuante para os democratas e sem interferir ‘no que pode ser deixado para a iniciativa privada’ na visão dos republicanos.’


 


 


ZIMBÁBUE
Folha de S. Paulo


Mugabe cede e aceita dividir o poder com líder da oposição


‘O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, concordou ontem em dividir o poder com o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, que poderá se tornar primeiro-ministro. O acordo foi intermediado pelo presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, desde segunda-feira em Harare, a capital zimbabuana.


Os detalhes do acordo são ainda desconhecidos, e Mugabe ainda não deu seu aval publicamente. Mas Mbeki afirmou que a reconciliação será oficializada em cerimônia na segunda-feira, à qual deverão comparecer governantes africanos da região.


Tsvangirai, que lidera o MDC (Movimento pela Mudança Democrática), afirmou ontem que caberá a ele a chefia do governo, e que o ditador seria relegado a funções puramente cerimoniais. Essa versão precisa ser ainda confirmada, já que Mugabe recusou-se a abrir mão de suas atribuições desde que assumiu o poder, em 1980, quando seu país deixou de ser colônia do Reino Unido.


A crise política interna acelerou o colapso da economia. O Zimbábue registra uma inflação anual de 11 milhões por cento. Há um desabastecimento de alimentos e combustíveis. Refugiados zimbabuenses instalam-se aos milhares em países africanos vizinhos, tornando-os herdeiros involuntários dos desmandos da ditadura.


A atual ruptura política teve início em 29 de março, quando o MDC obteve a maioria dos votos nas eleições parlamentares, e Tsvangirai liderou a votação no pleito presidencial. A comissão eleitoral, ligada a Mugabe, ‘informou’ depois de quase um mês de apuração que nenhum presidenciável obtivera a maioria, sendo portanto necessário um segundo turno, vencido pelo ditador. Com a onda de assassinatos e violência, Tsvangirai preferiu retirar sua candidatura.


Com agências internacionais’


 


 


MÁRIO WATANABE (1944-2008)
Willian Vieira


A perfeição econômica do jornalista


‘Mário Watanabe não gostava do bom. Era um perfeccionista num mundo imperfeito, jornalista detalhista cercado por gente boa, sim, mas demasiado humana.


‘Não aceitava nem uma frase sem vírgula’, diz a viúva. ‘E não acreditava quando recebia uma matéria e tinha que reescrever todinha’. Como editor e leitor, sofria. ‘Brigava até com o computador se corrigia o acento.’ O mundo não estava pronto para ele.


Sozinho, jogando xadrez virtual, passava noites em claro -para relaxar, dizia à mulher e aos três filhos (todos formados, como ele exigia). Pois seu orgulho era a educação que teve sozinho, patente nos dois mil livros da biblioteca (muitos de quando estudava letras e lecionava datilografia). Era pobre.


Os pais deixaram o Japão para trabalhar na lavoura em Marília (SP), onde nasceu. Saiu de casa, formou-se e virou repórter de O Estado de S.Paulo. Sempre em economia, passou po Folha, Gazeta Mercantil, Istoé, Forbes e Exame -onde criou o inovador anuário ‘Maiores e Melhores’, ‘tarefa ideal para um detalhista’. Trabalhou ainda no Valor Econômico.


O último passo da carreira foi mais livre -um blog, onde o ‘jornalista e cultor de generalidades, oficial da Ordem do Cavaleiro da Triste Figura, corintiano desde criancinha’, como dizia, publicava o que vinha à cabeça, assinando como Dom Quixote. Seu último post, ‘De vírgulas e hífens’, publicou um mês antes de morrer, no último domingo, de infecção generalizada. Tinha 64 anos.’


 


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Google é condenado a indenizar mulher no rs


‘A Justiça do Rio Grande do Sul condenou o Google a indenizar uma mulher em R$ 5.000 por danos morais sofridos pelo Orkut, na comunidade ‘Detesto essa Aline Loca [louca]!!’, descoberta pela vítima em 2006. Segundo o juiz que analisou o caso, o conteúdo no site é depreciativo. Procurado pela reportagem, o Google não se pronunciou sobre o caso até o fechamento desta edição.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Regina Duarte vira ‘zumbi’ após assalto


‘De ‘vestido longo, cabelo feito na chapinha, maquiagem caprichada’ e ‘feliz da vida’, Regina Duarte foi assaltada no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na noite da última sexta. Tentava viajar para o Rio, onde pretendia dançar na festa de lançamento de ‘Três Irmãs’.


A atriz registrou o incidente em seu blog. ‘Perdi a festa. Foi horrível.’ Congonhas teve ‘duas horas de paralisações nos vôos’, conta. ‘De repente, a coisa ficou parecendo ‘Alice no País das Maravilhas’: mergulhei num tumulto histérico de saguão superlotado. Uma multidão de gente tresloucada.’


Regina acredita que sua carteira foi ‘surrupiada’ de dentro da bolsa quando ‘namorava o Eduardo [Lippincott, seu marido]’. Na carteira, havia dinheiro, documentos, cartões e três talões de cheque. ‘Mergulhei em um estado de sonambulismo. A ficha não caía. Eu parecia um zumbi, no piloto automático, tentando o celular da produção da novela’, diz Regina.


Após registrar queixa na polícia e cancelar cartões, ainda ‘completamente zureta’, a atriz foi informada de que sua carteira havia sido encontrada no aeroporto. Estava tudo lá, menos o dinheiro. ‘Mas… E daí?! ‘Não me amarra dinheiro não’, como diz o Caê. Que o larápio faça bom proveito daqueles reais, tipo um bom jantar, um bom supermercado… Fome é brabeira. […] Só rezo para que não tenha sido para aquisição de droga, ‘tá’ entendendo?’.


REDE TOSCA 1


Principal produto cultural brasileiro, a novela das oito não foi ao ar anteontem nos Estados em que o fuso horário é de menos uma hora em relação a Brasília. Para que o telespectador pudesse ‘torcer para o Brasil’ contra a Bolívia, as afiliadas sacrificaram ‘A Favorita’.


REDE TOSCA 2


Isso ocorreu porque, nesses Estados, a Globo tem uma grade diferente, para cumprir a classificação indicativa. O ‘Jornal Nacional’ vai ao ar às 19h e a novela das sete, às 20h, seguida pela das oito, às 21h locais.


REDE TOSCA 3


Como a novela das sete está na última semana, a Globo optou por exibir capítulos mais longos de ‘A Favorita’ ontem, hoje e amanhã, para compensar o de quarta.


FUGA


Em São Paulo, ‘A Favorita’ deu 40 pontos, mais do que Brasil x Bolívia (34). Entediado com o jogo, o telespectador da Globo nem esperou Galvão Bueno se despedir. Nos últimos cinco minutos da transmissão, quando a partida já tinha acabado, a Record, com ‘Ídolos’, passou a liderar no Ibope.


SEM CHANCE


Executivos da Record já não acreditam mais que a emissora conseguirá transmitir um dos shows da Madonna no Brasil. Avaliam que o negócio já foi fechado com a Globo, por mais de US$ 5 milhões.


INOVAÇÃO


Apesar da baixa audiência, Silvio Santos não pensa em tirar o ‘Olha Você’ do ar nos próximos dias. Avalia que o público ainda não se acostumou.’


 


 


Lucas Neves


‘Aliens…’ ri de choque de culturas nos EUA


‘A dias da estréia da nova temporada televisiva nos EUA, a Warner Channel daqui nos traz o restolho do ano que passou. A comédia ‘Aliens in America’, que tem seu primeiro episódio apresentado hoje, era uma das apostas da vez, pela combinação de boa premissa (o choque cultural que advém da chegada de um intercambista paquistanês a um lar da América profunda), roteiro esperto e elenco competente. Mas não vingou: foi cancelada em maio último, depois de 18 capítulos. No piloto, vemos o esforço de uma madame para deixar o filho menos inseguro na escola. A cartada da hora é abrigar um estudante estrangeiro. Em vez do prometido londrino, o programa de intercâmbio envia um jovem paquistanês, que segue códigos sociais e religiosos diferentes daqueles a que a família está acostumada. A partir daí, os roteiristas debocham com habilidade da associação estúpida que o americano médio faz entre islamismo e terrorismo, mas escorregam no clichê do gringo ingênuo e de sotaque carregado. De ‘Life Is Wild’, que tem seu segundo capítulo exibido amanhã, melhor não falar muito. Basta dizer que há uma cena em que um desavisado sai de casa com um skate debaixo do braço para acelerar… na savana sul-africana.


ALIENS IN AMERICA / LIFE IS WILD


Quando: hoje, às 20h30/ sáb., às 17h Onde: Warner Classificação indicativa: não informada’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 12 de setembro de 2008


 


CEGUEIRA
Luiz Carlos Merten


A fábula da luz


‘Com apenas uma semana de diferença, os dois diretores mais internacionais do cinema brasileiro estréiam seus novos filmes num mercado que tem sido refratário à produção nacional. Na semana passada, Walter Salles, co-dirigindo com Daniela Thomas, lançou Linha de Passe, que fez no Brasil, mais exatamente em São Paulo, com produção da Videofilmes e recursos provenientes da Lei do Audiovisual. Hoje, Fernando Meirelles estréia Ensaio sobre a Cegueira, e a coisa muda de figura. O filme adaptado do romance do Prêmio Nobel José Saramago é falado em inglês e foi proposto ao diretor de Cidade de Deus por um consórcio canadense/japonês.


O mais curioso é que Ensaio sobre a Cegueira era justamente o filme que Meirelles queria fazer, no começo de sua carreira-solo. Ele tentou adquirir os direitos do livro, mas Saramago não quis saber de vendê-los. Num primeiro momento, o escritor português chegou a dizer que seu romance era infilmável e que transformá-lo em filme iria contra o próprio conceito do Ensaio, porque o cinema, arte audiovisual, mostra e, portanto, mata a imaginação. Dez anos depois, Ensaio sobre a Cegueira abriu o Festival de Cannes deste ano e, na seqüência, Meirelles, cheio de apreensão, foi exibi-lo para o escritor. Saramago adorou e até as mudanças que Meirelles ainda queria fazer, para aprimorar seu filme, foram desestimuladas por ele. Saramago queria que Meirelles deixasse o filme como estava.


Mas o cineasta não seguiu o conselho do autor e o filme que estréia hoje em cem salas de todo o País apresenta diferenças consideráveis em relação à versão exibida em Cannes. Meirelles remixou o som, reduzindo as narrações do personagem interpretado por Danny Glover. Elas ficaram menos numerosas e mais fortes. O diretor também atenuou o radicalismo de certas experiências com que seu fotógrafo e parceiro, César Charlone, recriava na tela a cegueira branca – metafórica – do escritor. Outras pequenas modificações foram feitas e o filme que estréia é outro – melhor -, sem deixar de ser, na essência, o mesmo que dividiu a platéia de Cannes.


Mesmo no maior festival de cinema do mundo, independentemente de gostar ou não de Ensaio sobre a Cegueira, os críticos reconheceram o domínio de Meirelles sobre a carpintaria cinematográfica. Ele próprio admite que contar uma história não é mais problema, e tem currículo para provar que isso é verdade – Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio, três adaptações de livros (de Paulo Lins, John Le Carré e Saramago). O prestígio internacional favoreceu pontos importantes. Se tivesse feito Ensaio quando o livro surgiu, Meirelles teria feito um filme brasileiro, falado em português, com recursos mais modestos. Não teria Julianne Moore nem Mark Ruffalo nem Danny Glover no elenco. Ruffalo, aliás, não era a primeira opção do diretor. Meirelles queria Sean Penn, que não aceitou. Foi melhor – Ruffalo trouxe para o personagem uma fragilidade que o enriquece.


Com exclusividade, o Estado propôs – e os dois diretores aceitaram virar críticos por um dia. Fernando Meirelles assistiu a Linha de Passe, a pedido do jornal, e escreve sobre o filme de Salles e Daniela. Reciprocamente, Walter Salles assistiu a Ensaio sobre a Cegueira e também escreve sobre o filme de Meirelles. Esses olhares cruzados são um diferencial importante na abordagem de dois filmes que vão marcar 2008 nas telas do Brasil.’


 


 


Ensaios cruzados, passes trocados


‘MEIRELLES POR WALTER SALLES


Walter Salles


‘Toda a vida está no verbo ver’, dizia Theilhard de Chardin. Em Ensaio sobre a Cegueira, o humanismo de José Saramago aponta na mesma direção. A ceguidade que toma pouco a pouco o aspecto de uma epidemia numa cidade sem nome é uma das mais agudas traduções do estado do mundo nesse início de milênio. Como um soco parado no ar.


Adaptar o romance de Saramago para o cinema não era tarefa fácil – não só pela sua qualidade fabular e metafísica, mas também pela força expressiva de cada cena. A poesia que emana do livro é impactante justamente por ser bruta e áspera.


Que Saramago tenha se reconhecido na adaptação realizada por Fernando Meirelles era um bom prenúncio – geralmente, é o contrário que acontece.


Depois de assistir ao filme, é possível entender por que. Cada plano, cada imagem estão impregnados da mesma tensão e expressividade da obra de Saramago. Não é pouco dizer.


Ensaio sobre a Cegueira nos lembra que poucos diretores no mundo, hoje, dominam e usam a linguagem cinematográfica com a mesma inventividade de Fernando. Não foi por acaso que, quando foi perguntado quais os diretores que mais o tinham impressionado nos últimos anos por uma revista de cinema norte-americana, Michael Mann citou o nome de Meirelles ao lado de Paul Thomas Anderson. O uso da fotografia como ferramenta narrativa, a rítmica que ele impõe sem esforço aparente, as cenas que vão ecoando uma na outra, traduzem uma maneira de fazer cinema que lhe é própria e única.


Sua colaboração com um time de craques como o fotógrafo César Charlone e o montador Daniel Rezende se expande em Ensaio sobre a Cegueira, para incorporar os sons de uma estranha beleza da trilha sonora composta pelo grupo Uakti. Todos trabalham na mesma direção – outra raridade no cinema. O mesmo pode ser dito dos atores. De origens e latitudes diferentes, eles estão todos no mesmo registro, o que é também a marca dos diretores de mão cheia como Fernando.


O filme começa num universo realista, para logo ingressar num território fabular, quando as pessoas atingidas pela cegueira são confinadas num mesmo espaço. Nesse momento, uma geografia totalitária, orwelliana, remete aos piores momentos vividos no século passado. Ou, talvez, a um caos mais recente, o de Guantánamo ou Abu-Ghraib. As situações-limite que vão se desencadear a partir daí serão levadas até as últimas conseqüências. Nada é amaciado ou açucarado.


Paradoxalmente, nesse momento pode surgir a impressão de que estamos vendo em demasia. Essa recusa em esconder a violência inerente ao ser humano pode chocar, mas é possível lembrar que ela foi usada na história do cinema justamente para nos provocar e sacudir. Laranja Mecânica, adaptação do romance de Anthony Burgess que Stanley Kubrick dirigiu em 1961, é um exemplo marcante desse tipo de opção.


É essa crueza, também presente em alguns momentos de Cidade de Deus, que permite que em outros momentos da narrativa os pequenos gestos de afeto ganhem um sentido pleno. Não soam sentimentais. São apenas o registro do quão complexos e contraditórios somos – e ainda mais em condiçoes tão extremas quanto as descritas no filme.


Quando os personagens de Ensaio sobre a Cegueira ganham novamente as ruas do início do filme, é como se a nossa visão daqueles espaços geográficos tivesse sido abalada para sempre. Ensaio sobre a Cegueira não é uma obra que se quer de fácil decantação. Ao contrário, é um filme para carregar na memória por muito tempo. Ao final, uma sensação se desprende: Ensaio sobre a Cegueira e Fernando Meirelles nos sacodem para melhor nos lembrar que estamos vivos. Por isso, o filme é imperdível.


***


SALLES POR MEIRELLES


Fernando Meirelles


A seguir, sete insights sobre Linha de Passe.


SINOPSE NUM PLANO


É São Paulo, tudo se move. Carros, pedestres, a vida e uma câmera presa numa motocicleta. Denis, o motoboy, avança tentando encontrar espaço entre dois caminhões mas toma uma fechada. Breca. Não desiste. Tenta ultrapassar pelo outro lado. É fechado novamente. Não vai desistir. Acelera. Passou?


Este plano de Linha de Passe é como uma sinopse do filme: a procura quase desesperada por uma brecha. Qualquer brecha. As passagens vão sendo fechadas, mas a família não desiste. Nunca saberemos se conseguiram. Se o pênalti batido marcou o gol, se a barriga era finalmente a filha esperada, se o milagre aconteceu e a Rosa andou. Não saberemos nada disso, mas temos certeza que se vencerem essas barreiras muitas outras aparecerão pela frente por que é assim que a coisa funciona aqui. Sabemos também que a bola não pode cair, como sugere o nome do filme.


PAIS E PAÍS


Linha de Passe é a história de quatro garotos e uma mãe grávida em um país que, como um pai desnaturado, parece não se importar muito com seus filhos. Eles que procurem suas brechas por conta própria. A mãe bem que tenta convencê-los de que não precisam de um pai, que ela é mãe e pai, como milhões de outras no Brasil. Ela tenta, mas não funciona. Filhos querem e precisam de um pai, então cada irmão procura o seu onde é possível: num pastor, no treinador, num motorista de ônibus anônimo. O filho que já tem um filho reforça este novo modelo de família, pois seu guri já não o reconhece. Como será uma pátria sem pais? É bom pensarmos nisso, pois estamos chegando lá. O nome, Caetano Veloso já inventou: Mátria. Se vai funcionar não sabemos. Talvez funcione.


ROTEIRO E POESIA


Este filme do Walter Salles e da Daniela Thomas emociona profundamente sem jamais flertar com o melodrama. Nos envolve pela verdade que há em cada personagem e não pela astúcia de uma boa trama inventada por um roteirista hábil. O filme tem uma boa trama, mas ela é de outra natureza, a habilidade do roteiro é sua transparência, a impressão de que não existe. As cenas não se sucedem numa relação de causa e efeito, cada uma preparando a próxima. Nada disso. Os acontecimentos são soltos como fatias da vida ou como a vida mesmo, que não acontece amarrada em ganchos, reviravoltas e peripécias. A emoção se constrói pela justaposição desses vários momentos. Essas cinco vidas vão se entrelaçando e, de repente, estamos presos nesta trama que mais parece um tecido que uma linha (narrativa), ou uma renda, pois sobram alguns espaços vazios entre as cenas que devem ser preenchidos pela imaginação do espectador que pode assim viajar livre do cabresto do contador da história. É como poesia.


ESPERANÇA


Quem sabe Dunga venha a assistir Linha de Passe e escale o Vinicius de Oliveira para melhorar seu time. Ele é craque nas duas posições, atrás da bola e na frente da câmera. Os outros atores também impressionam diante da câmera, não sei com a bola. Verdade a 24 quadros por segundo. Como se faz isso?


SP


A cidade na tela é áspera. Não tem limites nem marcas, são morros e morros de autoconstrução, muros chapiscados, viadutos e gente indo de um lado para o outro com uma determinação despropositada e solitária. A fotografia avessa a enfeites reforça a dureza de SP que espelha assim a dureza emocional da família . Não há quase demonstração de afeto naquele ambiente masculino e árido. Eles são solidários, mas cada um parece viver seus próprios dramas sozinhos. As cidades revelam muito sobre seus cidadãos.


CRIME


Enfim um filme onde a tentação do crime como saída existe mas não cola. É assim a maioria esmagadora dos brasileiros.


IDENTIDADE


Os estúdios inventaram o caubói e o mito da terra de oportunidades, criando o sonho americano. Kurosawa deu uma dimensão épica aos japoneses. Creio que Linha de Passe tem também a força de dar uma cara ao Brasil urbano. Convenhamos, não somos o país do carnaval, aquilo lá acontece só por alguns dias em alguns lugares. Somos muito mais esta família que procura sua brecha, que toma fechadas mas não deixa a bola cair. É isso que faz de Linha de Passe este um espelho indispensável.’


 


 


Luiz Carlos Merten


Autor gostou, mas diretor quis mudar


‘Fernando Meirelles virou muitas noites em claro, correndo contra o tempo para finalizar a cópia de Ensaio sobre a Cegueira que deveria abrir o Festival de Cannes, em maio. Ele já não tinha distanciamento nenhum, quando se sentou no palais do mais importante festival de cinema do mundo para assistir à adaptação do romance homônimo do Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago. Algumas coisas incomodaram o diretor, naquela sessão de gala do filme. Durante dois dias, ele atendeu à imprensa mundial em Cannes, e o retorno que tinha de críticos de países tão diversos como a Suécia, o Japão, o Brasil e os EUA, sinalizava para o incômodo que o filme lhe produzira. No terceiro dia, Meirelles mostrou o filme ao próprio Saramago, que o amou. O diretor chegou a levantar a possibilidade de fazer pequenas mudanças. Saramago lhe disse que não mudasse nada. Meirelles não seguiu o conselho.


A versão de Ensaio sobre a Cegueira que estréia hoje em 100 salas do País não é exatamente a mesma que dividiu a crítica em Cannes. Foram feitas pequenas mudanças e, na verdade, Meirelles acrescentou um minuto ao filme. Não foi este minuto que tornou o Ensaio mais forte, mas esta é a sensação que se tem assistindo ao filme de novo. Meirelles nem acha que a sensação decorra da mudança. É sintomático que, num filme sobre a cegueira, ele ache que a mudança esteja mais no olho de quem vê. ‘Ensaio não é um filme para uma adesão imediata. Sempre soube que ele era mais frio. Mas, à medida que você conhece os personagens e se aprofunda neles, a relação (com o filme) fica mais fácil.’


Foram mudanças, a rigor, pequenas. A versão exibida em Cannes tinha muita narração em off, pelo personagem do homem com a venda (Danny Glover). No livro, ele é considerado o alter ego do escritor. Meirelles não o via como seu alter ego no cinema e achava que o excesso de narração explicava muito o filme para o espectador, impedindo-o de pensar. Ao remixar o som, ele suprimiu a maioria das narrações de Glover, deixando apenas três, que ficaram mais densas. Outras mudanças atingem o personagem do ladrão de carro, o primeiro a ser atingido pela cegueira branca, depois que ele rouba o carro do japonês, a quem leva para casa. Mais importante ainda, o estupro das mulheres cegas no isolamento foi considerado insuportável por muita gente. Mais do que abrandar a cena – mas ele abrandou -, Meirelles mudou a luz de seu parceiro César Charlone.


Num filme dominado pelo branco, aquela cena era a mais escura, a ponto de dificultar a identificação do cego interpretado por Gael García Bernal como vilão da história. Quer dizer – Meirelles, seguindo a via de Saramago, evita o maniqueísmo. Há uma frase que diz que não é o fato de ser cega que torna uma pessoa boa ou ruim, mas Bernal, na sua busca de poder, assume a representação de um mundo cada vez mais degradado. O filme já era o projeto que Meirelles queria fazer antes de Cidade de Deus, que lhe deu projeção internacional. O ato de enxergar também não faz, necessariamente, com que as pessoas ?vejam?. A metáfora de Saramago discute justamente isso. Enxergar, sem ver, não leva ao conhecimento nem à consciência. É uma experiência que tem mais a ver com o horror.’


 


 


DEBATE
Roldão Arruda


Eleitores vêem encenação demais e pouco conteúdo


‘O debate entre os oito candidatos na TV Bandeirantes teve poucos momentos altos – nos quais as diferentes propostas puderam ser confrontadas e discutidas. Na maior parte do tempo, patinou em auto-elogios, questões sem importância, encenações, ladainhas de números. Essa foi a avaliação de um grupo de seis eleitores reunidos pelo Estado para comentar o debate de ontem.


O grupo contou com um simpatizante de cada um dos seis candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais: Rui Amaral, 47 anos, artista plástico e professor, casado, pai de dois filhos (vota em Marta Suplicy); Samuel Rodrigues Borges, 25, solteiro, consultor em tecnologia da informática (Geraldo Alckmin); Cynthia Rodrigues, 40, advogada, solteira (Gilberto Kassab); Daniela Araújo Pereira Figueiredo, engenheira e professora, casada, 32 anos (simpatizante de Paulo Maluf, mas com possibilidade de votar em Alckmin); Marco Antonio Mello, 26, solteiro, designer gráfico (Soninha); e Bruno de Matos Fiúza, 26, jornalista, solteiro (Ivan Valente).


Em vários momentos da reunião, na Redação do Estado, o grupo desinteressou-se completamente pela exposição dos candidatos, considerando-as chatas demais. Reclamaram do excesso de números e, no caso dos candidatos Marta, Alckmin e Kassab, da quase impossibilidade de reconhecer diferenças entre suas propostas nas áreas de saúde e educação.


Samuel Borges reclamou seguidas vezes do fato de os candidatos se preocuparem mais em atacar os concorrentes do que em expor suas propostas. A exceção, na opinião dele, foi o candidato pelo qual tem simpatia, o tucano Geraldo Alckmin.


Em vários momentos o ataque foi dirigido à estrutura do debate: além de engessar o confronto de propostas, que só ocorreu em alguns momentos, especialmente entre Ivan Valente e Gilberto Kassab, ele permite a participação de candidatos sem nenhuma expressão política. A participação mais criticada foi a de Ciro Moura, do PTC. ‘Para casos como o dele deveria haver um segundo debate, uma espécie de segunda divisão, como no futebol. Não dá para misturar todos os candidatos num bolo só. O debate perde muito com isso’, disse Rui Amaral.


Maluf foi a figura central em quase todas as conversas paralelas. Elogiado por alguns, por sua oratória, pela firmeza com que fala, também foi execrado por outros, como representante de uma forma atrasada de se fazer política. ‘Não sei como ainda existem pessoas que votam nele. Imagino que é uma espécie de religião, ou de torcida, como a dos corintianos’, observou Marco Mello. ‘Meu avô ainda vota nele.’


Houve também quem lamentasse o fato de estar ficando velho, cada vez mais próximo da aposentadoria: ‘Em debates chatos como esse, ele ainda consegue brilhar e divertir as pessoas’, disse Borges.


As perguntas foram um dos alvos mais freqüentes das críticas. Não escaparam nem as perguntas dos jornalistas.


O debate ganhou mais atenção da platéia nos momentos em que se deteve em questões de ordem prática, como o trânsito e a ocupação do centro da cidade, por meio de um novo plano diretor. Samuel Borges contou na roda que diariamente chega a gastar quase duas horas para ir de sua casa até o local de trabalho.


Samuel Rodrigues Borges


Consultor em tecnologia da informática


‘Os participantes pareciam pouco preocupados com a discussão dos seus projetos. Na maior parte do tempo estavam mais preocupados em atacar os outros candidatos’


Cynthia Rodrigues


Advogada


‘É difícil até para as pessoas mais esclarecidas perceber as diferenças entre as propostas. As pessoas menos esclarecidas acabam se definindo pelos candidatos que falam mais alto, batem mais’


Bruno de Matos Fiúza


Jornalista


‘Com tantos números, as propostas ficam parecidas, difíceis de serem analisadas politicamente. Um dos pontos altos foi a idéia de Ivan Valente, de suspensão do pagamento dos juros da dívida municipal’


Marco Antonio Mello


Designer gráfico


‘Alguns candidatos, especialmente o Maluf, não fazem perguntas, não debatem: querem apenas falar do que fizeram no passado. Por falar nisso, alguém entendeu alguma proposta do Ciro Moura?


Daniela Araújo Figueiredo


Engenheira de qualidade e meio ambiente


‘A Marta foi atacada logo no primeiro bloco e ficou muito nervosa. Até tremia. Melhorou no final. O Maluf esteve seguro o tempo todo. Ele é ótimo’


Rui Amaral


Artista plástico e professor


‘A Marta e o Alckmin me pareceram os mais profissionais nas suas exposições. A Marta tocou o calcanhar-de-aquiles do Gilberto Kassab quando lembrou que ele fez parte da desastrada gestão do Celso Pitta’’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
AP e Reuters, Nova York


Obama e McCain lembram vítimas do 11 de Setembro


‘No sétimo aniversário dos ataques do 11 de Setembro, os rivais John McCain e Barack Obama suspenderam ontem a troca de acusações na campanha presidencial para prestar homenagens às vítimas do atentado. Numa rara aparição conjunta, eles visitaram o Marco Zero, em Nova York, onde terroristas atacaram as Torres Gêmeas e mataram quase 3 mil pessoas.


Reunidos no local do World Trade Center, o republicano e o democrata apertaram as mãos e cumprimentaram policiais e bombeiros durante a cerimônia em memória às vítimas. Os dois candidatos à Casa Branca também colocaram flores em um memorial e fizeram um minuto de silêncio.


McCain e Obama haviam concordado em suspender a campanha ontem e não veicular anúncios de suas candidaturas durante todo o dia. Após a visita ao Marco Zero, os dois se dirigiram, separadamente, a outras cerimônias para lembrar o 11 de Setembro.


O republicano McCain foi a um ato de homenagem aos que morreram em Shanksville, na Pensilvânia, onde um dos aviões seqüestrados pelos terroristas caiu, quando passageiros tentaram retomar o controle do Vôo 93 da companhia United, cujo alvo, acredita-se, era o prédio do Congresso.


‘Nenhum americano deve esquecer a demonstração de heroísmo que ocorreu no céu acima desse campo, em 11 de setembro de 2001’, disse o republicano, antes de ler os nomes dos passageiros mortos.


O democrata Obama também homenageou as vítimas do avião que caiu na Pensilvânia: ‘Nunca nos esqueceremos dos atos heróicos dos nossos bombeiros, policiais, socorristas e daqueles que sacrificaram suas vidas no Vôo 93 para proteger seus compatriotas americanos.’


O democata também ressaltou que a ameaça dos extremistas permanece. ‘Não nos esqueçamos de que os terroristas do 11 de Setembro ainda estão soltos e precisamos levá-los a julgamento. Temos de derrotar as redes terroristas.’


Uma pesquisa da rede de TV CNN divulgada ontem mostrou que a ameaça terrorista é o quarto assunto mais importante para os eleitores americanos, atrás da economia – escolhida por mais da metade dos consultados -, a guerra no Iraque e o sistema de saúde dos EUA.’


 


 


ZIMBÁBUE
AP, Harare


Mugabe aceita dividir governo


‘Após mais de dois meses de impasse, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, e o líder da oposição, Morgan Tsvangirai, concordaram ontem em formar um governo de coalizão.


Mediador das conversações entre os rivais, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, disse que os dois líderes vão aparecer juntos na segunda-feira, para anunciar detalhes do acordo. Nas últimas semanas, Tsvangirai vinha defendendo que ele deveria ocupar a chefia do governo e a presidência do gabinete, enquanto Mugabe ficaria com funções cerimoniais.


A disputa entre Mugabe, ditador de 84 anos que controla o país desde 1980, e o ex-líder sindical Tsvangirai já dura mais de uma década, mas foi acirrada durante as eleições ocorridas no primeiro semestre.


Desde o segundo turno da votação, em 27 de junho, eles vêm negociando, com diversas interrupções, um governo de união. Mugabe reelegeu-se ao vencer uma eleição vista como fraudada por observadores internacionais e da qual Tsvangirai teve de se retirar, por causa de uma violenta campanha do governo para intimidar partidários da oposição.


Além da morte de dezenas de opositores, o caos pós-eleitoral aprofundou a crise econômica do país, cuja inflação é a mais alta do mundo: 11.200.000%.’


 


 


PRÊMIO
O Estado de S. Paulo


Repórter do ‘Estado’ ganha prêmio Ethos


‘A repórter Andrea Vialli, do caderno de Economia & Negócios do Estado, foi a vencedora do 8.° Prêmio Ethos de Jornalismo na categoria Mídia Impressa/Jornal. A jornalista trabalha no jornal desde 2004 e havia sido premiada na última edição do prêmio Ethos, em 2007. Este ano, a premiação do instituto avaliou o conjunto da obra da jornalista, que concorreu com cinco reportagens sobre sustentabilidade, publicadas no Estado entre 2004 e 2008.’


 


 


INTERNET
O Estado de S. Paulo


MSN sai do ar por dois dias seguidos


‘Os usuários do Windows Live Messenger (antigo MSN Messenger) tiveram problemas para se conectar ontem de manhã. As dificuldades começaram na quarta-feira de manhã e, à noite, a Microsoft havia informado que o problema estava resolvido. Mas ele voltou. A empresa disse que a instabilidade aconteceu por ‘problemas de hardware’, que foram resolvidos. Em 26 de fevereiro, uma pane afetou o Hotmail (correio eletrônico da Microsoft) e o MSN.’


 


 


TELEVISÃO
Julia Contier


Futura + Cultura


‘O canal Futura anunciou nova parceria com a TV Cultura. O programa Ao Ponto, feito pelo Futura há cinco anos, agora será co-produzido pelas duas emissoras. Voltado ao público jovem e conduzido pelo psiquiatra Jairo Bouer, a atração semanal discute temas como sexualidade, trabalho, internet, política e está previsto para estrear em 27 de outubro no Futura e em 30 de outubro na Cultura.


‘Escolhemos juntos os roteiristas para essa temporada. A Cultura ficou com a parte técnica, de estúdio e gravação, e o Futura, com a parte externa – já que terceirizamos serviços e conseguimos matérias de todo o Brasil’, diz a gerente-geral do Futura, Lúcia Araujo.


Segundo Lúcia, a parceria começou em junho, quando a Cultura anunciou em sua grade de programação a faixa jovem. ‘A emissora nos procurou, já que temos muita coisa para esse público.’ Nesse período, a Cultura começou a transmitir o programa Sexualidade, Prazer em Conhecer, dirigido por Fernando Meirelles.


No fim deste mês, a Cultura exibirá outro programa do Futura: Escola Digital, programa sobre inclusão digital voltado a jovens estudantes da rede pública.’


 


 


 


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