Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalismo preguiçoso e condescendente

Nas faculdades de Jornalismo e nas redações, qualquer estudante ou ‘foca’ aprende que uma reportagem deve ter entrevista e boa apuração. O repórter deve ‘sair às ruas’, estar aonde o leitor/espectador não pode ir e, com seu olhar jornalístico, levar a informação com objetividade. Isso na teoria.

Muito já foi dito sobre como o Twitter traça uma relação direta do leitor com a notícia sem passar, muitas vezes, necessariamente pela imprensa. Um exemplo disso são os técnicos e presidentes de clubes de futebol que anunciam, através do microblog, contratações de jogadores ou demonstram descontentamento com arbitragem. Antes, era necessária uma coletiva de imprensa. Hoje, a ‘coletiva’ é feita em 140 caracteres.

Acontece que os jornalistas ainda não se acostumaram – ou não aceitaram – o fato de, em alguns momentos, não serem os interlocutores da informação. Por isso, as redações dos grandes portais resolveram fiscalizar twitters de políticos e ‘celebridades’ atrás de notícias. É comum ler manchetes como: ‘Lily Allen e Courtney Love trocam ofensas pelo Twitter’ (Terra, 04/03/2010).

Os jornalistas resolveram escrever matérias que têm como base declarações feitas pelo Twitter. Sem qualquer apuração ou entrevista. Essa prática de fazer ‘reportagem’ sem sair de frente do computador atinge a credibilidade e a confiabilidade da profissão. Ficar o dia inteiro no Twitter e escrever sobre posts de celebridades é uma tarefa que qualquer blogueiro pode executar.

Boninho, diretor do reality show Big Brother Brasil, vem pautando a imprensa que pratica esse tipo de jornalismo. Qualquer dia da semana é possível ler alguma notícia que tem como única fonte de informação suas declarações no Twitter. Não se duvida da veracidade das informações contidas e seus posts; mas deve-se condenar esse jornalismo que copia e cola.

É verdade que não se pode ignorar uma informação relevante, mesmo veiculada através do Twitter, mas um bom repórter pega, pelo menos, o telefone para checar o fato.

Como já foi dito, o Twitter é um meio direto que dispensa intermédio da imprensa, por isso o que é dito a no Twitter deve ficar no Twitter. Cabe aos jornalistas conseguirem informações que não foram veiculadas através do microblog.

A grande quantidade de informações que são despejadas na web – muitas vezes não confiáveis – deveria estimular a boa apuração, a busca pelo furo, pelo exclusivo; mas ao contrário disso, criou um jornalismo preguiçoso e condescendente.

******

Jornalista, São Paulo, SP