Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Manipulação para proteger governador

A revista IstoÉ desta semana mostra – para poucos – que a campanha eleitoral já começou e de que lado está. Para proteger o PSDB e o governador de São Paulo, José Serra, a publicação, contrariando todas as regras do jornalismo, apagou a inscrição ‘Fora Serra’ de uma foto feita durante um protesto do MST e do MAB contra a privatização da Cesp.


Mais que isso, o resultado visual inverte o significado da imagem que traz uma placa de trânsito ‘Pare’, como se quem devessem parar fossem os movimentos, e não as privatizações.


A adulteração de uma foto – passível de processo pelo detentor de seus direitos autorais, no caso a Folha de S.Paulo – é plenamente possível hoje em dia com o uso de um programa para tratamento de imagens, como o Photoshop por exemplo, mas é prática condenada no meio jornalístico. O fato escancara o poder de influência camuflada que os meios de comunicação de massa tem para atuar como o que vem sendo chamado de ‘Partido da Mídia’ (PM).


A foto adulterada, de autoria do fotógrafo Cristiano Machado, ilustra a matéria ‘ O MST contra o desenvolvimento’ e mostra integrantes de movimentos sociais bloqueando a rodovia Arlindo Bétio, que liga São Paulo a Mato Grosso do Sul e Paraná, em protesto contra a privatização da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), no dia 24 de março.


A legenda diz:




‘A exemplo do que ocorreu em São Paulo, em protesto contra a privatização da Cesp, os sem-terra prometem parar estradas em todo o país nos próximos dias’.


A reportagem assinada por Octávio Costa e Sérgio Pardellas criminaliza os movimentos sociais sustentando que ‘os sem-terra ameaçam empresas e investimentos que geram empregos e qualidade de vida’, sem mencionar que a Aracruz Celulose, a Monsanto, a Cargill, a Bunge e a Vale – citadas pela matéria como exemplos de empresas prejudicadas – respondem a acusações de destruição do meio ambiente, desrespeito aos direitos de povos tradicionais, como quilombolas e indígenas, e exploração de trabalhadores. A matéria tenta desautorizar o MST como um ator político que vá além da luta pela reforma agrária. Diz que ‘desde 2006, o MST lidera ataques à globalização, ao neoliberalismo e às privatizações – algo que nada tem a ver com a sua luta original’.


Nada é por acaso


A Editora Três, que publica a revista IstoÉ, é controlada pelo acionista majoritário do banco Opportunity, Daniel Dantas. O banqueiro tem ligações com fundos de pensões, além de uma participação ativa no processo de privatizações de estatais sobretudo durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2007, Dantas superou a concorrência da Rede Record e comprou 51% das ações da editora Três, que estava à beira da falência.


O banqueiro tem uma trajetória de proximidade com outros partidos de direita como o DEM, sobretudo com o falecido político baiano Antonio Carlos Magalhães. Também foi sócio do publicitário tucano Nizan Guanaes. Por diversas vezes, foi alvo de investigações e respondeu a crimes como espionagem e formação de quadrilha. Quando estava à frente da Brasil Telecom, foi acusado de contratar a empresa Kroll para espionar a Telecom Italia.


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IstoÉ faz adulteração em imagem comprada da Folha


Reproduzido da Folha de S.Paulo, 10/4/2008


A revista IstoÉ, publicação da Editora Três, adulterou uma fotografia adquirida da Folha. A imagem foi publicada pela revista na edição do final de semana, ao lado da reportagem ‘O MST contra o desenvolvimento’.


A revista apagou digitalmente a expressão ‘Fora Serra’, referência ao governador José Serra (PSDB-SP). A frase aparecia, na foto original, pichada numa placa de trânsito por integrantes do MST na rodovia Arlindo Bétio, que liga SP a MS e PR. Eles participavam de um ato contra a privatização da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo).


Em e-mail enviado ontem à Folhapress, agência de notícias do Grupo Folha, o editor-executivo da agência IstoÉ, César Itiberê, confirmou a adulteração e pediu desculpas. ‘Houve realmente manipulação por photoshop [programa de computador] da imagem dos sem-terra, com intenção absolutamente estética.’ Ele afirmou, por telefone, que ‘não houve nenhuma ordem [superior], nenhuma orientação política, nenhum dolo. Houve um mal-entendido’.


 


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