Monday, 06 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Mídia desconhece beleza e magia do evento

Já fui contadora. Será que fui? Não sei se contadora é como padre que, uma vez sendo, será sempre. Ainda preservo a mania de fazer balanços, sobre quase tudo.

Não vi os jornais ou as notícias sobre a Virada Cultural depois que ela aconteceu. Resolvi sair pela vida perguntando sobre ela aos que encontrava e isso me deixou estarrecida.

Entre dez, apenas um mencionava algo louvável, bacana; a maioria só se lembrava do lamentável incidente na Praça da Sé. Como a imprensa consegue fazer isso? Como um único mal, declarado aos quatro ventos, pode tirar toda a beleza, a magia e a singularidade de momentos que a Virada Cultural provocou não só em mim, mas em milhares de pessoas, pela generosidade com que abrigou artistas e público.

Estive na Casa das Rosas na noite de sábado, sob a coordenação do Donny, gentil, democrata e hospitaleiro como sempre; o local recebia, amparava e felicitava a todos. Eu e algumas dezenas de nobres artistas desconhecidos – um destaque para Thiago Abel –, convidados pelo mestre de cerimônia ímpar José Luis, declamávamos nossos poemas, a maioria sem métricas ou estilos, que arrancaram aplausos, incentivos e emoções – algumas até as lágrimas. Vale ressaltar que lágrimas de alegria, de agradecimento ou de reconhecimento em ver em cada face o mesmo desejo incontido de felicidade, progresso e desenvolvimento que os brasileiros, na ocasião, paulistanos, guardam no peito.

Produza sua manchete

A arte precisa de espaço e esse só será conquistado pela confiança de que com ela, a arte, podemos harmonizar o mundo em busca da paz. Essa paz precisa ser construída, vivida e não será pelas notícias que se notará a sua existência, mas pela coragem de sair de casa, mesmo que o cenário pintado seja contrário.

Voltando ao balanço das manchetes da Virada, quem participou, foi às ruas e a viveu, sabe que a imagem que ficou estampada nas mentes dos que vivem só de noticiários, está infinitamente antagônica ao que de fato ocorreu.

O que vou dizer é completamente contraproducente para mim, que escrevo notícias, mas não as leia sem questionamento e nem se mire a elas para qualquer decisão; saia, vá às ruas, produza você mesmo a sua manchete.

Sobre o Thiago Abel, ver aqui; sobre Eliana de Freitas, aqui.

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Agente cultural e escritora, São Paulo, SP