Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Não dá pra entender

Não dá para entender algumas críticas do jornalista e professor Paulo J. Rafael à novela Da cor do pecado. Uma das queixas dos movimentos negros era o fato de os atores das telenovelas representarem papéis ditos ‘secundários’, como motorista, empregada doméstica, porteiro etc. Quando finalmente a atriz principal, a ‘mocinha’ de uma telenovela, é negra, os queixumes continuam. Claro que ninguém discute o racismo vigente no Brasil, de forma alguma. O que discute é o teor da novela e a representatividade das personagens. A personagem Preta, heroína da trama, é humilhada pela vilã Bárbara. Sempre foi assim nas telenovelas. A ‘mocinha’ passa por todas as agruras nas mãos da vilã e, ao fim da telenovela, a tal vilã recebe o castigo merecido e a mocinha casa-se com o galã e viverão felizes para sempre e blablablá. Alguém pode argumentar que seria bom esse ‘final feliz’ na realidade brasileira, mas aí voltamos àquela discussão de ‘a arte imita a vida ou a vida imita a arte?’ E é justamente essa discussão em distinguir a realidade da ficção que faltou na elaboração do documento confeccionado pelo Fórum Permanente de Mulheres Negras Cristãs do Estado do Rio de Janeiro.

Citando um dos postulados: ‘Coibir em toda manifestação literária (incluindo a teledramaturgia) o uso de termos lingüísticos ou gravuras que insinuem, estimulem ou reforcem estereótipos negativos em relação à mulher, à comunidade negra e a outras minorias.’ Claro que o preconceito em relação à mulher e principalmente negra é odioso, mas querer restringir a liberdade artística do autor é algo para se pensar. Desta forma, teríamos que censurar Jorge Amado, Ou Gilberto Freyre. Citemos outro postulado: ‘Substituir na abertura da telenovela Da cor do pecado o uso da versão cantada, ficando apenas a melodia, devido ao reforço de caráter discriminatório que a letra desta obra traz’. Que tal enviar essa sugestão aos programas de auditórios dominicais que têm como atração principal certos ‘artistas’ que depreciam, em suas letras, a imagem da mulher em geral?

E, por fim, o postulado ‘A personagem Bárbara deve sofrer o quanto antes possível, do ponto de vista legal, as conseqüências pelas ofensas verbais de teor racista praticadas contra a personagem Preta, lembrando que a prática de racismo é crime no Brasil (..)’ Como já escrito acima, não se preocupem: é evidente que a vilã sofrerá punição, sim. A novela ainda não acabou, ora. Faz parte do folhetim. Infelizmente faz parte da ‘realidade’, mas tenham certeza de que, ao fim da novela, aqueles que ainda ‘não sabem’ descobrirão que racismo é crime, de fato. A discussão do racismo é hoje pauta de muitas conversas, e isso pode ser considerado um avanço (pequeno, é verdade). Essa discussão deveria atingir a televisão aberta, com os artistas negros (cantores, principalmente) e atletas (jogadores de futebol, por exemplo) se manifestando, e não apenas os movimentos negros isolados.

Jaime Guimarães Barreiros, professor, Salvador

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Briga chocante

Venho repudiar as fortíssimas imagens de violência, protagonizadas pelas personagens Maria Clara Diniz e Laura, da novela das oito da Globo. Não é concebível que o telespectador que está acostumado a assistir novelas seja submetido a imagens tão chocantes. Como se pode admitir que uma personagem fina, educada e da elite possa ser capaz de atos tão violentos na cena da briga com Laura? Quem assistiu, como eu, pôde verificar que o rosto de Laura ficou totalmente desfigurado, como se tivesse sido surrado pelo boxeador Mike Tyson. Estou chocado com esse exemplo de descompromisso com a ética na TV. É lamentável que a Rede Globo se utilize desse expediente para alavancar índices de audiência.

Carlos Roberto Tomaz do Nascimento, funcionário público, Natal



MÍDIA ESPORTIVA
Pra que exagerar?

Excelente a abordagem sobre as transmissões esportivas. O torcedor, como sempre, é o prejudicado nesses acertos feitos entre as televisões. Foi muito feliz o autor por ter falado dos exageros de Jorge Kajuru. Ele só faltou babar no vídeo ao falar que a Bandeirantes tinha sofrido perseguição da TV da família Marinho. Pra que exagerar assim? É para chamar a atenção do telespectador? Conseguiu. Kajuru, aliás, tomou um tapa na cara de um boxeador, que se sentiu desrespeitado pelo apresentador. Ao pensar sobre a arrogância do apresentador, fico pensando quantos outros tapas não receberá em sua carreira no jornalismo.

Silvio Gomes Ribas, empresário, Campo Grande, MS