Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Felipe Recondo

‘Sessão secreta não é compatível com a Carta’

‘Na semana em que o Senado se fechou para absolver seu presidente da acusação de quebra de decoro, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a criticar abertamente determinadas práticas do Legislativo, em especial o voto secreto e as sessões sigilosas.

Chamados a resolver problemas da Câmara e do Senado, a maioria dos ministros do Supremo avalia que os segredos no Legislativo atentam contra a democracia e a vontade do eleitor. ‘Esse modo de pensar é incompatível com a Constituição, com o Estado democrático e com a vontade do eleitor’, afirma o ministro do STF Ricardo Lewandowski em entrevista ao Estado. Ele diz que o Supremo tem agido como ‘bombeiro’ ao ser provocado e chamado a resolver problemas de outros Poderes e classifica como uma ‘aberração’ o foro privilegiado para deputados e senadores.

Por que o sr. acha que o Congresso sempre apela ao STF para resolver um problema que os parlamentares não conseguem resolver?

Não é apenas o Congresso Nacional, mas é um fenômeno que vem sendo identificado por cientistas sociais e juristas como judicialização da política. A Constituição de 1988 ampliou muito as atribuições do Judiciário e, sobretudo, do STF. De outro lado, colocou à disposição da cidadania uma série de novos instrumentos para ter acesso ao Judiciário e resolver questões que tradicionalmente deveriam ser resolvidas no âmbito político. Nesse sentido, o Poder Judiciário, e o STF em particular, foi chamado a arbitrar problemas que são tipicamente políticos.

O STF virou refúgio da República?

Tendo em conta esse fenômeno da judicialização da República, a verdade é que os grandes temas nacionais, para o bem ou para o mal, têm aportado aqui. E nós temos de dar conta desse recado. Somos 11 ministros e temos de trabalhar dia e noite, sábado e domingo, para dar conta desse recado. Esperamos que estejamos à altura das expectativas.

Mas o STF não está legislando quando decide assuntos referentes à política?

Na verdade, o STF não acaba legislando, acaba regulando certas situações que deveriam ser reguladas pelo Legislativo. Eu me refiro, por exemplo, à cláusula de barreira, à fidelidade partidária e a outros temas. Enfim, o Legislativo não tem dado respostas ágeis e prontas para a solução de certos problemas por razões estruturais e conjunturais e esses problemas acabam desaguando no Supremo, que tem de resolver porque é a última instância.

E isso é bom?

Não. Nós temos vocação para resolver questões constitucionais. E nós temos de resolver questões pontuais. Acabamos agindo muitas vezes como bombeiros. Temos de apagar fogo, de resolver conflitos entre instituições. E, nesse sentido, acabamos prejudicando nosso dia-a-dia e questões que interessam o homem comum.

Mas o STF sendo chamado como bombeiro não acaba se queimando? O sr. recebeu várias críticas de senadores.

Nós, juízes, conhecemos bem esse problema e temos de nos acostumar a esse tipo de crítica. Desde o juiz de primeira instância até o ministro do STF, nós sabemos que quando tomamos uma decisão acabamos desagradando uma das partes. Temos de conviver com essa questão.

O sr. acha que o povo deveria conhecer todas as decisões do Congresso?

Estou absolutamente convencido disso. O princípio da publicidade e da transparência são os núcleos da Constituição de 1988, são fundamentos do regime republicano.

O fato de a opinião pública querer que a sessões fossem públicas o pressionou?

Eu procuro, como juiz, fazer abstração da opinião pública. É óbvio que não sou um magistrado que vive numa torre de marfim. Eu tenho de julgar em conformidade com o momento histórico, mas não posso me deixar influenciar pelo clamor da opinião pública. Eu tenho de decidir de acordo com a Constituição, com a lei e com a minha consciência. Nesse caso, eu estava absolutamente convencido de que, de acordo com a Constituição, eles (os deputados) tinham o direito a acompanhar a sessão. Não pensei na vontade popular.

O sr. acha que sua decisão possa ter influído no resultado?

Eu creio que não. Creio que o Senado votou de forma absolutamente soberana. Não posso imaginar que o fato de 13 deputados terem acompanhado a sessão secreta possa ter alterado o pensamento dos senadores.

Mas isso pode influir na forma como lidam com o povo?

Tenho a impressão de que a decisão do STF e a sinalização que alguns ministros deram talvez possa contribuir para que o Senado apresse a votação da mudança no regimento para que a sessão deixe de ser secreta.

O que o sr. pensa do voto secreto?

Eu penso que é legítimo em determinadas circunstâncias, porque protege o eleitor de pressões indevidas, seja de forças políticas, econômicas ou de interesses menos nobres. Mas talvez tenha se estendido essa idéia e entendido também que as sessões secretas protegeriam, em tese, o eleitor. Mas não me parece que é o caso. E esse modo de pensar é incompatível com a Constituição, com o Estado democrático e com a vontade do eleitor.

E o foro privilegiado?

É válido em condições especialíssimas, mas não pode ser generalizado. Em primeiro atenta contra o princípio do juiz natural; em segundo, atenta também ao princípio da isonomia. Todos são iguais perante a lei.

E o foro para deputado e senador?

Os parlamentares, no exercício do mandato, em defesa dos interesses de seus representados, devem ter proteção, mas ampliar isso para crimes comuns, para crimes cometidos antes das eleições para o Congresso… Isso é uma aberração. Isso talvez tenha de ser mudado.

O sr. esteve na berlinda há algumas semanas, porque houve a publicação de diálogos entre o sr. e a ministra Cármen Lúcia no plenário. Agora, o sr. determinou que o Senado abrisse a sessão para que tudo fosse público. Que diferença há entre os dois casos?

Há uma diferença muito grande. Tudo o que é de interesse público, os atos da administração pública, deve ser público. E o povo deve ter acesso irrestrito a esses atos. Agora, existe uma esfera que é de domínio privado, sobretudo as comunicações entre as pessoas.

A decisão do Senado de absolver Renan Calheiros interfere no processo que corre no STF?

Lá, foi uma decisão política em que se decidiu que não houve quebra de decoro. Aqui, a questão será analisada do ponto de vista técnico-jurídico.

Alguns ministros do STF fizeram críticas ao Congresso, disseram que ele precisa ser mais transparente. Mas o processo contra Renan Calheiros corre em sigilo de Justiça. Por quê?

A tramitação do processo não está sob sigilo. É pública. O segredo de Justiça refere-se apenas aos dados que constam do processo, como informações bancárias, dados de patrimônio, questões que envolvem os familiares do investigado, dados da intimidade.

Mas a população vai saber de tudo o que está acontecendo?

No momento em que se oferece a denúncia, o processo passa a ser público, como foi no caso do mensalão. A população estará informada de cada passo desse processo. Terminada a primeira fase, o processo será remetido à Procuradoria-Geral da República. Aí começará outra fase: ou o procurador arquiva ou oferece denúncia. Aí a coisa é pública e transparente. E os ministros terão de votar.

O que esperar desse caso?

A população e o próprio Renan Calheiros podem esperar, não apenas de mim, que sou relator, como dos demais ministros, a maior isenção possível, o maior profissionalismo e uma tramitação célere.

Mas quando será concluído?

Eu não posso fazer um prognóstico, porque é um processo complexo, que envolve perícias contábeis. De maneira que não será um processo fácil.’

Gabriel Manzano Filho

‘Classe média precisa ir à luta contra bonapartismo’

‘O fosso entre os políticos e a sociedade brasileira está aumentando de forma perigosa. A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na quarta-feira, é mais um passo na direção da desmoralização do Congresso e, portanto, do fortalecimento do Executivo. Daí para a tentação do bonapartismo – um governo forte e pessoal, de algum líder com grande apoio popular – é um passo. E a classe média, a mais atingida pela crise, tem de se defender desse risco. ‘Ela precisa ir à luta contra o bonapartismo e buscar também salvação contra um modelo que está transformando sua renda em impostos’, diz o cientista político Amaury de Souza, diretor da MCM Consultoria, no Rio.

Mas o que preocupa na seqüência de escândalos como esse vivido por Renan ‘é que um dado fundamental não vem aparecendo: que a fonte da corrupção é o Executivo’, diz o professor. ‘Pois é o Executivo quem distribui cargos, libera emendas e contingencia o Orçamento.’

O Brasil melhorou muito nos últimos 15 anos, avalia Amaury de Souza, ‘mas não há percepção disso pela classe política’. Nesta entrevista ao Estado, ele faz uma aposta contra os que imaginam que o atual modelo de governo está ‘formando’ uma nova classe média vindas de grupos de baixa renda. Para ele, esses grupos vão aderir rapidamente à geração de computadores e internet ‘e os valores atualmente defendidos pela classe média, estes sim é que se disseminarão pela chamada opinião popular’.

O que o sr. achou da decisão do Senado de absolver seu presidente?

Ela indica que o fosso entre os políticos e o resto da sociedade está aumentando de forma perigosa. Há um distanciamento que apareceu primeiro na Câmara, e agora no Senado. E para ele há várias causas. Elas vão desde o sistema eleitoral, que já distancia o eleitor do eleito, até uma certa inconsciência, no Congresso, quanto à mudança que já ocorreu na sociedade brasileira. Há uma classe média crescentemente insatisfeita, que vem mostrando isso pelos meios ao seu alcance, num sentimento de crescente indignação.

Mas essa indignação esbarra no sucesso econômico do governo e no enorme prestígio popular do presidente Lula.

A economia vai bem, mas não vai bem para a classe média. A forma como vem ocorrendo o crescimento brasileiro cobra um preço extorsivo da carga tributária. Paga-se como se vivêssemos na Alemanha e temos serviços públicos de Uganda. O governo coleta hoje 35% do PIB, gasta 40% e financia esse déficit com taxas estratosféricas de juros. Essa equação mostra que a economia não está bem para essa fatia de cidadãos.

Eles devem fazer passeatas, divulgar cartazes? Na prática, a classe média não está espremida entre ricos e pobres satisfeitos, cada um por seus motivos?

Acho que ela tem de buscar meios e se mobilizar. Com a internet você não depende de ir para a rua para criar fatores de pressão consideráveis. O que digo parece dramatizado mas é preciso dramatizar, sim. Essa parte da sociedade tem de organizar-se e buscar defesa contra o fato de sua renda disponível estar sendo totalmente transformada em impostos – os quais, por sua vez, vão gerar mais crescimento da máquina e mais corrupção. Hoje a questão da carga tributária é indissociável da questão da participação política. Ou a classe média se engaja politicamente ou logo vai trabalhar dez meses do ano para sustentar o governo.

Pelo que o sr. diz, o fosso acima mencionado é de ordem ética e econômica, não? Ele pode ser desfeito com eleições?

Eu tenho certo medo é de que esse fosso se torne intransponível. Isso me traz à memória uma observação do ex-deputado petista Paulo Delgado (MG): ele dizia que deputado não compra deputado, e hoje se fala de corrupção como se ela fosse restrita ao Congresso.

O que o sr. quer dizer com isso?

Que não é só Congresso. Que a fonte de corrupção é o Executivo. É ele que distribui cargos, para que seus aliados os usem para buscar financiamento das campanhas. É ele que libera emendas em troca de votos. É ele que contingencia o Orçamento, liberando gota a gota os recursos para assuntos de seu interesse. No entanto, em todos esses recentes escândalos, ele não aparece como parte interessada. Procura se descolar cada vez mais do restante do sistema político, caminhando para um bonapartismo de ocasião. Como se dissesse: ‘Eu pairo acima de toda essa podridão.’

O governo tem conseguido convencer a maioria do eleitorado disso.

É um convencimento parcial. Falta hoje o foco da corrupção no Executivo, dizer ao País que não pode existir corrupção apenas no Congresso. Se o Poder Executivo se põe acima de toda essa podridão, abre caminho para um poder muito ampliado, muito mais perigoso, mais arriscado para o País. Por isso, o que precisamos hoje é de uma mobilização popular para que o Congresso vote as reformas que estão sendo requeridas. Para que se faça a reforma política que interessa aos eleitores, que dê o poder a eles, não aos candidatos. Que faça os políticos caírem na real e não se isolarem do eleitor. E o primeiro passo para isso é o voto distrital.

Não há o risco de uma ‘opinião pública’ mobilizar-se para pressionar o Congresso e despertar outras ‘opiniões’ contrárias?

Sim, e o presidente Lula tem feito discursos diretamente para essa outra ‘opinião popular’. Mas nada que um recrudescimento da inflação não possa abalar. Veja, em qualquer lugar do mundo há uma enorme diferença na distribuição de informação, conhecimento e politização. Quando falo em opinião pública falo naquele segmento mais estreito, porém altamente atento, informado. Olhe como a população toda reagiu diante da decisão do Supremo Tribunal Federal de transformar em réus os 40 indiciados do mensalão. Há muito mais reservas de luta e de indignação do lado dos eleitores do que supõem o mundo político e o governo.

A questão ética é cara a essa fatia da sociedade mas tem sido ‘vendida’, por algumas lideranças, como um capricho de minorias. Dá para virar esse jogo?

A ética não tem hoje, no mundo político brasileiro, alguém para carregar sua bandeira. O PT, por exemplo, é uma coisa velha na política brasileira. O que ele fez na quarta-feira, para ajudar Renan, em nada aumenta a distância que ele já tinha do que pregava antes.

O sr. vê uma saída no curto prazo?

Mas o Brasil mudou muito nestes últimos 15 anos, e para melhor. A estrutura do Estado melhorou com Fernando Henrique. A política de redistribuição de Lula foi um sucesso. A escolaridade aumentou, o País exporta mais, vive uma revolução nas comunicações, já somos o quarto maior mercado mundial de computadores. A internet e o celular estão na vida de cada vez mais gente. Minha conclusão: não é das classes populares que virão os valores que vão prevalecer no futuro. Isso significaria a absorção da opinião pública pela popular. Não vai acontecer. Os valores hoje defendidos pela classe média, estes sim é que se disseminarão pela opinião popular.

Por enquanto, essa ‘nova’ classe média parece não partilhar dos modelos da antiga, não?

Há um visível exagero na visão dessa ‘nova’ classe. Há um aumento de consumo que é produzido em parte pela melhoria de níveis de renda, mas forçado por aumentos seguidos do salário mínimo e pela popularização do crédito. Essa fatia, que se identifica com a classe C, é participante, em larga medida, da economia informal. São pequenos comerciantes, autônomos, que têm suficiente dinamismo para fazer o melhor em uma situação que lhes é estruturalmente desfavorável. Se fossem incorporados ao mercado, os impostos os achatariam e o dinamismo acabaria. Se ela é apresentada como modelo da modernidade, precisamos saber que modernidade é essa.

São pessoas mais expostas ao clientelismo político?

Clientelismo é trocar voto por um par de sapatos. Hoje o problema maior é outro e clientelismo já me parece um termo antigo. O que temos no Brasil hoje são grandes grupos de interesses, encastelados na estrutura política e no serviço público. Corrupção não é clientelismo, é algo bem mais moderno e ambicioso.’

INTERNET & POLÍTICA
Mariana Della Barba

Internet converte-se em arsenal e campo de batalha dos terroristas

‘Com a invasão do Afeganistão em 2001, muitos terroristas perderam suas bases e tiveram de fugir. Foram para um território amplo, sem lei, pouco vigiado e cheio de ‘armas’ para que continuem a disseminar sua doutrina e a recrutar novos jihadistas: a internet. A diferença entre esse novo território e as montanhas afegãs é que fuzis, granadas e metralhadoras foram substituídos por e-mails, fóruns, fotos e vídeos digitais. ‘A internet é um dos arsenais mais poderosos que um terrorista pode obter’, disse ao Estado Adam Raisman, analista do Site (The Search for International Terrorist Entities), instituto americano que monitora sites terroristas. Beneficiando-se do anonimato e do alcance da rede, jovens extremistas aproveitam o mundo online para inflamar a jihad real.

Na mão de grupos como a Al-Qaeda, a internet tem várias funções. A principal delas, dizem especialistas, é o doutrinamento, que corresponde a 60% do material disponível em sites terroristas. Se antes as mensagens eram difíceis de ser gravadas e tinham pouco alcance, hoje são feitos vídeos com câmeras de celular, que são divulgados na rede para milhares de aspirantes a terroristas. A Al-Qaeda, por exemplo, envia boletins online a seus seguidores há mais de dois anos.

O ciberespaço também ajuda os terroristas a se comunicar, a divulgar a ‘guerra santa’ e a recrutar e treinar novos rebeldes.

Os extremistas têm basicamente dois objetivos ao usar a internet: divulgar o terrorismo e financiá-lo. No primeiro, espalham ideais jihadistas criando sites, enviando e-mails cifrados e postando mensagens em fóruns controlados por rebeldes. ‘É impossível saber quantos desses sites existem. Mas alguns fóruns que acompanhamos têm milhares de pessoas, e o número de participantes cresce diariamente’, diz Raisman.

Para fugir do monitoramento, eles também costumam deixar mensagens em sites insuspeitos, como os de culinária ou jardinagem. ‘Os jihadistas têm mostrado grande perspicácia no que se refere à segurança digital, aos métodos para permanecerem anônimos online e à transmissão de dados cifrados’, explica Raisman. Ele cita um e-book chamado O Mujahedin Técnico, que explicava como usar programas para enviar mensagens codificadas em textos ou imagens.

O treinamento dos rebeldes também passou por uma revolução com a internet: agora, estão disponíveis online manuais que ensinam a manejar metralhadoras, construir carros-bomba e piratear sites. Essas espécies de escolas virtuais terroristas teriam ajudado, por exemplo, médicos muçulmanos britânicos a preparar os carros-bomba usados nos frustrados planos de atentados em Londres e Glasgow em junho.

Como na maioria são jovens e até adolescentes, os ciberterroristas acompanham as novidades da internet. Tanto que já lançaram até um ataque no Second Life – espécie de ambiente virtual no qual as pessoas podem criar personagens e interagir entre si – e criaram um game chamado A Noite da Captura de Bush. Um jihadista virtual preso há dois meses em Londres estava prestes a estrear um site para concorrer com o YouTube, o www.youbombit.com.

Quando o objetivo é ganhar dinheiro para financiar a jihad, eles lançam mão dos temidos ciberataques. Suas táticas aproximam-se das usadas por hackers chineses que, nos últimos meses, teriam invadido o Pentágono, e sistemas dos governos alemão e britânico.

Para roubar dados de cartão de crédito, os ciberjihadistas enviam e-mails e criam sites falsos – na maioria das vezes, imitando o de grandes bancos. Para ‘lavar’ o dinheiro roubado, eles usam os dados do cartão para apostar em cassinos online.

O dinheiro obtido nos jogos é depositado em suas próprias contas bancárias e usado para fazer compras online. A lista dos terroristas inclui itens para facilitar o lançamento de ataques na vida real: coletes para suicidas, binóculos de visão noturna, celulares e passagens aéreas.

Analistas concordam que os ciberterroristas já conseguiram várias proezas na internet. A maior delas é fazer com que sua mensagem alcance, por exemplo, ingleses, suecos ou americanos que nunca teriam contato com o terrorismo e muito menos entrariam para a jihad, se não fosse a internet. Muitos rebeldes virtuais acabam passando para o combate real, no Iraque ou Afeganistão.

Sem nunca ter encostado em armas, os ciberjihadistas transformaram-se em peças importantes na estrutura de redes terroristas. Aos 23 anos, o britânico de origem marroquina Younes Tsuoli foi crucial na reconstrução da Al-Qaeda. De sua casa em Londres, ele colocava na rede mensagens e vídeos de Abu Musab al-Zarqawi, o líder do braço do grupo no Iraque, morto em 2006.

Sentenciado a 10 anos em julho, Tsuoli é tido como o pai das novas táticas terroristas online. E é o próprio Ayman al-Zawahiri, o número 2 da Al-Qaeda, que dá a medida do potencial das táticas. ‘Mais da metade dessa guerra é travada no campo da mídia’, disse ele. Do outro lado da batalha, governos e instituições privadas investem no chamado ‘contraciberterrorismo’. Para Raisman, rastrear sites e tirá-los do ar é inútil, já que eles logo reaparecem. ‘O melhor jeito de combater o terrorismo online é conhecer as atividades dos jihadistas.’’

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Grupo ligado à Al-Qaeda pede morte de chargista

‘Reuters – O líder de um grupo iraquiano ligado à Al-Qaeda, Abu Omar al-Baghdadi, ofereceu US$ 100 mil a quem matar o chargista sueco Lars Vilks, autor de um desenho do profeta Maomé considerado ofensivo. Em gravação divulgada ontem num site de militantes islâmicos, ele prometeu outros US$ 50 mil a quem matar o editor do jornal ‘Nerikes Allehanda’, que publicou a ilustração em agosto. O desenho mostra a cabeça de Maomé no corpo de um cachorro. ‘Anunciamos o derramamento de sangue de Lars, que ousou insultar nosso profeta’, disse Baghdadi, líder do grupo Estado Islâmico do Iraque. Ele afirmou que a recompensa aumentará para US$ 150 mil se o chargista for ‘degolado como um cordeiro’. Ameaçou ainda atacar empresas suecas, citando Ericsson, Volvo, Scania e Electrolux, entre outras, caso o governo da Suécia não se retrate.

Para analista, Ocidente está perdendo guerra virtual

Até há algumas décadas, cortava-se o sistema de fornecimento de água das cidades protegidas como estratégia para atacá-las. Por mais bravos que fossem os soldados ou mais resistente que fosse a população, ninguém sobrevivia sem água. Hoje, essa água corresponde às informações digitais. Nenhum país, Exército ou empresa vive hoje sem computadores ou internet.

A comparação é feita por Ralph Peters, militar americano da reserva, autor de livros sobre terrorismo, como Wars of Blood and Faith: The Conflicts That Will Shape the 21st Century (guerras de sangue e fé: os conflitos que moldarão o século 21). Em entrevista ao Estado, por telefone, ele explicou que é inútil proteger as fronteiras físicas e esquecer das virtuais. Para Peters, estamos perdendo a guerra virtual. ‘Os governos ocidentais subestimam o perigo a longo prazo, quando ficaremos ainda mais dependentes do mundo online e, por isso, sob uma ameaça maior.’

O primeiro problema é a Justiça. ‘A legislação está muito atrasada em relação às necessidades e perigos da era da informação’, alerta Peters. Para se ter uma idéia, no julgamento de Younes Tsuoli, o principal ciberjihadista da Al-Qaeda, o juiz não sabia o que eram sites. ‘Em países democráticos como o Brasil e os EUA, essas leis são tartarugas numa época de lebres. Paradoxalmente, regimes autoritários como a China estão mais sintonizados com os riscos de ciberataques.’

Outro empecilho no combate ao ciberterrorismo é a falta de cooperação internacional. ‘Há um esforço nesse sentido, mas ainda é limitado. Claro que todo mundo quer proteger suas fronteiras, no sentido físico. Mas, quando falamos de internet, precisamos pensar em defender uma civilização como um todo e não apenas em nações separadamente’, diz Peters. Se isso não ocorrer, ‘os cibercriminosos vão continuar a ter uma devastadora vantagem sobre as sociedades e os Estados’.

Para Robert Ayers, especialista em segurança internacional do instituto britânico Chatham House, a colaboração entre países é crucial.

‘Se um hacker em Londres quiser atacar o Brasil, ele usará sites dos EUA, do Japão e só depois entrará no seu computador em São Paulo’, disse. ‘O problema é que muitos países não querem colaborar’.’

CASO MADDIE
Marina Chiavegatto

Caso Madeleine é fenômeno de mídia

‘A garota britânica Madeleine McCann desapareceu na noite de 3 de maio, às vésperas de completar 4 anos, de um quarto do Resort Ocean Club na Praia da Luz, no sul de Portugal. Seqüestro, homicídio, morte acidental – seja qual for o desfecho, o caso transformou-se no maior fenômeno de mídia das últimas décadas. Gerry e Kate McCann, os pais da menina, conseguiram mobilizar a imprensa mundial, governos de três continentes e celebridades como o jogador David Beckham e a escritora J.K. Rowling para o drama. Criaram um site com fotos da filha para centralizar informações e arrecadaram mais de US$ 2 milhões em doações para buscar pistas da menina. Até o papa Bento XVI foi filmado ao lado do casal, abençoando uma foto de Madeleine no Vaticano.

Há dez dias, quando passaram a ser considerados oficialmente suspeitos pelo sumiço de Madeleine, a imagem de pais obstinados de Gerry e Kate começou a ruir. A polícia portuguesa investiga a hipótese de que a menina tenha sido morta acidentalmente pelo casal. Segundo versões da imprensa portuguesa e britânica, Madeleine teria sido sedada pelos pais – como os irmãos gêmeos de 2 anos -, para que pudessem jantar com três casais no restaurante do resort.

Para tentar fazer as atenções voltarem-se novamente para as buscas por Madeleine, a família, que diz acreditar que ela esteja viva, lançará uma campanha de anúncios em TVs e jornais europeus, que custará US$ 160 mil. Financiados com parte das doações recebidas, os anúncios ‘recordarão a todos que Madeleine ainda está desaparecida’, disse ontem seu tio, John McCann.

Antes de serem apontados como vilões, Gerry e Kate tinham conseguido algo raro – manter o caso no primeiro plano da mídia mundial por quatro meses consecutivos, apesar da falta de informações novas. Seu drama, afinal, não era inédito: centenas de crianças desaparecem todos os anos em vários países. No site de busca Google, Madeleine é citada em mais páginas do que ídolos do esporte como Fernando Alonso, Maria Sharapova e Roger Federer. Uma explicação está no perfil dos pais. Gerry e Kate, de origem escocesa, são um casal típico de classe média. Ambos são médicos e têm 39 anos. Eles se conheceram em Glasgow quando trabalhavam na mesma clínica. Casaram-se em 1998 e, depois, se mudaram para Leicestershire, no centro da Inglaterra. Os três filhos nasceram após fertilização in vitro.

O silêncio da polícia portuguesa sobre as investigações contribuiu, involuntariamente, para a repercussão do caso. Irritados com essa linha de atuação – a polícia recusou-se a divulgar até a roupa que a menina usava quando desapareceu -, os pais decidiram buscar ajuda no exterior. No dia seguinte ao sumiço da filha, telefonaram para Jill Renwick, uma amiga na Escócia, que contactou a TV Sky News.

Dois dias depois, a empresa dona do resort enviou um porta-voz, Alex Woolfall, para ajudar o casal. Por duas semanas, ele foi responsável pela estratégia de comunicação dos pais de Madeleine. Foi dele a iniciativa de mobilizar celebridades como Beckham, que gravou um vídeo pedindo ajuda para localizá-la. Passados alguns dias, fotos da menina eram espalhadas pela Europa. Gerry criou um site para colher informações sobre a filha (www.findmadeleine.com).

Enquanto isso, em Glasgow, a amiga Jill conseguia se aproximar de um vizinho importante, John Brown – irmão do então ministro das Finanças, Gordon Brown. A atuação do governo britânico foi decisiva. Primeiro, com o envio de uma experiente porta-voz, Sheree Dodd, no lugar de Woolfall. Depois ela foi substituída pelo ex-repórter da BBC Clarence Mitchell – que conseguiu tornar os McCanns presença obrigatória nos telejornais. Quando a falta de novidades ameaçava esfriar o interesse da mídia, Mitchell criou braceletes amarelos com a inscrição ‘Encontre Madeleine’ e pôsteres da menina que podiam ser comprados pelo site – que teve 50 milhões de acessos em dois meses.

Foi dele também a idéia de levar o casal para um tour por Espanha, Alemanha, Holanda (países de onde vieram turistas hospedados na Praia da Luz), além do Marrocos. O encontro com o papa, por sua vez, foi articulado por meio de autoridades católicas em Londres. Os McCanns foram a Roma no jato emprestado pelo empresário Philip Green.

Em julho, Gerry e Kate trocaram mais uma vez de assessoria de imprensa. David Hughes e Justine McGuinness assumiram em meio aos primeiros rumores de que o casal estaria por trás do sumiço da menina. Após o indiciamento, no dia 7, Gerry e Kate voltaram à Inglaterra para preparar a defesa e tentar reorganizar a vida. Na quinta-feira, a principal assessora de imprensa, Justine, pediu demissão alegando ‘sobrecarga de trabalho’.

Mistérios

OS INDÍCIOS

Traços de fluidos corporais: Encontrados no carro alugado pelos pais de Madeleine 25 dias após desaparecimento. Podem vir de urina, sangue seco, vômito ou de corpo em decomposição

Cabelo no porta-malas: Fios, que estavam no mesmo carro, podem ter vindo de roupas e outros objetos ou de corpo em decomposição

Análise: Como as provas degradaram-se com o tempo, cientistas nunca terão 100% de certeza de que material seja de Madeleine

O QUE OCORREU ENTRE 18 E 22 HORAS?

Os pais contam que, depois de colocarem Madeleine e seu casal de irmãos para dormir às 18 horas de 3 de maio, voltaram ao quarto de meia em meia hora para ver os filhos. Kate McCann diz ter descoberto a cama de Madeleine vazia às 22 horas. Os detetives não conseguiram reconstituir com precisão os eventos das quatro horas anteriores ao desaparecimento

BEBIDAS

Os McCann dizem ter consumido quatro garrafas de vinho, com três outros casais e uma amiga, durante o dia do desaparecimento, mas a polícia afirma que foram 14

SEDATIVOS

Os gêmeos do casal dormiram o tempo todo durante a crise nervosa que Kate sofreu na noite do sumiço da menina, o que fez com que a polícia suspeitasse que o casal de médicos tivesse sedado os filhos’

Jonathan Freedland

Uma história tristemente irresistível

‘Visite o website da Sky News e você verá, no menu de tópicos, o título ‘Madeleine’ entre as ‘Notícias da Grã-Bretanha’ e as ‘Notícias do Mundo’. A história cresceu tanto que mereceu uma categoria só para ela, com a mesma importância das notícias de política ou economia. Não há, obviamente, necessidade alguma de fornecer um sobrenome ou qualquer outro detalhe: Madeleine refere-se a algo que se está convertendo, sem dúvida, na maior reportagem com apelo humano da década.

Não são apenas as atualizações de hora em hora no noticiário da TV ou os programas de rádio que põem no ar a opinião dos ouvintes. Um indicador mais confiável é o falatório nos escritórios, pontos de ônibus ou metrô. Graças à espantosa reviravolta dos últimos dias, a conversa coletiva britânica é sobre o desaparecimento de Madeleine McCann, uma história cada vez mais estranha.

Antes mesmo das revelações da semana retrasada, o caso já estava no centro das atenções. É o que sempre ocorre com o rapto e assassinato de crianças. Tememos esses crimes como nenhum outro; eles acordam medos profundamente enraizados no solo cultural. O seqüestrador de crianças é uma criatura mitológica, vinda das mais antigas lendas gaélicas, de Chapeuzinho Vermelho ou João e Maria. Em maio, quando surgiu a notícia de que uma criança havia desaparecido de sua cama num resort português, todos esses medos familiares foram despertados.

A idéia de que um estranho havia raptado Madeleine era aterrorizante, mas descomplicada: sabíamos como nos sentir. No entanto, a decisão da polícia portuguesa de considerar suspeitos os pais da menina obriga-nos a encarar não um medo antigo, e sim um tabu sombrio: o infanticídio.

A dura realidade, sem dúvida, é que histórias de pais que matam seus filhos pequenos são muito comuns. O namorado que espanca o filho da amada até a morte virou um ingrediente pavoroso do boletim de notícias, normalmente em segundo plano. A tentação da classe média nesses casos é confortar-se com o pensamento de que essas famílias são problemáticas, não são iguais às suas. A qualificação dos McCanns como suspeitos não permite essa resposta preguiçosa. Sua campanha teve tanto apoio da imprensa em parte porque eles são o próprio modelo de um casal de classe média, profissional: ambos são médicos, pertencendo assim ao grupo mais confiável aos olhos da sociedade. De fato, a partir de maio, a cena de uma perturbada Kate McCann agarrando o gato de pelúcia de Madeleine tornara-se a própria imagem do amor materno. O mero pensamento de que o casal é suspeito de matar a filha já é motivo de dissonância cognitiva.

É por isso que as pessoas não sabem como reagir. De uma hora para outra, temos de sustentar dois pensamentos completamente contraditórios. Pois agora os McCanns podem ser duas coisas: vítimas do destino mais cruel que se pode imaginar – não só perder inocentemente a querida filha, mas também serem acusados publicamente de um crime repulsivo – ou culpados da mais elaborada e abominável impostura da História, conquistando fraudulentamente a simpatia e a confiança da mídia global, de um primeiro-ministro britânico e até do papa, para não mencionar a opinião pública internacional. Uma dessas duas afirmações extraordinárias descreve a verdade.

Os tablóides agora cobrem a história com ambas as possibilidades em mente. Notem as manchetes da imprensa sensacionalista britânica, cuidadosamente cercadas de condições e qualificativos, caso a alternativa oposta seja a verdadeira.

Não é esse o desenrolar normal de histórias como esta. Normalmente, os jornais populares, em particular, têm um palpite sobre o culpado (e com muita freqüência acertam). Desta vez não. Os jornalistas que acompanham o caso McCann estão aparentemente divididos em dois campos, a favor e contra o casal. Alguns repórteres recusam-se a falar com os colegas do outro lado. Um editor de um tablóide está mudando de opinião sobre os culpados ‘de hora em hora’.

É fácil entender o motivo. Na terça-feira, informou-se que a polícia portuguesa encontrara não só o estranho rastro de DNA no porta-malas do carro que os McCanns alugaram semanas depois do desaparecimento de Madeleine, mas também quantidades substanciais de cabelos e até fluidos corporais da menina.

De repente, uma história completa constrói-se sozinha, a partir de informações vazadas e fragmentos especulativos. Essa história diz que os McCanns sedaram seus filhos a fim de jantar com amigos sem serem perturbados (o que explicaria o fato de os dois filhos mais novos do casal não terem acordado apesar do caos da noite de 3 de maio). Ao voltar, eles encontraram Madeleine morta.

Temendo perder a guarda dos gêmeos se confessassem a verdade, eles esconderam o corpo de Madeleine e, mais tarde, guardaram-no no compartimento do estepe do carro alugado, até finalmente enterrá-lo em algum lugar. Mas onde? A versão contra os McCanns tem resposta até para isso. Afirma-se que a polícia portuguesa planeja buscas na Igreja de Nossa Senhora da Luz, na Praia da Luz, onde o casal rezava regularmente e do qual obtivera as chaves, para visitar o templo a qualquer hora. Segundo as notícias, detetives querem escavar a área em torno da igreja – incluindo uma rua que estava em obras quando Madeleine desapareceu.

A história se sustenta até que comecemos a fazer perguntas. Como duas pessoas sob vigilância constante da mídia poderiam ter carregado e escondido o corpo da filha sem ser notadas? Se o casal realmente tivesse guardado um corpo no carro, o cheiro não seria óbvio? Como duas pessoas sem conhecimento da paisagem local poderiam ter encontrado um esconderijo que, meses depois, continua secreto? Seria plausível imaginar que, nos momentos seguintes ao trauma da morte de uma criança, duas pessoas concebessem um plano de acobertamento, executassem-no friamente e permanecessem inabaláveis desde então? Alguém conseguiria manter essa fachada, uma mentira global, por tanto tempo sem desabar?

Discussões como essa ocorrem em toda parte. Os McCanns certamente estão odiando, mas não podem dizer-se surpresos. Por razões totalmente compreensíveis, eles optaram por transformar a perda da filha em propriedade pública, recrutando a mídia para sua causa. Portanto, agora somos moradores reunidos na praça da vila, dando palpites sobre os misteriosos acontecimentos que envolveram uma família nas trevas.

Como essa história acabará? É isso que a torna tão tristemente irresistível: ninguém sabe. Até que se saiba, a justiça básica exige que os McCanns sejam considerados inocentes. A decência exige o mesmo. Pois se eles, no fim das contas, forem culpados, haverá tempo de sobra para condenações. Mas se eles forem inocentes, presumir o contrário é cometer um segundo crime contra pessoas que já sofreram o bastante.

Jonathan Freedland escreveu este artigo para ‘The Guardian’ Tradução de Alexandre Moschella’

TELECOMUNICAÇÕES
Ethevaldo Siqueira

Oportunidade histórica para as comunicações

‘Começa amanhã no Congresso um seminário que pode ter sentido histórico para o futuro das comunicações no Brasil. Com a presença de líderes e ministros, está começando um dos mais oportunos debates sobre a reestruturação do setor.

Esse parece ser o momento para a discussão de temas que estão na ordem do dia, tanto do lado governamental quanto da sociedade, dos usuários e especialistas.

A melhor pauta de debates, portanto, seria aquela que englobasse pelo menos 11 pontos, incluindo tanto aqueles já levantados pelo Ministério das Comunicações quanto aqueles que correspondem aos grandes temas de prioridades e questões não resolvidas.

Do lado do governo, os temas principais são:

1) Criar uma grande empresa operadora nacional de telecomunicações a partir da fusão da Brasil Telecom e Oi;

2) Fortalecer o poder político do Ministério das Comunicações em detrimento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel);

3) Criar uma companhia aérea (estatal) para o transporte postal dos Correios;

4) Criar o Banco Postal (estatal), depois de encerrar o contrato com o Bradesco;

5) Ressuscitar velhas estatais como a Telebrás ou reestatizar a falida Eletronet;

6) Pleitear para o Brasil a posição orbital de satélite hoje pertencente à Colômbia, para um novo satélite (estatal) brasileiro.

A segunda parte da pauta deveria incluir mais cinco pontos, defendidos pela maioria dos especialistas, quais sejam:

7) Atualização da legislação brasileira de Comunicações, com a elaboração de uma Lei Geral de Comunicações, abrangendo telecomunicações, radiodifusão, comunicação eletrônica, correios e outros serviços;

8) Harmonização das relações entre os setores de radiodifusão e de telecomunicações, com ampla negociação e entendimento sobre o novo cenário tecnológico de convergência;

9) Redução da carga tributária sobre serviços de telecomunicações, em que o Brasil tem sido campeão mundial;

10) Utilização integral dos recursos dos Fundos de Universalização de Serviços de Telecomunicações (Fust) e de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), sem qualquer confisco, nas finalidades legais para as quais eles foram criados;

11) Profissionalizar e fortalecer a Anatel como instituição principal do setor.

Uma sugestão oportuna é que sejam discutidas em profundidade até as propostas estatizantes, nacionalistas e xenófobas, para que se possa demonstrar sua inadequação ao País neste início de século 21.

O momento não mais comporta o levantamento de questões menores, de interesse restrito, mas de temas realmente relevantes. Tomemos alguns pontos, para iniciar o debate. Primeiro: os entendimentos para uma eventual fusão da Brasil Telecom com a Oi para a criação de uma megaoperadora 100% nacional devem partir das próprias empresas e de seus acionistas, num processo espontâneo, que se apóie na confiança dos investidores e na estabilidade das regras oferecidas pelo País.

Segundo ponto: muito mais do que discutir o fortalecimento político do Ministério das Comunicações ou o esvaziamento da Anatel, o País precisa completar a reestruturação institucional do setor, por meio da Lei Geral das Comunicações, de modo a concentrar as funções regulatórias, de fiscalização e de outorga em uma única agência. Esse órgão deverá ser, acima de tudo, profissional e independente, para poder cumprir suas funções do modo mais transparente, sem politização nem partidarismo.

Terceiro ponto: caberia ao seminário eliminar das discussões questões tão inoportunas quanto as propostas de reativação da Telebrás, da Telenet, e da criação de mais duas estatais, como a empresa aérea dos Correios e Banco Postal.

Um tema delicado na área internacional é a busca de uma nova posição orbital para o Brasil. O assunto deve ser conduzido, de preferência, junto à União Internacional de Telecomunicações (UIT), sem ferir qualquer direito da Colômbia.

Se a posição orbital se destinar a um satélite estatal, como o Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), é essencial que o País inteiro participe do debate sobre sua real necessidade, alternativas, custos e urgência do projeto.

A questão dos fundos Fust e Fistel é, acima de tudo, imoral. No orçamento de 2008, dos R$ 2,324 bilhões que deverão ser arrecadados, sob o título de Fistel, o governo deverá confiscar (contingenciar) R$ 1,9 bilhão.

Por outras palavras, em lugar de usar o fundo para fiscalizar, o governo simplesmente se apropria da maior parte para outros fins.

O Fust, como sabemos, deveria ser aplicado na universalização das telecomunicações e inclusão digital. Em 2008, sua arrecadação prevista é de R$ 600 milhões, sem contar os quase R$ 6 bilhões já recolhidos e acumulados nos últimos 7 anos, sem qualquer aplicação, até aqui.

Ambos os fundos foram criados com finalidades específicas, mas têm sido lançados sistematicamente na vala comum do superávit fiscal. Além de imoral, esse confisco é ilegal e inconstitucional. Merece uma ação pública nesse sentido.’

Valéria França

Os hackers que habilitaram o iPhone no Brasil

‘Eles não ganharam na loteria nem muito menos receberam uma herança, mas mudaram de vida em apenas duas semanas. Breno MacMasi, de 24 anos, e Paulo Stool, de 20, tinham uma típica rotina de estudantes paulistanos. Moravam com os pais, estavam sempre duros, mas faziam bicos, que garantiam a balada. Em duas semanas, os dois ganharam o que muita gente não consegue numa vida inteira: fama, prestígio e dinheiro. O sucesso veio de maneira pouco comum. MacMasi e Stool fizeram um celular programado para funcionar nos Estados Unidos operar em São Paulo.

Pode parecer pouco, mas não é. Primeiro, porque a dupla não habilitou um celular qualquer, mas um modelo que teve um dos lançamentos mais aguardados pelos aficionados das novidades tecnológicas. O iPhone é a aposta da Apple que reúne celular, iPod (mp3), câmera digital e internet. O aparelho virou objeto de desejo e também de status dos brasileiros modernos e antenados.

Publicitários, empresários e até jogadores de futebol foram contaminados pela febre do celular. No Orkut, mil comunidades foram abertas. ‘Eu quero um iPhone’, ‘Dou meus dois rins por um iPhone’ e ‘Tenho que ter um iPhone’ são alguns dos títulos mais comuns. Filho do empresário Paulo Velloso, um dos proprietários da Companhia Melhoramentos, o músico Mário Velloso, de 26 anos, foi para Nova York em junho para o lançamento do aparelho. ‘Queria muito o celular e sabia que logo ele estaria habilitado para funcionar aqui’, diz Velloso, que se considera um geek , um aficionado por tecnologia e programação acima do normal.

Um hacker amigo de Velloso, indicou a dupla. ‘Fui o primeiro a desbloquear o telefone’, conta Velloso. Outros famosos fizeram o mesmo caminho, caso dos empresários Roberto Justus e Álvaro Garnero. MacMasi e Stool levam três horas para desbloquear os aparelhos, que, com as alterações, passam a funcionar com o chip de qualquer celular GSM, seja Tim, Vivo ou Claro. Cobram R$ 600 pelo serviço (o celular custa U$S 399, nos EUA). A fila de famosos que batem à porta dos hackers é tamanha que os dois largaram a faculdade e passaram a virar noites para dar conta das inúmeras encomendas.

O iPhone tem o uso restrito à rede da operadora de telefonia celular americana AT&T. Ele só faz chamadas se for habilitado na operadora, graças ao seu chip, que em princípio não funciona fora dos EUA. A restrição foi um desafio aos hackers. ‘Quebrar regras e descobrir a vulnerabilidade de um sistema é uma aventura tão grande como escalar o Everest’, diz Routo Terada , professor de Computação da Universidade de São Paulo. ‘Na universidade, o assunto é o desbloqueio do iPhone.’

O estudante americano George Holtz, de apenas 17 anos, foi o primeiro hacker do mundo a desbloquear o aparelho. Ele colocou na rede um passo-a-passo do processo. Vários fóruns foram criados e hackers do mundo todo, inclusive os brasileiros Stool e MacMasi, começaram a trocar experiências. Depois de muito papo, os dois arriscaram a primeira operação, que levou dez horas. Abriram a tampa preta do aparelho, tiraram os parafusos e com uma lupa e duas agulhas começaram a intervenção. ‘Tivemos que adaptar o método Holtz. Teve muita gente que explodiu o celular ‘, conta MacMasi, que estudava Ciência da Computação e se encarrega da parte mais mecânica do desbloqueio. Ex-estudante de Meteorologia, Stool é o entendido em software. ‘Aos oito anos, era só minha mãe sair de casa que eu desmontava o computador’, diz Stool.

CARRO NOVO

A dupla colocou no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=V5eL7tAIM9o) o vídeo com o iPhone funcionando com o chip de uma operadora nacional. Os clientes se multiplicaram. Em média, são cinco clientes por dia. Em duas semanas, MacMasi trocou seu Corsa velho pelo novo Punto de teto solar transparente. Os dois foram chamados para trabalhar na incubação de softwares numa empresa de sites. Chefiam hoje uma equipe que ocupa o andar inteiro de um prédio nos Jardins, bairro nobre da zona sul.

Outros hackers começaram a fazer a mesma coisa. ‘Na Santa Ifigênia (no centro), vende software de desbloqueio do iPhone por R$ 20’, diz Mrl, ex-hacker, de 35 anos, que conseguiu desbloquear o próprio aparelho. ‘Mas não é seguro e pode acabar com o celular.’

A dupla de garotos prodígios pode ter problemas com a Justiça, caso a Apple resolva reclamar. Segundo a Lei 9.609, de 1998, alterar um software e cobrar por isso é crime. MacMasi e Stool também podem dar sorte e serem chamados para trabalhar na empresa, como ocorre com muitos hackers nos Estados Unidos.’

MEMÓRIA / LEON HIRSZMAN
Eduardo Escorel

Celebrando o legado de Leon Hirszman

‘Em novembro, quando Leon Hirszman faria 70 anos, alguns de seus principais filmes voltarão a estar disponíveis. Cópias restauradas de Eles Não Usam Black-Tie, ABC da Greve e Pedreira de São Diogo poderão ser vistas em DVD. A partir do ano que vem, Maioria Absoluta, A Falecida, São Bernardo e Imagens do Inconsciente também serão relançados, fruto do projeto Restauro Digital da Obra de Leon Hirszman.

Leon deixou obra pequena. Apenas 5 longas-metragens, 11 curtas e 5 filmes inacabados, feitos entre 1962 e 1986. Uma carreira breve, porém marcante, em que, além de trabalhar como diretor, militou pela causa do cinema brasileiro em tempo integral.

‘A autoridade de que, no curso da vida se investiu, não lhe foi dada por ninguém. Vinha dos outros, seus iguais e seus amigos, e de seu carisma.’ É assim que Nise da Silveira descreve o pintor Carlos Pertuis, em Imagens do Inconsciente. São palavras que descrevem à perfeição o próprio Leon. Ele exerceu, de fato, liderança ímpar que não provinha apenas do valor dos seus filmes. Sua voz era ouvida, antes mesmo de ter feito seu primeiro curta-metragem ou de ter dirigido São Bernardo, primeiro grande filme que realizou.

Atento aos eventos do seu tempo, sempre procurou conciliar a atividade de cineasta com sua vocação política. Aos 26 anos, a pretexto de fazer um documentário sobre o método Paulo Freire, foi a Pernambuco, onde registrou as condições de vida e a força expressiva da fala do homem do campo. Enquanto montava essas imagens de Maioria Absoluta, voltou sua atenção para os universitários, a minoria privilegiada que chegava ao curso superior. Na prova de desenho a mão livre do vestibular da Faculdade Nacional de Arquitetura, filmou o contato inesperado de mundos distantes. No ginásio da faculdade, sentados em bancos altos formando um círculo, vestibulandos desenhavam modelos vivos recrutados entre imigrantes nordestinos. Para ter acesso à universidade, a minoria desenhava a maioria. Para ganhar uns tostões, a maioria posava para a minoria.

A montagem de Maioria Absoluta estava para terminar quando houve o comício de 13 de março de 1964, em que o presidente João Goulart anunciou as Reformas de Base. Leon chegou na Avenida Presidente Vargas à tarde, a tempo de filmar a passeata dos petroleiros, carregando tochas acesas, em direção à Central do Brasil. Terminou a noite no Zicartola, com o equipamento de filmagem guardado embaixo da mesa.

Miguel Arraes, governador de Pernambuco, viera ao Rio para participar do comício da Central e assistiu o copião de Maioria Absoluta. Depois da projeção, comentou: ‘Com mais três filmes como esse, o povo pega em armas.’ Era uma advertência, não um elogio. O filme, no entanto, não incita à revolta, nem Leon era um radical dado a rupturas. Formado desde adolescente no Partido Comunista, primou por ser um temperamento conciliador. De todo modo, o temor de Arraes encontrou eco no regime militar e Maioria Absoluta não pôde ser exibido no Brasil por 18 anos. Uma ferida que nunca deve ter cicatrizado.

Na tarde de 31 de março de 1964, à medida que o prenúncio do golpe se espalhou pelo Rio, houve uma concentração espontânea na União Nacional dos Estudantes. Leon foi direto para lá, ao sair do estúdio onde estava mixando Maioria Absoluta. Já escurecera quando todos subiram para o auditório no terceiro andar para ouvir algo de importante que seria anunciado. O auditório, que estava em obras, nunca chegaria a ser concluído. O piso em aclive, feito de placas de compensado, estava sem forro nem cadeiras. Havia apenas um palco e o chão onde todos se acomodaram.

O Comando Geral dos Trabalhadores Intelectuais não demorou a chegar. Ênio Silveira, Nelson Werneck Sodré, Alex Vianny e Moacyr Félix estavam entre os que subiram ao palco. Ênio falou em nome do grupo, e anunciou a prisão do general Humberto Castello Branco, chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Sentado no chão da platéia, Leon, incrédulo, sussurrou: ‘Não pode ser. Não pode ser’. Ele não terá sido o único, mas com certeza foi dos poucos que não se deixaram iludir pela informação fantasiosa. Àquela altura, o golpe militar iniciara sua marcha vitoriosa e o próprio general Castello Branco seria o indicado pelos militares para ser o primeiro presidente da República da ditadura.

Transitando entre ficção e realidade, Leon não se deixara enganar. A solidariedade coletiva que impedira a explosão da pedreira de São Diogo, no seu primeiro curta-metragem de ficção, não se materializara em defesa da democracia na crise política de 1964. Cauteloso, achou prudente refugiar-se com sua mulher, Norma, e a primeira filha, Irma, de 9 meses, em um pequeno apartamento de parentes em Santa Teresa. O prédio onde moravam ficava numa das ladeiras mais íngremes do bairro. Ao chegar, um pequeno caminhão carregado de cerveja perdeu o freio, desceu a ladeira ganhando velocidade e bateu no fusca dirigido por Leon. O sigilo do esconderijo parecia comprometido. Era preciso registrar a ocorrência sem revelar a identidade do dono do carro. Situação absurda com os ingredientes de uma comédia pastelão.

Nos primeiros dias de abril, a mixagem de Maioria Absoluta prosseguiu sem a participação de Leon, que continuou na clandestinidade por alguns dias. O trabalho foi interrompido para que fosse projetado um pequeno rolo de filme recém saído do laboratório. A sensação de que o mundo acabara com o golpe militar foi reforçada por aquelas imagens do prédio da UNE em chamas. Nem Leon imaginava que o pior estava por vir.

Dos 24 anos de sua carreira profissional, apenas 3 foram vividos em um regime democrático. Cineasta engajado, enfrentou fracasso comercial, censura, falência. Recebeu prêmios e aplausos em vários quadrantes. Durante o regime militar, contou com o suporte do Estado, através da Embrafilme, para realizar seus dois últimos filmes, Eles não Usam Black-Tie e Imagens do Inconsciente.

A morte de Leon, em 16 de setembro de 1987, quando estava prestes a completar 50 anos, faz lembrar as palavras de Primo Levi: sobrevivem os piores, os mais adaptados. Os melhores, todos, morrem.

Eduardo Escorel é cineasta, dirigiu Deixa Que Eu Falo, documentário inédito sobre Leon Hirszman a ser lançado em novembro’

REVISTA DAS REVISTAS
O Estado de S. Paulo

Coyote celebra 5 anos de saudável independência artística

‘Entrevista inédita no Brasil de Julio Cortázar e poemas exclusivos de José Lino Grünewald recheiam 15.ª edição da publicação

Em junho de 1984, um mês antes de morrer, o escritor argentino Julio Cortázar concedeu entrevista a Jean Montalbetti, da revista Magazine Littéraire. Inédita no Brasil, a entrevista é um dos trunfos do Dossiê Cortázar, que recheia a 15.ª edição da revista literária Coyote.

‘Se minha versão da infância é legítima, é porque falo como uma criança. Sempre tenho 10 anos’, disse Cortázar a Montalbetti. A Coyote (52 págs., R$ 10), uma das mais independentes e de maior qualidade do País, está celebrando 5 heróicos anos de existência e essa edição comemorativa traz, além de Cortázar, um poema inédito de José Lino Grünewald, cedido especialmente para a revista por sua viúva, Ecila Grünewald. E mais: poemas do inglês Philip Larkin (traduzidos por Luiz Roberto Guedes), do angolano José Luis Mendonça e do paranaense Jairo Batista Ferreira, textos traduzidos do poeta romano Lucrécio, um lipograma de Bráulio Tavares e fotos de João Urban, entre outras coisas.

‘A revista cresceu bastante nesses cinco anos, chegando a diversos países, especialmente da América Latina. Estamos estabelecendo um diálogo intenso com a produção literária e poética do continente, seja da Argentina, México, Chile, Cuba ou dos Estados Unidos, por exemplo. E o que continua nos interessando, além de revelar novos autores, é a parte mais inventiva, radical e crítica dessa produção. Acreditamos que a poesia, a literatura e a arte em geral continuam capazes de provocar abalos sísmicos no real’, dizem, em texto distribuído à imprensa, os editores Ademir Assunção, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes.

Em seus cinco anos de existência, a Coyote estima ter publicado mais de 180 poetas, escritores, ensaístas e fotógrafos brasileiros, cubanos, argentinos, uruguaios, peruanos, chilenos, mexicanos, norte-americanos, franceses, irlandeses, ingleses, coreanos, eslovenos, egípcios, espanhóis, árabes e chineses. Entre eles, Sérgio Sant’Anna, Furio Lonza, Nelson de Oliveira, José Agrippino de Paula, Mina Loy, Jim Dodge, e. e. cummings, Charles Bukowski e Frank O’Hara (EUA) e Pedro Juan Gutierrez (Cuba).

Publicou também dossiês com o mexicano Heriberto Yépez, a chilena Cecília Vicuña, a alemã-americana Rosmarie Waldrop, o fotógrafo esloveno Evgen Bavcar e os brasileiros Mário Bortolotto, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Claudio Daniel, Roberto Piva e Chacal. Fotógrafos como Juvenal Pereira, Bernardo Magalhães, Haruo Ohara e Cris Bierrenbach publicaram ensaios em suas páginas.

A Coyote é trimestral e distribuída nacionalmente pela Editora Iluminuras. Pode ser encontrada nas livrarias ou pelo site: www.iluminuras.com.br (email: revistacoyote@uol.com.br).’

MÍDIA & MEIO AMBIENTE
Antonio Gonçalves Filho

O editor que não quer publicar pelo bem da ecologia

‘Nos últimos anos o editor-executivo da área de Humanidades da Universidade de Harvard, Lindsay Waters, não tem feito outra coisa além de alertar acadêmicos e editores para o grande desafio do futuro: publicar cada vez menos e com mais critério. Árvores abatidas para lançar teses acadêmicas que ninguém vai ler, nunca mais . É antiecológico, defende Waters, que esteve esta semana em São Paulo para lançar seu pequeno e polêmico livro Inimigos da Esperança – Publicar, Perecer e O Eclipse da Erudição (Editora Unesp, 96 págs., R$ 17).

No livro, Waters critica a obsessão da universidade pela produtividade, o que tem provocado uma avalanche de publicações de pouca ou nenhuma importância, além de atacar o conformismo e o corporativismo de seus pares. O editor americano conversou com o Estado na sede da Editora Unesp, que o trouxe ao Brasil para uma palestra sobre pesadelos editoriais e avaliação acadêmica.

O seu livro começa a ser traduzido para outras línguas após provocar polêmica nos EUA, especialmente entre editores, por recomendar que se publique menos. Até na China ele chegou. Como é o mercado das editoras universitárias chinesas?

Há algum tempo saiu a edição chinesa e a França também vai lançar o livro, que julgava sem interesse para o mercado chinês. Fiquei surpreso com a repercussão entre editores e acadêmicos da China, pois imaginava que os problemas das editoras universitárias chinesas fossem outros. Mas não. Era como em Harvard ou em outra universidade americana. Eles, até o momento, seguiram o modelo americano – muita pressão para publicar e pouco controle sobre o real interesse dessas publicações -, mas já começam a reavaliá-lo, privilegiando a pesquisa antes de partir para a edição.

Fica claro em seu livro que a universidade precisa alcançar e constituir um público leitor fora da academia se as editoras universitárias quiserem sobreviver e ter alguma relevância no mercado. Qual a sua sugestão para melhorar o diálogo entre universidade e sociedade?

Em Harvard temos edições de vários níveis, desde livros acadêmicos mais especializados até publicações acessíveis ao público em geral. Há livros dirigidos a apenas 25 pessoas, capazes de ler um tratado filosófico, até outros, para um público de 25 mil leitores. É uma pirâmide, mas estamos tentando convencer os acadêmicos a escrever livros mais abertos. A Harvard publicou recentemente um livro de filosofia assinado por Jonathan Lear, da Universidade de Chicago, que adota idéias de Heidegger para analisar a crise e o desespero contemporâneo da América sem citar uma única vez Heidegger, mas lidando com o conceito de ‘stimmung’ (chave na ontologia existencial heideggeriana). É uma parábola sobre um chefe indígena que, no final do século 19, intui a extinção de sua tribo. Lear foi muito feliz em usar essa forma de parábola para falar do ‘mood’ (disposição, espírito) que leva as pessoas a mudarem de atitude. O livro é absolutamente rigoroso em sua abordagem filosófica, mas acessível o suficiente para ser consumido pelo público não-acadêmico. Este é o nosso desafio: tornar claras idéias antes obscuras e discutidas apenas no circuito acadêmico, principalmente agora que a universidade americana, em especial na área de humanidades, está sob ataque de burocratas que só enxergam uma saída tecnológica para a crise mundial.

O que mudou na universidade americana após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001?

Há muito mais medo, e não apenas nas universidades, mas no país como um todo. Outra conseqüência é que o senso comum elegeu a área de ciência e tecnologia como prioritária, deixando de lado a de humanidades após o 11 de setembro. A universidade americana precisa ser urgentemente reformulada.

Com a ajuda do governo?

Não, não recebemos ajuda nenhuma do governo. Eventualmente podemos solicitar algum subsídio, mas posso dizer que Harvard é como a América: não há qualquer gentileza no trato com as editoras universitárias. É cada um por si. Então, temos de ser independentes financeiramente, ou seja, ganhar dinheiro com nossos livros. Acontece que, após o 11 de setembro, registrou-se uma queda de 20% na venda dos livros e CDs, fenômeno que pode ser atribuído ao sentimento de finitude que se abateu sobre a América. Para que ler, afinal, se um atentado pode acabar com tudo de uma hora para outra? Até meu chefe na universidade virou para mim, perplexo, quando sugeri a publicação de uma história da literatura russa. ‘Por que você se preocupa com isso?’, perguntou. ‘Ninguém vai ler esse calhamaço’. Eu mesmo fiquei surpreso. Esse é mesmo meu chefe? Por que anda deprimido? (risos) Afinal, no passado ele me deu US$ 100 mil para fazer uma história da literatura americana.

O senhor escreve em seu livro que a área de humanidades deve lutar para preservar e proteger a independência de suas atividades antes que o mercado a aprisione. Ela já não vive dentro da prisão?

Parece uma conversa um tanto derrotista, como a de meu editor, não ?(risos) Mas seria ridículo entregar os pontos agora. Está certo, temos um presidente terrível, mas tudo se resume a uma mudança de atitude. O problema verdadeiro é a preservação de nossos valores e de nossa independência crítica.

É fácil de ouvir e difícil de aplicar. Como enfrentar a lógica do mercado?

Outro dia li no New York Times alguém anunciando pela enésima vez a morte do livro e fiquei pensando: é isso que o mercado está dizendo? Não exatamente. O que o mercado está dizendo é que precisamos produzir livros com títulos mais atraentes, linguagem acessível e prefácios mais esclarecedores. Gasto horas discutindo títulos com meus autores e tentando persuadi-los a mudar os originais, conversa um tanto difícil quando se está, por exemplo, diante de alguém que escreveu um livro sobre filosofia analítica. Minha dissertação, por exemplo, tratava da influência dos italianos sobre Byron quando ele escreveu seu poema Don Juan, e não achei título melhor que Byron and the Italian Connection (Byron e a Conexão Italiana) para definir seu conteúdo.

O senhor argumenta que existe, na universidade, uma ligação íntima entre a demanda corporativista por produtividade e o tsunami editorial de livros insignificantes. Há alguma chance de dar um fim nisso?

Escrevi o livro com a esperança de mudar esse estado de coisas. O modelo que as universidades adotam para a publicação de livros é o mesmo de uma fábrica de automóveis. Elas exigem produtividade, mas não exatamente qualidade. Acho que o cerne da questão são os números e a atitude reducionista dos administradores universitários. Como se pode reduzir as coisas do espírito a números? Só pensamos em dinheiro e estamos caminhando muito rapidamente para o abismo. Escrevi um livro propondo um movimento em direção oposta, o ‘slow reading’ (leitura lenta), para que as pessoas esqueçam essa mania de ler tudo rápido sem entender o conteúdo. Da mesma forma, se você escreve um livro por ano, não pode mesmo produzir uma obra relevante. Isso é loucura.

Quanto livros por ano a Harvard University Press publica e qual sua principal área de atuação?

Publicamos 150 livros por ano. A Harvard não é conhecida como uma universidade dedicada à ciência ou tecnologia, como Cambridge, que tem como parceiro o MIT (Massachusetts Institute of Technology ou Instituto Tecnológico de Massachusetts), embora tenha feito esforços para isso. De qualquer forma, nossos títulos de maior apelo dizem respeito à ciência da evolução ou à psicologia, embora os mais importantes sejam na área de filosofia, como os livros de W.D. Klein, Donald Davidson ou Robert Brandon.

A separação por áreas de conhecimento, segundo seu livro, revela certa resistência da sociedade americana à inovação e até um certo conformismo. O senhor diria que a sociedade americana é acrítica?

Não, mas é curioso que tudo o que está acontecendo hoje tenha sido previsto por grandes escritores americanos do passado, como Herman Melville ou Ralph Waldo Emerson. Emerson disse que os americanos tendem a ser individualistas embora não rejeitem compromissos. Esse é exatamente nosso desafio: criar vínculos entre a universidade e a sociedade. É muito mais cômodo sentar num ônibus e deixar o motorista guiar, mas muito mais arriscado. O americano, hoje, tem de olhar para a estrada, suspeitar, para não viver confuso e sem direção. A coisa é mais complicada do que descreveu Graham Greene em O Americano Tranqüilo. Nem todos americanos são como George Bush. Quando ocupamos cargos-chave ou assumimos posições de responsabilidade, devemos agir não apenas como indivíduos, mas como integrantes de um corpo social. Entretanto, não devemos seguir líderes, como diria com justa razão Bob Dylan.

Mas o senhor é um líder dentro da Universidade de Harvard. Como costuma reagir quando um autor é rejeitado para publicação e, eventualmente, identifica nessa exclusão um toque de censura? Como reagiu à acusação de que envenenou o poço das editoras?

Meu amigo Bill Germano (o editor William P. Germano, autor de ‘Getting it Published’, guia que ensina acadêmicos como publicar seus trabalhos) foi um dos primeiros a atacar meu livro, justamente por interpretar minha proposta de reduzir o número de publicações como censura ao trabalho alheio. Quando Bill me encontrou, disse que seu desejo imediato após ler o livro foi me dar um soco (risos). Posso até entendê-lo, mas jamais aceitar que julgar um livro significa censurá-lo. É censura escolher filé mignon em vez de salmão? Espera-se de um editor que ele tome decisões, assim como de um cineasta que ele faça escolhas. Cínicos fundamentalistas cristãos produziam há 30 anos filmes pornográficos para serem exibidos em hotéis e, quando processados, sempre alegavam nunca terem assistido a um deles sequer. Pecadores eram os que viam os filmes. Cínicos é o que eles são, esses fundamentalistas. Isso se chama irresponsabilidade. Liberais não acreditam no pecado original. Eu posso não acreditar em Deus, mas acredito no pecado original.

Voltando ao trânsito interdisciplinar, o senhor defende que a universidade moderna organiza o conhecimento em diferentes disciplinas. Qual seria sua proposta para melhorar a interação entre elas e como as editoras universitárias poderiam ajudar nesse processo?

Acho que os Estados Unidos tornaram-se mais conservadores nos últimos 30 anos. A excitação provocada pelo pensamento de intelectuais como Roland Barthes parece ter sumido na poeira do tempo com suas propostas de interdisciplinaridade. A separação em campos específicos tornou-se uma obsessão, como se os EUA tivessem construído um muro, uma fronteira filosófica. Em minha visão, esses campos só crescem com novidades surpreendentes. Se os conservadores empenham-se em destruir a diversidade, cabe a nós, da área de humanidades, mostrar ao pessoal da ciência que eles têm mais coisas em comum conosco do que sonham. Galileu nem sabia para que servia um telescópio antes de juntar lentes e descobrir o universo.

É difícil convencer um acadêmico a escrever para o leitor comum?

Sim, às vezes encontro resistência. Alguns dos filósofos contemporâneos de maior expressão nos EUA, como John McDowell (influenciado por Wittgenstein), não querem escrever para o leitor leigo, mas sempre posso encontrar alguém disposto a facilitar sua leitura para o público fora da academia. É meu trabalho achar essas pessoas. Há 30 anos um filósofo nascido em Essex, Bernard Williams (morto em 2003), escreveu um livro obscuro sobre ética e, ao se aposentar, reescreveu-o de maneira clara para atingir outro público. Foi essa versão de Ethics and the Limits of Philosophy que publicamos e que vendeu muito bem.

Há pressão dentro da universidade para concorrer com o catálogo das editoras comerciais?

Sim, mas geralmente tento ignorar. Tenho alguns autores disputados por editoras comerciais, como o filósofo Richard Rorty e o historiador Anthony Grafton, que escreveu aquele livro fantástico sobre a descoberta do Novo Mundo (New Worlds, Ancient Texts). Grafton escreveu apenas um livro que não teve sucesso comercial e que publicamos, um sobre Alberti (Leon Battista Alberti – Master Builder of the Italian Renaissance). Mas não me preocupo com a concorrência. Ando mais preocupado com o desaparecimento de resenhistas das páginas dos grandes jornais. Quem vai comentar nossos livros? Por que as resenhas estão morrendo? Os editores dos grandes jornais americanos nem recebem mais os editores das universidades. Há um comportamento mafioso na América. Estou competindo com a Máfia.’

GRAMPO, MSI & CORINTHIANS
Mônica Manir

‘A escuta não era imprescindível’

‘Há doenças chamadas doenças de livro, dessas clássicas, em que o paciente chega para a consulta com todos os sintomas à flor da pele. E há investigações de livro, com sinais claros do crime em questão. O promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro vê assim a apuração do caso doentio entre a MSI e o Corinthians: uma investigação de livro sobre lavagem internacional de dinheiro. ‘Ali temos todas as etapas do crime acontecendo como na teoria’, diz, em seu gabinete no Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Carneiro, juntamente com o promotor Roberto Porto, foi quem deu o pontapé inicial na investigação que envolve diretores do Corinthians, magnata russo, testa-de-ferro iraniano, jogadores ‘distraídos’, ex-esposa atenta e sabe-se lá mais quem num processo enciclopédico.

‘Em abril de 2005, quando apresentamos nosso relatório final com 13 volumes, já sabíamos que Boris Berezovski estava por trás da parceria, mas queriam uma prova matemática, como se alguém fosse passar recibo de lavagem de dinheiro’, afirma. Ele conta que, até a denúncia do Ministério Público Federal, dois anos depois, a parceria Corinthians/MSI continuou leve e solta, o que fortaleceu os envolvidos e esfacelou ainda mais a estrutura do clube. Promotor também do caso Celso Daniel e da máfia do apito, que investiga o caso Edilson Pereira e está suspensa por liminar, Carneiro traça a seguir os passos que levaram ao primeiro diagnóstico de um crime evidente.

A SUSPEITA

‘A investigação começou com uma representação do deputado estadual Romeu Tuma Júnior ao procurador-geral da República, em 20 de janeiro de 2005. O deputado, que é conselheiro do Corinthians, mostrava a preocupação de que o time estivesse sendo usado num esquema internacional de lavagem de dinheiro envolvendo a parceria Corinthians/MSI e o magnata russo Boris Berezovski. O procurador-geral determinou que a investigação fosse realizada pelo Gaeco. Muitos achavam que o fato de Berezovksi ser estrangeiro implicava, de imediato, uma investigação federal. Mas um estrangeiro pode cometer crimes de competência da Justiça Estadual. Num primeiro momento, cabia ao Gaeco fazer a investigação.

O ENCANTAMENTO

‘Antes da MSI não havia, na história do Ministério Público do Estado de São Paulo, investigações misturando crime organizado e futebol. Foi um marco. Tínhamos de fazer uma série de diligências. Falamos com o iraniano Kia Joorabchian, com os diretores do Corinthians, com representantes das offshores, que tentavam acobertar os parceiros internacionais do clube. Perguntávamos tudo, menos se Boris Berezovski participava da parceria. Afinal, estavam todos treinados para dizer que não. Ao final de cinco horas de depoimento, já de guarda baixa, depoentes relatavam viagens a Londres e encontros com o russo. Mostravam-se encantados com a mansão de Berezovski, ‘tão maravilhosa que uma chuva cai naturalmente no centro dela’. ‘Ele mora do lado da rainha’, diziam. Muito impressionado, um dos dirigentes contou que, num jantar, Berezovski teria saído da mesa para atender a um telefonema de Tony Blair.

O PROCURADO

‘Fomos diversas vezes a Brasília atrás dos relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que mostravam o histórico de Berezovski e dos comparsas dele. Descobrimos que era procurado no mundo inteiro, que se aproveitou da queda do regime na antiga União Soviética, pegou um patrimônio violento do povo russo, bilhões e bilhões de euros, e levou rapidamente para fora do país. A idéia dele era trazer o dinheiro para Brasil e Argentina e transformá-lo em compras milionárias de jogadores de futebol, um valor que voltaria legitimado para o continente europeu. Estávamos dando ensejo a uma aproximação nefasta como essa. Agora, por que o governo inglês concedeu asilo político para um criminoso comum condenado na origem por lavagem de dinheiro, fraudes em empresas do Estado e formação de quadrilha, é uma questão que só o governo inglês pode responder.

OS INTERMEDIÁRIOS

‘O processo foi facilitado, em parte, pela colaboração de um escritório de advocacia que havia montado as sete offshores, a maioria nas Ilhas Virgens Britânicas. A sede está situada em uma grande offshore desse país. Os advogados do escritório disseram não saber do teor do negócio, o que não prevaleceu. Foram denunciados pelo Ministério Público Federal.

OS CONSELHEIROS

‘Contamos com a ajuda de diversos profissionais de dentro do próprio Corinthians interessados em elucidar a parceria. O sr. Alberto Dualib foi avisado por juízes, ministros, advogados criminalistas, pelo Roque Citadini, hoje presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Se Miguel Marques e Silva, que é desembargador, não servia como referência, se Romeu Tuma, com sua experiência policial, não servia, como o sr. Dualib pode alegar que foi traído? Quando Rubens Approbato Machado, grande corintiano, ouviu a descrição que Alberto Dualib fez dos gestores da MSI, cochichou para alguém do lado: ‘Ele está descrevendo um estelionatário internacional’. Jamais o Corinthians precisaria ter virado um caso de polícia no Ministério Público.

O DESCASO

‘A investigação começou em fevereiro de 2005 e terminou em abril do mesmo ano, mas não fomos imediatamente ouvidos. Queriam uma prova matemática, uma espécie de recibo, ou então a interceptação telefônica, como se ela fosse absolutamente imprescindível nesse tipo de apuração. Ela não é, tanto que tem caráter excepcional. Não deve ser interpretada pela sociedade brasileira e por quem opera a investigação como única forma de produção de prova.

O GOVERNO

‘Como concluímos que o crime era de competência da Justiça Federal, ele não poderia ser denunciado pelo Gaeco. O Ministério Público Federal complementou o processo até a denúncia, em julho de 2007. Nesse período, tínhamos sinais de que Berezovski queria se aproximar do governo brasileiro. Com seu poderio de capital, prometia investimentos em áreas variadas: salvar a Varig, aplicar em biodiesel, construir um estádio para a nação corintiana. A PF busca agora descobrir a responsabilidade de autoridades que apostavam que investimentos de um criminoso internacional serviriam para o Brasil. Lavagem de dinheiro é um câncer. Ainda que possa produzir riqueza aparente, logo em seguida destrói qualquer economia nacional.

AS NOTAS

‘A lavagem de dinheiro provocou um rombo no Corinthians. O clube está completamente disforme, desgovernado. A parceria prometeu um sonho, levou o sonho embora, deixou um título para ser discutido e cenas de busca e apreensão, além de notas frias. Há dois meses apreendemos 80 delas, demonstrando que o Corinthians foi sangrado em R$ 536 mil. Contrataram um empresa de assessoria contábil, que nunca prestou assessoria alguma, mas apresentava notas de R$ 10 mil, R$ 15 mil aos diretores do Corinthians, os mesmos da parceria criminosa, para que dividissem entre si. Estamos em busca de indícios da participação de outras empresas no mesmo esquema. Se a gente se deparar com eles, aí a multiplicação do prejuízo que o clube sofreu será muito maior.’

QUARTA, 12 DE SETEMBRO

E daí que eu falei?

O presidente licenciado do Corinthians, Alberto Dualib, afirma que escutas telefônicas da PF não são prova contra ele. Nas gravações, ele fala a Duprat sobre possível compensação financeira caso abrisse as portas do clube para um empresário israelense.’

TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo

Dança dos famosos

‘Criação do Pânico, a Dança do Siri incomoda a concorrência e seduz anônimos e celebridades

Enquanto o Domingão do Faustão se esforça para escalar famosos para suas danças, mesmo tendo à disposição, em tese, o maior elenco de celebridades do País, é a zebra do Pânico, na modesta RedeTV!, que tem mobilizado o maior número de seguidores, da torcida aos grandes ídolos.

Vá lá, nem sempre a adesão é espontânea. Perseguido há coisa de um mês pela dupla Ceará&Vesgo, Galvão Bueno resolveu enfim ceder à pressão dos dois para dançar a Dança do Siri. O mais famoso locutor do País foi alcançado por Ceará&Vesgo nos bastidores do Grande Prêmio de Fórmula 1 de Monza, domingo passado, e se rendeu. A amigos e diretores da Globo, explicou que seria melhor acabar de vez com a campanha ‘Dança, Galvão’. E queixou-se de que o episódio vinha até interferindo em sua vida pessoal.

Com o suspense que convém ao bom marketing do grupo, o Pânico deve levar a cena ao ar hoje. E, como é de praxe em missões como esta – em que o programa da Jovem Pan/RedeTV! persegue determinada celebridade – a expectativa não deve se esgotar numa única edição.

E O CÂMERA DANÇA

Desde que o Pânico popularizou a coreografia em questão, o trabalho das equipes de telejornalismo tem sido evitar que engraçadinhos atravessem o ângulo captado pela câmera para fazer a tal Dança do Siri. O site de vídeos Youtube dispõe de uma série de flagrantes do gênero. Em uma delas, em reportagem da Globo, um produtor consegue puxar o dançarino para fora do foco da câmera.

‘Não há nenhum comunicado oficial sobre como agir nesses casos, mas essa coisa da Dança do Siri tem nos dado muito trabalho’, conta um câmera da Globo que não quis se identificar. ‘Temos de tomar alguns cuidados, como encostar os entrevistados na parede, por exemplo, sem deixar espaço para que ninguém passe por trás’.

Já um produtor do Jornalismo do SBT conta que a trupe não costuma incomodar o trabalho da casa nas grandes coberturas. ‘Não sei se é pelo fato de eles imitarem o Silvio ou de já terem negociado com o SBT, mas eles sempre pegam mais leve com a gente’, diz.

Também abordado pela dupla Ceará&Vesgo em Monza, o piloto Felipe Massa prometeu fazer a Dança do Siri em sua próxima subida ao pódio. Se a promessa se consumar, será mais um exercício de edição nas transmissões ao vivo da Globo. A emissora teve de engolir imagens dos times de basquete e handebol fazendo a Dança durante o Pan. E foi o próprio Galvão Bueno que, sempre impulsivo em narrar o que vê, deixou escapar algo como ‘olha aí a Dança do Siri’. Mal sabia que ali começava seu calvário para engatar a mesma coreografia.

15 minutos de fama

Apesar de prometer prêmios no ar para quem ousar fazer a coreografia na frente das câmeras da concorrência, Emílio Surita garante ao Estado que o Pânico não quer incomodar a Globo.

Você incita as pessoas a fazerem a Dança do Siri na frente das câmeras da Globo?

Longe de nós incitar as massas para prejudicar os colegas de trabalho. O máximo que a gente faz é reconhecer o telespectador anônimo, que sai da passividade da sua poltrona e vai ocupar de forma legítima o espaço público que o transforma numa celebridade de TV, ainda que em segundo plano.

É para irritar a Globo?

O jornalismo é estruturado na seriedade. A dança do siri é um ruído, uma bobagem. É claro que os dois não combinam, mas é o único momento que o telespectador pode se expressar: nos ‘links’ao vivo.

E aí, o Galvão dançou ?

O Galvão sabe como ninguém comandar a torcida. Sabe o que faz …’

***

Histórico crustáceo

‘Outra corrente insiste que a coreografia foi copiada da série Futurama, dos mesmo criadores de Os Simpsons. Ela teria ido ao ar na segunda temporada da animação, em episódio que o Dr. Zoidberg, um crustáceo espacial, ensina os passos a outro personagem. Originalmente se chamaria Apology Dance (Dança da Desculpa).

Não contente em vetar a Dança do Siri em suas transmissões jornalísticas, a Globo baniu internautas que arriscaram alguns passos da coreografia em sua festa virtual da novela Sete Pecados, realizada no Second Life em junho. A rede nega, diz que os dançarinos acabaram saindo por um problema técnico.

Um fã do Pânico chegou a propor na web que o público se unisse para bater o recorde mundial na Dança do Siri em transmissão do Pan na praia de Copacabana. Ele chegou a criar um site para a coreografia e a sonhar em recrutar 5 mil dançarinos para entrar no Guinness. O resultado é um mistério. A Prefeitura do Rio negou alvará para aventura nas areias do Rio, o site saiu do ar e o seu criador sumiu.

Há dois meses, a Globo chegou a ameaçar processar o Pânico caso eles continuassem a incentivar o público a fazer a coreografia nos links da emissora. Não passou de ameaça.

Entre os famosos que já pagaram esse mico estão Silvio Santos, Gugu Liberato, Fernanda Lima, Serginho Groisman, Marcello Antony, Rubens Barrichello e Aline Moraes.

Acredite se quiser, a trilha da Dança do Siri é uma versão latina da música da Björk em islandês Dansi Með Þér.’

Roberto Godoy

Do bom e do pior

‘Impecável a grade de filmes que vários canais da TV a cabo montaram por conta da passagem do 11 de setembro e dos atentados de 2001 que mudaram o mundo, talvez para sempre. A rigor, justifica um repeteco. A rara oferta, em um mesmo dia, de produções como Guerra Alheia, Legado Nocivo: 11 de Setembro,e Torres Gêmeas: Entre os Escombros (no Discovery), Fahrenheit 11/9 (GNT) Vôo United 93 (Telecine Pipoca) e Al Qaeda – A História Secreta do 11 de Setembro (The History Channel) é uma boa justificativa para a existência da rede de emissoras pagas e caras. Guerra Alheia, sobre a ação dos soldados enviados ao Iraque pelo pobre exército de El Salvador é especialmente bom, mais ainda quando se sabe que o pequeno país da América Central foi cenário de uma luta muito parecida nos anos 80, no tempo e no clima da Guerra Fria. A torturante dublagem a que a distinta freguesia foi submetida para assistir, na terça-feira, ao excelente Vôo… foi uma chatice, sim, mas não comprometeu a obra do diretor Paul Greengrass.

O desrespeito com o cliente bateu no teto da paciência no feriadão. Reprises imbecis e muito abuso. Por exemplo: durante 420 minutos, das 10 às 17h, o canal People+Arts exibiu sete episódios da série Miami Ink. Tema? Tatuagem.’

Renata Gallo

‘Sou uma pessoa séria’

‘Maria Clara Gueiros tinha tudo para ser uma estudante profissional. Era ótima aluna no colégio e continuou sendo na faculdade de Psicologia. Tanto que se tornou mestre em psicologia clínica. O próximo passo seria o doutorado. Mas daí ela foi, sem jeito, ensaiar um papel para a apresentação de seu grupo de sapateado – Maria Clara também é bailarina. E foi só abrir a boca no ensaio para todo mundo rir. É assim até hoje, só que agora ela fez do riso a sua profissão. Abandonou a Psicologia, o sapateado e dá expediente no Zorra Total como a Márcia, aquela do vuco-vuco. Sim, você conhece, não disfarce.

É ofensivo o termo comediante?

Sinto que há preconceito sim, mas para mim é um orgulho. Sou uma eleita, consegui um espaço na TV com esse talento. Acho que minha carreira é igual à de médico. Você estuda Medicina, mas se especializa em uma coisa. Como atriz, me especializei em ser comediante.

Sabe fazer drama?

Acho que sim. Dizem que todo comediante é bom ator. E sou uma pessoa séria. As pessoas falam: ‘Duvido que você seja tímida’. Sou timidérrima, seríssima, sempre fui a aluna CDF, não a que contava piada. E até hoje não sou. Tenho uma coisa que é meu ofício mesmo: me bota no palco, faço o que quiserem. Viro uma palhaça sem pudor, mas tem que ter motivo, tem que ter platéia.

Nunca foi a engraçadinha?

Não fico dando show, solando. Nunca foi a minha e não gosto de gente assim.

Mas as pessoas devem cobrar isso de você?

Totalmente. As pessoas vêm rindo para mim. É muito doido. Mas, como tenho essa verve para o humor, acabo sempre comentando alguma coisa engraçada. Faço a boa moça, sabe? Tanto que as pessoas sempre falam: ‘Nossa, como você é educada e gentil!’

Você ficou 17 anos sem ser contratada. Acha que foi mais difícil por escolher o humor?

Não. Nunca tive intenção de estourar. Sempre fui low profile, muito ligada à minha família. Tive dois filhos e eles eram primordiais para mim.

Mas não almejar fazer sucesso é não querer ser bem-sucedida e não ganhar dinheiro.

Na verdade, o dinheiro que ganhava, como diziam antigamente, era para meus alfinetes (risos). Sabe aquela coisa de sociedade machista? Sempre tive um marido maravilhoso, podia me dar ao luxo de fazer teatro sem ganhar nada. Mas comecei a me virar. Fazia teatro, era conhecida no Rio, e fazia tortas. Abri uma empresa, a Maroquinhas Frufru, e fazia 50 tortas por mês. E me senti bacana por correr atrás de uma coisa que me desse grana.

Teve preconceito em ir para o ‘Zorra’ e sente que há preconceito ao programa?

Nunca vou falar mal do Zorra porque foi o programa que, 17 anos depois de eu estar ralando feito uma camela, me projetou para o País. E tenho um espaço lá maravilhoso, nobre. Eu me sinto na novela das 8, entramos direto da novela. Fora que o Zorra é minha casa, meu ex-marido era redator, tenho muitos amigos lá. Mas sinto que há preconceito, sim.

Apesar dos vínculos afetivos, acha o preconceito injusto?

Acho porque faço o meu humor ali. O Zorra tem um estilo de humor ingênuo, explícito. Faço um humor irônico que não seria o tom do Zorra e dá certo. Então pra mim é sopa no mel, estou felicíssima.’

Mário Viana

As esquecidas na trama também podem matar

‘Façam suas apostas. A roleta no Cassino do Gilberto já começou a rodar e agora o que mais se quer nesse país é descobrir quem matou Taís. Se as bandalheiras da vida real acabam numa indigesta pizza meio-cinismo, meio-safadeza, que ao menos os bandidos da ficção paguem por seus crimes. Paraíso Tropical nos restituirá a esperança na legalidade, mesmo que de mentirinha. O casal ternura terminará feliz para sempre e nos alforriará de seu lenga-lenga melado – como sempre, os casais bandidos são muito mais apimentados e instigantes.

No bolsão que já se formou Brasil afora, tem palpite pra todo mundo: Olavo, Bebel, Antenor – esse, coitado, é o campeão no blog da novela. Mas já que o autor da trama se deu ao trabalho de contar no Faustão que ele e sua equipe escreveram oito finais, por que nós, do alto do nosso controle remoto, não soltamos também a imaginação? Pensemos em outros possíveis assassinos, apelando primeiro para os personagens que perderam espaço na trama.

A primeira suspeita é a dedicada Hermínia (Débora Duarte). Até agora, exceto por uma temporada como vendedora de cosméticos e por uma crise temporã de ciúmes, Hermínia não deu trabalho ao talento de sua intérprete. Por que é que Hermínia mataria? Por raiva, já que Taís seqüestrou o Zé Luis (Vítor Novello) e isso ofendeu o instinto materno da professora. A atriz teria, enfim, uma cena digna de sua capacidade. A barraqueira Dinorá (Isabela Garcia) seria também boa criminosa, movida por ciúmes do ex-marido. Mas seria repetir o final de Vale Tudo e o Brasil todo espera mais dos autores de Paraíso Tropical.

Outra possível assassina: Virgínia (Yoná Magalhães), que começou a novela muito bem. Yoná, em cena, era a própria coroa sacudida de Copacabana, daquelas que vai à praia de biquíni e protetor solar fator 15. Com o passar dos capítulos, a personagem murchou. Não por culpa da intérprete, mas porque não houve trama suficiente para ela. Acabou a briga com a síndica Iracema (Daisy Lúcidi, excelente), o marido Belisário (Hugo Carvana) deu um ou dois trambiques, e agora só resta à serelepe Virgínia empurrar a neta para os braços tímidos de Vidal, o Gordinho (Otávio Muller). Virginia mataria Taís para evitar que ela prejudicasse Antenor e, indiretamente, Belisário. Fraco. Alguém tem outra sugestão?’

Sérgio Augusto

Brotoejas digitais

‘Uma semana para entrar para a história da internet. Osama bin Laden, Renan Calheiros, Britney Spears e Adam Vitale que o digam. Todos ficaram sabendo do quanto a web é capaz.

Osama e a Al-Qaeda foram furados por uma web designer caseira da Carolina do Sul. O indulto ao ‘presidente’ do nosso ‘Senado’ provocou tamanha avalanche de indignados e-mails na mídia e no próprio Congresso, a ponto de pôr em dúvida o futuro das passeatas como meio mais eficaz de pressão política. Graças à internet, o mundo inteiro pôde ver a reentrée de Britney Spears, num show da MTV em Las Vegas, e submetê-la a uma blitzkrieg de críticas, deboches e insultos, em blogs e e-mails. Adam Vitale pagou caro por seus atos de delinqüência na grande infovia.

Na manhã de 11 de setembro, uma cinqüentona que se identifica como Laura Manfield e há cinco anos se compraz em vazar os vídeos da Al-Qaeda divulgou com várias horas de antecedência as últimas ameaças de Bin Laden. No dia 7, as primeiras imagens do líder terrorista tornadas públicas desde 2004 ganharam o mundo 24 horas antes do estipulado pela Al-Qaeda, por obra dos hackers do SITE Institute, ao mesmo tempo em que diversos sites jihadistas saíam do ar torpedeados por um cyberataque de guerrilheiros eletrônicos que, a exemplo de Mansfield e do SITE Institute, dedicam-se, no melhor espírito ONG, a uma obsessiva perseguição ao terrorismo islâmico. Se a internet deu maior visibilidade a Bin Laden na América, também é certo que ele e a Al-Qaeda não mais detêm o controle de quando, como e onde suas imagens e palavras serão divulgadas.

Sim, existem hackers do bem. Regenerados ou não, é com eles que a polícia conta para violar o sistema de computadores de mensaleiros e mafiosos que tais. Adam Vitale, por exemplo, é um hacker do mal. Ou, mais especificamente, um spammer: um hacker especializado em espalhar spam-mails (lixo eletrônico, mensagens não solicitadas) por milhões de endereços eletrônicos. O que ele ganha com isso? Muito, mas muito mais do que a glória narcisista buscada pelos grafiteiros. Ele e seu comparsa, Todd Moeller, faturaram milhares de dólares lubibriando assinantes da American Online (AOL), dois anos atrás. Tantos engabelaram que a AOL quase se viu na contingência de alterar o seu tradicional aviso de chegada de mensagem (‘You’ve got mail!’) para ‘You’ve got spam-mail!’.

Se o vírus é a gripe e, em alguns casos, o câncer digital, o spam é a brotoeja da internet. Degenerados homeopatas, adeptos do princípio ‘similia similibus destructur’, Vitale e Moeller se utilizaram do próprio programa da AOL destinado a bloquear spam-mails para espalhar os seus. Semelhantes inundações de falsos e-mails partiram, há menos de três meses, dos laboratórios Pfizer, entupindo 2500 caixas de correio eletrônico com propaganda de Viagra, soporíferos e drogas para aumentar o pênis. O Bank of America e a Toshiba também foram vítimas do mesmo golpe.

Vitale é o mais famoso, se não o maior, spammer do mundo. Tem 26 anos, mora em Nova York, assumiu seu crime em junho e iria conhecer sua sentença na quinta-feira, mas até o final da tarde de sexta nem a Reuters, que acompanhava o caso de perto, noticiou o veredito. A pena prevista era de 11 anos, mais uma multa de US$ 250 mil.

Há quem considere a pena excessiva, sendo que nós, brasileiros, em vista do que aqui tem acontecido, não temos autoridade moral para palpitar sobre tão calheiro assunto. Devemos, humildemente, nos ater a instalar em nossos computadores um poderoso programa de proteção contra spams, como o Mail Washer Pro, que há anos só me traz felicidades, e torcer para que a punição a Vitale e Moeller sirva de exemplo regenerador, inibindo ou convertendo para o bem hackers e spammers de todas as latitudes.

Os leitores do New York Times deram várias sugestões de punição a Vitale: castrá-lo, a mais rigorosa; 200 anos de prisão com direito a cumprir só metade da pena por bom comportamento; encher sua caixa postal com mil e-mails, um dos quais com os dizeres ‘Você está solto’, que, se sorteado por ele, o devolveria à liberdade.

Um leitor propôs que o presidente Bush, por uma questão de justiça, indultasse Vitale, como fez com Scotty Libby, o ex-chefe de gabinete do vice Dick Cheney. Além de não caber ao presidente tamanho privilégio, a Casa Branca está metida, há 11 dias, num processo que lhe move o Arquivo de Segurança Nacional, pela destruição de mais de 5 milhões de e-mails, enviados e recebidos entre março de 2003 e outubro de 2005, justo o período que vai da invasão do Iraque ao furacão Katrina. O NSA (sigla em inglês do Arquivo) acusa o governo de haver desrespeitado a lei e apagado a história. Talvez só mesmo um hacker possa recuperar essa documentação. Desde que, é claro, os tecnolarápios não tenham incinerado os softwares e hardwares envolvidos.

Segundo um funcionário da Casa Branca, as mensagens apagadas o foram casualmente. Já vimos esse filme. No Salão Oval estava um sujeito chamado Richard Nixon, e apagando, ‘sem querer’, o trecho de uma fita que o deixava muito mal no Caso Watergate, a secretária particular da presidência, Rose Mary Woods. Embora do governo Bush todo tipo de fraude possa ser esperado, não se deve descartar a hipótese do acaso ou, mesmo, de uma pifada nos computadores da Casa Branca.

Cheguei a esta cândida conjetura depois de ler uma reportagem sobre a relativa desimportância dos hackers, no New York Times de quarta passada. Perigos maiores que hackers, cyberpunks, spammers e outros maliciosos meliantes eletrônicos afetam o universo digital. Uma falha de energia em escala nacional, a corrupção dos dados de um programa ou arquivo, danos físicos em hardwares – esses imprevistos podem derrubar, como já derrubaram, serviços de embarques e desembarques em aeroportos e de telefonia eletrônica, como os da Skype.

‘Nossos maiores problemas, hoje em dia, nada têm a ver com ataques maliciosos, mas com coisas materiais que, afinal de contas, enguiçam. E os sistemas complexos enguiçam de maneira complexa.’ O alerta é do professor Steve M. Bellovin, da Universidade de Columbia. Como os chineses andam fabricando boa parte dos aparelhos eletrônicos, receio que ainda venhamos a sentir saudades de Adam Vitale e seus colegas de ofício.

Ah, sim, Britney. Expôs-se mais uma vez. Com um show patético, repercutido pelo YouTube e pichado por toda a crítica e todos os blogs, exceto um: o de Chris Crocker, andrógino tiete de 19 anos, que, furioso com a pixação geral à sua deusa, deu um raro espetáculo de histeria e ridículo na internet, disponível no seguinte endereço:

http://machinist.salon.com/blog/2007/09/12/chris_crocker/index.html?source=newsletter .’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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