Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O papel social da imprensa

O século 21 nasceu numa sociedade baseada na informação. No mundo de hoje, o grande jogo do poder se dá na mídia. Ao menos contar com sua isenção pode eleger ou defenestrar governantes e aprovar ou rechaçar esta ou aquela política pública. Nesse contexto, essa mídia – e sobretudo a imprensa que a pauta – assume, antes de mais nada, um papel social de altíssima responsabilidade e que deve ser exercido com absoluta transparência sob pena de ameaça à democracia e aos direitos de cidadãos por conta de etnia, credo, grau de instrução, posições político-ideológicas ou de estrato social a que pertençam.


É esperável, portanto, que aquela pautadora da mídia, a imprensa, compreenda seu papel social e aceite submeter-se a uma única e plausível exigência: equilíbrio. Ao decidir tender para algum lado sem dar ao que pensa diferente a mesma oportunidade que a sua de se manifestar, a imprensa rouba o direito da sociedade de decidir com base em análise equilibrada, que para sê-la prescinde de informações equilibradas que lhe dêem acesso a ambos os lados de todas as questões – e agora peço que se releve que todas as questões têm dois ou mais lados.


Temas controversos


Parece-me oportuno, diante das considerações acima, propor esta pergunta: temos uma imprensa equilibrada no trato de toda e qualquer questão, seja ela política, ideológica, econômica, comportamental, social etc.?


Posso afirmar sem susto que no mínimo haverá controvérsia nas respostas à pergunta acima. Conheço gente muito respeitável no próprio meio jornalístico que acha que a imprensa brasileira é tendenciosa e atende aos interesses de segmentos de elite da sociedade. E evidências desta afirmação não faltam, pois em várias questões já ficou provado por meio de estudos até de grandes centros universitários de pesquisa que a imprensa adota tendência de esmagamento de propostas políticas, ideológicas, econômicas, comportamentais etc. Pode-se citar de chofre a proposta de cotas étnicas, econômicas e para egressos das escolas públicas nas universidades e de opiniões que não sejam majoritariamente anti-PT e pró-PSDB. Não gostaria, entretanto, de gastar espaço aqui provando que estas questões são manipuladas pela imprensa. Porém disponho-me a quantos debates sobre o assunto me forem propostos.


Escrevo no sentido de propor aos setores sérios do jornalismo brasileiro que permitam essa discussão. Não se trata de nenhum Conselho Federal de Jornalismo. Não se pretende punir órgãos de imprensa que inflem certos pontos de vista e boicotem outros. O que se quer, apenas, é que a grande imprensa aceite discutir maior equilíbrio em seu trabalho, pois não é possível que um único setor da sociedade arrogue para si o direito a nunca ter que discutir a si mesmo. O que se quer, para concluir, é que o país debata sempre e até a exaustão todos os temas controversos. E que a maioria – como deve ser nas democracias – decida seus caminhos de posse de amplo cabedal de conhecimento sobre o que eles podem reservar não só a essa maioria mas à sociedade como um todo.

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Comerciante, São Paulo