Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O poder desarmado, a imprensa e a ignorância política

Os processos sociais têm causa e data de início bem claros. Assim como não é de hoje, a ignorância e o analfabetismo políticos também não nasceram de geração espontânea. Para sabermos o que os originou, precisamos retroceder no tempo para apontarmos bem claramente as razões sem dar justificativas.

Na década de setenta eu era um jovem jornalista que já havia passado por muitas redações e voltava à minha de origem, a rádio Bandeirantes de São Paulo. Por lá conheci um senhor – o sábio jornalista Fernando Garcia – que chamava a atenção para a covardia dos colegas de atacarem o legislativo, uma vez que era um poder desarmado.

Na verdade, segundo ele, o executivo na época era armado até os dentes. Com exceção das prefeituras, o judiciário também detinha o poder de polícia e restava o legislativo aberto a sanha dos abutres. Fazia sentido e mais tarde revelou-se de grande sapiência a perspicácia do colega que muitos anos antes pressentiu o analfabetismo político que grassa entre nós. Ficou também tristemente famoso o uso genérico de político para se qualificar uma categoria (confusa? opaca?) que abrange indistintamente parlamentares, governantes, ministros de Estado, tudo no mesmo saco, como se costuma dizer ao generalizar: farinha do mesmo saco…

Herança maldita

Então tudo veio da época da ditadura quando se acostumou a lançar anátemas aos senhores parlamentares colocando todas as mazelas, mesmo sem razão. A foto de demonstração de força simbólica da ditadura, não sem motivo, era um tanque de guerra com o canhão apontado para a sede do parlamento nacional, do Congresso, em Brasília.

Por outro lado, pode-se dizer que nos parlamentos do Brasil nunca existiram santinhos e que eles justificaram a fama que têm. Mas eu argumentaria: e as exceções? Por que são tão dificilmente apontadas e se torce o nariz para qualquer espécime de vereador, deputado ou senador?

E a imprensa, que papel teve em tudo isso? Simples: fazendo generalizações, criando mitos, apostando em lados mais poderosos e se alinhando a eles. Hoje sentem necessidade de buscar aliados entre os quadros que estão aí e sentem dificuldade forjando marionetes e títeres a seu bel prazer.

Vocês podem dizer-me que eu estou inventando e dizer que eu estou por fora porque no mundo isso também existe, mas aqui eu tenho certeza da causa foi exatamente esta e que por isso tudo herdamos essa maldição dos políticos que apequenam os bons e transformam o substantivo em adjetivo pejorativo de antemão.

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Fausto José de Macedo é jornalista e radialista