Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O que vão dizer os estudantes e baianos?

Em entrevista a jornais e outros meios de comunicação – como a Folha de S.Paulo e a Band News – no dia 30 de abril, o coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Antônio Dantas, que provavelmente deve exigir que o chamem de professor doutor Antônio Dantas, justificou o fato do curso de medicina da UFBA estar entre os que obtiveram os piores resultados nas avaliações do Ministério da Educação com as seguintes afirmações:

‘O baixo QI dos baianos é hereditário e verificado por quem convive com eles. (…) O baiano toca berimbau por ter só uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria.’

Ele, o professor doutor Antônio Dantas, diz ser um homem franco e que reconhece as limitações dos alunos que o cercam.

Está o referido senhor discorrendo sobre os alunos da Faculdade de Medicina, a mais antiga do Brasil. Esses alunos, segundo o reitor Naomar, médico formado na UFBA, representam a elite baiana, com menos de 30% de estudantes afro-descendentes e ainda com apenas 4% de alunos egressos de escolas públicas. No curso de medicina, praticamente inexiste aluno socialmente carente.

Não se pode calar

Se a essa elite baiana o professor doutor Antônio Dantas classifica como quase imbecis, eu fico me perguntando:

– Qual a avaliação que o dito senhor faz dos quase 86% dos moradores de Salvador que são afrodescendentes, a grande maioria morando nos bairros periféricos da cidade e pelos quais ele nunca passou, da mesma forma que os negros não conseguem ingressar na faculdade que ele coordena?

– Como será que o dito senhor se olha no espelho e se vê? Concorda ele com parte dos moradores do sul que chamam todos os pobres e feios de baianos, nordestinos e paraibanos? Se vê o doutor professor também na mesma condição?

Ao ler e ouvir as declarações do professor doutor Antônio Dantas, fico me perguntando se ele também é dos que concordam que a universalização da educação – permitindo que os negros, os pobres, os mestiços, homossexuais, deficientes físicos e outros que não aparentam a imagem e semelhança dos brancos, urbanos e católicos – será a derrocada da sociedade perfeita e homogênea com que alguns sonham?

Estamos em 2008, quarenta anos depois das lutas estudantis que foram determinantes para a história recente da humanidade. E aí, outras perguntas me incomodam: como se sentem os estudantes, todos, da UFBA com as declarações desse senhor? Que profissionais serão se não se manifestarem contra esse sujeito? E os professores, como se sentem na condição de acadêmicos e baianos estando ao lado desse sujeito?

É preciso que se grite todas as respostas possíveis, pois não se pode calar diante de declarações como essas.

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Educador, Salvador, BA