Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Pátria de chuteiras (masculinas)

Experimente digitar ‘futebol’ no Google Notícias: você terá mais de 60 mil resultados para notícias em português referentes ao tema na rede. Agora, acrescente apenas uma palavrinha – ‘feminino’ – e você irá se deparar com um número bem menor – pouco mais de 200. E do resultado apresentado, muitos links são referentes a notícias de Portugal. Sem entrar no mérito da discussão sobre a eficácia dos mecanismos de busca, o fato é que estes números refletem uma realidade no país do futebol: a prática do esporte pelas mulheres não recebe destaque na mídia. Você saberia citar o nome de alguma jogadora de futebol? Ou ainda de algum time?


Isto ocorre em grande parte porque o futebol feminino ainda esbarra em preconceitos e não recebe incentivos para sua prática – inclusive da CBF. Assim, o tema só eventualmente ganha destaque na mídia, como ocorreu quando a jogadora Marta foi escolhida a melhor do mundo de 2006, em eleição realizada pela FIFA. Ou ainda em efemérides, como a desta semana, Dia Internacional da Mulher, em que se aborda casos mostrando as conquistas do sexo feminino.


Atualmente, não há um campeonato nacional forte da modalidade, como existe no masculino. O que há são iniciativas que tentam integrar os times de todo o país. Com o objetivo de contornar este problema e atrair a atenção para o esporte – inclusive da mídia –, teve início na quarta-feira (7/3) o I Campeonato Nacional de Futebol Feminino, organizado pela Liga Nacional de Futebol Feminino. O evento, que conta com o patrocínio de diversas prefeituras, ocorrerá no estado do Rio de Janeiro, com jogos nas cidades de Macaé, Cabo Frio, Rio Bonito, Niterói e Silva Jardim, e reunirá 20 times, divididos em cinco grupos com quatro equipes cada.


Algumas partidas serão transmitidas pelo canal a cabo Sportv e a competição já ganhou destaque em diversos veículos de comunicação, principalmente nos de menor porte, nas cidades onde as partidas serão realizadas. O tema tem considerável valor jornalístico, porque é tido como o maior evento do futebol feminino desde a medalha de prata conseguida nas Olimpíadas de Atenas de 2004, reúne meninas de classes pouco favorecidas que tentam com dificuldades sobreviver do esporte e também porque será lançado às vésperas do Dia Internacional da Mulher, com a presença na ministra Nilcéia Freire, secretária Especial de Políticas para as Mulheres. Resta acompanhar se o tema permanecerá na mídia após o campeonato ou se voltará ao esquecimento da imprensa e daqueles que deveriam investir em uma modalidade ainda discriminada no país do futebol.