Thursday, 03 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Preconceito explícito e conservadorismo

A poucos minutos do início da partida entre Corinthians e Atlético Mineiro, válida pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro de 2007, a rádio Jovem Pan, como de costume, colocava sua equipe de jornalismo para informar o ouvinte sobre os principais preparativos para o jogo.

Um deles chamou minha atenção. Toda a equipe da rádio começou a criticar o uniforme número 3, com o qual o Galo jogaria contra o Corinthians. Trata-se de uma camiseta preta com detalhes em dourado, um calção também dourado e meias pretas.

Os cronistas diziam que o uniforme do Atlético parecia um pijama, que era uma afronta à tradição do clube e que a equipe não merecia jogar com uma vestimenta dessas.

Mesmo não concordando com isso, considerei que era uma questão de opinião. O que realmente me incomodou foi o preconceito com que os jornalistas da Pan trataram a profissão de designer.

Enquanto as cores e os desenhos do uniforme do Galo eram achincalhados pelas ondas do rádio (sendo que muitos dos que falavam mal do uniforme sequer tiveram a oportunidade de vê-lo de perto), os jornalistas da Pan soltavam duas pérolas que parecem ter vindo da época das cavernas: ‘Design e futebol não combinam’ e ‘Futebol é coisa para macho’.

Duas frases categóricas

Em primeiro lugar, futebol e design caminham juntos desde meados do século 20 e o uniforme é um dos responsáveis pela identificação inicial dos torcedores com o clube. Além disso, a mídia esportiva adora endossar o discurso pela profissionalização do futebol, transformação de clubes em empresas, estratégias mercadológicas para conquistar torcedores etc., mas esquece que a mudança de uniforme é um dos fatores primordiais que contribuem para dar mais visibilidade ao clube e ao patrocinador.

Óbvio que as tradições devem ser preservadas. Não defendo que o Atlético Mineiro entre em campo de azul e é exatamente por isso que foi feito o uniforme número 3, para continuar havendo o uniforme tradicional.

Mas o cúmulo foi dizer em rede nacional que ‘futebol é coisa para macho’, logo após de falarem que ‘design e futebol não combinam’. Em apenas duas frases, os jornalistas da Jovem Pan associam a profissão de designer com homossexualidade, mostram preconceito com relação à homossexualidade e excluem as mulheres do esporte bretão.

Mesmo sabendo que a mídia esportiva brasileira é muitíssimo conservadora em se tratando de uniformes de clubes tradicionais, eu não esperava que a equipe da emissora chegasse a esse nível de preconceito.

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Estudante de Jornalismo da UNESP de Bauru, SP