Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repórter fora de casa

A imagem do repórter de televisão na maioria das vezes é associada ao glamour. Muitos, ao vê-lo, não têm idéia das dificuldades e desafios que teve de superar para estar na frente das câmeras. A vida deste profissional é repleta de obstáculos, principalmente em inicio de carreira. Em busca de melhores condições e oportunidades, muitos recém-formados trilham o caminho das afiliadas, deixam sua cidade e família para encontrar espaço em outros estados.

O jornalista Airton Salles Junior nasceu em Sorocaba, se formou em Piracicaba e trabalhou em retransmissoras da Band no interior paulista, afiliadas do SBT no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Curitiba. Ele comenta os desafios de quem opta pelo caminho de sair de sua cidade em busca de oportunidades em emissoras locais e o dia-a-dia de um repórter de afiliadas.

Uma grande escola

O que o levou a sair de sua cidade para trabalhar em emissoras afiliadas de outros estados?

Airton Salles: Quando me formei tinha dificuldades para conseguir o primeiro emprego. A alternativa foi visitar emissoras de TV e aumentar minha rede de contatos. Numa dessas visitas, um amigo me falou sobre a vaga em uma afiliada do SBT no Mato Grosso. Não pensei duas vezes e resolvi me arriscar.

Quais as dificuldades de um jornalista que sai de sua cidade para trabalhar em outro estado?

A.S.: Uma vez li um artigo do escritor e jornalista Carlos Heitor Cony. No texto, ele dizia que vida de jornalista é vida de passarinho, cada hora está num lugar. Essa afirmação me ajudou muito a superar as dificuldades e partir em busca do meu sonho de ser repórter de televisão. Estar longe da família e dos amigos é um preço que se paga, mas desde que haja foco e determinação, tudo se torna um mero detalhe no caminho da vitória.

Quais as vantagens e desvantagens de se trabalhar em afiliadas?

A.S.: As afiliadas são sempre uma grande escola, principalmente para quem está começando. Nelas, o profissional passa por todos os setores, de rádio-escuta a apresentação. Com o tempo, é natural que todos amadureçam profissionalmente e busquem novas oportunidades em emissoras de grandes capitais.

‘Reunião de caixa’

Para ganhar visibilidade, o repórter precisa ir para uma afiliada em alguma cidade do interior ou outro estado?

A.S.: Na verdade, isso não é regra, mas dar um passo de cada vez é com certeza o mais apropriado. Com o tempo, dentro de alguma emissora o profissional que demonstre interesse e dedicação acaba crescendo de forma natural. Faz parte do processo.

O estilo das reportagens feitas nas afiliadas muda quando comparamos às que são veiculadas em rede?

A.S.: Sim, mudam. Geralmente quando se faz uma matéria em afiliadas, ela acaba tendo um foco regional voltado para a população da cidade ou do estado onde será veiculada. Quando por algum motivo isso acaba gerando interesse da rede existe a necessidade de se alterarem alguns detalhes referentes a conteúdo e, principalmente, texto.

O contato do repórter da afiliada com o editor nacional é constante?

A.S.: Nem sempre. No entanto, existe na maioria das afiliadas um profissional chamado editor regional de rede que acaba coordenando esse processo. Muitas vezes o repórter está na rua fazendo duas versões da mesma matéria – uma para atender à rede e outra à emissora local. Nestes casos, o contato com o editor nacional acaba não acontecendo.

Como funciona a seleção de matérias regionais que podem ser veiculadas em rede?

A.S.: Todos os dias pela manhã o editor regional de rede participa por telefone ou internet de um bate-papo conhecido nas redações como ‘reunião de caixa’. Durante essa reunião, os editores das afiliadas relatam tudo o que será produzido durante aquele dia para os jornais locais. Com isso, os editores de rede nacionais, decidem o que tem interesse.

Profissão apaixonante

Sua última experiência foi na Rede Massa, afiliada do SBT no Paraná. Como foi trabalhar lá?

A.S.: Trabalho no SBT há cinco anos, dois deles, só em Curitiba. O jornalismo sempre passa por reformulações, na tentativa de agregar credibilidade à rede e às afiliadas. Ter trabalhado na Rede Massa foi gratificante. Uma verdadeira escola.

Você aconselharia os novos repórteres ou aqueles que buscam ser repórter um dia a deixar suas cidades e buscar oportunidades em afiliadas ou retransmissoras?

A.S.: Aconselho, sim, mas é preciso coragem e muita determinação. O mercado é exigente e busca pessoas competentes e dispostas a trabalhar. Muitas vezes é inevitável abrir mão de festas, feriados e reuniões longe da família e amigos. São apenas alguns dos desafios que o repórter de TV terá que enfrentar. Mas quando há total dedicação ao que se faz, o reconhecimento vem e se colhem bons frutos. A profissão é apaixonante. Isso é fato!

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Estudante de Jornalismo e professor de espanhol, Osasco, SP