Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repórteres de hoje não têm fontes

Na lista das espécies em extinção está a dos repórteres com fontes. Isso mesmo, não que esses exemplares da ‘natureza jornalística’ não existam. São encontrados sim, em rádios, TVs, jornais, mas, numa quantidade cada vez menor.

Aquela figura do repórter que chegava todo o dia na redação, ligava para as suas fontes, fazia sua ronda particular e ia pro chefe de reportagem já com uma pauta parece estar chegando ao fim.

A maioria chega ao local do trabalho, bate um papinho com os colegas, abre o e-mail, o MSN, o Orkut e depois de todo esse ritual, chega ao chefe e faz a mesma pergunta todo o dia: o que tá rolando?

‘O que eu faço agora?’

O chefe também, em vez de ser um cara com contatos, fontes, e antenado no mundo, puxa uma série de releases de assessorias de imprensa, dá uma olhada ‘com cara de conteúdo’ e entrega a pauta – o próprio release.

Essa cena eu me cansava de ver. Estou afastado do dia-a-dia por causa de um sério problema de saúde, mas quando voltar ao combate, tenho certeza, é o que eu vou voltar a ver.

Nessa, os poucos que têm fontes, mesmo que poucas fontes, se destacam. Mas nem sempre.

O mercado tem sua culpa hoje. Primeiro a rede de QI – Quem Indicou. Depois a bundalização do jornalismo, principalmente o televisivo. Cada vez está mais bonita a tela, já perceberam? Repórteres que poderiam, se já não foram, misses, modelos, cantoras pop….coisa mais linda…..só que uma boa parte, só isso. Não é nenhuma discriminação contra mulheres bonitas no mercado, mas é fato. Algumas dessas modelos-news estão em frente ao quebra pau de GCM e Camelô, ligam pra redação e perguntam por chefe: ‘O que eu faço aqui agora?’

Cada vez mais bonitinho

Gordos na reportagem de TV? Xiiiiii, se não forem gordos estridentes apresentadores, podem esquecer. O repórter de TV tem de ser magrinho, simpático e bem penteadinho. Para o gordo? Serve a produção, redação e escuta, ou seja, levantar toda a matéria, fazer tudo praticamente e nem ter o nome divulgado nos 0,00000000001 segundo do Gerador de Caracter.

Até em rádio, que não aparece a cara, a bundalização tem sido presente.

Só resta lamentar pela má qualidade do jornalismo em todas as modalidades. Pois quantas histórias boas que acontecem aí do lado de sua casa, com a vida do cara que pega ônibus com você todo o dia, na porta do hospital lotado, na agência do INSS (ah, essa eu peguei um monte de história que ninguém se interessou) e que passam no anonimato?

E viva o novo jornalismo, cada vez mais, digamos, bonitinho.

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Repórter da Rádio CBN