Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um pouco de reflexão

Em 13 de maio, dia em que comemoramos a abolição da escravatura, novamente o Twitter se rendeu a outras comemorações. Naquela sexta-feira, o caso foi o #memeday. Mas o que seria meme? Para os nerds e os usuários assíduos da blogosfera, um meme é algo que foi copiado, ou feito ao seu jeito. Ou, pelo menos, é assim que eu entendo. Por exemplo, é postado um vídeo super engraçado no YouTube, tem um alto número de acessos e as pessoas resolvem o imitá-lo ao seu jeito. Um bom exemplo atual é o ‘Não da Carrim Não MANO! ‘que, sinceramente, eu nem sei mais qual é o vídeo verdadeiro diante de tantos na rede.

Ou seja, coisas que passam a ser usadas, reproduzidas repetitivamente na web podem ser chamadas de meme. Originalmente, esse termo foi criado por Richard Dawkins e para ele o termo é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se.

Seja como for, hoje foi uma festa de avatares trocados, uma festa de twiteiros se perguntando o que era aquilo, uma febre de pessoas contestando não simpaticamente a instituição do dia, entre muitos comentários com #memeday.

Entre essas criações e outras, mais uma vez fomos nos esquecendo de alguns assuntos que marcaram nossa história. Mas sendo displicentes com a história, para não falar que estou nostálgica em cultuar grandes acontecimentos do passado, vamos pensar na atualidade.

Dia da libertação ou sexta-feira 13?

Na sexta-feira (13/5) morreram 88 pessoas em um atentado no Paquistão; o Ficha Limpa completou um ano de criação (mas e sua aplicação?); segundo o Procon, o juro para empréstimo pessoal sobe cerca de 5,6% ao mês em maio; a ginasta brasileira Jade Barbosa chegou a final na etapa de Moscou de ginástica artística; a bancada evangélica impediu votação de lei contra homofobia no Senado; a vacinação contra a gripe foi prorrogada em alguns estados; funcionários das ETCs e Fatecs entraram em greve; o texto de reforma do código florestal ainda não está definido; e outras tantas notícias ‘importantes’’ foram divulgadas.

Mas e aí? Nada mais interessante como mudar a foto do seu avatar, copiando algo, né?

Não acho que as brincadeiras do Twitter devam deixar de acontecer, mas é que com um poder de mobilização tão grande (o #memeday se espalhou em poucas horas), as @s de plantão poderiam procurar temas mais relevantes para a sociedade para ações de flash mob ou outras mobilizações.

Não estou querendo dar uma de ‘tia chata’. Já dando, rs. E antes que os twiteiros se irritem, isso foi só uma coisa que pensei, enquanto via crescer o #memeday e até cogitava em mudar a foto de meu avatar.

Mas polêmicas a parte. Não posso deixar de relembrar novamente a conquista comemorada no dia de hoje. Para alguns ‘bixos’ na faculdade, é o dia da libertação, para os supersticiosos o que interessa é que hoje é sexta-feira 13 e as coisas tendem a não dar certo, para os grupos afros e todos brasileiros que apoiam a igualdade, hoje é o dia em que devemos comemorar a abolição da escravatura.

Um aplauso ao povo guerreiro

Devemos soltar rojões, abraçar as pessoas na rua, ou ir comemorar no churrascão do povo diferenciado (sábado na Avenida Angélica – contra a manifestação dos moradores do Higienópolis contra a estação de metrô no local)? Não, acho que refletir sobre o dia, a conquista e ver até que ponto realmente soltamos as correntes, já está de bom tamanho. Acho que ainda vivemos uma escravatura em nossa sociedade, e isso pode ser notado dando uma olhadinha nas camadas mais carentes da população. E pensar, egoisticamente, que não é nossa culpa, talvez não esteja correto. Será que quando acabou a escravatura, a sociedade, o governo, o país em geral se dedicou e incentivou a inserção dos negros na nossa sociedade para que eles tivessem condições iguais de se desenvolver? Será que pensaram em alguma ajuda e encaminhamento deles para que não passassem por situações difíceis? Afinal, nesta terra já havia moeda, educação, habitação comércio etc. Não acho que seja certo apenas dizer: Estão livres! E daí?

Para onde eu vou agora? O que vou comer? O que vou vestir? Volto para meu continente, que já está dividido após a conferência de Berlim? E com que dinheiro poderia pagar a volta para minha terra mãe? Se antes não podia ter uma vida como meus senhores, agora livre, talvez ainda não possa ter…

Alô, Brasil! Acho que dá para entender, né? Entregamos esse povoa à sua própria sorte.

Hoje a cena está livre para que possamos aplaudir esse povo guerreiro, que no dia 13 de maio deveria ocupar o centro do palco.

E antes que eu me esqueça, hoje minha tag é #AboliçãoDaEscravaturaAGORA

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Jornalista, São Paulo, SP