Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma omissão que exige explicação

Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2003, 17h25, o deputado federal Antônio Nogueira (PT-AP) tem seu mandato cassado pela decisão unânime dos juizes do TRE do Amapá, acusado de trocar votos por carteiras nacionais de habilitação. Pela primeira vez, na recente história parlamentar brasileira, um deputado federal petista tem seu mandato cassado.

No dia seguinte ao julgamento, dos grandes jornais brasileiros apenas o Correio Braziliense noticia a cassação. Os demais passam batidos. Domingo, segunda-feira… e nenhum dos quatro grandes jornais do eixo Rio-São Paulo divulga a cassação.

É muito estranho que um fato dessa relevância passe despercebido de editores e colunistas de Política de O Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil. O assunto pelo menos vale uma notinha. Na verdade, ao noticiar o fato, o Correio Braziliense cumpriu seu dever de informar aos leitores, mas ficou devendo uma suíte mais apurada do assunto.

Muitas ilações

Mas estranho mesmo é que os quatro grandes, que divulgaram os fatos no seu nascedouro – a campanha de 2002 –, não tenham dado o desfecho final. A Folha, se não me falha a memória, acompanhou as investigações preliminares do Ministério Público Federal, ouviu os procuradores Manoel Pastana e Celso Três, responsáveis pela denúncia, o deputado acusado e as autoridades do Detran amapaense à época da ocorrência, mas agora omite o resultado do julgamento pelo TRE-AP.

Não vale a desculpa de que o julgamento ocorreu numa sexta-feira, dia em que as redações estão às voltas com o pescoção, que vem a ser a necessidade de fechar a edição de sábado e 90% da de domingo, pois todos os quatro jornais são abastecidos por suas próprias agências de notícias, que, inclusive, distribuíram a decisão do tribunal a todo o país – o que se comprova pela publicação da notícia em vários jornais regionais.

Esta omissão precisa ser explicada, pois o episódio é relevante. Afinal, não é rotina um deputado federal petista ser cassado por compra de votos. Vale lembrar que fatos semelhantes com parlamentares de outros partidos foram explorados à exaustão pelos quatro grande jornais. A não divulgação da notícia deixa no ar a possibilidade de muitas ilações sobre o assunto, o que não é bom para a mídia.

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(*) Jornalista