Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma oportunidade para a cidadania

Neste ano, a corrida eleitoral ganha um sabor especial além das ruas. A disputa por uma das vagas nos legislativos e executivos estaduais e federal chegou à rede mundial de computadores – uma realidade social (tecnológica, econômica e cultural) presente na vida de uma parcela, ainda restrita, da população comum brasileira. Os políticos também estão fazendo o uso desta importante ferramenta da comunicação contemporânea.

Por contabilizar mais de 70 milhões de usuários no Brasil, a internet atraiu os políticos – muitos orientados por assessorias para ‘ficar’ mais próximo do eleitorado. Porém, em verdade, poucos são aqueles que sabem utilizar de maneira inteligente o poderoso instrumento. E não é só por isso que a www vai render ‘pano para manga’ nesta eleição. As discussões acaloradas vão acontecer essencialmente nela. E ninguém sabe, ao certo, que rumo os debates devem tomar na Rede.

De concreto, as discussões na web devem apontar para os resultados a ser colhidos, em outubro, nas urnas. Antes, devem retratar os anseios, decepções e frustrações dos cidadãos/eleitores. E eles, a propósito, não são poucos.

Os candidatos – vai questionar o desacreditado eleitor – estão preocupados com os anseios e frustrações dos cidadãos? A sabedoria popular aponta para o contrário. Mas o uso de instrumentos como blogs, sites e o microblog Twitter, dentre outros, talvez ajude a construir uma relação mais ‘sólida’, interativa, cidadã, crítica e – em certa medida – ‘transparente’ entre os candidatos e os eleitores. Entre os políticos, com mandato eletivo, e os cidadãos, com o poder do voto.

A nova realidade interativa

O debate de ideias e a troca de informações, com as ferramentas proporcionadas pela internet, permitem a existência virtual de uma democracia desejada na vida real.

A rede mundial de computadores quebrou o monólogo (e também o monopólio da informação) perpetuado pelos meios de comunicação convencionais até o século passado. Na web, a via é de mão dupla. A audiência deixa de ser passiva para ser ativa. E, assim, o internauta exerce sua ciber-cidadania de maneira plena, ativa e constante. Com voz e dedos no teclado. Algo, aliás (cabe reforçar), desejado na vida real, mas, paradoxalmente, posto em prática apenas no mundo virtual.

Muitos candidatos talvez encontrem dificuldades para administrar esta nova realidade interativa. Outros aspirantes a um cargo público, ao contrário, vão tirar proveito desta nova democracia informativa. O exemplo recente foi de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), que usou o Twitcam, no Twitter, para interagir com os eleitores no momento do 1º debate online do Brasil, promovido pelo jornal Folha de S.Paulo e o portal UOL, com os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

Cidadão ainda é passivo

O candidato socialista foi excluído do debate, mas comentou o desempenho dos seus oponentes ao vivo, de sua casa, para os mais de 2 mil internautas que o assistiam no momento do debate (#debatefolhauol). O Twitcam permite que usuários do microblog Twitter – que escrevem mensagens e interagem em até 140 caracteres – façam transmissão de vídeos ao vivo para seus seguidores. Estes passam a mencionar o fato em sua página, chamando a atenção das pessoas que te seguem. O resultado – interativo e multiplicador – torna-se uma ‘bola de neve’ incontrolável, que chega a atingir milhares ou milhões de pessoas na rede social em questão de minutos. Quebrando, de fato, o monopólio da informação e comunicação que qualquer veículo de imprensa queira exercer sobre a disputa eleitoral.

Com a estratégia, Plínio de Arruda Sampaio ‘roubou’ a cena e dividiu a atenção dos internautas, chegando a ocupar a primeira posição do trending topics brasileiro (assuntos mais comentados no Twitter), e a oitava do mundial, por volta das 12h, da última quarta-feira (18/8).

Um fato inédito em campanha eleitoral, até aqui no Brasil, que confirma que o comportamento no mundo virtual difere, completamente, do praticado na vida real. Mas um deslize aqui pode custar caro à imagem de um político, de uma empresa, de um meio de comunicação ou de um cidadão comum. E, em fração de minutos, chegar a centenas de milhares de internautas, desgastando de vez a imagem do ‘candidato virtual’ que ‘sonha’ seguir ‘carreira’ no mundo real, ou de um veículo de comunicação cujo pensamento não foi reciclado para os acontecimentos da atualidade. Na vida real, o cidadão ainda é passivo. Mas o mundo virtual pode ajudar a mudar esta realidade. E contribuir para o fortalecimento da cidadania, na rede, nas ruas e nas urnas.

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Jornalista, especialista em Gestão da Informação pela Universidade Salvador (Unifacs), Lauro de Freitas, BA