Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Verberação intelectual

É desproporcional a reação intelectual à movimentação na América do Sul dos governantes que zombam da liberdade de imprensa e de expressão, pois se tolhidas essas garantias constitucionais a população desses países corre sério risco de ser castrada e ter que ficar calada assistindo às ‘ordens’ dos ditadores ditos democráticos. Na quinta-feira [10/9], 200 fiscais da Receita Federal argentina fizeram operação num dos maiores grupos de comunicação da América Latina, o Clarín. O governo argentino tem a legitimidade e até a obrigação de fiscalizar as empresas, mas a quantidade de fiscais utilizada na operação não deixa dúvida de que foi um atentado à liberdade de imprensa.

O fato ocorre em meio à tentativa da presidenta Cristina Kirchner de modificar a lei que disciplina a matéria das comunicações naquela plaga, mas depois do comportamento dispensado à imprensa pelo ditador esquerdista Hugo Chávez, na Venezuela, é bom abrir os olhos e desconfiar de tudo que se mexe dentro dos palácios governamentais sul-americanos. Na sexta-feira imediata foi à vez do socialista Rafael Correa, presidente do Equador, anunciar que proporia lei nos moldes argentinos para controlar a mídia, como se esta fosse uma conspiração equatoriana.

Quem ainda fala do golpe em Honduras? Certo ou errado, o exemplo citado serve apenas para alertar a intelectualidade da gravidade dessa movimentação ao arrepio da lei e que pode trazer prejuízos para o Estado democrático de Direito. A população de Honduras foi vencida pelo cansaço e, dias depois do presidente ser deposto, voltou para sua rotina diária e pouco ou nada se fala sobre esse precedente aberto.

Sem totalitarismos ou injustiças

A importância da intelectualidade é grande neste momento crítico da humanidade com o iminente risco de limitar ou proibir a liberdade de expressão e os intelectuais devem defender a razão, a justiça e a verdade, pois são estes seus valores inarredáveis e é o papel do intelectual apontar as contradições sociais. O intelectual deve orientar a opinião pública e, como disse D´Alembert no seu livro Diálogo dos morcegos, citando Descartes, ‘a opinião governa o mundo’. Esses governos híbridos sul-americanos alimentam as suspeitas de que não há boa-fé e transparência em seus atos ditatoriais, digo, governamentais.

O intelectual nato não deve ter medo de intimidações e ameaças de processos do poder constituído, pois a causa da defesa da liberdade de expressão e de imprensa é nobre e diz respeito a todos nós. Devem se enaltecer os intelectuais que não desistiram de auxiliar a construir um mundo melhor: sem totalitarismos, desigualdades, injustiças e guerras.

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Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE