Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Fragmentos de um congresso

“A internet procura imitar os jornais, e os jornais estão tentando imitar a internet. Para os jornais, isso é suicídio. (…) Que os jornalistas voltem sua criatividade para encontrar o jornal do seu tempo” (Jânio de Freitas, 80 anos, 60 de jornalismo).

“A revolução digital transformou o habitat dos meios de comunicação da escassez de um deserto na abundância da floresta amazônica. O que está em crise é o modelo de negócio dos jornais, não o jornalismo” (Rosental Calmon Alves, fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas).

“O modelo de cobrança de conteúdo online criado pelo New York Times está dando certo. Conseguimos 500 mil assinantes digitais e a circulação do jornal impresso aos domingos cresceu. Não sei se o modelo é replicável em outro lugares, por outros veículos” (David Carr, colunista do New York Times, mais badalado analista de mídia do mundo).

“Numa cobertura ao vivo de uma olimpíada, diante das dificuldades de acesso aos atletas e de deslocamento entre os locais das provas, a maior tentação é ficar no centro de imprensa e assistir a tudo de lá. É o pior erro que um jornalista pode cometer” (Dorrit Harazim, oito olimpíadas na bagagem).

“Nada substitui estar presente no local dos fatos, mas o jornalista pode completar suas informações pesquisando e desenvolvendo fontes nas redes sociais” (Andy Carvin, autor da melhor cobertura em tempo real da Primavera Árabe. Durante a repressão a uma manifestação na Praça Tahir, no Egito, ele ficou preso entre duas linhas de policiais e só conseguiu saber o que estava acontecendo quando, já a caminho do hotel, seu Twitter voltou a funcionar).

“A vida de reis ou de rainhas”

Na Olimpíada do Rio de Janeiro, a cidade deve ser inundada por 20 mil jornalistas credenciados e outros 10 mil sem credenciais oficias do Comitê Olímpico Internacional. Mas esses 10 mil estarão devidamente credenciados (com crachá e tudo o mais) do seu descredenciamento – informações de Carina Almeida, que ajudou a organizar a cobertura jornalística em uma dezena de mega eventos esportivos internacionais.

“Os emergentes da classe C não querem ser iguais às pessoas da classe A. Eles têm identidade própria. Seus padrões de beleza e seus ideais de consumo são diferentes. As mulheres da classe A querem ter o corpo da Gisele Bündchen, as da classe C, o da Geisy Arruda” (Renato Meirelles, diretor do Data Popular, referência sobre as classe de consumo C, D e E, ao dizer que o novos consumidores não vão comprar os mesmos jornais que a classe A lê).

Multinacional de origem espanhola, o portal Terra multiplicou de tamanho após se beneficiar do aumento exponencial da penetração da internet no Brasil e do acesso das classes C, D e E. A produção de conteúdo em todo o mundo passou a ser controlada por brasileiros – inclusive na Espanha. A “revanche” virou manchete nos jornais espanhóis. Não pela mudança de comando, mas porque num país onde a taxa de desemprego só cresce, o portal contratou 40 jornalistas.

“Desde 2005, 40 mil jornalistas foram demitidos nos EUA. (…) O jornal onde eu trabalhava não existe mais. O New York Times hoje é um negócio completamente diferente. (…) Fazemos muitas transmissões ao vivo, vídeos e devemos fazer cada vez mais. (…) Um jornalista depende menos do que ele estudou e mais do que ele fez e faz, do número de seguidores que ele tem no Twitter; sua contratação é uma fusão da sua marca com a do veículo onde ele vai trabalhar. (…) Esta é a melhor época de todos os tempos para ser jornalista. (…) Como jornalistas, apesar de não ganharmos muito, vivemos a vida de reis ou de rainhas; acho que vale a pena lutar por isso” (David Carr).

Fragmentos diversificados

Os fragmentos acima foram captados durante o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, que acabou no sábado, em São Paulo. Promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), reuniu 918 participantes, dos quais 134 eram palestrantes. Participaram jornalistas de 25 estados e de 10 países. É o segundo maior evento do gênero no mundo. No próximo ano, deverá ser o primeiro.

Em 2013, o congresso ocorrerá no Rio de Janeiro, em outubro. Será simultâneo e ocupará o mesmo espaço físico dos congressos mundial e latino-americano de jornalismo investigativo. Além do milhar de jornalistas e estudantes de jornalismo brasileiros são esperadas algumas centenas de jornalistas estrangeiros, de 50 países. Haverá muitos fragmentos mais. Se não forem mais interessantes, serão mais diversificados.

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[José Roberto de Toledo, do Estado de S.Paulo]