Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

A imprensa no proscênio da crise

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Se você assiste a este programa pela Rede Cultura deve ter reparado que às 22h30 havia outro programa no ar. Não se preocupe, estamos aqui. A diferença é que quando eu digo aqui, você aí está em outro horário. em São Paulo e nas afiliadas da Rede Cultura do Brasil, este Observatório foi desalojado do seu horário habitual e agora está sendo retransmitido às 23 horas.


Trata-se de uma decisão estratégica da TV Cultura que não nos cabe comentar, mas como observadores da imprensa e fervorosos defensores de uma Rede Pública de forte e entrosada, só nos resta lamentar esta fratura na parceria entre a rede da TVE e a rede da Cultura. Quem sai ganhando com o enfraquecimento da Rede Pública de TV é, obviamente, a rede privada de TV. No site do Observatório você encontra a lista das emissoras de TV aberta e os canais por assinatura que continuam retransmitindo este programa às terças, às 22h30, e a sua reprise aos sábados, às 20h.


Estamos mergulhados numa crise política talvez sem precedentes, mas esta crise não envolve apenas partidos e os poderes, inclusive o Executivo. Esta crise começou com uma denúncia da imprensa e ao longo destes dois meses ficou visível que a imprensa desempenha um papel importantíssimo no elenco da crise. E não apenas como veiculadora de denúncias.


Hoje [terça, 5/7], na CPI, no depoimento do ex-araponga que gravou o vídeo da propina nos Correios e divulgado pela Veja, descobrimos estarrecidos que o ex-agente da Abin, Jairo Martins de Souza, agora é jornalista profissional e entregou para a mesma revista gravações de três importantes escândalos recentes.


Estamos assistindo à consagração pública do ‘jornalismo fiteiro’, no qual a imprensa aceita associar-se a interesses e figuras no mínimo suspeitas. Envoltas em controvérsias estão também as revelações da revista IstoÉ Dinheiro, que trouxeram para a ribalta a ex-secretária do publicitário Marcos Valério e as suas surpreendentes histórias.


O que distingue as revelações de IstoÉ Dinheiro é que o seu autor, o repórter Leonardo Attuch, não se esconde da opinião pública: dá satisfações, explica, responde às acusações da concorrente CartaCapital. A repórter Renata Lo Prete, da Folha, também não refugiou-se na clandestinidade e revelou os bastidores das suas entrevistas com Roberto Jefferson. Assumiu – inclusive neste programa – que foi procurada pelo deputado.


A discussão sobre mídia que se trava no Brasil nada tem a ver com a discussão que se trava na imprensa americana a respeito da decisão da Suprema Corte de obrigar a revelação das fontes das matérias jornalísticas. Aqui as fontes secretas não estão em pauta e, sim, as suspeitas de que o trabalho jornalístico possa estar contaminado por interesses espúrios.


Fique atento: a cobertura da crise política está em toda a mídia, mas a discussão sobre o papel da mídia nesta crise você só encontrará neste Observatório da imprensa – em qualquer horário.




O repórter Attuch com a palavra


Leticia Nunes


Marcos Valério de Souza e Fernanda Karina Somaggio eram, até há pouco tempo, personagens desconhecidos do público. Até que surgiu a gravação de uma propina recebida por um ex-chefe de departamento dos Correios, a citação do nome de um deputado na tal fita e, pronto: formou-se a bola de neve. Na berlinda, o deputado em questão, Roberto Jefferson (PTB-RJ), empurrou o problema para outro lado: denunciou o chamado ‘mensalão’ – artifício pelo qual congressistas aliados ao governo Lula receberiam uma mesada de 30 mil reais do agora ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.


Confusão criada, a imprensa a mil, e os ilustres desconhecidos citados acima tornaram-se nomes familiares para a população brasileira que acompanha os jornais, telejornais e afins. Ele, sócio na empresa responsável pela publicidade dos Correios, acusado por Jefferson de administrar a distribuição do dinheiro; ela, ex-secretária em posse de uma agenda e de um testemunho comprometedores para o ex-patrão. Mas o que nem todos sabem é que as acusações de Fernanda Karina contra Marcos Valério foram feitas para a imprensa há nove meses. O jornalista a quem ela teria procurado em setembro do ano passado, depois de ler uma entrevista concedida por Delúbio Soares à revista IstoÉ Dinheiro, é Leonardo Attuch.


Editor de Economia da revista de finanças e negócios da Editora Três, Attuch esteve na terça-feira (5/7) no programa Observatório da Imprensa, transmitido pela Rede Brasil. O jornalista conversou com Alberto Dines sobre como conheceu a ex-secretária de Marcos Valério e por que arquivou por tanto tempo as informações bombásticas que obteve dela. Participaram do programa o editor de Política do Correio Braziliense, Oswaldo Buarim Jr., e a editora-assistente do caderno Rio do Globo, Angelina Nunes.


O debate girou em torno da transparência do processo de produção de uma matéria jornalística. Questionado sobre a demora em levar a público as acusações da ex-secretária de Valério, Attuch afirmou que, na ocasião, Fernanda Karina não lhe forneceu provas. A decisão de não publicar a matéria foi editorial. Quando surgiram as acusações de Roberto Jefferson, há um mês, o jornalista voltou a entrar em contato com sua fonte. Attuch reclamou das críticas que tem recebido de colegas da imprensa: ‘as pessoas priorizam o making of da matéria e esquecem do conteúdo’.


Repórteres e arapongas


O making of de outra matéria também foi abordado no programa. Na mesma terça-feira, depôs na CPI dos Correios o ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Jairo Martins de Souza, responsável pela gravação da fita da propina recebida por Maurício Marinho, ex-funcionário dos Correios. Em seu depoimento, Souza disse que é jornalista formado e que fez a gravação com ‘motivação jornalística’. Foi ele quem procurou o repórter da revista Veja Policarpo Júnior, que acompanhou todo o processo. A ligação entre o ex-agente e o repórter da Veja foi duramente questionada pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que participou do programa por telefone. Mais uma vez, motivações e o processo de feitura de uma reportagem ganharam lugar de destaque no debate.


A crise política que toma as primeiras páginas dos jornais e mancha a imagem do Partido dos Trabalhadores teve início na imprensa, com o chamado ‘jornalismo fiteiro’. A gravação do recebimento da propina divulgada pela Veja, as acusações de Fernanda Karina na IstoÉ Dinheiro e as revelações do ‘homem-bomba’ Roberto Jefferson na Folha de S.Paulo tornaram públicas suspeitas de irregularidades e desencadearam o escândalo.


Em meio a políticos e dirigentes partidários acusados, agora jornalistas também se tornam alvos de questionamentos. Será que alguém se salva nesta história?




LAMA NO VENTILADOR
Ricardo Noblat


‘Por que Valério processou a ex-secretária’, copyright Blog do Noblat, 6/7/2005, às 12h21


‘O publicitário Marcos Valério contou há pouco uma história que, se verdadeira, deixa mal o dono da revista IstoÉ, Domingos Alzugaray.


No ano passado, em setembro, Valério soube, por meio do jornalista Gilberto Mansur, que a secretária Fernanda Karina Somaggio havia concedido entrevista à revista IstoÉ, acusando-o de ser o ‘homem da mala’ do PT.


Valério procurou e foi recebido por Alzugaray que o pôs a par do que a secretária dissera. Ele então negou tudo. E num segundo encontro, disse ter ouvido do dono da revista que a entrevista da secretária não seria publicada porque ele, Alzugaray, se convencera de que ela mentira.


Na ocasião, Valério recebeu os originais da entrevista concedida pela secretária à revista. E foi com base neles que entrou na polícia em Belo Horizonte com uma queixa-crime por extorsão contra Fernanda.


A queixa resultou em processo que Fernanda responde até hoje.


Valério não explicou por que se sentiu extorquido por Fernanda. E nem apresentou documentos que configurem tentativa de extorsão por parte da secretária.




Agência Câmara


‘Publicitário acusa ex-secretária de chantagem’, copyright Agência Câmara, 6/7/2005, às 12h26


‘O empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do esquema de pagamento de ‘mesadas’ a deputados, acusou a sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio de chantageá-lo. Ela é uma das principais testemunhas de acusação ao empresário.


Para demonstrar a inconsistência das denúncias feitas por Fernanda, o empresário deu o exemplo de um caso que teria ocorrido no mês passado: segundo Valério, depois de a secretária ter dado entrevista ao repórter Gilberto Mansur, da revista IstoÉ, ele apresentou documentos ao jornalista para refutar as declarações de Fernanda, e a revista ‘desistiu de publicar a matéria’.


Após a declaração, a senadora Heloísa Helena (PSol-AL) questionou Valério se o nome completo do repórter seria Gilberto Alípio Mansur, que teria sacado R$ 300 mil da conta do empresário, segundo dados do Coaf. Valério disse não saber.


As declarações foram dadas durante reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, que prossegue na sala 2 da ala Nilo Coelho, no Senado.’




Globo Online


‘Valério lê e-mails de secretária e diz ter sido chantageado’, copyright Globo Online, 6/7/2005, às 12h34m


‘O publicitário Marcos Valério falou nesta quarta-feira [6/7] em seu depoimento à CPI dos Correios sobre seu relacionamento com sua ex-secretária, Fernanda Karina Somaggio, que denunciou a realização de altos saques em dinheiro das contas das agências do publicitário.


Valério disse que Fernanda Karina trabalhou com ele por nove meses e foi demitida porque ele viaja muito e não tinha necessidade de uma secretária apenas para marcar viagens e reservas em hotéis. O publicitário afirma que após ser demitida, Fernanda Karina enviou e-mails e recados pedindo ajuda financeira. Como não teria sido atendida, passou a tentar entrar em contato com ele por meio de e-mails e recados.


Num deles, de 22 de junho de 2004, Karina teria dito ter ‘um assunto importante e de seu interesse’ para conversar com ele. Mais tarde, teria deixado um recado dizendo ter sido procurada por um jornalista interessado em obter informações a respeito de Valério em troca de uma gratificação. Em outro e-mail, ela teria escrito: ‘Descobri que conseguiram entrar com minha senha no banco e viram meu saldo. Acho que você deveria saber. Qualquer dúvida me ligue que eu te explico melhor, ok?’.


Valério leu ainda outro e-mail que lhe teria sido encaminhado por sua ex-secretária. Nele, uma pessoa se dizia disposta a ajudá-la financeiramente em troca de informações sobre Valério. ‘Não adianta falar que isso é contra sua ética porque isso não existe quando estamos falando de uma quantia que vai lhe ajudar muito’, estaria escrito no e-mail, que Valério passou à CPI.


Depois disso, Valério disse ter sido avisado pelo jornalista Gilberto Mansur de que Fernanda Karina estava dando uma entrevista sobre ele à revista IstoÉ.


– Falei: ´peça por favor à direção da revista IstoÉ que me escute´. Ele me deixou ver o teor da entrevista na redação da IstoÉ. Li, virei para o Domingos Azulgaray [empresário do grupo que publica a revista] e pedi um tempo para provar documentalmente que a entrevista era mentirosa. Passando uns dias apresentei a documentação. O Gilberto Mansur me entregou o original da entrevista, e falou: ´Estou convencido de que isso aqui é mentira. Eu não vou publicar.´


Este episódio teria dado origem ao processo movido por Valério contra Fernanda Karina por extorsão e chantagem.’




Globo Online


‘Valério diz que secretária pode ter recebido dinheiro para fazer denúncias’, copyrightGlobo Online, 6/7/2005, às 14h13m


‘Antes de iniciar sua rodada de perguntas para o publicitário Marcos Valério na CPI dos Correios, o senador Jorge Bittar comentou a relação explícita de Valério com os Correios através de sua agência. Segundo ele, cada órgão tem responsabilidade de controlar suas licitações, diferentemente do que declarado por outros parlamentares que defendem ser essa uma tarefa da Secom.


Se os dados conhecidos por Marcos Valério faturaram, com o setor público, R$ 140 milhões. Porém se a média da retenção de recursos é de 10% deste valor, quer dizer que R$ 14 milhões foram usados para a produção dos trabalhos.


Perguntado se ele tem algum outro interesse, afora profissional, com os Correios, Valério disse:


– Não, nenhum.


Valério disse que teve apenas dois encontros com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), uma no início deste ano e a outra num restaurante. Quanto as acusações feitas por Jefferson, Valério declarou:


– Creio que é porque eu sou meio careca e tenho um relacionamento com o senhor Delúbio Soares.


Sobre as acusações de sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio, Valério disse que, depois de ser demitida, ela enviou e-mails para ele pedindo ajuda financeira. Segundo ele, Fernanda pode ter recebido ajuda financeira de um repórter da revista ‘Isto É’ para dar declarações sobre o publicitário.’