Saturday, 05 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

A mídia só deveria atuar às claras

Quando a imprensa prefere operar nos bastidores, longe dos próprios holofotes, evidencia-se grave disfunção e troca de papeis. Infração clara: a transparência deve ser o ambiente obrigatório de uma imprensa comprometida com o interesse público. Mais alarmante fica o quadro quando se sabe que a ocultação é contestada por outra parte da imprensa. Alguém aparentemente está infringindo as regras ao manter conversações secretas – ou encobertas – com os mais importantes atores da cena política (Ver aqui notícia da Folha ).

A notícia, no entanto, é auspiciosa para os interessados em fortalecer o pluralismo e a diversidade num lobby midiático conhecido por seu caráter monolítico e rígido. Evidencia-se enfim uma clara divergência entre os dois mais importantes membros deste lobby: o jornal mais influente do país não concorda com as gestões dos acionistas do maior grupo jornalístico do continente junto ao vice-presidente da República, ministros do núcleo duro da Presidência e lideranças partidárias no auge de uma tremenda crise institucional.

A matéria está disfarçada a partir do próprio título (“Grupo Globo pediu moderação a políticos”): a família Marinho não necessita apelar para a moderação das autoridades e dos seus aliados já que estão encolhidos, interessadíssimos em manter a tranquilidade. A própria oposição recuou da intenção inicial de fomentar as manifestações do domingo, 16/8. Quem seria o ator imoderado ?

Supõe-se que a “Folha” pretendeu avisar que não está interessada em participar de qualquer tipo de negociação ou conchavo. Não estimulou os protestos (como aliás os demais jornalões em suas edições de domingo) nem pretende atuar em ações ou manobras que não possam ser noticiadas.

O “Globo” certamente não reagirá. Mas dará algum troco. Será uma lástima se esta rusga permanecer no universo da linguagem cifrada, incompreensível ao comum dos mortais.

O Grupo Globo não foi surpreendido já que na matéria revela-se que o representante da família Marinho procurado pela “Folha”, “preferiu não comentar o assunto.”