Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Concessões legais,
mas imorais

Reza a sabedoria popular que bater em bêbado é covardia. Pois parece ser isto o que está ocorrendo no episódio envolvendo Renan Calheiros (PMDB-AL). Na noite de quarta-feira, no Jornal da Globo, a poderosa emissora apresentou mais uma denúncia contra o presidente do Senado: os laranjas denunciados em Veja e o filho de Calheiros e prefeito de Murici teriam sido beneficiados pela outorga de concessões de emissoras rádios em Alagoas já no período em que Renan estava sendo investigado no Conselho de Ética. Pior: ele mesmo teria assinado o decreto legislativo beneficiando seu filho.


É preciso entender que as concessões foram aprovadas de maneira absolutamente legal na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado e o nome de Renanzinho inclusive consta do contrato do Sistema Costa Dourada, um dos beneficiários das tais concessões aprovadas em julho. A assinatura de Renan no decreto é mera formalidade, ele não votou nem influenciou na aprovação da concessão, pois isto não é necessário dado o espírito de corpo presente no Senado, como se verá a seguir.


Bater é fácil 


Tudo somado, não há ilegalidade alguma no processo, é assim que a coisa sempre foi feita, o que inclusive motivou uma representação do Projor, entidade mantenedora deste Observatório da Imprensa, no Ministério Público Federal contra a autoconcessão de emissoras de rádio e televisão pelo Congresso Nacional.


É também verdade que o caso de Renanzinho não se enquadraria estritamente no modelo contra o qual o OI representou, pois o filho de Renan não é parlamentar. Mas é óbvio que a concessão em questão é uma grande imoralidade, embora não tenha havido ilegalidade alguma. Se a representação do Projor surtir efeito, o Congresso deverá mudar a legislação e criar barreiras para o chamado ‘coronelismo eletrônico’ – os políticos que se aproveitam da mídia para alavancar suas carreiras.


Tudo isto dito, a verdade é que Renan virou o bêbado da briga. Todo mundo agora tem coragem de dar um cascudo no presidente do Senado. Se a TV Globo for séria, tem a obrigação de revelar ao distinto público os nomes dos políticos que têm concessões das chamadas ‘afiliadas’, que retransmitem a programação global Brasil afora… Bater em bebum é fácil, difícil mesmo é fazer bom jornalismo.

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Blog do autor: Entrelinhas