Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Dilma evita confronto com grande imprensa

Barack Obama, então em esforço para aprovar a reforma da saúde nos Estados Unidos, lançou-se em uma maratona de mídia em 2009.

Em um único domingo, deu entrevistas exclusivas para cinco redes nacionais (CBS, NBC, ABC, CNN e Univision). Cedeu de uma vez só aos pedidos, também de imprensa e internet, que vinham desde a eleição.

Passado um mês, Obama recuou, dizendo que a mídia só se interessava em estimular o conflito. E passou a priorizar junkets, entrevistas em série, com emissoras locais. Mas nem aí encontrou ambiente seguro.

Quatro meses atrás, perdeu a paciência com as perguntas de um jornalista da WFAA, de Dallas, que o questionava sobre a falta de atenção ao Texas e sua popularidade baixa no Estado.

Talvez Dilma Rousseff acabe encontrando um jornalista que a desagrade, em sua recente adoção de estratégia semelhante, com emissoras locais de rádio. Mas a situação é diferente, por aqui.

Quando foi lançada a coluna “O Presidente Responde”, em 2009, hoje “Conversa com a Presidenta” e publicada em 190 jornais e revistas locais, a repercussão foi mundial.

O jornal francês Le Figaro ouviu do então ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social ) que, se Lula pouco falou à imprensa durante o primeiro mandato, “isso mudou no segundo, ele fala, mas passou a dar ênfase à imprensa popular e regional”.

Dúvidas

O problema, comentou o site Editors Weblog, do Fórum Mundial de Editores, era que a estratégia “levanta dúvidas sobre o futuro da neutralidade e da independência da imprensa”.

Ao fundo, o governo Lula foi marcado também pela diversificação da publicidade federal, realizada pela mesma Secretaria de Comunicação Social, hoje comandada pela ministra Helena Chagas.

Em 2003, quando Lula assumiu, 499 veículos de comunicação de 182 cidades recebiam verbas de publicidade. No final do segundo mandato, eram 8.094 veículos de 2.733 cidades.

Na estrutura de comunicação herdada e agora usada pela presidente Dilma, há espaço ainda para o programa de rádio “Café com a Presidenta”, o Blog do Planalto, Twitter, Flickr, canal de YouTube etc.

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[Nelson de Sá é articulista da Folha de S.Paulo]