Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Érica Rodrigues

‘Você certa vez definiu o paparazzo como o cara autônomo, que corre atrás da celebridade e depois vender a foto para a revista, e que, portanto, essa figura não existe no Brasil.

João Bittar – Esse modelo é europeu. Na Europa, existem agências especializadas em moda, motociclismo, futebol, e esse tipo de sistema fez com que a figura do fotógrafo de celebridade, muito mais do que nos Estados Unidos, se distinguisse. Tem o cara que fica ali, dois meses em cima do muro com uma tele de 600 mm para pegar a mulher tomando banho na piscina, depois vende a foto por cem mil dólares. Lá o freelancer é quem faz as publicações. Nas Américas, do Canadá à Terra do Fogo, os jornais têm equipes e usam freelancer eventualmente. No Brasil, temos a figura do ‘bóia-frila’, um termo que ouvi certa vez e que é bem mais adequado à sua situação.

Se lá eles correm atrás da celebridade, no Brasil, famosos e seus assessores correm atrás da revista. Quando corriam boatos de que Ricardinho Mansur namorava a Gisele Bündchen, a assessoria dele bombardeava as redações com notinhas do tipo ‘Ricardinho Mansur estará na 1ª fila do desfile da marca tal, para a qual Gisele vai desfilar’. Essa situação existe?

J.B. – Existe sim. A Luciana Gimenez contratou um assessor de imprensa que está ligando para as revistas para emplacar capas com ela. Na Europa é diferente. O fotógrafo corre atrás da foto. Os caras lá trabalham com técnicas super desenvolvidas, fazem uma foto a cada dois meses e ganham dinheiro para o ano todo. Aqui no Brasil, tudo é bem incipiente. Nós não tínhamos esse perfil de publicação. A Contigo antes era uma revista só de TV. Com a chegada da Caras, eles começaram a se preocupar e hoje já estão fazendo bem esse tipo de cobertura.

A Caras tem um padrão claro para fotografia: todas as imagens são produzidas, os personagens devem estar sempre posando, sorrindo, nunca aparecem com cigarro ou copo na mão…

J.B. – Quando aparecem eles cortam. Tem uma foto da Ana Maria Braga dançando que apareceu em todas as publicações, a Caras deu ela parada. Mas eles inauguraram esse mercado no Brasil. No começo, a revista pagava um ‘paparazzo’ para ficar de plantão, o que já contraria os princípios do ‘paparazzismo’. Eu me lembro que, quando o Airton Senna morreu, a revista pagou 500 dólares por dia para um fotógrafo ficar no cemitério do Morumbi, para ‘flagrar’ a Adriane Galisteu, que nunca aparecia. Toda a imprensa sabia que a Caras estava lá. Depois de gastarem 15 mil dólares, suspenderam a ação. Nessa época, eu estava na Contigo, e tentamos ir à casa da Adriane. Jornalismo tem essas coisas, às vezes o que parece uma idéia boba ‘ah, imagina que o cara vai falar’, você arrisca e o cara fala tudo. A mãe da Adriane atendeu a Contigo e disse que ela estava no cemitério. O João Raposo [fotógrafo] foi para lá. Adriane percebeu que estava sendo fotografada. Fim de tarde, aqueles cabelos loiros contra a luz, flores… A Contigo deu capa! Essa história é bem exemplar do nível de paparazzismo que nós temos aqui. Não temos o nome de um fotógrafo para falar: liga pra esse cara hoje, vamos ver o que ele tem. Estamos caminhando para isso.

A Contigo, como você disse, era só voltada para TV. Como foi o seu trabalho lá e o que mudou depois da Caras?

J.B. – Quando eu trabalhei na Contigo, o Walcir Carrasco era o diretor de redação. A gente chegou a conclusão de que não dava para concorrer com a Caras, com a grana toda que eles tinham, e que a nossa saída era fazer jornalismo. Como diz o Orivaldo Perin, que foi meu chefe no Diário de São Paulo, em dúvida, fazemos jornalismo. O que vende é a notícia. Você pode ter uma foto ótima, belíssima diagramação, mas, o que vai fazer a revista mudar de plataforma é o que a Época fez esta semana [16/02/2004], a denúncia que foi manchete no dia seguinte em todos os jornais [Homem de confiança do planalto é flagrado cobrando propina de bicheiros no Rio]. Eles tiveram de imprimir uma segunda edição. Bom jornalismo vende. O paparazzismo no Brasil ainda não chegou ao estágio que devia chegar, e acho que a coisa pega justamente no profissionalismo, nesse lado jornalístico

As pessoas sempre têm essa curiosidade de saber como é a vida dos outros.

J.B. – As pessoas querem ler fofoca no Tibet, na Namíbia, na Bolívia, em qualquer continente. É impressionante. Eric Salomon, que fundou o fotojornalismo em 1928, trabalhava para uma revista que publicou 80 fotos em uma reportagem que mostrava um dia na vida de Mussolini. O que é isso? É um pouco a Caras, a Quem, a Holla, a Hello. O que a gente discute eventualmente é esse tipo de foto em que o retratado só aparece bem, a revista que só fala bem do cara.

E na Quem, qual é a cara da fotografia? O que você pretende mudar?

J.B. – A Quem está numa fase nova, procurando identidade. A Joyce Pascowitch,diretora de redação, criou um estilo de colunismo social na Folha que foi o embrião de todas as colunas do tipo que existem hoje. Ela é uma super jornalista, e sabe que se a revista quiser sair dos 130 mil exemplares e brigar com a Caras, com a Contigo, temos de fazer jornalismo. O nosso modelo ideal é construir uma revista com os personagens da Caras, eventualmente, e com a temperatura da Contigo. Fazendo jornalismo. Como a edição com o Fábio Júnior [13/02]. A chamada é ‘Fui traído’. Fizemos uma entrevista com o cara, que nesse momento não está lançando nem um disco, nem um livro, a idéia é arrancar uma entrevista saborosa. Não tem nada mais interessante do que a realidade.

E na fotografia…

J.B. – Estamos atrás do retrato definitivo. Queremos – modestamente e com toda licença à autora – algo no estilo da Annie Leibovitz para a Vanity Fair. O Anthony Hopkins sentado num bar na beira da estrada. A Whoopi Goldberg numa banheira de leite, Tom Cruise com as mãos no bolso, vestido com um Armani maravilhoso debaixo de uma chuva. É uma procura. A Vanity Fair é para o público americano, com suas preferências sexuais específicas, reflete a cultura anglo-saxônica. Mas se procurarmos, vamos chegar na síntese brasileira. Em algum momento, se eu ficar fotografando o cara, farei o retrato que sintetiza, para mim, quem é esse personagem, qual é a sua melhor imagem, que não é necessariamente um retrato posado. Qual é o estilo da revista? Nós é que vamos fazer, partindo da nossa realidade, das nossas limitações de equipamento também. Claro que o cara da Vanity Fair pode alugar três helicópteros e vender uma foto por 4 mil dólares, não é nossa realidade. O nosso barato é fazer a cara da revista, que é uma revista de celebridades, não é a Bravo, não é a Face, é a Quem, e isso não é bom nem ruim.

As leis de proteção à imagem estão ficando cada vez mais restritivas. Se por um lado o direito à informação é assegurado pela Constituição, por outro, o fotojornalismo esbarra no direito de imagem, que é inerente à personalidade. Mas dá pra fazer fotojornalismo andando com formulários de autorização do personagem em baixo do braço?

J.B. – Eu tenho um conceito muito amplo de fotojornalismo. Acho que fazer foto de comida para a revista Claudia é fotojornalismo. Para dar uma resposta mais direta, o fotógrafo teria mesmo que andar com o papel de autorização. Acho que, dada essa restrição, nos cabe conhecer isso melhor do que todo mundo, para poder discutir o assunto na hora de uma decisão e procurar saídas para isso. O problema da autorização pode até ser reduzido a uma coisa simples: às vezes é só pedir mesmo, não é um bicho de sete cabeças. Mas para outros tipos de cobertura pode ser problemático, por isso conhecimento é fundamental.

No começo de fevereiro um fotógrafo carioca declarou a alguns jornais ter sido vítima de agressão pelo ator Paulo Vilhena, que não queria ser fotografado numa festa. O ator foi alvo de uma notificação policial, por ter agredido o fotógrafo com um gesto obsceno.

J.B. – O Paulo Vilhena fez um gesto, que, na minha modestíssima opinião, não era motivo para o fotógrafo ter ficado ofendido. Eu pensaria: sou jornalista, ele não me conhece e está xingando a instituição, não é uma ofensa pessoal. O cara conseguiu uma imagem excelente do Paulo Vilhena, que faz uma linha ‘bad boy’, tinha tudo a ver com a personalidade dele, poderia até ser o tal do retrato definitivo. Se o cara fosse jornalista de fato, teria ficado satisfeito com a foto, porque ele conseguiu deixar o Paulo Vilhena irritado e fazer uma foto verdadeira. Esse fotógrafo ofereceu a foto de graça para as redações, com o discurso de que foi ofendido. Essa foto passou por mim, e eu não usei. Isso não interessa para ninguém. Se ele tivesse feito o trabalho jornalisticamente, poderia ter vendido a foto para ser publicada. O cara que se diz jornalista e quer virar notícia, comete um erro primário. O que faz você ser jornalista ou não é a atitude. Jornalista não tem direito de questionar a opinião das pessoas, não é pedagogo, psicólogo, psiquiatra, assistente de ator, diretor de novela. Não vejo esse caso como um confronto jornalismo X direito de privacidade.

Nos anos 80 houve a criação de várias agências, foi um período rico para o fotojornalismo. As revistas semanais chegaram ao seu auge. Nos 90, algumas poucas empresas jornalísticas foram incorporando vários títulos, com reaproveitamento e enxugamento de equipes, nivelamento da informação, queda na qualidade. Os grandes conglomerados funcionam com uma espécie de retroalimentação: A TV cria celebridades, que serão notícia no jornal, que, por sua vez, mantém a audiência da TV. A imparcialidade pode até ser um mito, mas é possível gerar vida criativa nessas estruturas? Não estamos num momento bastante pobre no jornalismo?

J.B. – A mesmice é impressionante mesmo, fecha postos de trabalho, o jornal fica ruim, não vende, não tem anúncio. A crise econômica, aliada à nova plataforma tecnológica, enxugou as redações. Há uns 20 anos, a Folha e o Estadão tinham por volta de 50 fotógrafos. Dez anos depois, eram 30. Cinco anos depois, 15. Existe mesmo uma certa desistência, um movimento suicida. Mas existe uma luz no fim do túnel. Acredito que é possível fazer um jornalismo de qualidade mesmo com essas condições. Se não acreditasse, iria fazer propaganda, que dá mais dinheiro.

O Jornal da Tarde foi um jornal brilhante e hoje funciona com uma equipe super reduzida.

J.B. – O JT está em fase de recuperação. Eles acabaram de lançar um caderno de esportes e estão batendo o Agora e o Diário de S. Paulo. Era um jornal ótimo, valorizava bastante a fotografia. Era projeto do Mino Carta.

Está faltando um Mino Carta hoje?

J.B. – Ele é maravilhoso, mas não sei se está faltando um Mino. Sou um cara humildemente de esquerda, não por ser culto ou por ter lido muito, mas por uma opção política num país como o nosso. Por causa da Ditadura, você só tinha duas opções: ser a favor ou contra ela; eu era contra e me aliava ao pessoal do partido comunista. Esses caras demoraram dois séculos para acreditar em marketing. Não vou dizer ‘o marketing é tudo na vida do ser humano’.

Mas não dá mais pra dizer que o marketing é abominável…

J.B. – É, não dá para ignorar. Não existe fotojornalismo se não existir alguém que coloca a revista na banca. Na Alemanha, o cenário onde surgiu o fotojornalismo era esse: existia um carinha, o Eric Salomon, genial. Todos os gênios da cultura alemã estão ali vivendo, você tem uma câmera portátil, de rolo de filme, que dá para levar para qualquer lugar. Isso é fundamental: talento, tecnologia. Mas se não tivesse aquele alemão que pensasse: ‘vou imprimir essas fotos numa revista e vou ganhar dinheiro’? Esse sujeito, então, roda duas revistas, só com fotos, com dois milhões de exemplares cada. Este fato provocou o quê? Mais trabalho para o talento de Eric Salomon. E não é só ter trabalho e ganhar dinheiro, é possibilidade de desenvolver o seu trabalho. Você pode ser um gênio, ter um equipamento maravilhoso, gastar todos os filmes ou cartões que conseguir. Mas se você não publica a foto, pode ser qualquer coisa, menos fotojornalismo. A estrutura, a indústria, o horário do fechamento, do jornal rodar e ser distribuído, tudo isso faz parte do jogo. Você não trabalha para fazer a foto espetacular. Você trabalha para fazer a foto espetacular que fecha às 11 e meia da noite.

Então você acredita que se pode fazer um bom trabalho dentro dessas estruturas?

J.B. – Não estamos fazendo artes plásticas. Nosso produto é para ser lido na sala de espera do dentista. Li uma vez no La Repubblica, um jornal italiano, que era de esquerda, a entrevista de uma repórter super engajada com o diretor do The New York Times, que tinha ganho prêmio por melhor faturamento, prêmio Pulitzer, enfim, era um sucesso de público e de crítica. A repórter, no final da entrevista diz ao diretor: ‘Você declarou numa entrevista que sua revista preferida é a People, não posso acreditar. Você lê essa revista de dentista?’ Ele respondeu: ‘Meu filho adora bicicleta, então ele compra três revistas de bicicleta por mês. Minha mulher adora cozinhar e coleciona todas as revistas de culinária que saem na banca. Eu adoro saber das pessoas, então compro a People’. Você acha que a People vende três milhões de exemplares por semana por quê? Por que existem três milhões de idiotas? Não, a gente compra porque é legal, é divertido. Você imagina chegar na banca e só existir o The Wall Street Journal e o The New York Times. Viva a diversidade. O que é importa é o jornalismo sendo bem feito.

O que será mais prejudicial para a sociedade, o Notícias Populares, na época em que existia, sair com uma peladona na capa e uma manchete escrachada, ou a Folha de S. Paulo, que durante a campanha eleitoral manchetou: ‘Prefeitura dá calote’ e o dólar disparar para quatro reais? Isso era mentira. A prefeitura tinha uma opção de pagar com desconto, e preferiu pagar depois sem o desconto. Qual das duas situações seria mais pornográfica?

O jornalismo brasileiro usa muito o padrão americano. Você não acha que nossas revistas semanais copiam a Newsweek, principalmente no layout?

J.B. – Tenho uma história exemplar sobre isso. Quando trabalhava na Veja, toda a equipe de fotografia foi acionada para fazer uma matéria sobre dança. Ficamos uns 15 dias indo a danceterias, produzimos uma pilha enorme de cartelas de cromos editados. O editor começou a olhar as fotos na mesa de luz. Ele dizia: ‘Muito bom, João, ficou espetacular. Vamos paginar já’. Eu fiquei todo feliz, fotógrafo é bobo né, achei que a gente fosse participar da paginação. Ele foi até a sala dele e pegou uma Newswek. Abriu a revista sobre a mesa de luz, o título era ‘America dancing’. Eram três fotos numa página e três na outra. Ele começou: ‘Essa daqui vai ser aquela que você fez no samba, no lugar dessa a gente bota aquela da Estudantina, aqui vai entrar aquela que o João fez no Madame Satã’. E a redação fazia assim. Pegava a revista e fazia exatamente igual. Não era nem parecido, ‘abrasileirado’, era cópia mesmo. Fiquei decepcionadíssimo com aquilo.

Mas a Veja não teve alguns bons momentos para fotografia?

J.B. – O Egberto Nogueira e o Antônio Ribeiro produziram um ótimo material lá. Porque eles eram caras especiais e tinham propostas diferentes. Se dependesse só da revista ia ser aquela mesmice de sempre. A primeira matéria que fiz para a Veja foi para a editoria de economia, em 1969. Tinha de fazer umas fotos de tobogãs, que tinham acabado de chegar no Brasil, mas tinha de abordar o negócio. E fiz: ‘A inserção econômica do tobogã na sociedade brasileira’. Fotografei os tobogãs em meio às fábricas da Lapa, na rua Augusta. Aí fui adotado como o fotógrafo oficial de economia da revista, e acabou sendo criado um padrão para foto de economia: ‘o homem e seu negócio’, ‘the man and his work’, ou seja, o padeiro com os pães, o livreiro com os livros, o jogador de futebol com a bola e assim sucessivamente até você vomitar. Faz 34 anos e até hoje as fotos são exatamente assim. É uma fórmula dificílima de ser mudada.

Nunca se tentou quebrar esse padrão?

J.B. – Na IstoÉ, quando trabalhei com o Hélio [Campos Melo], tentávamos fazer diferente. A gente ia fotografar o empresário e se ele perguntasse: ‘com paletó ou sem paletó?’, a gente respondia: ‘o senhor que sabe’, agíamos com naturalidade, tentávamos fazer um ‘homem e seu negócio’ honesto, real. Porque não é só a Caras que faz isso: O empresário, lindo, o escritório dele, espetacular, os gráficos, em ascensão. Não tem empresário feio, não tem crise, é uma pauta só.

Paulo Moreira Leite extinguiu o cargo de editor de fotografia na Veja e nas publicações do Infoglobo Época e Diário de S. Paulo. Você agora foi chamado para fazer o caminho inverso, reconstruir a fotografia na editora Globo. Como encara esse desafio?

J.B. – Com exceção da IstoÉ, que tem um diretor de redação que é fotógrafo [Hélio Campos Melo] e de raros trabalhos, a fotografia nunca teve força nas revistas semanais. Tanto é que o Paulo Moreira Leite foi minando a fotografia por onde passou e ninguém se deu conta. Ele criou esse buraco e as pessoas continuaram sobrevivendo com isso. Eu voltei para o mercado por convite da Joyce [Pascowitch]. Eu acredito que esse tipo de revista é muito importante para a fotografia. O fotógrafo pode se educar lendo a Bravo, mas para fazer fotografia, nada melhor do que revista de gente, que é feita de fotos. A questão é fazer bem ou fazer mal, e eu acredito que se possa fazer bem. Mas para o meu trabalho ter sucesso, eu dependo que o fotógrafo, o cara que está na coordenação, a menina que faz a identificação da foto, todo mundo esteja desenvolvendo o seu melhor, que estejam fazendo a melhor coisa da vida deles. Se isso estiver acontecendo, sem dúvida, vai aparecer na revista. Nós fotografamos o que somos. Se você é bom, sua foto vai ser boa e a revista vai ser ótima. Não tem mistério, inspiração, sorte. Sabe aquela frase: ‘Você foi feliz nessa foto’? Fico revoltado quando dizem isso. Fotografia é um processo, é uma ciência de acumulação.

Mas os fotógrafos muitas vezes vão despreparados para a pauta.

J.B. – Muitas vezes não, sempre. Primeiro tem de ser criada essa consciência, é por aí que se começa. Você vai fotografar melhor na medida em que você souber mais. Se você tem um plano, um projeto, e na hora tem de improvisar, seu improviso vai sair muito melhor, porque você já tem uma base sobre aquele assunto. Se você trabalha numa revista como a Quem, é importante saber que Deborah Secco se escreve com ‘h’ e dois ‘c’, isso é bobinho, básico, mas não pode ser ignorado. O que mais? Como é sua personalidade? Quanto mais você souber dela, quando você for fotografá-la vai sabe qual é a foto. Na matéria do Fábio Júnior, aconteceu assim. O Fábio estava ao nosso lado, quando a fotógrafa que fez a matéria virou para mim e falou: ‘queria fazer a foto de um desse caras ‘bons’, colocá-lo numa cama, de pijama, fumando, pensando na vida, para a mulherada olhar e falar, nossa ele é assim, coitado, ou, que coisa, esse cara fuma demais, sei lá, provocar reações’. O Fábio Júnior ficou ouvindo, virou para ela e falou: você não quer fazer comigo essa foto? Ele próprio percebeu como era bacana pensou que tinha tudo a ver com a idéia.

Você foi um dos criadores da primeira tabela de preços mínimos para o fotojornalismo. Mas essas tabelas de fato nunca foram respeitadas. Existem ações do sindicato e da Arfoc, um esforço para manter um piso, mas se não existe fiscalização da profissão, esses valores, na verdade quando pagos, não são pisos, mas tetos…

J.B. – Uma vez, no Sindicato, o José Hamilton Ribeiro me disse: ‘Vocês fotógrafos são iluminados’. A questão é que somos minoria, a fotografia é mulher, preta e pobre, por isso temos sempre de estar brigando. Nos falta articulação, personalidade. Nas revistas de celebridade, a fotografia é 70% do conteúdo, isso não pode ser ignorado. É preciso assegurar boas condições de trabalho, ter poder de decisão, influir no processo. É um engano por parte da revista achar que fazer mal feito é barato. Quando estava na Contigo, briguei para a tabela de preços ser respeitada. O fotógrafo deve se impor. Agora, o sindicato não tem mesmo prestígio para fiscalizar.

No curso que você vai ministrar na Ímã Foto Galeria em março, vai ser criada uma agência de Fotojornalismo Experimental. Como será?

J.B. – No curso, vamos falar sobre o perfil, a estrutura e a rotina das publicações, como desenvolver técnicas de reportagem, pensar uma boa pauta e oferecer uma matéria para a publicação. Não adiante você ter uma foto ótima sobre o trânsito no horário do rush e oferecer para a Cláudia. Vamos montar uma agência experimental que poderá se tornar permanente, abordar a história dos grandes fotojornalistas, conhecer suas motivações, ver muita foto. Há 50 anos atrás, o fotógrafo não tinha cultura, e por tradição do ‘bacharelismo’, seu trabalho sempre foi visto na redação como ‘menor’. A revolução digital fortaleceu a posição do fotógrafo na redação. Agora, você precisa estar preparado, conhecer o mercado, saber como conduzir e encontrar saídas para o seu o trabalho. Fotojornalismo é prática, acúmulo de informação’



MEDICINA E MÍDIA
Sérgio Gwercman

‘Medicina faz mal à saúde’, copyright Superinteressante, fevereiro de 2004

‘Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo Como Impedir o seu Médico de o Matar.de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica – para ele, a grande financiadora da decadência – e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos.

Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente?

Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família. Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis. Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo ‘Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde’.

Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos?

A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas. Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou não em seus tratamentos.

Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes?

A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes empresas farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja.

E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar remédios?

É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios. Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do processo natural de autocura do corpo. Problemas no coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercícios e controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios.

Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico?

É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas. É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem do que mal.

Que problemas os remédios causam?

Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão, confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.

Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida?

Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo.

Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?

Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa não é necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa. O melhor remédio é aquele que funciona para o paciente.

Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário?

Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raio X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente.

Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas?

Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados. Qual o sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas farmacêuticas ganham com um sistema como esse.

O que você faz para cuidar da saúde?

Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos colaterais.’



LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva

‘Trio Elétrico Verbal’, copyright Jornal do Brasil, 8/03/04

‘A habilidade verbal é marca registrada do brasileiro. Gostamos de conversar, a boa prosa nos fascina. De repente, porém, a infantaria da língua portuguesa começou a sofrer ataques maciços de uma estranha e abrutalhada cavalaria que está arrasando a beleza e a cordialidade de nossas conversas ao telefone. O tormento atual é um insólito gerúndio acoplado ao indicativo e ao infinitivo. Mas os abusos começaram antes.

Depois de insondáveis diálogos com uma gravação, o cliente ouve, enfim: ‘digite nove para falar com um de nossos atendentes’. ‘Pois não’. ‘Preciso falar com quem decide’. ‘Quem gostaria?’ ‘Como, gostaria?’ ‘É, o senhor, enquanto cliente, gostaria de falar com quem?’ ‘Enquanto ainda nos entendemos, quero dizer que sou cliente de vocês há décadas, mas já faz bastante tempo que não consigo falar com ninguém. Quem sempre me atende é uma gravação. E se eu fizer o mesmo quando vocês ligarem para mim? Deixaremos as máquinas conversando isoladas em seus solilóquios?’ ‘Desculpe, senhor, o senhor quer falar com quem?’ ‘Com quem decide. Com o chefe, o gerente, o supervisor, o capataz’.

O cliente sabe que muitas empresas brasileiras não substituíram o capitão-do-mato. Substituíram seu instrumento de castigo. Em vez do chicote, o computador ou o telefone, quando não os dois combinados.

‘E quem gostaria de falar com ele, por favor?’ ‘João.’ ‘João de onde?’ ‘De São Paulo’. ‘Um momento, por favor, que eu vou estar encaminhando a sua ligação.’

A mão-de-obra é um dos grandes problemas nacionais. E nesses tempos em que as empresas transformaram o telefone em ferramenta de trabalho, as deficiências no domínio da língua portuguesa estão irritando demais os cidadãos.

A culpa é do invento de Graham Bell? Não. O brasileiro e o telefone vinham se entendendo bem, desde que Dom Pedro II experimentou o aparelho apresentado pelo célebre físico e professor de surdos-mudos.

É uma pena que não tenhamos gravado certas conversas. Não a do alto funcionário do Palácio do Planalto com o famoso bicheiro cujo nome o humor de Elio Gaspari transformou no neologismo ‘Charlie Waterfall’ (Carlinhos Cachoeira), mas a prosa amena que poderia levar a certas antologias. Não seria delicioso ouvir os melhores telefonemas de Nelson Rodrigues e Otto Lara Resende, por exemplo? A tarefa poderia ser atribuída à escritora Edla van Steen, responsável por antológicas coleções de contos, poemas e crônicas.

A utilidade e o prazer da conversa ao telefone viraram um tormento. Por que perder tempo em indagar de onde a pessoa ligou, ainda mais nesses tempos em que a ligação é indexada e o destinatário, ainda antes de atender, sabe não apenas a localidade mas também o número do telefone de quem ligou? Este tipo de sigilo tornou-se impossível. O número é identificado assim que o telefone toca.

Atendentes de diversas empresas e, o que é mais grave, funcionários públicos, amontoam numa única sentença o presente do indicativo, o infinitivo e o gerúndio para formar este inusitado trio elétrico verbal que dá choques incríveis no interlocutor.

A atendente ‘vai estar encaminhando a reclamação’ de João, ‘enquanto cliente’ e ‘a nível de diretoria’. Mas assim que abre a boca, põe o gerúndio em má companhia.

O escritor Eliziário Goulart da Rocha foi um dos primeiros a registrar a perplexidade. ‘Num mero pedido de pizza, ouvimos: vamos estar entregando’.

Se a língua portuguesa for eliminatória para candidatos a algum emprego que requer o uso do telefone, haverá menos trabalho para excluir os despreparados. Se acoplarem indicativo, infinitivo e gerúndio numa frase só, o examinador ‘vai estar mandando os candidatos de volta para a escola’.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘A boca e a botija’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/03/04

‘Titulinho miserável que andaram a divulgar por aí:

Sexo oral pode aumentar risco de câncer de boca, diz estudo

11h00 – 26/02/2004

O texto bochechava o seguinte:

Alguns casos de câncer na boca poderiam ser causados a partir de um vírus transmitido por meio de sexo oral, alertaram cientistas.

Pesquisadores americanos disseram em artigo na revista New Scientist que o vírus do papiloma, causador da maior parte dos tipos cervicais de câncer, também poderia dar origem a tumores bucais.

Os especialistas afirmam que fumo ou bebida em grandes quantidades causam a maioria dos casos de câncer na boca. Entretanto, a vinculação do vírus HPV pode ajudar a explicar por que alguns jovens desenvolvem a rara doença.

Os autores do estudo, da Universidade Johns Hopkins, disseram entretanto que as pessoas não precisam alterar o seu comportamento sexual.

Janistraquis, que é chegado nesses assuntos, leu, releu e estalou a língua num cacoete de desaprovação: ‘Considerado, isso nem é ciência e, muito menos, jornalismo. Ciência não divulga que algo ‘poderia’ causar isso ou aquilo; e, ainda por cima, os ‘autores do estudo’, que se mantêm na maior moita, disseram que a gente não precisa alterar o comportamento sexual!’

Estou com meu secretário mas achei esse ‘a gente’ perfeitamente dispensável.

Pau em Ariano Suassuna

O consideradíssimo amigo Linaldo Guedes, jornalista e poeta dos bons, avisa: Ariano Suassuna foi chamado de ‘gênio gagá’ e ‘marqueteiro da Rede Globo’ pelo também jornalista Walter Galvão, ‘o qual questiona o espírito de xenofobia que costuma baixar no autor de A Pedra do Reino.’

‘O texto de Walter rendeu pano pra manga, gerando discussões, réplicas e tréplicas de poetas, intelectuais e jornalistas’, conta ele. Convido o leitor desta coluna a conhecer o blog do Linaldo, Zumbis Escutando Blues, (título de um de seus livros), que abriga vários textos dessa espetacular peleja cultural.

Sacanagem!!!!!!!!

Nosso considerado Celso A. Freitas envia a manchete da coluna O País, de O Globo Online:

10h03m – Governador de Maceió defende o jogo do bicho.

‘Criaram o Estado de Maceió!’, denuncia Freitas; ‘Evidentemente, roubam território às Alagoas, tão pequeno e que até já pertenceu a Pernambuco. Estão querendo aniquilar a terra de Deodoro da Fonseca…’

É mesmo, rapaz; e Janistraquis, que é de Arcoverde, no sertão pernambucano, avisa que, se bobearem, Pernambuco incorpora Alagoas novamente.

E a concordância?

Diretor de nossa sucursal no DF, sucursal que ocupa o andar inteiro de um prédio de onde se enxerga a antiga sala de Waldomiro Diniz no Palácio do Planalto, Roldão Simas Filho lia o Correio Braziliense da segunda-feira, 1º de março, quando deparou com esta maravilha, abrigada sob o título A salvo no Brasil:

‘(…)A chegada do avião brasileiro ao Haiti são descritas por Regina e Nélson, que vivem no país há quatro anos, quase como uma cena de filme. (…)’

Sujeito no singular e verbo no plural! Se a frase fosse invertida, o verbo poderia ir para o plural: ‘Regina e Nélson, que vivem no país há quatro anos, descrevem a chegada do avião brasileiro ao Haiti quase como uma cena de filme.’

Pois é, meninos, aprendam com mestre Roldão; é de graça. Ou, como dizem muitos e muitos repórteres de rádio e tevê, é gratuíííííííto!

Médico-repórter

Esta coluna cumprimenta o doutor Dráuzio Varella pelas excelentes matérias no Fantástico. Aliás, ele é tudo o que o programa sempre procurou, desde os tempos do diretor José-Itamar de Freitas: um médico-repórter, capaz de transmitir seriedade, competência e, principalmente, credibilidade.

Zé do Caixão

Despacho do considerado Celsinho Neto, diretor de nossa sucursal cearense:

‘O Diário do Nordeste, cujos jornalistas nos adoram, passou um recibo do tamanho que a receita gosta. Leia o título dessa matéria sobre transplante:

Hospital coloca em prática projeto para retirar órgãos a distância.

Tudo bem que o projeto é do Hospital de Mecejana, mas o repórter não poderia ter perguntado ao doutor como seria possível, por exemplo, retirar o coração de um cabra morto na Paraíba, estando o médico no Ceará?

Essa talvez o Zé do Caixão explique.’

Próximos anos…

Nosso considerado Daniel Sottomaior, diretor da sucursal desta coluna em São Paulo, sucursal que fica a alguns passos do restaurante onde Zé Dirceu costuma almoçar, denuncia título de primeira página do Estadão:

Empresas pretendem investir US$ 76 bi no País.

Diz o sempre alerta Daniel: ‘No lide se descobre que isso deverá ocorrer ‘nos próximos anos’. Apesar de verdadeira, a notícia ficou perfeitamente inútil porque não sabemos de quantos anos se trata. Ela engana o leitor levando-o a pensar que informou alguma coisa, quando na verdade nada foi dito, pois sempre existirá algum número de anos no qual essa cifra de investimentos será totalizada.

Se forem dois anos, são US$ 38 bi por ano; se forem cinco anos, o valor cai a US$ 15,2 bi por ano. Infelizmente, muita gente não sabe que, quando se trata de dinheiro, uma cifra sem data tem conteúdo nulo de informação.

Um milhão de reais hoje é uma fortuna, mas distribuído em cem anos transforma-se num modesto salário de 833 reais. Concentrado no fim do período, a juros de 10% ao ano, esse milhão é equivalente a menos de 73 reais a valores de hoje. Mas vai explicar isso para o jornalista…’

Nota dez

O texto da semana é da sempre inspiradíssima lavra do mestre Carlos Heitor Cony na Folha de S. Paulo:

Negros e brancos

02/03/2004

Fernando Pamplona tem razão ao pedir uma cota de negros, não para as universidades, mas para as escolas de samba do Rio de Janeiro. No último carnaval, mais de 60% dos desfilantes eram brancos, alguns deles bronzeados pelo sol deste verão intermitente, outros artificialmente, como a própria Luíza Brunet, um dos mais dignos e deslumbrantes ícones da nossa época.

Pouco a pouco, a fixação do carnaval num único eixo (o desfile em si), transformou a festa popular, que nasceu espontânea e livre, num episódio da mídia, sujeito às leis do mercado, aos patrocínios, neste particular, igualando-se às campanhas eleitorais e ao lobby dos produtores de cinema para promover seus filmes (…)

Errei, sim!

‘GATO PRETO – Depois de examinar a revista Elle com a lupa que ganhou de presente do doutor Romeu Tuma, Janistraquis abriu largo e debochado sorriso: ‘Arrá, considerado!!’, gritou o desalmado. ‘Se vocês não sabem a diferença entre gato e cachorro, coitadas da sianinha e da passamanaria…’.

Tentei atribuir a responsabilidade pelo infausto acontecimento a outrem, como todo redator-chefe que se preza, porém fui obrigado a reconhecer minha culpa na publicaqção desta legenda: ‘(…) Nada como curtir, com a mulher Isabelle e o fiel cachorro Totó, os momentos de descanso no living(…)’. O ‘fiel cachorro Totó’, suavemente encostado à poltrona, me observava com olhos severos – era um tremendo gato. Preto!’ (setembro de 1991)’