Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Etienne Jacintho

‘Mandrake, a série da Conspiração Filmes para a HBO, sairá finalmente do papel. As filmagens começam no dia 7 de setembro, mas ainda não há data de estréia no canal. Mandrake terá lançamento simultâneo com Epitáfios, seriado produzido na Argentina para a HBO, que está pronto e aguarda a finalização da atração brasileira para ir ao ar.

O anúncio da data de início das gravações foi feito por um dos sócios da Conspiração, Leonardo Monteiro de Barros, durante o 5.º Fórum Brasil de Programação e Produção, realizado na semana passada em São Paulo, em debate que reuniu representantes de canais por assinatura internacionais que estão investindo em produção nacional.

As redes estão utilizando o mecanismo da Ancine de investir 3% do valor que esses programadores internacionais remetem ao exterior para pagamento de sua programação em produções e co-produções brasileiras.

Além dos canais internacionais, quem também se beneficia são as produtoras independentes. Com Mandrake, que terá como herói um advogado, a Conspiração está produzindo 400 minutos de programação para a HBO.

Os canais que colocam produção local no ar, são ‘premiados’ com o aumento da audiência, por causa da maior identificação com o telespectador. A Nickelodeon, por exemplo, criou o programa Patrulha Nick há dois anos, quando a lei entrou em vigor. A atração estreou em 18.º lugar no ranking dos programas mais vistos do canal e, hoje, está entre os favoritos.

No mundo – Os documentários co-produzidos pelo National Geographic Channel (NGC) podem correr o mundo, assim como o Mandrake, da HBO. Em um bate-papo com o Estado, o vice-presidente de Desenvolvimento e Produção do NGC, Geoffrey Daniels, diz acreditar que programas feitos no Brasil não provocam interesse somente aqui. ‘A audiência tem interesse em assuntos diferentes e vontade de conhecer lugares exóticos. Nós tornamos esse sonho possível’, fala.

O NGC, que está em 146 países, já co-produziu documentários com a Grifa – a série inédita Animais do Brasil – e com o Canal Azul – A Ilha dos Golfinhos, que já foi ao ar, Tartarugas Marinhas e Antártida, o continente gelado com Amyr Klink, ainda inéditos. Os interessados podem enviar projetos para o NGC no site www.ngcideas.com Além do apoio das emissoras, os produtores independentes podem contar também com o acordo assinado no último dia 26, durante o Fórum de Programação e Produção, entre a Apex-Brasil, órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento e Comércio, o Ministério da Cultura, o Sebrae e a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Televisão (ABPI-TV), que destina R$ 9 milhões para o projeto de exportação de produções nacionais.’



SEUS OLHOS
Leila Reis

‘‘Seus Olhos’ é emblema da estética SBT’, copyright O Estado de S. Paulo, 30/05/04

‘A história da mocinha pobre que se apaixona pelo rapaz rico e enfrenta todas as vicissitudes – que só uma heroína é capaz de suportar – durante pelo menos uma centena de capítulos, é recorrente nas telenovelas.

Nas mexicanas então, é enredo quase único. Basta dar uma espiada no cardápio das tramas exibidas pelo SBT para confirmar a tese: das seis que estão no ar, pelo menos quatro versam sobre o tema.

Seus Olhos, o último dramalhão a entrar no horário nobre, mesmo tendo sido produzido aqui, consegue ser tão mexicano quanto seus colegas de programação. Ou seja, no vídeo do SBT, Seus Olhos não destoa das originais.

Luz, cores, figurinos, cenários, personagens, texto e o próprio drama seguem o padrão cucaracho.

Essa estética já vem marcando outras novelas que a emissora tem produzido a partir de textos comprados do México. Para comprovar, basta dar uma olhada no canal na hora do almoço, quando é reprisada Pícara Sonhadora. E quem viu algum capítulo de Canavial de Paixões, a novela anterior a Seus Olhos, sabe do que estamos falando.

Construir novelas toscas não significa que o SBT não saiba fazer direito.

Parece mais uma sacada esperta, porque, por mais que se tente, ninguém consegue produzir novelas como as da Globo. Não por falta de competência, mas por especialização. Há quase 40 anos, a líder faz novelas em escala quase industrial e gerou um modelo difícil de reproduzir.

Pode não ter sido cientificamente planejado, mas o fato é que com as mexicanas – importadas e made in Brasil – a emissora satisfaz uma parte do público que garante audiências compensadoras. Público esse que aprecia a estética carregada – de cores, de brilhos e luzes – que impregna o visual de quase tudo que a emissora produz.

Esse telespectador, diferente do da Globo, aprecia o dramalhão rasgado, o maquiavelismo descarado, o tom operístico dessas novelas. O vilão nasce e morre mau. Os bonzinhos são quase santos. Os ricos são milionários e os pobres, miseráveis, mas retocados a pancake e laquê.

O público dessas novelas não é melhor nem pior, é diferente. E faz parte de um grupo muito maior, presente em todos os continentes. Não o fosse, a TV mexicana não exportaria as milhares de horas de drama que produz por ano.

Canavial de Paixões foi um sucessão para os padrões da casa: 14 pontos de média no Ibope (Grande São Paulo). Seus Olhos está marcando 7 e 8 de média, mas poderia ter começado melhor se viesse no embalo do Canavial. Por problemas de produção, o SBT intercalou A Outra (importada) entre Canavial e Seus Olhos, que até começou bem – na casa dos 9 pontos de média – mas foi minguando até os 4.

A boa recuperada de Seus Olhos comprova a tese e acrescenta um dado importante. O telespectador do SBT gosta do dramalhão mexicano, mas o prefere interpretado por atores brasileiros. Claro que, com em todos os similares, o enredo de Seus Olhos mistura sedução, amor puro e sincero, traição, fatalidade, etc. Adaptada por Ecila Pedroso e Noemi Marinho, a história já começa matando a mãe da mocinha (interpretada por Bete Mendes), que cai dura de um ataque nos braços do homem que a filha ama. O motivo?

Mesmo doente, ela vai atrás de Vitor (Petrônio Gontijo) para pedir que se afaste de sua garota, pois não quer vê-la de coração partido. O sujeito que Marina (Carla Regina) ama é casado!

Pela sinopse, isso é café pequeno. Vai haver assassinatos, prisão de inocentes, seqüestro de crianças, mocinha que pensa que é pobre, mas na verdade é milionária, e por aí vai… No melhor estilo mexicano de contar um dramalhão.’



METAMORPHOSES
Leila Reis

‘‘É desagradável começar um projeto que vira outro’’, copyright O Estado de S. Paulo, 28/05/04

‘O caos está estabelecido em Metamorphoses, novela produzida pela Casablanca e exibida pela Record. Com 2 pontos de média no ibope, trocas sucessivas de autores, diretores e equipe técnica, a novela vai mudar de mãos de roteirista, perder e ganhar novos personagens. A imprensa sabe porque a emissora informou, mas o elenco, não. Nesta entrevista, Vanessa Lóes, 32 anos, seis novelas no currículo e protagonista da trama da Record, fala da situação nos bastidores, mas diz que não está arrependida.

Estado – Transplante de rosto não é inverossímil até para telespectador de novela?

Vanessa Lóes – Novela é para isso mesmo, brincar com a imaginação. Quando O Clone estreou, a clonagem humana era algo distante. Temos notícias hoje de orientais que mudam o rosto para adquirir aparência mais ocidental.

Estado – Os bastidores da novela estão muito conturbados?

Vanessa – Há um saldo positivo porque muita coisa boa me aconteceu: ter vindo morar em São Paulo, trabalhar em um projeto ousado com tecnologia de alta definição e com uma equipe de cinema, que eu adoro. Imagine trabalhar com o superfotógrafo Edgard Moura?

Estado – Mas ele continua na novela?

Vanessa – Não, todas as pessoas de cinema saíram com a Tizuka Yamasaki. É claro que é desagradável começar um projeto que vira outro. A gente vai se sentindo meio órfã, mas sou profissional o bastante para dar continuidade.

Estado – Você vai continuar na novela?

Vanessa – Por enquanto, sim. Sei que vai haver mudanças, que alguns vão sair e outros vão entrar. Mas nenhum comunicado oficial foi feito ao elenco, sei disso pela imprensa, pelas conversas de bastidores. As pessoas só sabem que estão fora da novela ao ler o capítulo. O personagem viaja, morre, sai.

Estado – Como é trabalhar nesse clima?

Vanessa – Não quero falar mal de ninguém, mas nunca fiz um trabalho que tivesse um clima de insegurança tão grande. As pessoas são demitidas todos os dias, a gente fica sem saber como dar continuidade. Desenvolvo uma relação da minha personagem com outras que no dia seguinte estão fora.

Equipes de maquiagem, de figurino, de continuístas são trocadas de repente.

Quando alguém pega a bolsa todo mundo corre para perguntar para onde ela vai.

Estado – Conhece Arlete Siaretta, dona da Casablanca?

Vanessa – Só estive com ela uma vez. Quando a Tizuka foi demitida, eu, Paulo Betti, Luciano Szafir e Luciene Adami pedimos uma reunião com ela para ouvir o que estava acontecendo e tentar reverter a demissão. Não adiantou, mas ela deve saber o que faz, afinal é uma empresária de sucesso.

Estado – Com tanta mudança de autores, a história ainda faz sentido?

Vanessa – Já foram trocadas três equipes. A que está agora escreve bem, os capítulos são bem feitinhos. Mas claro que tem problemas, os autores estão escrevendo histórias para personagens que não criaram. E fica difícil desenvolver uma trama quando chegam ordens inesperadas para introduzir uma cirurgia plástica por dia, é muito trabalhoso. Além disso, novela precisa de tempo para acertar o passo, é uma conquista que se faz todo dia, mas Metamorphoses foi mudando de horário, de dia. Isso desorienta o público.

Estado – Está arrependida?

Vanessa – De jeito algum, amadureci como atriz, conheci pessoas maravilhosas e acredito que tudo que acontece na vida da gente sempre traz uma lição.

Estado – Qual destino você daria a Circe?

Vanessa – Eu sei e gosto do final que foi apresentado na sinopse. Haveria um grande julgamento por causa do transplante, Circe seria acusada de falsidade ideológica. Será uma pena se ele não acontecer por causa das mudanças. Eu acharia simpático um final feliz para Circe e Lucas (Szafir).’