Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Informações para digerir aos poucos

As edições do fim de semana, completadas pelos jornais de segunda-feira (17/11), trazem um mosaico que precisa ser juntado pelo leitor para que ele possa entender como vai funcionar a economia global daqui para frente.


Em algum momento no futuro, historiadores vão destacar este período como o ponto de mutação das relações de negócios em escala global, após a eclosão da crise financeira originada nos Estados Unidos.


As 47 recomendações feitas pelos líderes das vinte nações desenvolvidas e em desenvolvimento, reunidos em Washington, contêm as regras gerais que deverão reorganizar o fluxo de capitais ao redor do mundo.


O teor geral do documento firmado pelos chefes de Estado indica claramente o propósito de aumentar o controle sobre atividades financeiras privadas, como contrapartida à criação de políticas fiscais para estimular a economia, mas a imprensa se esforça para minimizar esse aspecto da cúpula mundial.


Não há como desviar do ponto central: acabou a liberdade absoluta dos capitais, que migravam de um ponto a outro do planeta em busca de privilégios cada vez maiores e minavam a capacidade de planejamento das economias nacionais.


O estabelecimento de um colegiado para monitorar as trinta maiores instituições financeiras globais é uma proposta clara de controle dos capitais e restabelece parte da soberania dos Estados sobre os recursos disponíveis para as políticas de desenvolvimento.


A diferença


Embora ainda se trate de uma lista de recomendações, o resultado da reunião do G-20 é absolutamente prático, pois a partir dessas linhas gerais o próprio mercado passa a raciocinar em termos de mais controle.


Entre as medidas anunciadas destacam-se a retoma de instituições multilaterais, o reposicionamento e controle das agências de avaliação de risco, a criação de padrões contábeis globais para inibir fraudes e manipulações e a universalização das práticas mais transparentes de governança corporativa.


É material para ser digerido ao longo da semana. Mas, logo no enunciado, o leitor há de sentir a falta de referência à outra crise que se desenvolve rápida e inexorável sob o barulho da hecatombe financeira: a crise ambiental.


Os chefes de Estado miraram apenas o problema financeiro, os jornais também enxergaram apenas a crise financeira. Essa pode ser a diferença que os historiadores vão apontar no futuro: 2008 pode ter sido o ano em que o ser humano salvou o cofre e deixou a casa afundar.