Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornais querem ganhar com mobilidade na web

Certos de que a expansão do mundo digital não tem barreiras, grupos de comunicação e especialistas veem nos smartphones (celular com funcionalidades avançadas) e tablets (computador pessoal em formato de prancheta) a oportunidade de conseguir o que até agora tem sido um desafio: ganhar dinheiro com a mídia digital. Existe a percepção de que os leitores estão inclinados a pagar por aplicativos e noticiosos que signifiquem maior facilidade de acesso e manuseio, ao contrário da resistência para desembolsar pelo conteúdo nos sites.

‘As pessoas estão dispostas a pagar por mobilidade’, disse Raju Narisetti, editor do Washington Post, a uma plateia de publishers que se reuniu entre a quarta-feira e ontem (8 e 10/9) em Londres, na 9ª Conferência Internacional de Redação. O Post não cobra pelo conteúdo na internet, mas sim, pelo aplicativo para o iPhone.

Executivos do setor notam que a explosão das plataformas digitais é inegável. Portanto, vêm investindo na integração das redações dos veículos em papel e online e apostando nos conteúdos multimídia para encarar um futuro que chegou mais rápido do que se pensava. Mas, ainda assim, a questão da lucratividade segue presente. Afinal, os jornais impressos ainda respondem pela maior parte das receitas dos grupos e dos orçamentos dos anunciantes.

‘O iPad trouxe uma oportunidade histórica de corrigir o erro que nos impediu de monetizar a internet’, afirmou Andreas Wiele, do alemão Bild Gruppe. Ele acredita que os leitores têm de contribuir com as receitas, pois não se pode contar somente com a publicidade.

Do tabloide para o tablet

O grupo alemão diz que está fazendo uma rápida guinada para a área digital, com o objetivo de ‘canibalizar a si mesmo’. Ou seja, captar os leitores que estão migrando para os meios online antes que os concorrentes o façam. A opção foi por manter o conteúdo do site aberto e vender o aplicativo para o iPhone. Em seis meses, foram vendidos 220 mil aplicativos, segundo Wiele. A intenção também é comercializar assinaturas do jornal pelo iPad, ao mesmo preço cobrado pelo papel.

Em um caminho já chamado ‘de tabloides para os tablets‘, as empresas estão fazendo experimentações com os aparelhos, onde se vê não só potencial de receita com assinaturas, mas também com anúncios inovadores e abuso da tecnologia – aliás, é da publicidade que hoje vem a maior parte da receita com a rede, segundo Narisetti.

Apesar das expectativas, ainda há críticas sobre o formato atual dos tablets, considerados pesados por alguns e não tão amigáveis assim. No entanto, executivos acreditam que se trata de um produto em evolução que tende a se tornar mais interessante com o avanço tecnológico que certamente virá.

Prova de que os meios de comunicação ainda buscam o melhor modelo econômico para aproveitar as mudanças trazidas pela revolução tecnológica dos últimos anos é a decisão do New York Times de passar a cobrar pelo o conteúdo do site em 2011.

‘Como fazer dinheiro neste maravilhoso mundo novo?’, questiona o presidente do NYT, Arthur Sulzberger. ‘O modelo pago é um passo na direção correta, mas não existe resposta única’, disse. Ele parte do princípio de que os leitores se dispõem a pagar por notícias de qualidade, algo mais necessário nessa época de turbulência econômica nos EUA.

O desafio de redes sociais e blogs

Os novos tempos também trouxeram um desafio adicional e inusitado para os veículos de comunicação: o crescimento e uso das redes sociais e blogs independentes como fonte de informação. ‘A boa notícia é que hoje os leitores podem ter acesso à informação o dia todo; e a má notícia é que agora você está competindo com outras plataformas, como o Twitter e o Facebook’, afirmou o consultor israelense Grig Davidovitz, da GD Consulting.

A opção do polonês Gazeta Wyborcza tem sido abarcar esse movimento depois de constatar as ondas que as redes sociais são capazes de criar. Em abril deste ano, quando um acidente aéreo matou 96 pessoas no país, o veículo criou um perfil no Facebook com informações sobre o desastre. Em dias, a ferramenta se tornou mais popular do que o perfil da própria Gazeta.