Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Muito escândalo para nada

A campanha eleitoral já acabou na imprensa, soterrada pela temporada de escândalos. Somente os dois principais jornais de economia e negócios, Valor Econômico e Brasil Econômico, parecem considerar que os escândalos têm pouca relação com a vida real e apenas apresentam registros esporádicos das denúncias, sem deixar que o tema domine suas pautas.


Os diários de assuntos gerais considerados de circulação nacional, pelo contrário, esqueceram os debates sobre planos de governo e entulham suas páginas com os escândalos.


Na segunda-feira (13/9), o Brasil Econômico publicou uma reportagem mostrando como a campanha deste ano repete as disputas de 2002 e 2006, com um dos candidatos – no caso deste ano, uma candidata – disparando na frente dos demais e sendo bombardeado por acusações na imprensa.


Tanto em 2002 como em 2006, segundo lembra o jornal, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva vinha liderando as pesquisas de intenção de voto quando se intensificaram os escândalos, exatamente no mês de setembro, como acontece neste ano.


Nas eleições anteriores, a tática deu certo, e a disputa acabou indo para segundo turno. Neste ano, com a candidata governista ainda subindo nas pesquisas, e faltando menos de três semanas para a eleição, o barulho parece ainda maior.


Destino da lama


As manchetes migram do caso de violação de sigilos fiscais a um suposto tráfico de influência com extrema rapidez, sem oferecer aos leitores condições para reflexão e interpretação. A intenção não parece ser informar ou simplesmente fundamentar as denúncias, e muito menos lançar alguma luz sobre o funcionamento do governo.


As pautas parecem selecionadas conforme o potencial de fazer grudar um pouco da lama diretamente na candidata. Se as acusações podem ser comprovadas, a imprensa deve ir fundo, mesmo depois das eleições. Mas como os jornais e revistas não dão continuidade às investigações, muito certamente tudo isso acaba no dia 3 de outubro, como aconteceu nas eleições anteriores. E ficaremos sem saber que medidas teriam sido tomadas para garantir a segurança dos dados da Receita Federal ou se houve ou não favorecimentos em tais ou quais operações financeiras.


A lama atirada para cima vai cair nas instituições públicas.


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Para que serve um jornalista?


A resposta é quase óbvia: para buscar informações e repassá-las a um determinado público. Mas há muita controvérsia diante da situação da imprensa contemporânea e o advento das novas tecnologias de comunicação.


Alberto Dines conduz um debate sobre o assunto nesta terça-feira (14/9), no Observatório da Imprensa na TV.


Durante muitos anos, os jornalistas foram os artífices da informação, pois trabalhavam para os únicos meios de comunicação existentes: jornais, revistas, rádios e tevês. Com o crescimento da internet, no entanto, este quadro mudou. A informação está pulverizada pela grande rede. As melhores fotos do atentado terrorista em Londres, por exemplo, foram feitas por condutores de metrô, com câmeras de celulares.


O chamado jornalismo-cidadão, em que cada indivíduo pode apurar e escrever sobre um fato que presenciou é cada vez mais presente, até mesmo nos meios tradicionais. Fontes, que antes utilizavam a imprensa para divulgar suas notícias já usam a internet para evitar o filtro da mídia. O Twitter e os blogs passaram a pautar os jornalistas ‘oficiais’.


Uma pesquisa feita no Brasil indicou que mais de 80% desses jornalistas usam blogs como fontes. Mas será que isso é válido? As informações podem ser consideradas relevantes? Alguns exemplos como o site Wikileaks mostram que sim, e o quanto podem mexer com a mídia tradicional e com a opinião pública em geral. Foi o caso do vazamento de dados sigilosos sobre as ações norte-americanas no Afeganistão. Informações que abalaram as sólidas estruturas do Pentágono.


Dines observa que o jornalismo-cidadão só será eficaz quando for utilizado por jornalistas-jornalistas, profissionais. Mas há distorções mesmo entre os profissionais. Veja-se, por exemplo, o caso da apresentadora Marília Gabriela, que contamina o jornalismo ao aceitar posar de garota-propaganda.


Além disso, Alberto Dines propõe também aos convidados do programa debater a contratação de legiões de opinionistas que nada acrescentam, e a transformação do jornalista em pessoa jurídica, condição que o desvincula da instituição que deveria empregá-lo.


Tudo isso e muito mais nesta terça-feira (14), ao vivo na TV Brasil, em rede nacional, às 22h. Em São Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.