Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Novo visual na era da internet

Parece um ritmo um tanto frenético para uma vida humana, mas talvez não seja para um veículo de imprensa: nos dois últimos anos Libération, que tem apenas 36 anos, se submeteu a dois liftings radicais.

Mas o diretor do jornal, Laurent Joffrin, fala de ‘evolução’ para justificar a verdadeira revolução que o jornal sofreu a partir da edição de 7 de setembro. Tudo começa pela primeira página, que valoriza vários assuntos, em vez de um único grande tema superdimensionado, que tornava a capa do jornal em tamanho tablóide mais semelhante a uma revista.

A nova diagramação e a nova concepção da edição do jornal tornaram a leitura mais agradável graças a uma paginação mais limpa, com mais claros e menos fios e uma hierarquização da notícia mais eficaz.

Ofensiva publicitária

Na edição de fim de semana, que sai aos sábados com data de sábado e domingo, o Libé tem agora um caderno central grampeado chamado Le Mag (de magazine, revista) em que assuntos variados ligados à política e à cultura são tratados com ritmo e estilo de revista. Sem se deixar, no entanto, levar pela tendência de textos telegráficos que a internet e grande parte da imprensa escrita tentam impor. ‘Na era da internet e de um fluxo mundial e indistinto de informação uniformizada, a imprensa escrita deve defender o texto escrito, isto é, a investigação, o aprofundamento e o estilo. Mag pretende aliar no seu texto a inteligência do repórter e a sensibilidade do escritor do momento presente’, diz Joffrin.

Esse suplemento-revista tem cara de revista. No de 12 e 13 de setembro, a reportagem de capa do enviado especial a Roma, Marc Semo, tratava da guerra travada entre o jornal La Repubblica e Silvio Berlusconi, que tenta por todos os meios calar o jornal que denunciou suas noites regadas a champanhe e animadas por moças especializadas em fazer companhia tarifada em milhares de euros.

Para divulgar o jornal totalmente renovado, Libération, fundado em 1973 por Jean-Paul Sartre e um grupo de intelectuais maoístas, investiu alto numa campanha publicitária que custou ‘centenas de milhares de euros’ (segundo a direção) e cujo slogan tem tudo a ver com sua história : ‘Libération – L´info est un combat’ (Libération, a informação é um combate).

Vendas em queda

‘Em meio a uma revolução midiática excitante mas arriscada, queremos reabilitar o jornalismo em relação à comunicação, a escrita e a reflexão contra a formatação do pensamento. A equipe de Libération demonstra a cada dia sua independência: um jornal como o nosso não tem nada a vender senão jornalismo de qualidade’, escreveu o diretor nas duas páginas em que o jornal apresentou aos leitores as principais inovações.

Segundo Joffrin, o Libé tem como missão antecipar e favorecer as mudanças da sociedade francesa mergulhada num fluxo midiático cada vez mais conformista. Libération pretende também exercer uma missão cívica: compreender e inventar o que será a França do após-crise num mundo transformado.

A realidade é que o jornal se modifica para tentar recuperar as perdas. Libé, que tem apenas 21 mil assinantes, viu o número de exemplares vendidos diariamente cair de 150 mil para 130 mil, em 2008. Em maio deste ano, as vendas diárias caíram ainda mais, passando a 110 mil.

As inovações também atingem a versão online do jornal. Por 6 ou 12 euros mensais os leitores poderão ter acesso aos arquivos e sobretudo se inteirar do conteúdo total do jornal-papel logo depois do fechamento.

O novo Libé foi concebido pela empresa Innovation Media Consulting Group, agência de design de imprensa, responsável pela concepção gráfica de jornais no mundo todo há mais de 20 anos.

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Jornalista